quinta-feira, janeiro 31, 2008

De passagem




Sem trabalho, meio que de cama, as meninas na casa do pai. Dias inteiros deitada na cama, repassando minha vida de trás pra frente, fazendo zilhares de perguntas - algumas com respostas reluzentemente óbvias, outras ainda sem resposta.

E, entre coisas sérias e outras nem tanto, penso porque os homens insistem em usar uma aliança no polegar*. E como a origem de tudo se perde e, assim mesmo, sem pai nem mãe, entram em nossa vida exatamente como a carta escondida no conto de Poe - como precisava ficar oculta, lá estava ela, à vista de todos.

Alan Turing, reconhecido pai da computação moderna, ajudou os Aliados a derrotar o Eixo durante a Segunda Guerra Mundial. Sua medalha foi-lhe pregada no peito pela patrulha dos Bons Costumes, e nela se lia "homossexual". No início dos anos 50 foi humilhado em público, impedido de acompanhar estudos sobre computadores, julgado por "vícios impróprios" e condenado a terapias a base de estrogênio, o que equivalia a castração química e que teve o humilhante efeito secundário de lhe fazer crescer seios. Aos 41 anos cometeu suicídio comendo uma maçã envenenada. O que tem isso a ver? Me diga então qual o símbolo original dos computadores MacIntosh/Apple.

* O anel no polegar era usado pelas mulheres nobres romanas - e só pelas mulheres. Usar o anel nesse dedo indicava que aquela mulher era nobre, tinha muito dinheiro, era bem casada e comandava um exército de servos.
Bem masculino.

sábado, janeiro 26, 2008

Para menores



E aí você tem que explicar como que aquela maluca de cabelo laranja se esfregando naqueles caras - que sua filha viu rapidamente antes que você apertasse freneticamente o controle remoto pra trocar de canal - é a mesma que escreveu o tão-adorado-e-manuseado-e-suspirado "As rosas inglesas".
Mundo muito doido, esse. Não tenho mais idade pra isso, não.

I can make it alone



Are you ready to jump?
Get ready to jump
Don't ever look back oh baby
Yes, I'm ready to jump
Just take my hand
get ready to jump

terça-feira, janeiro 22, 2008

A melhor hora do dia


What time of day are you?

You're the time of day right around sunrise, when the sky is still a pale bluish gray. The streets are empty, and the grass and leaves are a little bit sparkly with dew. You are the sound of a few chirpy birds outside the window. You are quiet, peaceful, and contemplative. If you move slowly, it's not because you're lazy – it's because you know there's no reason to rush. You move like a relaxed cat, pausing for deep stretches that make your muscles feel alive. You are long sips of tea or coffee (out of a mug that's held with both hands) that slowly warm your insides just as the sun is brightening the sky.

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Cambrianamente



Passei minha tenra infância sem:

TV a cores
Videocassete
DVD
CD
TV a cabo (e com três canais abertos)
Microondas
MP3
Computador
Calculadora
Qualquer-coisa digital
Máquina de lavar louça
Revelação de filmes 24 horas
Banco 24 horas
Cartão de débito
Amaciante de roupas
Esmalte de secagem rápida
Telefone celular

Vi o Brasil ser campeão do mundo a primeira vez. E o homem pisar na Lua.
Às vezes, "mesoproterozóico" é a palavra que me vem à mente.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

V1c10 Mald1t0



Preciso urgentemente de alguém rico, bonito e perfumado que se encante com minha beleza estonteante, minha mente brilhante e meu corpinho colossal pra me tirar de casa à noite. Pensei que estava livre depois que "24" acabou...
Rá. Que ilusão.
E aí junta o vício maldito com a invenção do demo - e lá estou eu baixando todos os episódios que é pra estourar minha cota de banda larga.

Cruz3s.

sexta-feira, janeiro 04, 2008

...



Ao meu pai Xangô,
eu peço na benção de Oxalá
que atenda às minhas palavras
e ouça meu coração por amor a Orumilá

Ao meu pai Xangô,
eu peço a sua misericórdia
e proteção para minha vida.

Ao meu pai Xangô,
eu peço que seja digno
de carregar em minha vida
a sua proteção,
a sua benevolência
e sua força.

Ao meu pai Xangô,
eu peço que abra os meus caminhos
e afaste de minha alma,
de meu corpo e de meu espírito
os inimigos que me desejam o mal.

Ao meu pai Xangô,
pela minha verdadeira fé e devoção.
eu peço que ouça minhas palavras
e que eu seja digno de seu perdão.

Porque mesmos nos piores momentos eu pude contar com a proteção dele. Se é racional ou não, não sei; só sei que fez com que eu me levantasse todas as vezes em que caí.

Avante

Muitas vezes Zé Colméia me disse que queria trocar de escola por causa das constantes brigas com os coleguinhas e as advertências que ela tomou. Eu sempre disse a ela que podia não adiantar: muitas vezes o que está errado está dentro de nós - mudar de lugar só faz o problema trocar de endereço, mas ele permanece.

Tenho pensado seriamente em procurar emprego em outros estados. Mandei currículo até para empresas do sul do país. Mas aí vem a dúvida: muitas vezes o que está errado está dentro de nós - mudar de lugar só faz o problema trocar de endereço, mas ele permanece.

Ladies and gentlemen



Eu nunca me escutei tanto como agora. Depois de gritar inutilmente por meses, finalmente eu me fiz ouvir. É muito esquisito quando você começa a prestar atenção ao que você está falando. E as perguntas são desconcertantes:

* Por que você não faz em vez de pensar em fazer?
* Por que você chora pelas coisas mais esquisitas, como encher os olhos d'água ao ver uma mesa feita à mão - tudo bem que ela é linda, mas precisa chorar?
* Por que a foto da mãe do seu amigo - ela, que morreu há três anos, era absolutamente linda - causa tanto impacto em você?
* Qual é o seu objetivo real este ano?
* Qual o significado de botar tantos significados em acontecimentos que são, no fim, absolutamente sem significado? Nada vai mudar porque você diz "Eu vou ligar para a sicrana se aquele pombo branco voar".
* Por que você adia fazer coisas dolorosas, inconvenientes, difíceis, desgastantes, até o limite do prazo?
* Por que você não toma definitivamente as rédeas da sua vida? É a SUA vida - ganhar na loteria não vai mudar o fato de ela ser SUA.

quinta-feira, janeiro 03, 2008

...

Sou do tempo em que até os pijamas tinham ombreiras.
Credo.

Por aí

Almoço na casa de uma maravilhosa amiga. Nove pessoas à mesa: eu e as meninas; uma outra amiga (grávida) e a filha pequena dela; a filha da anfitriã com o marido e a filha dele; a aniversariante. Oito mulheres (nove, se contar o bebê na barriga) e um homem. Todos os adultos presentes desfizeram seus casamentos. Todos menos eu estão ou estiveram em segundos, terceiros ou quartos relacionamentos. Alguma coisa errada aí, mas não consegui descobrir o quê.

Comprei minha agenda 2008. Até o momento, o ano é uma incógnita.

Como nada é fácil, na minha insônia habitual me dei conta que não poderei ter emprego de carteira assinada até meados de junho. O porquê: o pai deixou um rombo de quase R$ 21 mil na escola das meninas, débito eu que terei que saldar ou não poderei matricular as duas para este ano (sim, até o momento elas não estão matriculadas em lugar nenhum - motivo nº 8475e/4 para eu não dormir). Como a negociação é na base do cartão de crédito (que não tenho) ou cheques pré-datados (que não tenho), pedi à direção que fizesse uma negociação especial: eu quito tudo em junho, quando puder retirar meu FGTS retido (sim, já são três anos desempregada). Mas não poderei sacar o dinheiro se estiver empregada - e não poderei assim saldar a dívida. Não é emocionante?

Não consigo parar de mastigar gelo. Não faço isso desde que fiquei grávida. Não, não estou grávida. Se estiver, encaminhe seu pedido de milagre por e-mail.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

BTW

Oi, você aí da Catho online que passeou por aqui:

Rola te mandar meu currículo?
:o)

Pra frente

Eu pensei muito no que postar aqui esse ano. Quer dizer, ultimamente as pessoas vêm aqui e só lêem desgraças. E fazendo um balanço, me lembrei da primeira vez em que pisei num consultório de terapia - o que, confesso, me afugentou pra sempre de QUALQUER consultório de QUALQUER terapeuta/psicólogo/analista.

Eu e meu ex fomos lá porque a minha então enteada, filha dele do primeiro casamento, foi pega roubando na escola. Marquei a hora (sim, foi a besta aqui que foi à escola da menina conversar com a diretora; quem pegou a lista de terapeutas recomendados; ligou pra todos e, pasmem, decidiu qual parecia o melhor. Eu, não o pai ou a mãe. Eu, depois de a escola ligar PRA MIM como último recurso, já que nem o pai nem a mãe da menina haviam se coçado, três meses depois do roubo).

Enfim. Marquei a hora e fomos lá para a primeira consulta, eu e meu ex. Conversa aqui e ali, me abri na consulta. Falei o que me incomodava, a maneira como o pai tratava a menina (que eu adoro de paixão), passando a mão na cabeça dela quando ela fazia birra, urrava e esperneava e quebrava coisas e rabiscava tudo em vez de impor limites, a interferência da mãe dela no meu casamento, "despejando" (essa é a exata palavra do que ela fazia com a menina) a filha na nossa casa sempre que queria viajar ou sair à noite etc e tal.

O pai obviamente ficou muito incomodado com a minha franqueza, principalmente porque ele não podia usar o habitual "Sua burra, não é nada disso" na frente da terapeuta. Qual não foi minha surpresa quando a dita vira-se e diz "Você devia cuidar do que diz e não usar essa franqueza crua".

Como? Estamos lá tentando resolver um problema sério - uma menina de 8 anos roubando na escola e sendo pega por TODA a turma na hora em que pilhava a carteira da professora - e tentando descobrir tudo o que a levou a fazer isso (incluindo aí meu comportamento) e eu não devo ser franca? Não devo falar o que me incomoda, o que acontece, o que me chateia, o que está atravessado na garganta?

Não, não pode. Fere os sentimentos do fulano relapso sentado na poltrona ao lado.

Bom, essa divagação toda me leva ao ponto seguinte que parece não ter nada a ver com o que eu escrevi acima. E que é sobre as pessoas que me conhecem... e que me conhecem.

Cris me conhece. Rita me conhece. Assim como Marco, Laerte, Marieta e Pedro, além de outros que aportaram por aqui. Esses sabem quem eu sou, como eu sou; muitas vezes tenho vergonha do que escrevo porque sei que eles vão ler. Pra eles eu sou "Suzana" na tela do computador, mas outra quando eles se lembram da pessoa - eu.

Zé, Solange, Renata, Marília, Ana, Lili, Kattie, Deborah, Maura, Luis, e tantos outros gostam da Suzana. A Suzana Elvas, que escreve aqui muito do que jamais abriria a boca para relatar. Eles, que esbarrariam em mim na rua e jamais saberiam que sou eu, me conhecem como ninguém mais. Porque eles sabem apenas do que vai no meu coração, na minha alma. Não sabem como minha voz é, como me comporto, que cara faço quando rio ou me sinto constrangida. Desconhecem a máscara social que visto até mesmo quando estou me divertindo, bebendo um chope, sentada em silêncio no cinema.

Juliana, Anne, Fernando, Paulo, Ivone, Gisela, Marcela, Peter, Jeremy, Samara, Teresa, André, Luana e outros sabem de mim - alguns faz anos - e não fazem a menor idéia do que escrevo aqui. Do que eu sinto, do que eu penso, do que eu quero. Pra eles, eu sou outra que não Suzana - com ou sem aspas.

Juntando os dois lados do vestido: esse blog é da Suzana, não da outra. Porque se eu tiver que deixar de falar das coisas que me incomodam, das minhas tristezas (que espero 2008 economize na mão) e das minhas aflições, Suzana não terá mais razão de existir.

...

A novidade do meu ex é deixar as meninas trancadas no carro (sem ar-condicionado, que é pra não gastar) enquanto ele vai ao supermercado.

Não é show? E eu só escuto na minha cabeça aquela idiota do Ministério Público, apressadíssima para um compromisso e querendo encerrar logo a audiência, dizendo o quanto eu era estressada e preocupada à toa, e ressaltando a importância do pai na vida das crianças.