quinta-feira, abril 29, 2010

A caminho

Ser mãe é:

Fingir que está dormindo porque não está a fim de levantar e brincar de "Barbie vai às compras com Polly";

Deixar para jantar depois que os filhos dormem, pra não ter que ouvir "Você vai comer isso tudo - e não vai deixar nada pra gente?" (mesmo que seja aquele miojex básico, frio, de dois dias de geladeira);

Comer (escondido, óbvio) o restinho do ovo de chocolate de uma. E descobrir que a proprietária vai armar um escarcéu. Então tirar um pedaço mais ou menos do mesmo tamanho de outro ovo aberto e botar lá, em substituição. E fazer cara de paisagem quando a filha disser "Olha, esse pedaço não tem cocrante. Que esquisito!"

No caos-de-cada-dia, esquecer que enfurnou a faixa do quimono numa gaveta do armário (para não perdê-la no caos-do-dia-a-dia, veja só). E botar todo mundo pra procurar. E se irritar, descabelar-se, e achar a faixa, e morrer de vergonha do esquecimento - e acenar com a cabeça (humilhação suprema) quando a filha diz "Também a fulana enfurna tudo, né mãe", fazendo uma anotação mental de pedir perdão à empregada;

Enfiar o nariz naquele pescoço cheirando a suor e brincadeira quando o mundo lá fora parece muito, muito cruel.

Estou feliz, Angélica. Nenhuma criança mereceria uma mãe melhor do que você para acompanhá-la nesse mundo.

quarta-feira, abril 28, 2010

Saudade

Acordei muito cedo com um torpedo da Cristiane. Sentei na cama, respondi e chorei. Porque a gente se põe no lugar do outro que está sofrendo, tenta sentir o que ele sente e pensar numa maneira de amenizar aquela dor que, no fim, é o que nos molda na vida, por mais clichê que pareça.

Dói mais ainda porque olhamos nossos pais e não percebemos que os dedos se entortaram - exatamente pelo caminho que os seus já anunciam - os cabelos embranqueceram, a pele tornou-se papel de seda. São nossos pais. Não podem simplesmente deixar de ser só porque nossos filhos experimentam o que é nosso, cobiçam nossa vida e nossas liberdades de dormir tarde e jantar amendoins. São nossos pais. Eles são - verbo que não se conjuga, jamais, no pretérito, mesmo que ele tenha sido perfeito.

Nome aos bois

"Anônimo disse...
Pq essa vontade insaciavel de estar sempre com um homem??? Vc está numa outra estapa da vida. Não precisa de beijo na boca nao.
Vá criar suas filhas. É a melhor coisa que vc pode fazer.
Por enquanto vc pode exigir sexo casual, mas acho exagero em querer um relacionamento serio. Vc não é nenhuma adolescente!
Pra sexo casual, quiçá um namoro, eu te recomendo o chat do site uol.
É otimo!"

Repetindo: "Pq essa vontade insaciavel de estar sempre com um homem??? Vc está numa outra estapa da vida. Não precisa de beijo na boca nao. [...]
Por enquanto vc pode exigir sexo casual, mas acho exagero em querer um relacionamento serio. Vc não é nenhuma adolescente!"

Sexo casual. Você fica nua, física e psicologicamente, e alguém entra no seu corpo, física e psicologicamente. Pra mim isso jamais, em tempo algum, será casual.

Aí, como eu sou uma velha ranzinza e que leva uma vida mesquinha (como disse um outro sem nome), comentários não identificados serão deletados. Porque não assumir o que se diz é coisa de adolescente, e eu aposto que você não é um.

sábado, abril 17, 2010

...

O mundo gira, a Lusitana roda.

O casamento acaba, os cacos continuam debaixo do tapete pedindo cola ou o lixo definitivo, mas a gente bota a energia pra não deixar o mato invadir o canteiro, as paredes descascarem, os filhos desandarem.

A gente tem câncer, mas lá vem o bilhetinho na agenda avisando que tem apresentação sobre a chegada da primavera ("Contamos com você lá!"), a ração dos cachorros chega ao fim e as contas continuam a aparecer debaixo da porta impreterivelmente quando não temos mais dinheiro para pagá-las. Nossas roupas acabam - mas se continuam novas alguém herda tudo e um dia vai dizer: "Isso está tão puído!"

Choramos quando perdemos alguém, e na casa em frente ouvimos o parabéns pra você cantado e ip-ip-hurrado. Sentimos o coração afundar ao saber que "...infelizmente não posso ficar com você" enquanto alguém puxa a sua manga para avisar que acabou o papel higiênico no banheiro.

A vida segue. E eu quero amar de novo.
Por favor.

quarta-feira, abril 14, 2010

...

Minha advogada ligou para avisar que o juiz não aceitou a denúncia do Ministério Público e decidiu arquivar o processo criminal contra o meu vizinho pela morte da minha cadela.

Então a gente continua assim: janelas eternamente fechadas, sussurrando pelos cantos, com medo de ir ao banheiro e sem viajar, que é para os cachorros não ficarem sozinhos.

Sério, estou cansada. De ficar sozinha, se não ter pra quem dizer "Olha, faz voz bem grossa, uma cara bem feia, vai lá e resolve pra mim, porque eu sou frágil e delicada." Estou cansada de procurar analista pra criança, conversar com professora, segurar a sanidade mental dos outros em detrimento da minha.

Uma vez, uma vez só eu queria que alguém se responsabilizasse por mim. Mesmo que eu estivesse em cima do telhado, cacarejando ao vento.
Só uma vez, pra variar.

sábado, abril 10, 2010

Ponte aérea

Tem gente que acha puro glamour aquela profissão em que se dá um pulinho em São Paulo umas três vezes por semana. Eu não, baby. Detesto sair de casa, vá dizer de cidade, de estado. Tô fora.

Enfim. Quinta de manhã desovei as meninas na escola às sete da manhã e fui pro Santos Dumont. Atrasada, lógico - pra ida e pra volta. Um frio do cão, chuva que nem aqui, pousei no Rio às nove da noite. O que eu aprendi nesse dia:

* Refeições são patrocinadas. "Bom dia, blábláblá as comissárias a seguir estarão servindo um café da manhã com a saborosa linha ETC E TAL, mais saúde e sabor para o seu dia." E aquele suspiro coletivo e resignado de "Que merda!" e as moçoilas distribuindo uma caixinha com as coisas com mais saúde e sabor. De repente, um cheiro de peixe no ar. E o homem de cabelo ensebado, oleoso e untuoso na poltrona à minha frente levanta-se e, segurando uma lata de atum no azeite com a mão esquerda, abre o bagageiro com a direita e saca da bolsa, sob os olhos apavorados do povo, um garfo.

* Estou lançando uma campanha para que todas - TODAS - as companhias de cosmético do planeta pensem seriamente em banir a sombra azul de suas cartelas de cores. Porque, assim, sombra azul cintilante às sete da manhã é cafona, minha senhora. A não ser que a senhora tenha sido contratada para dar susto nos passageiros que estão cag... ignorando a comissária enquanto ela encena a pantomima narrada "E as máscaras cairão do teto", um clássico da aviação civil há meio século.

* Um frio de rachar. E o avião cheio de mulher de sandália de salto, minissaia e casaco com gola de pele (oi?). Como diria Renata, supercoerente.

* "Boa noite! Quem fala é o Comandante T (Tapado?) que dá a vocês as boas-vindas neste vôo TAM. Tá friozinho, né? Pois então não vou me desculpar pelo aquecimento da cabine, que vai durar um tempinho enquanto aguardamos autorização para decolar. Enquanto isso, que tal dar 'oi' para o seu companheiro de assento? Oi para o seu companheiro de assento! Cariocas e paulistas unidos pela chuva!"

Sílvio Santos. Lombardi. Túmulo. Pulos. Muitos pulos.

* "Estamos iniciando procedimento de descida. Enfrentaremos alguma turbulência, mas nada que ponha em risco a integridade do avião, apenas algum desconforto" diz o comandante, enquanto as comissárias, com cara de apavoradas, desembestam em alta velocidade pelo corredor.

sexta-feira, abril 02, 2010

XY

No fim de semana passado, depois de elas passarem 40 dias sem ir para a casa do indivíduo, o pai avisou que não pegaria mais as duas porque elas estavam "muito mal educadas" (oi, pai não educa?). Enfim. Depois de sumir ontem mandou a boa nova pelo telefone: vai ser pai novamente.

Catatau deu de ombros. "Por mim... Não escrevo nem mais o sobrenome dele no meu nome." Zé Colméia não tem mais o que chorar: os olhos secos, me encara com a certeza de que "meu pai não gosta mais de mim".

Sério, não há mulher na face desta Terra que tenha se enganado tanto, mas tanto como eu me enganei quando escolhi (pelo jeito, a dedo) o pai das minhas filhas.

Bem lá no fundo

Eu sempre tive a mania de ligar o que sinto e penso com imagens. Aquele pensamento limítrofe de ter que pedir ajuda ao figurativo para interpretar o sentimento, o pensamento.

Há uma semana estava assistindo TV quando senti uma saudade doída e doida de alguém. Por muitos motivos (reais e imaginários) esse alguém cortou relações comigo, mas não me fez esquecer tudo de bom que eu dei e recebi. Então, na impossibilidade de ligar, mandei uma mensagem.

Ao apertar o send do celular me veio à cabeça que minha mensagem era uma pedra, que eu acabara de jogar no fundo de um poço, condenando a pobrezinha à solidão, ao escuro e ao frio. Porque, veja bem, eu sabia que aquela mensagem não voltaria.
Caiu no fundo do poço e lá vai permanecer.

...

Tempo é hoje o que me falta, porque horário a cumprir eu tenho de montão. Aí no fim do dia eu tenho zilhares de coisas para comprar, pagar, imprimir, procurar, escrever - e esse meu breviário tão querido fica cheio de poeira e triste, esperando notícias minhas.
Desculpe.