sábado, abril 16, 2005

Breviário

Sempre gostei de escrever mas, por pudor, jamais fiz isso. Porque nunca senti que era suficientemente boa para qualquer coisa que fosse. O fracasso, com o eventual "Eu não disse?" sempre rondaram a minha vida.
O que mudou? Não sei. Tinha a noção (errada) de que, apesar de achar que sempre fazia as coisas certas, o resultado jamais era o que eu esperava. Fiz duas faculdades; jamais consegui terminar quaisquer dos cursos que inventei de fazer – dos usuais inglês e francês aos estapafúrdios sax e mecânica. Sempre me diziam – pai, mãe, namorado, marido: "Você não vai usar isso. Você não está fazendo direito. Pra que fazer?"
Então aceitei a palavra dos outros contra a minha própria. Mas, aos poucos, comecei a perceber que quem tinha que viver a minha vida era eu. E fazer o que EU achava certo – mesmo que sempre desse errado, era melhor viver a certeza que deu errado do que a incerteza que, por acaso, deu certo.
Foi assim que deixei levar a termo minha segunda gravidez; me envolvi com outro homem antes mesmo de assinar o meu divórcio e quase dormi em banco de praça por causa dele; troquei de emprego mesmo tendo duas experiências semelhantes que deram errado; e comecei a escrever.
Surpreendentemente, tudo o que fiz a partir do momento em que decidi, contra tudo e contra todos, ter minha Catatau, deu certo. Pode não ter chegado a bom termo, mas me ajudou a ser uma pessoa melhor. Amo meu emprego, minhas filhas são minha luz, conheci pessoas maravilhosas graças ao que eu escrevo aqui.
No fim das contas, sou uma pessoa melhor.

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