sexta-feira, outubro 31, 2008

... ninguém acredita



Já tem quase 25 anos que eu conheci um cara lindo, muito charmoso e interessante. Eu e Felipe nos encontramos na faculdade, quando fazíamos biologia. Ele queria se especializar em zoologia e eu, em biologia marinha. Jamais rolou nada entre nós. Mas a amizade nasceu mesmo foi com o advento do e-mail. Eu larguei a faculdade e fiz comunicação; ele seguiu em frente, fez ainda veterinária e foi estudar fora, na Inglaterra. E se no começo era uma carta por mês, quando o e-mail chegou para ficar minha caixa de entrada pingava ao menos um e-mail longo por dia.

Primeiro ele se especializou em grandes animais - cavalos e vacas. Depois, inventou de, nas férias, ser voluntário no Parque Nacional Kruger, na África do Sul. E de lá não voltou (minto; voltou para buscar a mudança e o companheiro, um cartógrafo escocês maluco chamado William que adora vir ao Brasil para poder lotar a mala de porcarias tipo Guaraná Antarctica e Catupiry).

Pois hoje recebi um e-mail do William dizendo que meu amado amigo levou uma chifrada de um gnu. O bicho ia ser sacrificado (e William se deleitou descrevendo a extensão da ferida cheia de moscas varejeiras) e não gostou. A mãe do Felipe é uma velhinha judia, e eu sempre sou a porta-voz das coisas ruins ("Felipe não vem para o Hanukah"; "Felipe quebrou o braço", "Felipe está com malária", "Felipe foi abduzido no meio do Serengueti").

Enfim. É onde ele está hoje, no Parque Nacional do Serengueti, na Tanzânia. Ou estava, antes de ser levado para um hospital no Quênia com as costelas quebradas e um buraco no peito. Mas ele adora isso. E eu vou ter que contar pra mãe dele. E acho que dessa vez não vou ganhar nem um fluden.

quinta-feira, outubro 30, 2008

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Lendo meus antigos posts, começo a achar que ou eu tenho que levar muuuuuita porrada do destino ou estar absolutamente encantada com a minha própria existência para então escrever alguma coisa que preste.
Uma vida mais ou menos não dá samba.
Sorry.

Fotógrafos VIII - Hiroshi Watanabe



Loiawannai Lesumante, Samburu, Kenya, 1997



Edison Pastillo 1, Ecuador, 2000



Shikami 1, Naito Clan



Azusa Tukamoto as Osome Matsuo Kabuki

quarta-feira, outubro 29, 2008

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Eu disse isso um dia, e é a mais pura verdade.
Muitas vezes, o que queima por debaixo da pele deveria ficar por lá.

terça-feira, outubro 28, 2008

Vamos combinar

Tem dias em que nem PAGANDO a gente deveria sair da cama.

segunda-feira, outubro 27, 2008

O que importa



Achei que esse dia jamais de apresentaria de novo mas... bom, estou sentindo falta de ter alguém. Das profundezas dos meus loucos dias, sinto a falta de alguém. De um bom beijo na boca, de um não-vamos-fazer-nada, de um ah-vamos-fazer-sim.

E aí um pensamento puxa outro e lembrei da listinha da Catatau. E fiz, mentalmente, a lista dos meus namorados/marido/casos/trelelê. E fiquei assim meio perdida.

Porque eu já namorei de tudo um pouco. De um cara 14 anos mais novo a um 17 anos mais velho. Gordo, magrelo, meio careca, meio cabeludo. Sarado e largado. Troglô e quase do lado de lá.

Então, qual o meu tipo? Tinha um cara na redação do jornal onde trabalhei que era, nas palavras da meninas, o filho mais bonito e melhorado do Hugh Grant. Pois eu não suportava a criatura. E então me dei conta que me sinto atraída por aquele em quem eu mergulho dentro dos olhos. E eu sei que há grandes possibilidades de isso acontecer se ele tem mãos que me dizem alguma coisa.

Eu já me apaixonei por um cara gordinho, um estrangeiro que falava engraçado e que por quem ninguém dava nada porque tinha feito luta greco-romana quando mais jovem. Mas que tinha um par de olhos azuis, encimado pelas sobrancelhas negras mais gloriosas que eu já vi, que me engolia inteirinha. E as mãos dele acompanhavam os olhos.

Olhos e mãos. Mergulho nos olhos, observo as mãos; não têm um formato específico, uma cor determinada. Têm que me dizer alguma coisa. Têm que me acender de uma certa maneira. Têm que despertar em mim o desejo de vê-los em mim. De senti-los na minha pele. De serem meus, afinal.

quinta-feira, outubro 23, 2008

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Hoje, na reunião na escola das meninas, conversando com a professora vimos, eu e ela, com lágrimas nos olhos e aperto no coração, como Catatau, silenciosa e desesperadamente, deseja um pai.

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Ando tão cansada que minhas sobrancelhas pinicam e minhas gengivas coçam.

terça-feira, outubro 21, 2008

E se...



Tem amiga que me pergunta "Mas o que você viu nele?". Eu vi tudo. Eu não apenas vi como ouvi e senti o cheiro de alguém morno, tempestuoso, altivo, risonho, rebelde, fiel, teimoso, sonhador, palhaço, crianção, responsável, sério e triste na alegria mais desenfreada. Assim como eu sou.

Nem me lembro mais como se deu essa entrada triunfal na minha vida, sem tambores nem bandeiras. Foi como naquela piadinha "Meu amor e eu fomos feitos um para o outro; só falta alguém nos apresentar." O encaixe foi perfeito, confidências e desentendimentos idem. Mas eu não acredito em cara-metade, a outra parte da laranja. Se não veio somar, PT Saudacoes. Mas você extrapolou. Transbordou.

Agüentando as crises de três mulheres/duas cadelas/um cachorro. Sabendo bater em retirada quando a coisa fica feia, emudecendo num silêncio ofendido de quem se viu magoado sem razão. Desculpe. É o estresse/a gripe/o excesso de trabalho/a conjunção astral. Vai passar.

Vezes sem conta peguei você me olhando enquanto durmo, mesmo sabendo o quanto eu detesto isso. Contornar suas sobrancelhas, observar o seu perfil de quem já deixou a juventude para trás mas ainda guarda alguma coisinha espalhada entre as rugas nos cantos dos olhos. Entender que eu choro quando vejo móvel bonito feito à mão, assisto "Fantasia" ou penso em quantas vezes eu disse "Te amo" a quem não merecia e silenciei meus sentimentos para tantas pessoas e agora elas se foram e eu não posso mais fazer isso. Você entende por que eu ainda não consigo dizer "Amo você". Mas eu vou conseguir. Prometo.

Você fica sabiamente calado quando eu roubo as suas camisas porque estou me achando gorda - eu ouvi quando você disse "gostosa" mas sorry, eu não acredito. Eu não gosto dos meus pés e não adianta ficar apalpando os dedos. Eu não gosto, ponto final. Mas adoro ser posta sobre a bancada da pia da cozinha e ali cometer crime duplamente qualificado - sexo por motivo fútil e sem chance de defesa.

Você ama meus cabelos, eu adoro as suas mãos. Nós dois gostamos de andar num fim de tarde pela Lagoa, de frio agasalhado, de acordar de madrugada para conversar na cozinha enquanto as meninas dormem, de roubar beijos na escada rolante do shopping. De andar de mãos dadas. De perder-se numa livraria, de procurar ansioso pelo outro na multidão. De passar a tarde longe - cada um com seus amigos - pra sentir saudade depois. De pegar minha mão enquanto você dirige (sim, você vai ser meu eterno motorista porque eu jamais vou aprender a dirigir). De levar a caneca de café na cama, de ficar no escuro ouvindo os trovões explodirem entre as montanhas de granito do Rio de Janeiro.

E a verdade é tão clichê que quase tenho vergonha de dizer que esperei minha vida inteira por você.

Para aquele que, espero, ainda está por vir.

sábado, outubro 18, 2008

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Estou eu aqui sozinha no apartamento dos meus pais. As meninas estão com o pai. No fone de ouvido, Dinah Washington (tocando exatamente nesse momento "Destination Moon", uma das mais deliciosas músicas que eu jamais ouvi na minha vida). Enfim. Estou sentindo uma profunda vergonha como efeito retardado do que aconteceu de manhã.

As meninas tiveram inúmeras apresentações na escola. Eu ajudei a bolar e fazer os figurinos. Então, estava lá atrás ajudando a maquiar todo mundo. Só que as professoras resolveram inverter a ordem das apresentações e pintar o rosto das crianças logo no início para poupar trabalho depois. E eu, vergonhosamente, dei um piti. Disse que o pancake ia manchar a roupa das crianças, que elas deveriam ter avisado antes etc e tal. Como eu disse, lamentável. Tanto que me enche de vergonha e meus olhos de lágrimas mesmo agora, horas depois.

Por que eu fiz isso? Estresse? Gripe? Cansaço? Todo mundo junto e você também? Não sei. Pedi desculpas às professoras depois, mas até agora me pergunto o que me levou a esse comportamento que eu nunca - NUNCA - tive na minha vida.

E, sabe, estou ficando cansada de ter que me fazer esse tipo de pergunta. E de não conseguir respostas mais convincentes do que os convenientes estresse, gripe e cansaço.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Num só dia

- Bom-dia, sou da firma de cobrança e estou ligando referente a uma dívida de R$ 790 que a senhora mantém no banco C.
- Eu não sou cliente desse banco desde 2005.
- Mas há um saldo devedor.
- Se existisse saldo devedor eu não poderia ter encerrado a conta.
- Bom, então a senhora tem que ligar para o banco.
- Vocês me ligam três vezes ao ano, e três vezes ao ano eu ligo ou vou à agência do banco e eles me dizem que eu não devo nada. Vocês têm que ligar para lá e...
- Não senhora; nós, não. A senhora.

(Reações adversas: atendentes ignorantes de firmas idem provocam cefaléia, ânsias de vômito, alterações bruscas de humor e personalidade e, em casos mais graves, gestos violentos e comportamento hostil).

- Mãe, tô com a garganta ardendo tanto!
- Ô, filha, vai passar. Você tomou o remédio e vai ver que não deve piorar.
- Ai, vou espirrr... ATCHIM - TUM!

(O Ministério da Saúde adverte: se no "AAATT" você joga a cabeça pra trás, cuidado com o rebote pra frente no "TTTCHIM!" - principalmente se sua cabeça estiver só um pouco acima do nível do tampo de mármore da mesa.)

- Corre, filha! O elevador chegou!
- Peraí, mamãe! Eu não posso correr senão estraga a maquetinha que eu fiz da princesa portuguesa! Minha professora disse que amanhã é o último dia pra entregar e eu não vou conseguir fazer outra e por isso não pode amassar nad...

(Perigo: ao entrar no elevador segure com firmeza papéis e objetos pequenos. Eles são propensos a escaparem da sua mão, caírem no vão entre o andar e o elevador e só pararem láááááá no poço, de onde nenhuma alma viva jamais retornou.)

Cara de tacho

- Filha, se você não gostou põe no cantinho do prato.
- *suspiro* Mãe, o prato é redondo. Como vai ter cantinho num prato redondo?

terça-feira, outubro 14, 2008

This is not an option

- O que ela tem?
- Dor de garganta. A pediatra mandou passar aquele spray. Ela já tá melhor.
- Faz um gargarejo com sal.
- Nem pensar.
- Você sempre ficava boa com isso, quando era pequena.
- Ela não sabe gargarejar. Vai engolir a metade da água com sal. Aí vai ficar com dor de barriga e vomitar. E, sabe, infelizmente não rola ficar doente no meio da semana. Não nessa casa. Não no meu turno. Não se eu puder evitar.

Bem-vindo ao meu mundo.

segunda-feira, outubro 06, 2008

Ajuda aí

Gentem, estou concorrendo (pela primeira vez na vida) a uma promoção. Escrevi uma frase falando sobre o que uma criança pode nos ensinar lá no blog da Patrícia, o Vida sem Manual. Então, é só escolher a minha frase (a de número 6) pra Zé Colméia e a Catatau ganharem os mimos que a Patrícia fez.

Ajudaí, vai.
Plizi.

quarta-feira, outubro 01, 2008

O que eu já soube de cor



Carmina Burana - Cantiones profanae cantoribus et choris cantandae comitantibus instrumentis atque imaginibus magicis (Canções seculares para cantores e coro para serem recitadas em conjunto com instrumentos e imagens mágicas)

E me lembro que, sempre que cantava rota tu volubilis mandava um volAbilis. E minha professora de canto jogava em cima de mim o que estivesse à mão: a partitura, uma almofada. Uma vez ela quase mandou um dos zilhões de filhotes de gato que subiam no colo dela durante a aula. Quase.

O Fortuna (Chorus) O Fortune
Fortune plango vulnera


O Fortuna Ó Fortuna,
velut luna És como a Lua
statu variabilis, Mutável,
semper crescis Sempre aumentas
aut decrescis; Ou diminuis;
vita detestabilis A detestável vida
nunc obdurat Ora oprime
et tunc curat E ora cura
ludo mentis aciem Para brincar com a mente
egestatem, Miséria
potestatem Poder
dissolvit ut glaciem. Ela os dissolve como gelo.

Sors immanis Sorte imensa
et inanis, e vazia
rota tu volubilis, Tu, roda volúvel
status malus, é má
vana salus Vã é a felicidade
semper dissolubilis, sempre dissolúvel
obumbrata nebulosa
et velata e velada.
michi quoque niteris; Também a mim contagias;
nunc per ludum Agora por brincadeira
dorsum nudum O dorso nu
fero tui sceleris. entrego à tua perversidade.

Sors salutis A sorte na saúde
et virtutis e virtude
michi nunc contraria, agora me é contrária
est affectus e Dá
et defectus e tira
semper in angaria. Mantendo sempre escravizado
Hac in hora esta hora
sine mora sem demora
corde pulsum tangite; Tange a corda vibrante;
quod per sortem porque a sorte
sternit fortem, abate o forte,
mecum omnes plangite! Chorai todos comigo!

Fortune plango vulnera Lamento as feridas da Fortuna
stillantibus ocellis pranto em meus olhos,
quod sua michi munera para os dons que ela me deu
subtrahit rebellis. perversamente ela tira.
Verum est, quod legitur, Em verdade está escrito
fronte capillata, que ela tem cabelos na fronte,
sed plerumque sequitur mas, quando deixarmos que ela passe
Occasio calvata. sua nuca é calva.

In Fortune solio No trono da Fortuna
sederam elatus, Costumava sentar-me,
prosperitatis vario muitas e coloridas da prosperidade;
flore coronatus; com flores fui coroado
quicquid enim florui embora possa ter prosperado
felix et beatus, feliz e abençoado
nunc a summo corrui, agora caio do alto
gloria privatus. privado de glória.

Fortune rota volvitur: A roda da fortuna gira:
descendo minoratus; Eu desço, arrasado
alter in altum tollitur; enquanto outro é elevado;
nimis exaltatus ; e bem lá no alto
rex sedet in vertice senta-se o rei no topo
caveat ruinam! Deixe que o medo o derrube!
nam sub axe legimus Escrito abaixo do eixo da roda
Hecubam reginam. Rainha Hécuba.