sábado, novembro 29, 2008

Punjabi soul



Jind Mahi

Oh jind mahi baaz tere kumlayiyaan, teriyan laadliyan bharjayian
oye baagi firan kadi nahin aayiyaan,
Oh ik pal beh jana mere kol, tere mithde ne lagde bol
Oh jind mahi je chaliyon patiale, othon liyavi reshmi naale
Adhe chitte te addhe kaale,
Oh ik pal beh jana mere kol, tere mithde ne lagde bol
jind mahi baajre diyan chattiyaan, mela vekhan aayiyaan jattiyaan
Hath ch sheeshe te laundiyan pattiyan,
Ik pal beh jana mere chanda, Vichora do dilan da manda.
ho jind mahi ishqey di kaali raat, hove jiven sawan barsaat
ehe ishq hai buri saugaat
ik pal beh jana mere kol, tere mithde ne lagde bol

Minha querida

Meu amor, elas estão tristes sem você, minhas adoráveis cunhadas
Oh, você jamais veio ao jardim para caminhar
Sente-se um momento comigo, eu adoro suas doces palavras
Ei, amor, se você estiver indo para Patiala, traga sedosas meadas de lá
algumas brancas, algumas negras
Sente-se um momento comigo, eu adoro suas doces palavras
Meu amor, há trigo nos talos, primas vieram para ver a festa,
pentear os cabelos com espelhos nas mãos
Sente-se um momento, minha lua; a separação de dois corações é muito ruim
Minha querida, na noite escura do amor, tal como a chuva de monção,
o dom do amor é muito doloroso
Sente-se um momento comigo, eu adoro suas doces palavras


sexta-feira, novembro 28, 2008

Noite



Homem: Estou falando daquela vez no rio.

Mulher: Que vez?

Homem: A primeira vez. Na ponte. O começo, na ponte.

Mulher: Não consigo me lembrar.

Homem: Na ponte. Paramos e olhamos o rio. Era noite. Havia luzes na margem. Estávamos sozinhos. Eu pus minha mão na tua cintura. Você se lembra? Pus minha mão por baixo de teu casaco.

Mulher: Era inverno?

Homem: Claro que era inverno. Foi quando nos encontramos. Foi nosso primeiro passeio. Deste passeio você se lembra.

Mulher: Eu me lembro do passeio. Eu me lembro do passeio com você.

Homem: A primeira vez? Nosso primeiro passeio?

Mulher: Sim, é claro. Eu me lembro dele. (pausa) Caminhamos pelo campo. Atravessamos algumas cercas, chegamos num canto e paramos junto a uma cerca.

Homem: Não. Foi na ponte que nós paramos.

(pausa)

Mulher: Então foi outra pessoa.

Homem: Que besteira.

Mulher: Foi outra mulher.

Homem: Faz muito tempo. Você se esqueceu. (pausa) Eu me lembro da luz sobre a água.

Mulher: Você estava junto à cerca e segurou meu rosto com suas mãos. Você foi muito gentil. Muito atencioso. Você me acariciou. Seus olhos procuraram meu rosto. Eu queria saber quem era você. Queria saber o que você ia fazer.

Homem: Foi numa festa que nos encontramos. Você não concorda com isto?

Mulher: O que foi isso?

Homem: Isso o que?

Mulher: Pensei ter ouvido uma criança chorando.

Homem: Não há barulho nenhum.

Mulher: Pensei ter ouvido uma criança chorando, acordando.

Homem: A casa está em silêncio. (pausa) É muito tarde. Ainda estamos sentados aqui. Já devíamos estar na cama. Tenho que acordar cedo amanhã. Tenho muitas coisas para fazer. Por que você quer discutir?

Mulher: Eu não quero discutir. Não estou discutindo. Eu quero é ir para a cama. Também tenho muito a fazer. Tenho que acordar cedo amanhã.

(pausa)

Homem: A festa foi na casa de John. Você o conhecia. Eu, só de vista. Conhecia mesmo era a mulher dele. Foi lá que encontrei você. Você estava em pé, junto à janela. Eu sorri e, para minha surpresa, você também sorriu para mim. Gostou de mim. Fiquei admirado. Você me achou atraente. Mais tarde me disse isto. Você gostou dos meus olhos.

Mulher: E você gostou dos meus. (pausa) Pegou minha mão. Perguntou quem eu era e o que fazia. E se eu percebia que você estava segurando minha mão, que seus dedos estavam apertando os meus, que seus dedos estavam entre os meus.

Homem: Não. A gente parou na ponte. Eu estava atrás de você. E pus minha mão por baixo do seu casaco. Na sua cintura. Você sentiu minha mão em você.

(pausa)

Mulher: Nós tinhamos estado numa festa. Na casa de John. Você já conhecia a mulher dele. Ela te olhou com muito interesse. Dando a entender que o queria. Ela parecia gostar muito de você. Eu não o conhecia. Nunca havia visto você. A casa deles era maravilhosa. Na margem do rio. Fui apanhar meu casaco e você ficou me esperando. Você se ofereceu para me acompanhar. Achei muito simpático, muito gentil, muito educado, muito atencioso. Pus meu casaco e olhei pela janela, eu sabia que você estava me esperando. Olhei do jardim até o rio e vi as luzes sobre a água. Então fui até você e passeamos pelo campo, atravessamos algumas cercas. Devia ser uma espécie de parque. Depois pegamos o seu carro. E demos algumas voltas.

(pausa)

Homem: Eu toquei teus seios.

Mulher: Onde?

Homem: Na ponte. Eu segurei teus seios.

Mulher: Tem certeza?

Homem: Eu estava atrás de você.

Mulher: Fiquei me perguntando se você ia fazer isso, se você queria mesmo, se você ia fazer.

Homem: Sim.

Mulher: Fiquei me perguntando como você ia fazer isto, se tinha vontade suficiente.

Homem: Pus minha mão por debaixo da tua blusa. Soltei teu sutiã. E apertei teus seios.

Mulher: Talvez uma outra noite. Ou uma outra mulher.

Homem: Você não se lembra de meus dedos no teu corpo?

Mulher: Eles estavam nas tuas mãos? Meus seios? Nas tuas mãos?

Homem: Você não se lembra das minhas mãos no teu corpo?

(pausa)

Mulher: Você estava atrás de mim?

Homem: Sim.

Mulher: Mas eu estava encostada na cerca. Senti a cerca nas minhas costas. Você estava de frente pra mim. Eu estava olhando os teus olhos. Minha blusa estava fechada. Fazia frio.

Homem: Eu desabotoei tua blusa.

Mulher: Era muito tarde. Estava meio frio.

Homem: E depois a gente deixou a ponte. E fomos andando pela margem e chegamos num monte de folhas.

Mulher: E você me possuiu, e disse que estava apaixonado por mim, e você disse que ia tomar conta de mim para sempre, e que minha voz, meus olhos, minhas coxas, meus seios eram maravilhosos e que você ia me adorar sempre.

Homem: Sim. Eu disse.

Mulher: E você vai me adorar sempre.

Homem: Sim. eu vou.

Mulher: E então nós tivemos filhos e estamos sentados aqui, conversando e você se lembrou de mulheres nas pontes e nas margens e nos montes de folhas.

Homem: E você se lembrou dos teus quadris na cerca e homens segurando tuas mãos e homens olhando nos teus olhos.

Mulher: E falando comigo suavemente.

Homem: E tua voz suave. Falando pra eles suavemente. Na noite.

Mulher: E eles diziam: "Eu vou te adorar sempre."

Homem: Dizendo: "Eu vou te adorar sempre."


Harold Pinter

quarta-feira, novembro 26, 2008

Esquizofrenia

É impressionante como o mundo de Suzana é tão mais rico, mais interessante, mais prazeiroso do que o mundo da outra.

E, acredito, aí é que mora o perigo.

Jamais se repita

Eu já vivi isso - e não desejo nem à maior fdp que encontrar na vida.
Assine, por favor.

segunda-feira, novembro 24, 2008

Punjabi groove



Darshan

Oh ni, tere hoye savere darshan, aj din vadiya lagoogaa
Tere hoye savere darshan, aj din vadiya lagoogaa
Oh aj din vadiya lagoogaa
Ni aj din vadiya lagoogaa
Oh ni, tere hoye savere darshan, aj din vadiya lagoogaa
Tere hoye savere darshan, aj din vadiya lagoogaa
Oh ni, tere hoye savere darshan, aj din vadiya lagoogaa
Oh, sona mukharda vekh ke tera
Baago baag hoyaa dil mera
Tenu hath jordh ke aakhaan
Ni mere dil wich laale dera
Oh, sona mukharda vekh ke tera, ni baago baag hoyaa dil mera
Tenu hath jordh ke aakhaan, ni mere dil wich laale dera
Ni koi karmaan walaa ishq tere de rang wich rangoogaa
Oh ni, tere hoye savere darshan, aj din vadiya lagoogaa
Ni, tere hoye savere darshan, aj din vadiya lagoogaa
Tere hoye savere darshan, aj din vadiya lagoogaa
Kade niwi paake hasna, ni haske chori-chori takna
Haske chori-chori takna
Teraa tumuk tumuk ke turna, ni pab boch boch ke chalna
Ni pab boch boch ke chalna
Kade niwi paake hasna, ni haske chori-chori takna
Teraa tumuk tumuk ke turna, ni pab boch boch ke chalna
Teraa nakhraa pata nahin kiniyaan di jind sooli tangooga
Oh ni, tere hoye savere darshan, aj din vadiya lagoogaa
Ni, tere hoye savere darshan, aj din vadiya lagoogaa
Tere hoye savere darshan, aj din vadiya lagoogaa
Chad ke lare lambe laune, je tu sikh le bol pagaune
Je tu sikh le bol pagaune
Tere rahaan de wich ardiye, phir jagraj ne nain vichaune
Phir jagraj ne nain vichaune
Chad ke lare lambe laune, je tu sikh le bol pagaune
Tere rahaan de wich ardiye, phir jagraj ne nain vichaune
Teraa mairam main rab de kolon tenu hi mangogaa
Oh ni, tere hoye savere darshan, aj din vadiya lagoogaa
Ni, tere hoye savere darshan, aj din vadiya lagoogaa
Tere hoye savere darshan, aj din vadiya lagoogaa
Ni, tere hoye savere darshan, aj din vadiya lagoogaa
Tere hoye savere darshan, aj din vadiya lagoogaa
Ni, tere hoye savere darshan, aj din vadiya lagoogaa

Visão divina

Menina, eu percebi a sua presença, esta manhã; hoje será um dia maravilhoso
Hoje o dia será, sem dúvida, maravilhoso
Hoje vai ser maravilhoso
Hoje vai ser maravilhoso
Menina, eu percebi a sua presença esta manhã
Hoje o dia será, sem dúvida, maravilhoso
Menina, eu percebi a sua presença esta manhã
Vendo o seu lindo rosto
O meu coração ficou absolutamente louco; uno minhas mãos e digo
Venha e viva no meu coração
Algum homem de sorte será seu escolhido
Vendo o seu lindo rosto, meu coração ficou absolutamente louco; uno minhas mãos e digo
Venha e viva no meu coração
Algum homem de sorte será o seu escolhido
Quem se tingirá com as cores do seu amor?
Menina, eu percebi a sua presença, esta manhã; hoje será um dia maravilhoso
Menina, eu percebi a sua presença, esta manhã; hoje será um dia maravilhoso
Menina, eu percebi a sua presença, esta manhã; hoje será um dia maravilhoso
Às vezes você baixa os olhos e ri e, ao rir, rouba um instante do tempo
Enquanto você ri rouba um instante do tempo
O jeito de caminhar sem pressa e suavemente sobre as pontas de seus dedos
Sobre as pontas de seus dedos
Às vezes você baixa os olhos e ri e, ao rir, rouba um instante do tempo
O jeito de caminhar sem pressa e suavemente sobre as pontas de seus dedos
Com a sua atitude quem sabe quantas pessoas ele vai matar
Menina, eu percebi a sua presença, esta manhã; hoje será um dia maravilhoso
Menina, eu percebi a sua presença, esta manhã; hoje será um dia maravilhoso
Menina, eu percebi a sua presença, esta manhã; hoje será um dia maravilhoso
Se você deixar de fazer falsas promessas e aprender a manter sua palavra
Se você aprender a manter sua palavra
Então ele a seguirá menina, Jagraj vai olhar para você
Jagraj vai olhar para você
Se você deixar de fazer falsas promessas e aprender a manter sua palavra
Se você aprender a manter sua palavra
Então ele a seguirá menina, Jagraj vai olhar para você
Jagraj vai olhar para você
Como aquele que te ama, de Deus; vou pedir apenas para você
Menina, eu percebi a sua presença, esta manhã; hoje será um dia maravilhoso
Menina, eu percebi a sua presença, esta manhã; hoje será um dia maravilhoso
Menina, eu percebi a sua presença, esta manhã; hoje será um dia maravilhoso
Menina, eu percebi a sua presença, esta manhã; hoje será um dia maravilhoso
Menina, eu percebi a sua presença, esta manhã; hoje será um dia maravilhoso
Menina, eu percebi a sua presença, esta manhã; hoje será um dia maravilhoso


terça-feira, novembro 18, 2008

Saldos de primavera

Contabilizando a tempestade de ontem:

* Três ralos entupidos com minigoiabas & carlotinhas
* Dois ralos entupidos com pêlos & folhas
* 3,7 toneladas de cocô de cachorro derretido
* Três cachorros fedendo (e dormindo cada um num canto do terraço - pra ver como tá feia a coisa)
* Dois quartos externos inundados
* Dois sacos de carvão transmutados em lama negra
* Dois panos de chão desaparecidos
* Uma pitangueira careca
* Uma bananeira tombada
* Duas novas goteiras

Entre mortos e feridos, salvaram-se todos - não temos notícias de corpinhos de camundongos à deriva (vide post antigo que eu estou com preguiça de procurar).

Fotógrafos IX - Bruno Mercier



Ocean dream, Havre de Portbail, 2006




La Potinière - Plage de la Potinière, Carteret, 2008




Dielette - Phare sur le port de Dielette, 2006




Green is the light - Chateau des Ravaler, 2007

Arca perdida



As pessoas fazem listas de desejos, como visitar a terra dos pais ou tirar uma foto no topo da Torre Eiffel. Eu tenho desejos mais sensoriais. Por exemplo, vi "Sonhos", de Akira Kurosawa, e uma das partes do filme chama-se "Pomar de pêssegos". Como deve ser o cheiro de um pomar de pessegueiros quando as árvores florescem? Queria saber. Ou de um pomar de cerejeiras - dá pra sentir o pretenso perfume nas fotos.

Um campo de tulipas. Ou aqueles prados cheios de lavanda que se vê em fotos da Provença. Consegue imaginar o perfume no ar?

"Lições de francês", um livro do gastrônomo e enólogo Peter Mayle, fala de uma viagem em busca de belas refeições pelo interior da França. Ele descreve uma tarde de outono numa cidadezinha ao sul, copo de vinho na mão, o calorzinho do sol se pondo. Ouvindo as colinas sussurrarem. Eu queria isso para mim.

Um grande compositor brasileiro chamado Henrique Oswald acabara de compôr sua mais famosa obra para piano quando perguntou à mulher que nome dar a ela. Estava escurecendo sobre Paris e nevava. Ela olhou pela janela e disse: "Il neige". Quero ouvir a neve cair sobre Paris.

Viajando pelo interior da Itália, estávamos nos aproximando de Assis. E o sol caía esplendidamente sobre o vale. Lembrando-me agora, parecia como o brilho do sol atravessando o azeite - já reparou como é de um tom dourado estranho, puxando para o verde? Era exatamente essa cor. Mas cada vez que tento me lembrar daquele momento sinto que a imagem vai ficando cada vez mais desbotada. A hora é errada, a cor está diferente, o silêncio não é igual. Quero refrescar a minha memória e regravar aquele tom de dourado novamente nas minhas lembranças.

Fechar os olhos e ouvir ao vivo Wynton Marsalis dividir o palco com seu irmão Branford. Acampar à noite e contar estrelas. Ter uma casa onde eu possa dormir ouvindo o mar. Ter desejos secretos, ainda por realizar.

* Obrigada, amigo.

sexta-feira, novembro 14, 2008

Boing boing



Tem certos fins de semana em que eu, realmente, sinto uma certa falta das festas que eu dava.
*Suspiro*

Descendente I

A maturidade traz momentos de sensatez e serenidade, como comer de uma vez só, inteirinho - e raspando aquele papel encerado com a colher pra não perder nem um gruminho - um Chocotonne. Maxi. De um quilo.

E depois ficar pensando como explicar às suas filhas de onde apareceu ("Ah? Onde? Ali? Ali, onde? Ah, isso? Não, não sei como isso foi parar aí. Não") aquele papai noel de brinde.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Por baixo da ponte



Minha mãe visitando a sede do Ministério da Cultura. Aí ela se lembra de quando foi lá registrar seu diploma de professora - os dados eram copiados à mão, numa letra de escriba medieval, por senhorinhas acomodadas no último andar do prédio.

- Olá, pode me dar uma informação? - pergunta ela a um guardinha no saguão. - Ainda existem aquelas velhinhas numa salinha lá no último andar preenchendo os diplomas do Instituto de Educação à mão?

Ao ouvir o "velhinhas", o guardinha automaticamente olha os cabelos alvos e fofos de minha mãe, o leque de rugas em volta dos olhos verdes e brilhantes num rosto corado e redondinho - e meio engasgado, responde:

- Vel...hinhas? Sim, senhora. Elas ainda trabalham lá.

E minha mãe, mais engasgada ainda, liga o sinal de "Velhice é uma merda" e vai embora - entrando na fila dos idosos rumo ao elevador até o último andar.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Descendente



A maturidade traz momentos de sensatez e serenidade, como passar horas fuçando ferozmente lojas de sapatos atrás daquele modelo perfeito - que, obviamente, ainda não desceu do Mundo das Idéias.

November 4, 2008



Patrick Moberg

terça-feira, novembro 04, 2008

Caderno de notas



Ignorava quase tudo dessas mulheres; a parte que entregavam das suas vidas cabia entre duas portas entreabertas. Seu amor, do qual falavam sem cessar, parecia-me por vezes tão leve quanto uma de suas guirlandas, como uma jóia da moda, um ornamento caro e frágil. Imaginava-as ataviando-se com sua paixão tal como usavam o carmim ou colocavam seus colares. [...] Acabei por compreender que o espírito do jogo exigia esses perpétuos disfarces, esses excessos nas confidências e nas queixas, esse prazer ora aparente, ora dissimulado, esses encontros planejados como os passos de uma dança. Mesmo nas disputas esperavam de mim uma réplica antecipadamente calculada, e a bela mulher desfeita em lágrimas torcia as mãos como num palco.

Tenho pensado freqüentemente que os amantes apaixonados pelas mulheres se prendem ao templo e aos acessórios do culto tanto, pelo menos, quanto à sua própria deusa. Deleitam-se com os dedos tintos pela alcana vermelha, com os perfumes na pele, com os mil artifícios que realçam a beleza e, por vezes, fabricam-na por completo. [...] Dificilmente se poderia dissociá-las da doçura febril de certas noites de Antioquia, da excitação das manhãs de Roma, dos nomes famosos que usavam, do ambiente de luxo em que o maior requinte era mostrarem-se nuas, mas jamais sem seus adereços.

Eu teria ambicionado muito mais: queria a criatura humana despojada de tudo, sozinha consigo mesma, como teria sido forçoso que estivesse algumas vezes na doença, ou depois da morte do primeiro filho recém-nascido, ou frente a uma primeira ruga adiante do espelho. Um homem que lê, pensa ou calcula pertence à espécie e não ao sexo; nos seus melhores momentos ele escapa inclusive ao humano. No entanto, minhas amantes pareciam vangloriar-se de não pensar senão como mulheres; o espírito ou a alma que eu buscava ainda não era mais que um perfume.


Marguerite Yourcenar, "Memórias de Adriano"
Tradução de Martha Calderaro
Editora Nova Fronteira, 1980.

A cada vez que encontro alguém sempre me cobram os adereços; estou ainda a esperar aquele que queira apenas a "criatura humana despojada de tudo, sozinha consigo mesma".

segunda-feira, novembro 03, 2008

Moviola



David Lynch and Isabela Rosselini, by Helmut Newton

...

Preparar um original ruim deve ser como fingir orgasmo.
Muito esforço pra nada - uma total perda de tempo.

Actor's Studio

The key to acting in long scenes is finding a comfortable place for your character to sit. (A chave para interpretar longas cenas é achar um lugar confortável para seu personagem se sentar.)

David Hewlett

Bichinhos de jardim



Mais aqui.