quinta-feira, dezembro 29, 2011

O exato momento



Catatau ligou exatamente às 12h10m, a voz bem fininha. "Voz de coelhinho atrás da moita", como eu digo a ela, e ela ri fofa, quente, macia, feliz, riso do meu bebê. Catatau sempre foi a-menina-que-adora-brincar-que-é-mulher. Sempre muito feminina, sempre cheirosa, sempre arrumada, sempre cuidada. As brincadeiras jamais incluíram violência, armas, subir em árvores, girar feio doida até cair de pernas abertas no meio do pátio da escola (aka Zé Colméia). A roupa sempre impecável, os cabelos escovados/arrumados, o perfume e o gloss na bolsa, a medição do salto para comprovar que, sim, esse ano eu estou usando sapatos mais altos do que no ano passado.

Catatau ligou exatamente às 12h10n, a voz bem fininha. "Mamãe, fiquei menstruada! E não estou com cólica nem com nada!". Depois dos seios, minha Joaninha tão redonda e cheirando a manhã botou o outro pé na adolescência. E eu, trocando emails com o distribuidor das revistas em São Paulo, com o telefone fixo na outra mão e o caderno de anotações aberto no colo, parei os minutos para sentir uma alegria imensa e uma tristeza incomparável pelo tempo que não volta mais, por aquilo que, se não aproveitei, não mais terei como recuperar. Terminou. E acabou de começar.

segunda-feira, dezembro 26, 2011

Dividir e multiplicar



Esta é a última semana do ano. Eu estou sozinha aqui na redação da revista. Eu & minhas listas, eu & minhas resoluções, eu & EU. Pensando como foi o ano, o que eu quero fazer em 2012 - você sabe, antes de o mundo acabar no próximo Natal :)

Então. Zé Colméia passou por um triz, Catatau passou direito. Zé Colméia ainda insiste em andar pelada pela casa (dentro e fora,) Catatau escolheu um sapato de salto (saltinho, vai) vermelho de verniz chiquerésimo pra usar na ceia de Natal na casa do pai. Minhas meninas que já não estão assim tão meninas.

Eu passei o Natal sozinha. Minha ceia foi um panetone com suco de manga. Era pra ser vinho verde, mas eu esqueci. Deixei de lembrar um monte de coisas, mas não me saía da cabeça meu pai segurando o choro ao telefone dizendo que o aparelho deles estava mudo e que ali, no meio da estrada poerenta, ele me abençoava e me desejava o melhor dos natais, o melhor dos revéillons, o melhor.

Meu cachorro mais novo fez 10 anos no dia de Natal. Dez anos. A caçulinha. Meu querido golden já avança para os 14 anos, com saúde e todos os dentes na boca. Ainda late alucinada e dolorosamente quando me vê calçar os sapatos para sair, e se esfrega em mim qual um gigantesco gato laranja quando chego em casa.

Sem água, sem as meninas, sem ceia de Natal, sem árvore, sem presentes, mas cheia de gratidão por terminar o ano com saúde, com meus pais vivos, com filhas saudáveis, com comida na mesa e um teto sobre a cabeça, com meus companheiros fiéis dormindo satisfeitos na cozinha, com meus amigos.

Bom 2012 pra você. Que o fim do próximo ano chegue assim: sem nada a pedir, com tudo por agradecer.