terça-feira, setembro 29, 2009

segunda-feira, setembro 28, 2009

Alvorecer



Desde que eu me entendo como gente acordo ouvindo sinos de igreja. Morei até meus 12 anos a dois quarteirões de uma que toca, até hoje, às seis da manhã, ao meio-dia e às seis da tarde - hoje é o que me avisa que está na hora de buscar as meninas na escola. Antigamente tocava também uma badalada somente de hora em hora, mas acho que os padres andaram cortando despesas.

Quando morei no interior de São Paulo a capelinha perto da minha casa todos os dias soava o que mais parecia uma sineta de chamar mordomo. Em Salvador, eu não sei que igreja badalava nessas horas do dia. O vento que soprava da praia da Pituba para dentro do continente trazia o som. Hoje, acordo todos os dias com o campanário da igreja do Bairro de Fátima.

Mas o que eu gosto mesmo são os apitos de navio, daqueles graves, de filme. Soam sem regularidade e não respeitam os horários, como os sinos. É de madrugada, principalmente, que enchem o ar longínquo com aquele "puuuuuuuuuuuuuu!" - sempre duas vezes. Porque não são como os sinos, que adoram sair em bandos, à luz do dia. Os apitos dos navios caminham à noite, aos pares.

quinta-feira, setembro 24, 2009

De folga

Você é uma mãe de família solteira, que trabalha no lar e fora dele, e por acaso tem uma tarde livre. O que você faz?
a) Aproveita para ir ao salão fazer as unhas.
b) Passa a tarde inteira passeando pela cidade, fazendo compras.
c) Derruba três bananeiras caídas por causa do temporal de segunda com uma faca para congelados, corta troncos & folhas & cachos de bananas em pedaços, enche 16 sacos de lixo de cem litros cada e desce com eles, em nove viagens, os 70 degraus da porta da sua casa à rua.
d) Vai pra casa se enrolar num cobertor e ver a reprise de "Felicity".
e) Bota o cinema em dia e arremata a folga com um café caprichado.

...

Minha vida é um tédio.

quarta-feira, setembro 23, 2009

Câmara clara*



Você pode trepar, transar e fazer amor. As duas primeiras requerem apenas conhecimento técnico. Mas a terceira requer algo mais.
Fazer amor é, antes de tudo, conhecer. O jeito de acender o cigarro, a maneira de inclinar a cabeça quando pensa. Os olhos ficam ligeiramente avermelhados quando bate o tesão? Se entrefecham? Há urgência nas mãos? Sim, há de se reparar em todos os detalhes.
Na hora, não se deve pensar muito. É instintivo. Mas também é a maneira de abraçar que faz o coração bater loucamente, sentindo que o desejo cresce e força passagem. As pernas não deixam, prendem o que quer se libertar. Tateia, tenta escapar, encontrar a saída por onde tanto deseja entrar.
Arquear as ancas (sabe o que são as ancas? A parte mais escandalosa, a que mostra à platéia se você está agradando). Passear as mãos pelo corpo, como se procurasse algo, mas feliz por apenas escorregar na pele lisa, sedosa, que se arrepia ao menor toque, seja ele agressivo ou diáfano. E então começa a luta, de uma violência que parece mostrar que ali não há amor, quando amor é o que mais há. "Por favor, não faz isso." Amante é tradutor universal. Isso quer dizer "Vem, eu preciso tanto de você." Escorrega-se, lenta e dolorosamente, para dentro, para um mundo onde minutos podem ser horas e vice-versa. Delicadamente, mas com firmeza. As bocas que se juntam num desencontro que parece não ter fim. Por que não acertam o passo? Porque há mais para acertar. O prazer vem do desacerto, das palavras que não dizem o que querem dizer. Tudo é ao contrário, a dor vira prazer, o prazer é tudo o que há.
As línguas que bebem o suor a escorrer da nuca, a descer pelos ombros. Mãos que buscam embaixo de corpos o que desesperadamente pede para ser tocado – mas que foge ao sentir o toque. Um púbis a escorregar pelas costas, costas a se chocar com pernas. Cabeças a subir por joelhos que não sabem se a ordem é encontro ou separação. Fazer amor é sentir os nós dos dedos dele na palma das mãos, o queixo nas espátulas, o roçar da barba por fazer, o hálito que se procura desesperadamente, como um guia no meio de um nevoeiro.

Fazer amor é, ao final, acariciar sobrancelhas, rosto, mãos. É escutar o ressonar satisfeito, como o de um gato. É ouvir urgência na pergunta: "Aonde você vai?" e tranqüilizar com um "Só beber um copo d'água".

* É por isso, moço.

O que seria



A foto de um menino que Anne Frank chamava de seu "verdadeiro amor" está sendo exibida em Amsterdã, no Museu Anne Frank. A imagem do jovem Peter Schiff foi encontrada no diário escrito por Anne, enquanto ela se escondia na Holanda ocupada pelos nazistas. No ano passado a foto inédita foi doada para o museu. Anne Frank foi uma adolescente judia obrigada a viver escondida dos nazistas durante o Holocausto. Durante mais de dois anos, os Frank moraram em um anexo secreto de uma casa localizada à beira de um canal antes de seu esconderijo ser descoberto e a família enviada para os campos de concentração. "Peter era o menino ideal: alto, magro, bonito, com um rosto sério, sereno e inteligente", escreveu Anne sobre o garoto de 13 anos pelo qual se apaixonou em 1940, quando tinha apenas 11 anos. Peter morreu mais tarde em Auschwitz, e Anne morreu no campo de concentração de Bergen Belsen, em 1945. O diário escrito por Anne Frank é um dos mais famosos símbolos do Holocausto.


Via Images&Visions, o blog sensacional de Fernando Rabelo. Mais informações no site do Anne Frank Museum Amsterdam.

Fotógrafos XIX - Nick Brandt



Lions head to head, Maasai Mara, 2008



Giraffes and dust devil, Amboseli, 2007



Elephant drinking, Amboseli, 2007



Baboons in profile, Amboseli, 2007



Cheetah and cubs lying on rock, Serengeti, 2007



Lionesses crossing lake, Ngorongoro Crater, 2000



Wildebeest Arc, Maasai Mara, 2006



Elephant with exploding dust, Amboseli 2004



Lion before storm IV, Close-up, Maasai Mara, 2006

segunda-feira, setembro 21, 2009

Do outro lado



Esperava o sinal abrir quando vi as duas na calçada oposta. A mãe esguia, linda, pescoço elevando a cabeça rumo ao céu, cabelos presos num coque lustroso. Pernas longas em meias grossas, calçados com mocassins elegantes e baixos. Saia reta, casaquinho de lã, blusa branca impecável, a bolsa de couro de crocodilo pendurada no braço como se contivesse a cabeça de São João Batista.

Dava a mão à filha. Uns dez anos. Vestida de colant rosa, meias rosas, sapatos boneca. Ainda de tutu de ensaio, os cabelos impecavelmente presos num coque debaixo da rede. Bochechas vermelhas pelo exercício, na mão oposta uma bolsinha branca com letras brilhantes: Je suis une ballerine. E no rosto o embaraço de saber o que todo mundo estava pensando e já cochichava na calçada: "Como uma mãe tão linda e esguia tem uma filha tão gorda e desajeitada?"

Gorda. "Se pelo menos a mãe vestisse a menina de preto..." sussurra um cara atrás de mim. "Credo, como saiu assim?" diz a adolescente ao meu lado, ela mesma numa questionável blusa três números abaixo do seu. E todos olham e comentam com o vizinho o contraste das duas.

Sentia-se o frisson no meio-fio. Todos os olhos em cima da menina, que mirava e remexia os sapatos. A mãozinha gorducha apertada na mão da mãe, que se inclina e fala baixo com ela - e instantaneamente a menina empina o queixo, levanta a cabeça e mira o nada à sua frente. O sinal abre e as duas atravessam. E então eu olhei intensamente a mãe, na esperança que ela retribuísse o meu olhar e eu pudesse falar, sem palavras, como sua filha era linda.

Que bobagem. Ela sabia. Ao nos cruzarmos, banhei-me em dois profundos e claros poços de orgulho e amor.

...

Chove, faz frio. Entreguei o último trabalho e estou à espera que entre mais coisa. Meus pais desceram para me ajudar a por minha vida em ordem. O chuveiro elétrico ainda está em curto, mas já consertei a descarga do banheiro.

Meu cabelo hora está lindo, hora está vergonhosamente maltratado. Idem para as minhas unhas. Ando com uma fome gigantesca e um apetite microscópico. Saudade de alguém que anda logo ali, mas que para mim é como se estivesse a caminho de Andrômeda - comunicações viajarão zilhões de anos para ir e outros zilhões para voltar.

Dias chuvosos não combinam com cancerianos. Preciso de sol.

quinta-feira, setembro 17, 2009

Preliminares




No Monte Verità, o homem olha a estátua. O homem é negro e baixo. A estátua é abstrata (um vazio dentro de um círculo) e foi esculpida muito tempo atrás por um escultor chamado Hans Arp.

Monte Verità é o nome de um hotel localizado na parte italiana da Suíça, em Ascona. Nos jardins do Monte Verità, o homem negro se encosta na estátua abstrata. Pousada em seu braço, uma exuberante arara-verde come biscoitos na palma da sua mão. Faz bastante frio e talvez neve, o que não combina com o homem, muito menos com a arara, mas combina com a estátua. [...]

A arara deve ter emigrado da África, não se sabe fugindo de quê. O home também emigrou da África, mais especificamente de Moçambique, fugindo das sucessivas guerras no seu país. Embora formado em Economia, ele trabalha no hotel como garçom. É o que lhe permitiram. Nos sucessivos congressos que se realizam no estabelecimento, diverte-se falando com os hóspedes na língua de cada um deles: italiano, alemão, francês, espanhol, grego, japonês, mandarim, enfim, português.

Em geral, os estrangeiros primeiro se espantam, quando o garçom se dirige a eles na sua língua, e depois se divertem, como se ouvissem aquela arara falar. [...] Agora têm uma boa história para contar em casa.

...

Manuel gostaria de escrever sobre a filha. Na cidade de Maputo, ele trabalhava tanto, para sustentar a família, e estudava tanto, para realizar seu único sonho, que mal a via em casa quando ela era criança.

Depois, a sua esposa morreu.

Depois, ele precisou fugir de repente, minutos antes de poder pegar a menina na escola.

Todo dia, ele se pergunta até que horas ela o ficou esperando na escola, sentada quietinha numa cadeira baixa na sala da diretora. Quem sabe a diretora, penalizada, lhe teria emprestado lápis de cor para desenhar.[...]

Seus pais nunca brigaram ou gritaram com ela. Até que a mãe, primeiro, a abandonou. Na verdade, a vida é que a abandonou: ela foi assassinada dentro da igreja e caiu para trás largando a mão da menina, que não chorou. A menina apenas olhou para o assassino uniformizado. Por alguma razão, talvez por conta desse olhar mesmo, ele não a matou, contentando-se com os vários corpos bem vestidos, roupa de domingo, que deixou estendidos no chão.

Manuel, em casa, aproveitada o silêncio da hora da missa para estudar Economia. O silêncio foi bruscamente interrompido pelo som sincopado dos tiros no quarteirão próximo. Ele levou alguns segundos para se mover porque imediatamente imaginou o que poderia ter acontecido. Quando o fez, correu para a igreja, desabalado e desesperado. No meio do caminho cruzou com os uniformes que, cínicos, sorriram para ele e para os outros que, como ele, procuravam adiante os parentes.

Na igreja, encontrou viva apenas a filha, ajoelhada ao lado do corpo da mãe. No altar, o padre também estava morto. Como contava a sua mulher, rindo, ele era um padre cético, cheio de dúvidas sobre Deus e sobre a sua vocação. Agora, ele não tinha mais dúvidas, era apenas um padre morto.

Manuel, não sabe como, conseguiu passar por cima dos demais corpos para cair de joelhos e abraçar a menina. Com os olhos secos, ela o olhou e disse, calma: "Papai, Deus chegou atrasado."

Gustavo Bernardo, "Monte Verità"
Editora Rocco, 2009

Tempos modernos

Às vezes quero acreditar que a felicidade está logo ali mas, rapaz, tá difícil. Não consigo ficar tempo suficiente acordada para vê-la passar. Nem que ela bata duas vezes na minha porta. Se eu parar para atender as meninas se atrasam, perdemos o ônibus e elas ficam retidas até as 8h30m.

Reclamo demais. "Bom-dia, vim trocar essa blusa que está manchada". "A senhora deixou de molho?" "Claro, é uma camiseta de criança." "Não podia deixar de molho." "Na etiqueta não diz nada disso". "Mas todo mundo sabe." "Eu sou limítrofe. Pra mim tem que escrever e, se possível, desenhar esquema colorido." "Minha senhora, a indústria da moda não pode se basear em pessoas com deficiências mentais [sic] na hora de fazer as etiquetas, não é?"
Ela não entendeu a ironia. Nem eu escrevendo e desenhando esquema colorido.

Catatau não quer mais ir à escola. "Por que, filha?" "Ah, mãe, não gosto de briga. E todo dia tem briga." E se você pensa que é naquele esquema de "sua chata, feia & bacalhuda"... quem me dera. "Você é uma piranha, e sua mãe também é." "Se eu sou piranha, você é puta, mesmo." "Hahahaha, olhalá o fulano, gay! Gay! Gay!" "Eu não sou gay!" "Hahahahahahaha, gay! Vai esfregar a bunda no muro, hahahahahaha!"
Some-se a isso cenas de pugilato, um menino esbofeteando uma menina, a mesma criturinha sendo salva pela professora de ser esganada por um cordão de sapato, duas meninas se matando e, ao serem apartadas, surrarem a agente educacional e verão o resultado da Semana Antibullying que a escola promoveu - apenas para alunos do Ensino Médio. "Para os menores não precisa; essas briguinhas são coisa de criança!", disse a débil mental que me avisou que o guri descrito no post abaixo "tem problemas, pobrezinho."

Príncipe, tô te esperando, cê num vem? Já mandei pro espaço essa coisa de mulher liberada. Não vou me importar de ser sustentada, paparicada e admirada. Juro. Levo assim numa boa, sem reclamar.

terça-feira, setembro 15, 2009

A fazer

Consertar a descarga do banheiro (que está vazando decalitros de água)

Consertar o chuveiro (que está dando curto e soltando tanta fumaça e lá em cima tá um frio miserável)

Passar pelo menos um dos três baldes de roupa

Levar Zé Colméia à psicopedagoga

Levar Zé Colméia para fazer o ultrassom dos olhos

Comparecer à reunião com a coordenadora pedagógica à procura da resposta à minha reles questã-enquanto-mãe-que-não-é-profissional-de-educação: se minha filha mais velha foi suspensa porque, ao tentar se desvencilhar da agente educacional (aka inspetora do pátio), empurrou a mulher no chão e machucou-a seriamente (mesmo sem a intenção de), por que o garoto da sala da Catatau que literalmente surrou a professora com chutes e socos ao não ter sua vontade atendida continua a desfrutar da companhia das outras crianças civilizadas?
Resposta da direção: "Ele tem problemas, pobrezinho."

Costurar as lantejoulas da roupa da Catatau para a apresentação amanhã de ginástica

Estudar com Zé Colméia para a segunda chamada de português amanhã (eu vou ter que ler pra ela, pois ela vai dilatar a cupila)

Passar no supermercado

Encomendar ração para os cachorros

Encapar os livros do Clubinho de Leitura das meninas (top to do: atraso de três semanas)

Esqueci alguma coisa da lista de hoje?
Ah, sim.
Trabalhar.

Depois meus pais não fazem idéia por que motivo eu pedi um escravinho de aniversário.

sexta-feira, setembro 11, 2009

Eu confesso...

Que ando tão cansada, mas tão cansada - principalmente a cabeça e não o corpo - que preciso tomar, assim que chego em casa, uma latinha de Red Bull (é, agora tenho sempre na geladeira) pra aguentar o suficiente para botar as meninas na cama, arrumar as coisas para o dia seguinte e desmaiar às 22h - e só recobrar a consciência às 5h30m do dia seguinte.

quinta-feira, setembro 10, 2009

...

Quando a escola das meninas suspendeu as aulas por conta da suspeita de gripe suína, as meninas ficaram doentes logo depois. Febre muito alta, dor de garganta e no corpo. Bom. Pânico mode on. Elas se recuperaram bem, mas mesmo assim fizemos exame de sangue (40 dias pra sair o resultado). E desde então eu sou a maníaca-de-gel-na-bolsa - principalmente porque, como eu não tive nada, posso ser portadora.

Mas eis que Zé Colméia começa a ver mosquinhas. Pontos pretos no campo de visão. Hoje levei-a para fazer a revisão médica da gripe suína-ou-não e depois, consulta no oftalmologista. Ele se surpreendeu, porque essas "mosquinhas" costumam somente aparecer com pessoas de idade avançada. Segundo ele, é benigno, provocado por estresse. Dos brabos.

Na semana que vem ela vai fazer uma tomografia a laser (tá se achando o máximo porque vai sair de óculos escuros) e só então ele vai dar o diagnóstico final. Eu olho pra minha menina que tem a péssima mania de guardar tudo dentro de si - as decepções com o pai relapso, as decepções com a mãe sempre cansada e ocupada, os temores na escola que desde sempre a rotularam como uma criança "difícil". E então eu a abraço e aperto bastante, torcendo para que isso dê a ela, ao menos, a ilusão que o mundo feio e malvado jamais a alcançará.

quarta-feira, setembro 09, 2009

Wagner & Beethoven















O cânone da Música Erudita Ocidental é pequeno demais para nós dois, cara.

E por falar em Polônia

À leitora de Mountain View, California.
Comente. Não se acanhe.
Obrigada pela preferência.
Volte sempre.

Pronto. Você espantou a criatura. Nunca mais ela volta, coitada.

sexta-feira, setembro 04, 2009

Selos não incluídos


Eu gosto de escrever cartas. Longas cartas, em que da descrição do caminho que fiz até aqui enveredo por lembranças de quando minha avó era viva, do cheiro da grama cortada e dos pinheiros que me lembrava o exato momento em que entrávamos em Teresópolis, e como nós nos conhecemos. Escrever uma carta é um exercício da memória, em que normalmente tudo o que é de bom aparece, porque nos recusamos a perder tempo escrevendo tudo o que é de mau - pra isso, existe o telefone.

A persistência da memória (expressão que eu adoro usar, e que aprendi com Carl Sagan) é uma coisa útil, porque sempre nos cutuca quando andamos pela rua; quando estamos preparando às pressas o café-com-leite de manhã e ao lermos no jornal que a última loja da Virgin fechou. Eu adoro passar na porta do quartel do Corpo de Bombeiros porque sempre me lembro do meu avô dizendo como as pessoas engolem o "s" dos Bombeiros e dos Correios ("e é TelégrafO, sem s, porque os correios são muitos mas o telégrafo é um só.")

Eu aprecio cada dia mais o amanhecer, porque é outono e esta é uma das minhas estações prediletas - perdendo só para a primavera, mas as duas não precisam brigar: gosto de ambas porque o céu é sempre mais azul, as manhãs mais frias e as noites mais acolhedoras.

Viu? Já viajei num montão de coisas, só para dizer a você que eu gosto de escrever cartas. Quase sempre uso papel, mas cada vez menos. Porque as pessoas não tem a menor noção do que seja uma carta. Não é o tempo perdido de sentar e escrever à mão, dedos doídos pela caneta, a letra meio torta pelo costume do computador. É o tempo ganho pensando em alguém, lembrando de alguém, perguntando por alguém. E, como as pessoas não entendem, elas respondem por e-mail. Ou, pior, perguntam por que a gente não usa MSN.

Heresia.

Eu tenho muitas cartas escritas e não enviadas. Essa, felizmente, eu tive coragem de mandar.

quinta-feira, setembro 03, 2009

Świat

Uma das coisas que eu mais aprecio tendo um blog é saber que gente de outros países entra aqui e lê sobre minha vidinha sem graça no alto do morro. Pois ontem alguém da Polônia ficou meia hora andando por este Breviário. E não olhou só as gravuras e os esquemas de frutas; botou este que ocupa a vossa tela no translate do Google e leu o que eu escrevi em polonês .

Moja wdzięczność dla Ciebie.

Batendo latinha

Fim da quarentena.
Quase que eu saio só com uma flor no umbigo gritando "Liberdade" pela rua.
Quase.

terça-feira, setembro 01, 2009

Giz apagador

Como Zé Colméia (com a suspensão das aulas da turma dela) levara todos os livros para casa, obviamente acabou esquecendo alguns na escola. Pegamos o que faltava e quando chegou em casa foi direto fazer o dever no livro de Geografia, abandonado no armário do colégio. Já bêbada de sono, miou um "Corrige pra mim, mãe" e foi dormir.

E eu fui lá ver. E fiquei horrorizada, chocada. Eu tento acompanhar os deveres mas - tolinha que sou - com duas professoras regentes de manhã e uma à tarde achei que bastaria ficar em cima pra ela não esquecer de fazer as chamadas APs (avaliações periódicas) que vão para casa na segunda e devem ser entregues uma semana depois (os deveres de casa são feitos durante o estudo dirigido, à tarde), além de auxiliar nas eventuais pesquisas.

Pois bem. O livro é um festival de frases sem sentido nenhum ("Os produtos de Minas Gerais são mais caros do que os de São Paulo porque são mais caros"); erros recorrentes de português ("estensão", mas/mais, "menas"), letras faltando no meio de palavras, inexistência de pontuação - e por aí vai.

O que me deixou mais abismada é que ela passa por TRÊS professoras - três. Que corrijem e dão como certo essas barbaridades. E depois me dizem que eu tenho que fiscalizar os deveres. E TAMBÉM dar uma corrigida básica. E FAZER os deveres com ela - depois das 19h30m, que é quando chegamos em casa.

Ontem de tarde li esse post da Aline. Acompanho diariamente as agruras da Deh em sua inglória luta pelo ensino público. E penso nos R$ 2260 que pago por mês à escola. Na professora da Zé Colméia me dizendo, no meio da festa junina que encerrou o semestre passado, que "ela está perigando repetir de ano" - isso antes de a psicopedagoga sequer ter dado o laudo e, pior, na frente da minha filha.

E sinto uma vontade incontrolável de ir lá e enfiar a mão na cara das três.