7 de outubro - Então isso era a felicidade. E por assim dizer sem motivo. De início se sentiu vazio. Depois os olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor me transcende. O amor pela vida mortal o assassinava docemente, aos poucos. E o que é que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia, como um grande silêncio? A quem dou minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta? Não, não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz, e preferem a mediocridade.
Clarice Lispector, "A descoberta do mundo"
Editora Rocco, 1999
quinta-feira, março 31, 2005
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