terça-feira, junho 30, 2009

Vieste, retornaste



Não sei se felicidade é a palavra certa – é mais como uma energia positiva. É impossível simplesmente desistir. Para mim foi uma necessidade [esta mudança de olhar]. Mas as coisas evoluem como grandes ondas, uma peça surge de uma maneira e, depois, sem eu saber bem como, a seguinte já vem numa onda diferente. Mas é-me difícil falar do que será neste momento. Talvez um pouco de ambos. É difícil falar de certas coisas. Como é que se pode falar deste desamparo que temos no mundo? O que é que fazemos com isso? Carregamos isso, esses sentimentos tão presentes. E há uma grande necessidade de gastar emoções. Não é só felicidade. É também o oposto disso. Mas em todo o meu trabalho há coisas tão diferentes. Vai-se muito fundo, mas depois volta-se. E há o humor – nunca gostei de peças que se desenrolam num só nível; o ambiente das minhas está sempre a mudar, com o fim sempre em aberto.
Eu também não sei. Há mais perguntas que respostas. Há muitas perguntas.

Pina Bausch em entrevista ao jornal Público, caderno Ípsilon, 2 de maio de 2008. Foto de Atsushi Iijima.

A luz no corredor



Para Kátia Suman

Há um tempo de aprender no tempo de desaprender a si mesmo. Eu nunca havia reparado na luz do corredor até ter filhos. Ela não tinha necessidade, eu não a acendia, ficava desligada sem insetos no bojo de sua esfera, com o interruptor decorativo. Limpa e impecável como quem saiu do banho. Uma luz que não pesava na lista do mercado, que não conhecia a escada, que não apitava som e não explodia com a umidade. Depois que nasceram as crianças, ela passou a existir e adquiriu uma importância maior do que a do quarto e da sala. Do descaso e acidente, tornou-se uma lâmpada materna. Uma lâmpada que dá claridade sem tirar o escuro, que dá clareza sem anular a pergunta, um elo entre a cama dos pais e o sono dos filhos, um confessionário da residência, com ouvidos prontos a receber a troca de guarda. A luz do corredor serve para ler enquanto o outro dorme, serve para as crianças não se sentirem amassadas pelo fim do dia, tranqüiliza e faz esperança.

A luz do corredor é terapia de casal, concilia as diferenças do cansaço. Cão de guarda que não incomoda com os latidos e lambe apenas os pés e os chinelos ao pé do armário. Quando o descanso é mais pesado, a luz do corredor é eventualmente substituída pela luz do banheiro, com a porta entreaberta, mas não perde sua realeza ao permitir a passagem sem fiscalizar o trânsito. Minha idade poderia ser identificada pelo uso das lâmpadas. Quando criança, queria dormir de luz acesa. Quando adolescente, todas as luzes ficavam apagadas para não denunciar a hora que chegava. Quando adulto, a sala permanecia iluminada e me convidava para a janela. Quando maduro, vou me importar somente com a luz de fora, para advertir que existe alguém em casa, que a luz de dentro não foi uma luz roubada.

Fabrício Carpinejar

segunda-feira, junho 29, 2009

Fotógrafos XV - Edouard Boubat



Lella, Bretagne, 1947



Paris, Parc de Sceaux, 1983



India, 1962



Paris, 1951



Nazare, Portugal, 1956



Rémi écoutant la mer, août 1955

sexta-feira, junho 26, 2009



Quando eles morrem, acabam levando um pedacinho da gente com eles - da nossa infância, da nossa adolescência. Mesmo que a gente nunca mais tenha prestado atenção neles, não interessa: eles estavam lá, e era o que bastava.

Da concorrência na escola pra ver que menina tinha o cabelo mais parecido, mais revolto, mais igual - e as louras esnobavam a imensa maioria morena, que corria por fora no quesito "dentes mais brancos & certinhos". E quando se descobriu que o sobrenome dela significava "torneira", rá! Então ficou a moda dos pingentes em forma de torneirinhas douradas, vendidos a rodo nas Lojas Americanas.



Das festas onde sempre tinha alguém que sabia fazer os passos, igualzinho. Das fitas cassete gravadas em domicílio, à custa de pedidos suplicantes para que não se fizessem ruídos pela casa, a agilidade de dar stop ou pause no momento certo - sem cortar a música ou deixar silêncios desnecessários, onde sempre se ouvia alguém tossindo ou um cachorro latindo ao fundo. Tesouros que passavam de mão em mão, porque o LP duplo era caro, muito caro.

E a gente vai ficando por aqui, se sentindo cada dia mais velho ao ver Hanna Montana se requebrando toscamente no palco, de peruca loura e cara amassadinha de pré-adolescente, esganiçando músicas sobre o nada.

"Quem morreu, hein mãe?"

Minha juventude, filha. Lenta mas inexoravelmente, minha juventude.

quarta-feira, junho 24, 2009

...

Atinge a gente como uma bolada no meio do peito - indefensável. Tira o ar, os olhos secos querendo se molhar, as pontas dos dedos das mãos dormentes, uma sensação gelada subindo pelas costas. Aí você olha o rosto inchado, o gelo no galo imensamente intumescido e sangrento na testa da inspetora, os dedos feridos, balbucia "Desculpe pelo que ela fez" - mas você sabe que não tem desculpa. Só muita vergonha, que ora tira, ora põe sangue nas maçãs do seu rosto. A diretora fala manso, mas você não precisa ouvir - basta ler nos lábios dela o que já adivinhou: "... e por isso ela está suspensa até segunda-feira."

Saí da escola feito tonta. Uma vontade de chorar que só agora, escrevendo, eu consigo fazer da teoria, prática. Lancei mão de todos os recursos: andei até não saber onde estava, fingi que nada acontecera, comprei e comi um saco gigantesco de batata frita e uma barra idem de chocolate amargo. Nada.

Não passa. A sensação de "Como ela pôde fazer isso, ferir uma pessoa daquela maneira?" e "O que eu vou fazer, o que eu vou falar?" não me deixam. Porque, sabe, eu não sei mesmo o que fazer.
Só chorar.

Pra você ver

Semana passada, sentada na sala de espera da psicopedagoga, estava eu lendo matérias de culinária e tava lá:

"Chuchu como conceito".

Sugestões sobre o que isso quer dizer na caixa de comentários, plizi.

E o pior dessa história é que essa frase não sai da minha cabeça.

terça-feira, junho 23, 2009

UTI

- Ele teve um derrame!
- Ai, meudeusmãe, quem teve um derrame?
- Ah, a gente chegou em casa muito tarde, todo mundo comeu tarde e ele não devia ter comido daquele jeito e de madrugada ele começou a fazer uns barulhos estranhos e a se sacudir...! Ai, meu Deus, eu fiquei tão apavorada! [soluços]. E então liguei pro Vitor - ainda bem que ele estava de plantão - e ele disse que chegava o mais rápido que pudesse, e ele deve ter dirigido feito doido porque em menos de 40 minutos o carro dele passou a ponte e entrou.
- Mãe, fala devagar, pelamordedeus! Ele tá bem?
- Já eram quatro da manhã quando enfiamos ele no carro! Naquele breu, o Vitor no carro atrás. Agora ele tá internado e cheio de tubos e inconsciente e não sei o que eu vou fazer!
- Mãe, se acalma! Eu vou praí!
- Eu estou TENTANDO me acalmar, mas a noite foi terrível. Eu sem poder dirigir... Não sei como seu pai conseguiu chegar ao Centro naquela escuridão cheia de neblina.
- Meu pai? Meu pai dirigiu?
- Claro! Como eu ia dirigir, com a mão enfaixada?
- Meu pai dirigiu 60 quilômetros no escuro depois de ter um derrame?
- Quem disse que seu pai teve um derrame? Foi o cachorro! O CACHORRO! [soluços]

Juro. Se eu não tive um infarto até os 40, meu próprio derrame está garantido antes dos 50.

A bofetada metafísica

Tenho um vizinho que se diz filósofo. Semana passada, em uma reunião de condomínio, como discordássemos em torno de uma questão hidráulica e sabendo de minha paixão pela literatura, ele me desafiou: "Kant dizia que a leitura de romances corrói o pensamento e aniquila a memória." E, fechando a cara, prosseguiu: "Tome cuidado, porque a literatura pode provocar um grande mal".

Mal sabe meu vizinho que naquela tarde eu lia com grande interesse Monte Verità, o mais recente livro de Gustavo Bernardo (Rocco, Coleção Jovens Leitores). Um romance filosófico que – mesmo retido na etiqueta comercial de "literatura para jovens" – trabalha justamente com algumas das ideias de Emmanuel Kant. Em particular, aquelas que compõem a sua ética.

Antes de modificar o mundo, devemos modificar a nós mesmos, Kant sugeria. E nos dava outra sugestão ainda mais decepcionante: o importante não é procurar a felicidade, mas merecê-la. Não é agradável o conselho de que desistamos de consertar o mundo; mais dolorosa ainda é a proposta de que abdiquemos da felicidade. Contudo, só depois de abandonar a ilusão, podemos, enfim, viver. E até melhorar um pouco o mundo e diminuir a infelicidade.

É o que faz o moçambicano Manuel, protagonista de Monte Verità. Depois de ter a mulher assassinada pela repressão política, só lhe resta fugir de Maputo. Não tem tempo, sequer, de apanhar a filha pequena que o espera na escola. Pouco antes, quando se deparou com a mãe morta, a menina lhe ofereceu um insight metafísico. Olhou o corpo vazio e disse: "Papai, Deus chegou atrasado". Aceitando as brutais limitações impostas pela ausência divina, Manuel se refugia na Suíça italiana, onde se emprega como garçom no hotel Monte Verità. Nos intervalos do trabalho, escreve o livro que estamos a ler.

O livro de Manuel conta a história de misteriosas "intervenções" impostas ao planeta Terra, atos pragmáticos e "sem autor" que, no entanto, modificam nossa existência. Quem as propaga? Algum poder secreto? Seres de outro planeta? O próprio Deus? A primeira delas bane todas as armas. Nas intervenções seguintes, combate-se a explosão demográfica, a poluição, a violência contra os animais e os crimes hediondos. Atos que, no entanto, não pretendem dar lições de vida, ou "educar". O objetivo não é salvar, ou amadurecer, mas, sim, levar o homem a abandonar a onipotência, para que suporte se ver como o ser vulnerável que é. O homem deve desistir da felicidade e da perfeição para, contando apenas consigo mesmo, merecer enfim esse nome.

Olhei para meu vizinho e pensei no modo altivo com que ele manipula as ideias, como se elas existissem apenas para lhe servir. Ocorreu-me então que a filosofia é, muitas vezes, uma forma mais obsessiva de literatura. Acontece que, enquanto os filósofos se agarram precariamente a seus sistemas e conceitos, os escritores – que não têm onde se amparar – agarram-se ao que lhes falta. Todo escritor parte, sempre, de uma ausência. Um grande vazio brilha na primeira página em branco.

Pensava nisso quando o porteiro me entregou um postal expedido por uma amiga que vive em Paris. Uma bela fotografia do escritor francês Louis-Ferdinand Céline, tomada seis anos antes de sua morte. Sexagenário, Céline – um escritor fabuloso sempre odiado por culpa de suas ideias fascistas, que são de fato hediondas – aparece em um jardim vestindo roupas amarfanhadas, desolado e cabisbaixo, a observar seu gato. Ereto e solene, ao contrário, o animal ostenta o olhar altivo dos "homens que sabem pensar", enquanto Céline, àquela altura entregue ao ostracismo e à derrota, é só um homem que luta para suportar a dor.

Duro e intransigente na vida, Céline fez da literatura, ao contrário, um lugar de liberdade. Não conseguiu livrar-se, porém, da leitura dogmática a que seus grandes romances até hoje estão condenados. A que torrente de olhares os escritores estão expostos! Há poucos dias, uma vaga absurda de incompreensão levou Aventuras provisórias, o romance de Cristovão Tezza, a ser recolhido, depois de adotado pelas escolas de Santa Catarina. Aos olhos obtusos das autoridades locais, duas ou três cenas amorosas tornariam o livro ofensivo aos adolescentes.

É desse mesmo mundo duro e cego, em que romances são vistos como venenos, que trata Monte Verità. Ele é também o objeto de Aventuras provisórias, a história de uma traição que termina em um crime. A ética, para o escritor, porém, não está na submissão a princípios ou a dogmas. O escritor só tem uma ética: não pode trair a si mesmo, sob pena de se tornar apenas um escrivão. E é nessa condição inegociável que a potência da literatura se garante.

Em nosso tolo mundo do Eu, os escritores se transformaram em celebridades. Escritores deveriam repetir, hoje, a frase de Manuel, o protagonista de Gustavo Bernardo: "Eu não sou nenhum tipo de deus. Eu não sou sequer nenhum tipo de eu". Universo vazio, no qual as coisas só existem em potência, a literatura produz narrativas tão distintas quanto Aventuras provisórias e Monte Verità; agrega – sem que isso signifique conflito mas, ao contrário, riqueza – autores tão distantes quanto Cristovão Tezza e Gustavo Bernardo. É por isso que a literatura se torna ameaçadora: porque não exclui nada, nem ninguém. Porque encara, sem medo, a precariedade do homem.

Julio Cortázar dizia, por isso mesmo, que só a literatura é capaz de desferir no mundo uma verdadeira "bofetada metafísica". Não para fazer proselitismo ou pregação, tampouco para buscar seguidores ou produzir crentes. Ao contrário, a literatura só produz descrentes; sujeitos que, cientes da fragilidade do mundo, fazem da fraqueza a sua grandeza. Tal disponibilidade para o quase-nada rege, também, os verdadeiros filósofos. É dela, ainda, que o moçambicano Manuel se vale para continuar a viver. Conhecido por seu ceticismo, o filósofo escocês David Hume, um antecessor de Kant, afirmava que a filosofia é um saber vacilante, no qual "praticamente nada se pode dizer". É também com esse "praticamente nada" que os escritores escrevem.

José Castello

Publicado originalmente no suplemento Prosa & Verso do jornal "O Globo", em 13 de junho de 2009. Via Caquis Caídos, blog da escritora Adriana Lisboa.

segunda-feira, junho 22, 2009

E por falar nisso

Pra quem quiser ver as ofertas do meu sebo particular, o endereço é

http://leituraseminova.blogspot.com/

Como ainda tenho muita coisa para passar adiante, o endereço ficará permanentemente na coluna da esquerda.

sábado, junho 20, 2009

Há dez anos



Deitadas na cama, ficamos na contagem regressiva. "E agora?" "Agora eu estou indo pra sala de parto." "E agora?" Agora você está nascendo... Dois minutinhos... Um minuto... Ah, você nasceu!" E então ela pediu pra dormir abraçadinha comigo, porque foi assim que ela passou sua primeira noite por aqui - abraçada comigo, numa cama da maternidade.

A mochila continua uma zona - oferecendo sempre um extenso cardápio de papéis (cortados, amassados, rasgados, colados, picados ou dobrados) ao gosto do freguês. No fim do dia, guarda cuidadosamente (aka "enfurna numa gaveta") a produção do dia, feita por ela mesma - seja um arquivo completo do FBI (com pastas de vítimas, credenciais e protocolos de segurança), seja de cardápios de culinária internacional ou revistas de moda. As aulas são levadas assim assado, sempre com uma oração a Ganesha antes de dormir ("Por favor, que eu saiba tudinho para a prova de Geografia amanhã."). Ela ainda corre pelo pátio como um moleque, subindo nas árvores e pulando janelas em vez de, como menina educada (cof! cof!), usar a porta do refeitório.

Mas alguma coisa mudou. Zé Colméia começou sua jornada ao mundo da pré-adolescência. Não que esteja deixando as bonecas de lado - que o digam as três Barbies que ganhou da família do pai, junto com uma coleção de bichinhos de pelúcia & panelinhas - mas ela notou, um dia no banho, que seu corpo começou a mudar muito, mas muito sutilmente. E sutilmente também ela começou a preferir suas blusas mais larguinhas.

Eu me faço de desentendida aos primeiros sinais do clássico "entreaberto botão, entrefechada rosa", mas sei que é um caminho sem volta. Que bom que assim seja, mesmo sabendo que um dia sua bonequinha preferida (um bebê já molambento de plástico comprado numa loja de R$ 1,99), que ela arrasta por aí desde os quatro anos, um dia permanecerá na cama ou, pior, vá habitar uma gaveta.

Ela leu um poema e se convenceu que o amor entre marido e mulher acaba. E assim me deu salvo-conduto para namorar. Porque começou a olhar o pai com outros olhos, e não gostou do que viu. Da noite para o dia o príncipe, do nada, virou um sapo, e a ilusão deu lugar ao desapontamento, uma maturidade forjada pela decepção. Hoje, quando alguém fala, cada vez menos empina o narizinho e faz do jeito dela. Começou a prestar atenção naquilo que considerava ruído de fundo, e entendeu que escutar os outros pode ser muito vantajoso. Pára, pensa, vira a cabecinha e reflete como o mundo é estranho e as pessoas, esquisitas. Mas, em compensação, percebeu que a loucura, às vezes, pode ser apenas uma maneira de pensar o mundo de outra maneira, mais colorida e sonora.

E é esse mundo, que ela vai descobrindo a cada dia, que ficou melhor para mim desde que ela chegou, há uma década. Um mundo que já está ficando pequeno para a sua curiosidade e criatividade.

Feliz aniversário, filha. Que jamais existam fronteiras para o seu talento.

sexta-feira, junho 19, 2009

Tacones



Oito anos eu dancei. Deformou meus pés, arruinou meus joelhos, destruiu minha coluna. Mas como eu sinto falta.

quarta-feira, junho 17, 2009

Crème de la crème

Zanzando só com a roupa de baixo, arrumando o quarto das meninas antes de tomar banho e me enfiar na cama, escuto Catatau miando das profundezas de sua caverna de cobertores:

- Mamãe, você parece um fantasma.
- Por que, eu ando sem fazer barulho?
- Não, você brilha no escuro.

Um dia

Eu já tive uma dálmata que passava a perna em todo mundo. E que sabia ler as horas.
Eu já tive um laboratório de fotografia montado em casa.
Eu já tive que passar duas noites dormindo num banco de praça.
Eu já tive um armário cheio de roupas de grife. E outro com uma dúzia de vestidos de flamenco. E algumas saias. E sete pares de sapatos, um de cada cor.
Eu já tive aulas de dança de salão (que eu queria muito ter de novo). E de piano. E de violão. E de saxofone. E de pilotagem. E de mergulho. Essas, nenhuma tenho vontade de ter de novo. Porque não aprendi nada da primeira vez.
Já tive um namorado que fazia questão de segurar entre as mãos meu sutiã imediatamente depois que eu o tirava. Dizia que era pra ter uma prévia do meu cheiro e do meu calor.
Eu já tive o cabelo pela cintura. E raspado com máquina 3.
Eu já tive sonhos de ganhar o Nobel. E de ter oito filhos. E uma editora de livros infantis. Ou uma livraria, onde quem tivesse mais de um metro não poderia entrar na Salinha das Fábulas. Ou sentar no Canto dos Contos Encantados.
Eu já tive a pretensão de ser gostosa.
Eu já tive a impressão de ser amada. E de ser desprezada, também.
Eu já tive um monte de certezas.
Tão voláteis, as certezas.

terça-feira, junho 16, 2009

Lampejo

Há muito, muito tempo que não sinto realmente vontade de ir ao cinema.
O que mudou radicalmente ao ver isso.

...

Às vezes eu acho que minha vida é um grande, um imenso, um incomensurável desperdício.

Pequenez



Quando estamos sozinhos, somos pela metade.
Quando somos dois, somos um.
Quando deixamos de ser um dos dois,
não somos nem a metade que começamos a história.

Fabrício Carpinejar, "O amor esquece de começar"
Bertrand Brasil, 2005

São os outros

Zé Colméia entrou em seu inferno astral. Sábado ela completa dez anos e parece que sua vidinha deu pra fazer tudo de errado - e não seguir certinha, pra agradar a platéia. Não. Tudo errado. Ela quer festa na escola, simples e cheia de amigos - o pai quer uma superprodução, em Niterói e com direito a apenas cinco convidados (dela, porque ele, o pai, convida tooooodos os amigos & suas proles, crianças que as meninas vêem quase nunca). Como estou dura e lesa (aguardem para quinta a lista de queima de livros) prometi que festinha só no início de julho (e oremos por isso).

A foca de pelúcia que ela estava namorando na lojinha aqui do lado foi vendida, antes que eu tivesse tempo (e dinheiro) para arrematá-la. Brigas com os amigos a rodo e por bobagens. Produção de desenhos a mil, sempre mostrando ela triste, lágrimas nos olhos.

Enfim. O fim de semana é meu, e vou levá-la aos lugares que ela mais ama - exposição, feira literária e lançamento de livro. Porque, mais do que ninguém, ela anda precisando de toda a energia positiva que conseguir encontrar.

segunda-feira, junho 15, 2009

Desmemória

Vendo as fotos que tenho desde que casei, dei-me conta que apareço em impressionante meia dúzia de imagens. Geralmente, como uma das meninas no colo. Ou ambas na minha frente. Ou uma só - mas do lado de dentro da barriga, e não fora. Tenho, porém, participação especial em várias - um braço aqui, a mão acolá.

E aí me dei conta que, por longos sete anos, eu fui não eu mesma. Fui só mãe e esposa. A mulher simplesmente sumiu.

sexta-feira, junho 12, 2009

... [update]

Quando você tem quatro dias sozinha gripada e zilhares de coisas a fazer, o resultado são quatro dias sozinha gripada e nada feito.

Pela estrada afora

Ontem, deitada no escuro por conta de um transformador de rua estourado, pensei nas coisas que deixei de fazer. Eu me lembro como gostava de estudar no Parque Lage. Fazia de uma bolsa de palha um depositário de comidas e, lambuzada de repelente, levava minha esteira debaixo do braço para estender na grama e estudar. Lia parte da manhã, almoçava o farnelzinho, dormitada 20 minutos, acordava com os mosquitos, me lambuzava de repelente de novo e voltava a estudar até umas quatro da tarde, quando descia aquele friozinho anunciando que era hora de vestir a jaqueta e ir embora.

Por que não faço mais isso? Não sei. Como não sei o motivo de não caminhar pela Lagoa, ou ir a pé ao Centro nos domingos, para ouvir no Mosteiro de São Bento o coro gregoriano, ou mandar cartas aos amigos, ou tomar sorvete no Posto 10. Não sei. Coisas que caíram da minha bolsa de viagem pelo caminho e eu não notei.

Quem achar, favor devolver. Andam fazendo falta.

quarta-feira, junho 10, 2009

Adouro

(Zé Colméia, lendo adivinhas numa revistinha da sala de espera da psicopedagoga):

- Aqui, mãe: como se chama o elevador na Rússia?
- Hum... Essa é fácil: apertando o botão.
- [...]
- Mamãe...
- Oi?
- Quando você foi na Rússia?

De más intenções o paraíso está cheio

Toda virtude busca ter a estabilidade de um vício. Amor é uma amizade que foi traída. Marido e mulher discutem em público porque não terminaram a discussão em casa. Em briga de casal, não se mete a colher, mas ninguém proibiu a faca. Nada se cria, se copia errado. O vinho e o vinagre envelhecem juntos. A verdade só funciona na primeira pessoa, quando chega na segunda pessoa já é uma mentira. Só não sou sincero quando estou sozinho. Ajudar a todos é ajudar a ninguém. Estou rindo de desinformado. O que não sou ainda precisa ser julgado. Quem concorda com tudo, não está ouvindo. Procuro conhecer meus defeitos para não corrigi-los. Errar duas vezes é sabedoria. Como não alcançarei o fim, os meios são desnecessários. De louco cada um se interna um pouco. É melhor morrer o poema do que remediar. Quando feriado cai num domingo, dormir não tem graça. Aqui se faz, aqui se deve. Cada poeta tem o desgoverno que merece. O cão é o melhor osso do homem. A fé remove as montanhas, não sei o que ficou no lugar delas.

Fabrício Carpinejar

segunda-feira, junho 08, 2009

Ahem

Aqui perto da minha casa tem uma instituição. Não sei bem se é uma ONG, pode ser que seja uma ONG. Ou não. O caso é que eles cuidam de pessoas com hanseníase, dentre outros indivíduos menos favorecidos pelas circunstâncias do universo e da vida.

Tá.

Ocorre que tá rolando uma quadrilha lá, neste exato momento. Junina, percebe que estamos em junho? Estamos em junho, minha gente. Eu sei, é alarmante. E tem uma pessoa comandando a quadrilha (tem um nome pra isso? chefe de quadrilha, talvez?). E eu tô imaginando, né, os doentes de hanseníase dançando quadrilha.

Eu sei, eu sei. Nada a ver, né. Até porque as pessoas são tratadas e... Eu sei.

Péssimo.

Mas ela acabou de dizer "não solta a mão! não deixa a mão cair!", juro.

Juro.

Aí eu vim aqui e decidi escrever este post.

Sou uma pessoa terrível.

Terrível.



Quando eu preciso rir de dar lagriminhas nos olhos eu vou lá na Cristiane. Como hoje. Antes eu estava de mal humor. Agora tô com asma. Ah, que se dane. Vou lá ler os arquivos. E o "empecílio" que se...

Fotógrafos XIV - Yousuf Karsh



Ernest Hemingway, 1957



Audrey Hepburn, 1957



Georgia O'Keefee, 1956



Pablo Picasso, 1954



Gracy Kelly, 1956



Pablo Casals, 1954



John Bernard Shaw, 1943

Bad hair day

Semana passada, numa reunião da escola das meninas, comecei a ficar extremamente irritada com a postura da coordenadora pedagógica e seu discurso de "nós é que entendemos disso." Tudo bem, é pra isso, grosso modo, que eu pago uma escola - os professores são eles; teoricamente estudaram pra isso. Mas aí você aponta algo que acha errado e ouve um "Nós somos os profissionais de educação" e a opinião da mãe (tapem os olhos) que se foda.

"Nossa, a mãe da fulaninha está tão ansiosa, né?"
"Ah, ela ficou muito nervosa!"

A mãe não fica irada, enraivecida, frustrada. Irritada. Não, ela fica "nervosa". Eu sou, para a direção da escola, uma mãe extremamente "ansiosa e nervosa".

Irritada, minha senhora. Dê nome ao boi corretamente, por favor. Ou à vaca, se preferir. Não ansiosa ou nervosa. Uma vaca irritada.

...

Queria estar conversando com alguém sobre o livro sensacional que é "Ética", do Peter Singer (que eu estou lendo pela enésima vez); queria estar sentada lá no chão da sala, tomando meu solzinho de quase-inverno. Queria estar penteando os cabelos das minhas filhas.

Queria estar indo dormir depois de uma noite maravilhosa (queria ter tido uma noite maravilhosa). Queria estar fotografando a luz bonita que está explodindo nos flamboyands da Palácio Laranjeiras (e queria ter uma máquina para isso).

Em vez disso, estou aqui sentada, meus neurônios paralisados de choque, tentando entender como uma pessoa escreve "empecílio" - e ganha (muito bem) por isso.

(Ah, queria não estar usando tantos gerúndios. Foi mal.)

sábado, junho 06, 2009

Mãe

Levei Zé Colméia hoje para uma maratona de contação de histórias numa biblioteca pública em Copacabana. Quando chegamos lá já estava cheio, mas conseguimos um cantinho em duas cadeirinhas lá atrás. Mas aí uma criança saiu do colchonete que tinham posto na frente e ela foi pra lá. Tirou os sapatos e sentou.

Eu estava prestando atenção mas alguma coisa fez com que eu começasse a reparar nela. A boca entreaberta, a respiração ora e meia entrecortada de suspiros a cada novo anticlímax da história. A risada aberta, o sorriso fresco, o rostinho iluminado. E me senti tão invadida de amor por ela que as lágrimas do nada descerem. A moça do Viradão Carioca que estava de pé ao meu lado me perguntou se eu estava me sentindo bem. E eu, sem saber o que responder, solucei: "Amo tanto a minha filha!" E ela sorriu e pousou a mão no meu ombro. E eu fiquei lá, feito idiota, olhando para Zé Colméia e tentando me controlar.

É normal isso? Sei lá. Só sei que a deixei numa festinha e ia ficar de leão-de-chácara na porta por quatro horas - até que ela me disse: "Mãe, vai fazer outra coisa. Prometo que não deixo ninguém me levar." E me beijou e entrou para brincar.

...

Catatau foi dormir na casa de uma amiga. Há duas semanas ela fez um calendário todo colorido e, a cada manhã, antes mesmo de abrir direito os olhos, ia lá e riscava um dia. Pois foi na sexta. Hoje de manhã liguei para ela às 11h: "Filha, tá se divertindo?" "Tô, mãe, muuuuito! Já tomei um picolé de chocolate e agora estou comendo um pacote de M&M." "Mas jáááá? E está brincando de quê?" "Ah, de pique, tchau!" "Peraí, quero falar com a mãe da Lu... piiii...piiii...piiii...piiii...!"
*Suspiro*

quarta-feira, junho 03, 2009

Punjabi rock



Aisi nazar se dekha us zalim ne chauk par O jeito que aquele vilão olhou pra mim,
Hamne kaleja rakh diya chaku ki nok par Foi como ter meu coração apunhalado.
Mere chain vain sab ujara zalim nazar hata le... Minha paz foi destruída; para de olhar assim pra mim, sem vergonha!
Barbaad ho rahe hain ji tere apne shaharvaale O seu próprio povo está sendo destruído assim!
Ho meri angarai na tute tu aja... Venha pra mim enquanto estou pronto esperando por você.

Kajra re, Kajra re kajra re tere kaare kaare naina... Seus olhos pintados, seus olhos pretos, pretos...
Mere naina mere naina mere naina jurwaa naina Meus olhos, meus olhos, meus dois olhos…

Surmai se likhe tere vaade aankhon ki zabaani ate hain As promessas que você escreveu com o delineador falam a língua dos olhos.
Mere rumalon pe lab tere baandhke nishaani jaate hain Meu lenço carrega a marca de seus lábios.
Teri baaton men kimaam ki khushbu hai Suas palavras têm a fragrância de uma bebida intoxicante.
Tera aana bhi garmiyon ki lu hai. Você chega como os ventos quentes do verão.
Aja tute na tute angarai Venha pra mim antes que a espera me deixe ansioso.
Meri angarai na tute tu aja Venha pra mim enquanto estou pronto esperando por você.

Kajra re, Kajra re kajra re tere kaare kaare naina... Seus olhos pintados, seus olhos pretos, pretos...
Mere naina mere naina mere naina jurwaa naina Meus olhos, meus olhos, meus dois olhos…

Aankhen bhi kamaal karti hain Seus olhos fazem maravilhas.
"Personal" se sawaal karti hain Eles perguntam as coisas mais pessoais.
Palkon ko uthaati bhi nahin Eles nem sequer precisam se abrir;
Parde ka khayaal karti hain Eles falam por trás das cortinas de seus olhos.
Mera gam to kisise bhi chupta nahin Não posso esconder meu sofrimento de ninguém.
Dard hota hai jab dard chubhta nahin A verdadeira dor nem sequer se sente.

Aja tute na tute angarai Venha pra mim antes que a espera me deixe ansioso.
Meri angarai na tute tu aja Venha pra mim enquanto estou pronto esperando por você.

Kajra re kajra re tere kaare kaare naina... Seus olhos pintados, seus olhos pretos, pretos...
Tere naina tere naina hamen dhanste hain tere naina Seus olhos, seus olhos, eles nos destroem, seus olhos.

Tujhse milna purani dilli men Depois que te conheci na Velha Délhi,
Chorai nishaani dilli men Eu deixei um momento pra trás,
Pal nimaana dari betallak Uma tapeçaria tecida com infinitos momentos
Teri meri kahaani dilli men De nossa história em Délhi.
Kali kamali vaali ko yaad karke Inspirado por seus olhos negros em forma de lótus,
Tere kaale kaale nainon ki qasam khaate hain Nós juramos em seus olhos pretos
Tere kaale kaale nainon ke banaaye hain ruh Que nossas almas estão preenchidas por seus olhos negros.
Tere kaale kaale nainon ko duaen den ruh Nossas almas abençoam seus negros, negros olhos.
Meri jaan udas hai honthon pe pyaas hai Meu coração desespera; meus lábios estão pálidos.
Aja re aja re aja re Venha pra mim, venha pra mim, venha!
Teri baton men kimaam ki khushbu hai Suas palavras têm a fragrância de uma bebida intoxicante.
Tera ana bhi garmiyon ki lu hai Você chega como os ventos quentes do verão.
Meri angarai na tute tu aja... Venha pra mim enquanto estou pronto esperando por você.

Kajra re kajra re tere kare kare naina... Seus olhos pintados, seus olhos pretos, pretos...
Tere naina tere naina tere naina jurwa naina... Meus olhos, meus olhos, seus olhos gêmeos…
Tere naina tere naina tere nainon me chupke rahana... Seus olhos, seus olhos, nós precisamos nos esconder para sempre em seus olhos



Fonte: Cinema Indiano.

Para Dita, aquela cujos olhos não precisam de delineador para dizer "Eu te amo" :o)

Só na multidão



Lendo a avalanche de notícias sobre o desaparecimento do avião da Air France, me senti como aquela criatura que, engolida por uma multidão barulhenta, fixa os olhos no silêncio de um sabiá pousado numa janela lá longe.

Porque quando eu crescer e for rica quero ter um barquinho. Para chamá-lo de Pourquoi pas.

terça-feira, junho 02, 2009

Eu 2.0

Então eu não consigo beber o café se alguém despejou o dito em cima do açúcar. Quer dizer, eu bebo. Mas acho que está com muito pouco açúcar ou com muito muito açúcar. Então pra adoçar no ponto certo tem que despejar o café na caneca pra depois, então, botar o açúcar. Oi, meu nome é fresca, tudo bem?

Liberada pelo doctor, voltei à musculação. E com ela apareceu do nada uma vontade danada de fumar. Alguém sabe que médico trata disso? Ahn, psiquiatra? Sério?

Depois de quatro anos de divorciada não consigo me espalhar na cama. Continuo dormindo num só lado. O lado dele.

E por falar em divórcio (papo machista mode on). A primeira ex-mulher do meu ex era absolutamente linda - antes do casamento. Na época do divórcio eu só pensava "Pobrezinha, tão nova e tão acabada". Aí veio euzinha, e lá pelas tantas meu sobrinho de 10 anos, me vendo de relance, me confundiu com a minha mãe - exemplo seguido por outras pessoas do prédio dos meus pais. Na época do divórcio, eu aparentava dez anos mais do que terei em uma década. Aí meu ex casou de novo - e a atual, apesar de não ser merecedora do meu afeto, até que era jeitosa. Era. Vendo as fotos de aniversário de uma amiga jornalista, achei uma da dita. Coitada. Parece que foi atropelada pela menopausa e arrastada uns bons 50 metros. Meninos, do que eu escapei - meu ex-marido é um Embagulhador de Esposas. Por isso eu digo: casamento pra mim agora só na próxima encarnação.
E olhe lá.

Pela boca

Polenguinho Gorgonzola.
Cada pedaço é um flash.
Ahhhh...!

Au secours!

Povo do Rio, preciso de ajuda:

A turma de Catatau vai fazer uma instalação para comemorar/lembrar/homenagear o Ano da França no Brasil. Então, ela está precisando de caixas (caixas, não vidros - se tiver vidro melhor ainda; se não, a caixa já tá jolie) de perfume e garrafas de vinho - francês. Vale também caixas de maquiagem ou qualquer outro tipo de embalagem em francês.

Quem tiver s'il vou plait me avise que eu vou ao local recolher.
Merci beaucoup.

segunda-feira, junho 01, 2009

Sapateio no caixão

Então eu estou com o celular bloqueado há quase 10 dias. Porque a conta veio quase R$ 300 - e eu não liguei para Angra dos Reis. Eu não conheço ninguém em Angra dos Reis. E liguei pra operadora pra reclamar, e eles disseram "não, é isso mesmo", e eu daqui "mas é ruim que é isso mesmo e eu não pago", "então a senhora vai ter sua linha bloqueada" e que tais.

Esse fim de semana, o clímax, a revelação: Catatau, muito envergonhada e às lágrimas, me confessou que fora ela a autora da ligação de quase uma hora para Angra dos Reis. Ela estava na casa da avó paterna e queria falar com a prima, que estava na casa de primos. Pediu a avó para usar o telefone fixo por uns minutinhos (ela sabe que pra outra cidade a ligação é mais cara), ao que a velha disse: "Pode ligar do seu celular, que você não vai pagar nada." E assim Catatau ligou para o celular da prima (que é de outra operadora) e ela e Zé Colméia puseram as notícias em dia. Num domingo. Por quase uma hora. De celular pra celular.

Depois meu ex não entende porque eu só chamo a mãe dele de "falecida".
É pra ver se o desejo se realiza.

Ativar modo sedução

- Mas tá. Fora isso, tu ouve mais o quê?
- Humm. Ouço muita coisa.
- Muita coisa o quê?
- Eu gosto de tudo.
- Aí tu me fode, né? Essa pergunta só tem uma resposta errada. E tu deu exatamente a resposta errada.
- Mas...
- Tu é eclético, então.
- Eu sou, juro que é verdade!
- Tá. Tu gosta de Bruno e Marrone?
- Não muito...
- Não muito, mas um pouco tu curte então?
- Ah, sabe como é, né?
- Fica muito difícil a pessoa paquerar desse jeito. Tu num podia ter mentido? Tu podia ter mentido. Aí eu só descobria daqui a uns dias. Que tu tem um cd de Bruno e Marrone no porta-luvas. A gente podia sair, a gente podia ir ao cinema, a gente podia se curtir, tudo mais. Se é que tu me entende. Aí eu descobria que tu gosta de Bruno e Marrone numa etapa posterior, numa etapa posterior e não-eliminatória. Quando eu já gostasse de tu. Por todos os outros motivos que deve haver preu gostar de tu. Né? Sei que há. Quer dizer. Não sei, mas deve haver. Né?
- ...
- Mas nããão, tu vai e fala a verdade. E agora sou obrigada a me tornar o Saara. Reação fisiológica irreversível. E não tem mais ninguém preu paquerar nessa festa.
- ...
- Sério. É muito difícil viver. Muito difícil.
- Olha só... Acho que vou ali fora, tá muito quente aqui.

Um frio da porra. Eu de cachecol, pra você visualizar.

Tá muito quente aqui é o novo Cadê os enfermeiros? Com as camisas de força?, né?

Tsc.


(sim, bêbada. é ficar sóbria no cantinho da festa escondida atrás do sofá ou ficar bêbada, acusatória e agressiva. co-mo-fas? não sa-be-mos.)


Hahahahahahahahaha!

Eu



Começar a semana debaixo de chuva...
Bom, eu sou canceriana.
Adoro chuva.