Cedo demais

As duas noites sem dormir cobraram seu preço esta noite. Mas hoje de manhã, mal o sol nasceu e a luz entrou pela janela do meu quarto, eu acordei, vinda de um sono muito profundo, sem sonhos. A primeira coisa que notei foi que Zé Colméia não estava na minha cama. Catatau dormiu sozinha, para não pegar a conjuntivite.
Ouvi, então, as vozes das duas, no banheiro. Catatau tinha feito xixi, Zé Colmeia limpava o bumbum da irmã.
- O que vocês estão fazendo?
- Ah, mamãe, a Catatau acordou com muita vontade de fazer xixi. Tentou te chamar mas você não acordou. Aí eu levantei e trouxe ela aqui.
- Seu olho melhorou, filha?
- Ele estava todo sujo, mamãe, mas eu limpei direitinho, né?

A cadeira do hall estava em frente à pia. No mármore, chumaços de algodão e o vidro de água boricada quase no fim. Com a blusa toda molhada, Zé Colméia era o orgulho de ter feito tudo sem ajuda.
O fato de ela fazer as coisas sozinha e, quando não sabe, achar soluções para compensar o pequeno tamanho, não me dá alegria; ao contrário, me entristece e me preocupa. Porque não sei se estou ensinando cedo demais às minhas filhas a se virarem. Tenho medo que esse costume faça com que elas terminem por deixar a infância para trás muito cedo - e acabem se sentindo responsáveis por mim.