

Às vezes é preciso abandonar o barco,
A luta, o carrossel, o circo inteiro,
E partir como ave migratória para o norte
Em busca de terras de verão e sol,
Mas quando isto for preciso
Que se faça com rosto limpo,
A face descoberta e voltada para a frente,
Que não haja mentiras nem tristeza.
Queimem-se as lembranças, quebrem-se
As garrafas; enterrem-se cinzas e cacos.
Seja-se até os ossos mais frágeis
Uma ave migratória: a volta exige
Mas é outra história, e não desculpa
A permanência no ponto de partida.
Flávio Aguiar, "26 poetas hoje – Antologia"
Editora Aeroplano, 1998
Nenhum comentário:
Postar um comentário