segunda-feira, outubro 31, 2005

Caríssima

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Há muito tempo (parecem anos, mas foi a menos de seis meses), eu disse aqui que invejava quem conseguira conservar seus amigos de infância. Eu tenho poucos amigos, nenhum da minha infância. Meus amigos conto-os nos dedos das mãos. Diferentemente do que muita gente acha, considero amigo aquela pessoa que liga sem avisar, pergunta como você está, desliga e vai viver a vida, sabendo que você faz parte dela. Seja num estado no extremo do país, numa reserva africana, no Brooklin ou na casa vizinha, aquela pessoa está ali, do outro lado da porta, do telefone ou do terminal.
Amigos são aqueles com quem você jamais tomou um chope, mas sabe a quantas anda seu medo de dormir no escuro. Das suas preocupações com o futuro dos filhos. Da tristeza da separação da mãe ou do esquecimento do pai. É aquele e-mail que pinga na sua caixa postal não porque é seu aniversário e o protocolo pede ao menos um "Felicidades!", mas porque "Eu estava aqui navegando e me lembrei que você gosta de café com leite".
Eu sei que você está ocupada, trabalhando demais, batalhando como sempre fez. Eu também estou assim, e a gente acaba sabendo uma da outra pelos nossos blogs.
Então, por isso eu escrevo aqui: saudades de você, querida. Muita. Se cuida, tá?

À mesa

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Roubei essa foto dela: pra mim, é a exata tradução de um prato perfeito.

Defaut

Eu não vinha aqui há tempos não por falta do que dizer. As meninas andam filosofando furiosamente em suas cadeirinhas de carro, principalmente depois que contei a elas que, antes de me casar com o pai, eu era uma feiticeira que tinha cabelos compridos, voava numa vassoura e fazia bruxarias (aliás, fiz algumas poções com elas, como chá de erva-doce para dormir e camomila para deixar o cabelo de ambas douradinhos :o)
É que uma enxurrada de problemas desembocou na minha porta, de uma dívida de R$ 20 mil até uma dor crônica nas costas, passando pelo agravamento do Alzheimer do meu pai, enxugamento no escritório onde trabalho (e, conseqüentemente, mais trabalho para quem teve a sorte de garantir seu emprego) e uma crise interna que me fez perguntar "Mas que merda, o que eu estou com a minha vida?"
Mas eu aprendi que, quando a gente chega num limite, as coisas se encaixam naturalmente nos lugares ou tomam um rumo que você não tem como determinar. Descem junto com a correnteza e vão embora para um destino, para uma solução que você não tem o poder de evitar ou mudar.
Eu não tenho R$ 20 mil. Então, por mais que eu me desespere, não tenho como resolver. Resolvido está? Não, isso vai levar tempo, mais trabalho. Mas vai ser resolvido. O amanhã não será adiado porque simplesmente eu quero que assim seja. Tudo o mais vai pelo mesmo caminho. Existe um limite para a minha ação. Minhas prioridades são minhas filhas. Mais do que isso: elas são a única certeza que tenho na vida. Aconteça o que acontecer, elas serão minhas filhas.
O resto... é o resto. Vai passar.

Once upon a time

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Procura-se uma moça
que seja tão delicada,
que seja quase uma rosa,
que seja quase uma fada,
como uma flor de lis,
para casar com o princês
e ser pra sempre feliz!

Eu tive que chegar às portas dos 40 anos para saber de todo o prazer que é namorar no portão de casa. :o)

Traças

Há muito eu procuro um livro do Cortázar chamado "Os autonautas da cosmopista". Editado pela Brasiliense na década de 80, virou artigo raríssimo. A dona de um sebo onde eu deixava um terço do meu salário me disse que, em 14 anos, teve um exemplar em mãos apenas uma vez. Bom, achei uma loja que promete o impossível: achar livros esgotados, raros, sumidos. Chama-se Livros Difíceis. A loja fica na Barra da Tijuca, aqui no Rio, mas eles aceitam encomendas pela internet.
Ah, sim, já pedi seis títulos. Além do livro do Cortázar.

Quarta-feira, Outubro 26, 2005

"Havia coisas esquisitas, como acordar com Pagu (Patrícia Galvão) ou Mário Pedrosa dormindo no sofá verde da biblioteca, depois da soirée regada à vinho nos salões da rua Guadelupe. Ou vê-los serem despertados com a chegada da gorda Odette, a chapeleira francesa de minha avó. Se, por um lado, eu não gostava de beijá-la por causa do cheiro de suor misturado com o perfume de seus extravagantes vestidos de pura seda ou crepe Georgete, por outro lado adorava vê-la pregar e arrumar as pétalas de uma flor de tecido, contar anedotas ou falar de maneira ligeira sobre moda. Ela dizia que as mulheres, depois de uma certa idade, deveriam sempre usar algo imponente: "Quando você usa um grande laço, colar, broche ou chapéu, ninguém repara no tamanho do seu traseiro!" afirmava a sábia e espalhafatosa Odette sacolejando os grandes seios com a explosão de suas gargalhadas."

Credo! Se inveja matasse meu passamento já estaria há muito na lista das missas de mês.

sexta-feira, outubro 21, 2005

By the way

Muitas reviravoltas, coisas atropelantes e acachapantes. Tantas, em tal quantidade, que eu resolvi sair do palco e sentar na platéia até o roteiro voltar a ser inteligível.
Quando todos pararem de gritar e eu conseguir me fazer ouvir, eu volto.

quinta-feira, outubro 13, 2005

12 de outubro

O dia começou ontem num bom café da manhã com pratos de louça estalando de novos da Hello Kitty e copos idem. Emendamos com uma sessão de "Barbie e o cavalo alado", versão em 3D (com óculos especiais). Pausa para um almoço pra lá de trash (com muito hambúrguer e batata frita, e sorvete de sobremesa) e emendamos com uma tarde desembaraçando e fazendo cachos nos cabelos de todas as princesas Barbie, uma hora de Clube das Winx, um desfile de modas da Polly, concurso de quebra-cabeças e entardecer abraçadinhas na varanda.
Banho cedo, jantar-lanche com festival de biscoitos de chocolate, arrumação das fantasias para usar hoje na escola e cama, nós três emboladas assistindo "Robôs".
Um Dia das Crianças completa e absolutamente sem dinheiro, mas muitíssimo feliz.

segunda-feira, outubro 10, 2005

Pense como quiser

Foram três vezes:
1 - Quando eu tinha dez anos, fui morar numa cidade do interior de São Paulo. Foram dois anos em Mogi das Cruzes, numa casa modesta mas muito bonita. Tivemos nosso primeiro cachorro, a cidade tinha uma rua principal, chamada de "Rua dos Bancos". Um hotel bom, duas escolas (uma pública e uma particular), a igreja matriz na praça principal.
Na turma da minha irmã, havia um moleque chamado Rodrigo. Digo moleque porque ele era muito, muito levado, daqueles moleques do interior, que gostava de jogar bola de gude, subir em árvore, vivia de joelho ralado, rosto sujo. A mãe era a professora de artes plásticas, uma japonesa micra, delicadinha. O pai era dono de uma lojinha de uniformes.
Um dia, o Rodrigo não foi à aula. Resolveu pular a janela do quarto dele à noite para ir buscar, junto com o irmão mais velho, uma porção de garrafas que estava no lixo do Mogi Tênis Clube, depois de uma daquelas festas de debutantes tão comuns. O pai deu-lhe um tiro, achando que fosse um assaltante. Era um homem de bem. Rodrigo tinha 13 anos.
2 - Aos 12 anos, fui morar em Salvador. Morávamos numa bela casa, num bairro só de condomínios chamado Caminho das Árvores. A nossa casa tinha piscina, dois andares, muitas varandas e até uma horta. Meu pai, que começou a ficar paranóico com seqüestros e assaltos, não satisfeito com dois filas que compramos, ainda incrementou o arsenal com dois revólveres e uma espingarda. Ensinou a mim e à minha irmã a atirar (meu irmão já sabia, pois seguiu carreira militar).
Em 12 anos, nossa casa foi assaltada uma única vez, no dia da formatura da minha irmã: presumimos que fora um garoto que entrara pela janela do banheiro, muito pequena, e acabara encurralado no quarto dos meus pais, pois nossa dálmata dormia dentro de casa. Ele levou as armas do meu pai. Da espingarda nunca mais ouvimos falar, mas os revólveres apareceram logo depois: um foi apreendido numa batida numa favela, o outro foi usado para fuzilar o dono de uma lotérica. Até hoje tenho o recorte do jornal A Tarde: deixou dois filhos e mulher. Meu pai chegou a conhecê-la, porque foi chamado à delegacia para mostrar o registro da arma.
Meu pai é um homem de bem, e continua com armas dentro de casa: uma pistola e dois revólveres.
3 - Eu estava grávida da Catatau, Zé Colméia dormindo na cadeirinha. Estávamos no centro da cidade, quando um carro saiu do nada e nos fechou. O motorista devia ter uns 40 anos. Havia uma mulher no carona e atrás, também uma criança, dos seus três anos. O carro, uma Blazer branca. Meu ex-marido reclamou, num ato reflexo. A Blazer emparelhou e nos jogou para um posto de gasolina ali na Praça da Bandeira. O cara saltou, braço pra baixo, e encostou na janela do motorista. Arma na mão, só disse isso: "Seu babaca, agora reclama, vai". A arma encostada no vidro, o cara olhando para Zé Colméia atrás. E quando um frentista se aproximou, ele abaixou o braço, encostou a arma no corpo e foi embora. Ele parecia um homem de bem.

Quando eu trabalhava em jornal, um policial civil (que perdera o filho num assalto, quando ele tentou reagir) me disse que o maior problema é o freio moral: "Quem tem arma hesita milésimos de segundo, o suficiente para o cara que está assaltando você te desarmar ou matar alguém. Ele não tem nada a perder. Você tem." Eu sou a favor do desarmamento E de uma polícia eficiente. Achar que o certo é viver em Dodge City é acabar como na Flórida, onde foi aprovada uma lei em que você pode atirar primeiro e perguntar depois.

domingo, outubro 02, 2005

Salvo na base

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E por falar em beisebol, há muito tempo eu estava assistindo a um filme que nem me lembro mais qual era. Estava um saco, porque era todo baseado nas regras do beisebol, e parece que ninguém entende aquele jogo, a não ser americano. Então, eu resolvi que ia entender de beisebol. E aprendi as regras, os recordes, os nomes mais famosos, até o apelido do campo, chamado de "diamante".
Fiz isso também com futebol americano (que acabei aprendendo a gostar), com pôquer e estava tentando aprender bridge. Mas, como o inglês é o americano com PhD, desisti. É muuuuuuuuuiiiiiiiiito chato...

The magazine for men

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A Revista Esquire está disponibilizando todas as as suas capas, desde 1933. É um passeio muito legal. A revista aí de cima é a do mês do meu nascimento. Vale a visita ver a evolução das capas, cada uma mais legal do que a outra.

Corações em pedaços

No próximo dia 8, as meninas vão participar de um evento na escola. Ambas vão apresentar números de dança, com suas respectivas turmas. Sintam os dramas.

Drama nº 1:
- Olha, mamãe, olha no papel o meu vestido qual é!!!
- Calma, Catatau, vamos ver... Aqui diz: "Short e camiseta cinzas".
- ...
- Que foi, filha?
- Eu vou... dançar... com o uniforme da escola?

Drama nº 2:
- O que está escrito aqui, mamãe?
- Peraí! Deixa eu ver! Hummm... "Adereços: cabelos cacheados."
- Oba! Vou dançar de peruca!

Drama nº 3:
Catatau vai ser um elefantinho :o) Bom, no dia seguinte, já estava com todos os argumentos enfileirados para discutir com a professora porque minha pequena ia dançar com uma roupa cinza parecendo o uniforme do colégio quando vi que tinha que pegar a senha: já havia uma horda de mães ensandecidas questionando a mesma coisa. A professora, diplomática, liberou uma difusa "roupa cinza", que entreguei nas mãos de fada de D. Gilda, a dona de uma lojinha de roupas infantis que aceita encomendas. Ela desenhou um vestido cinza-mescla com babadinhos cor-de-rosa por baixo. Completam o figurino meia-calça rosa e sapatilhas da mesma cor.

O drama nº 3, aliás, não era esse: isso é só uma parte. O verdadeiro drama à la Glória Magadan é que, enquanto a roupa de uma parecia uniforme, na agenda da Zé Colméia, que vai dançar uma valsa, dizia: "Vestido de baile, luvas, meias e sapatos (excetuando-se tênis)."