Tructesindo bateu o sapato de ferro sobre as lajes, indignado com tal embaixada mandada por tal vilão... – mas Garcia Viegas, que dum sorvo enxugara o púcaro, recordou serenamente e lealmente os preceitos:
– Tende, tende, primo e amigo! Que, por uso e lei de aquém e de além serras, sempre mensageiro com ramo se deve escutar...
– Seja pois! – bradou Tructesindo. – Ide vós fora às barreiras com duas lanças, Ordonho, e sabei do recado!
O Vilico rebolou pela denegrida escada de caracol até o patim da Alcáçova. Dois acostados, de lança ao ombro, recolhendo de alguma rolda, conversaram com o armeiro, que sarapintara de amarelo e escarlate cabos de ascumas novas e as enfileirava contra o muro para secarem.
– Por ordem do Senhor! – gritou Ordonho. – Lança direita, e comigo às barbaças, a receber mensagem!
Ladeado pelos dois homens que se aprumaravm, atravessou as barreiras; e pelo postigo da barbaça, que uma quadrilha de besteiros guardava, saiu ao terreiro da Honza, largueza de terra calcada, sem relva ou árvore, onde se erguiam ainda as traves carcomidas duma antiga forca.
Gonçalo Mendes Ramires (Eça de Queiroz), "A torre de D. Ramires"
Lacerda Editores, 1997
sábado, abril 23, 2005
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