Moro numa casa alugada muito velha, de 1924. Quando vim para cá, ainda estava casada e, mesmo sabendo que não era o que eu queria, assim mesmo aceitei porque já sabia naquela época que, em dois meses, pediria o divórcio - era questão de deixar passar o Natal e o Ano Novo - e eu poderia, com meu salário, bancar a despesa.
Depois, aprendi a amá-la. As paredes precisam urgentemente de uma pintura; tenho poucos móveis e quadro nenhum. Mas eu, deitada na minha cama, vejo o amanhecer em todo o seu esplendor. No outono e na primavera, naqueles dias límpidos de frio e céu azul, vejo da minha varanda o Dedo de Deus.
A casa é construída numa encosta. Tenho um enorme terraço com um pomar. Lá instalei meu fumódromo: em cima da caixa d'água. Subi ali agora há pouco, para ver o pôr do sol. Na verdade, eu não posso ver realmente o entardecer, porque o sol desce às minhas costas. Mas do meu ponto de observação eu vejo todas as janelas de todos os prédios do Centro do Rio - Central do Brasil, Petrobras, BNDES, Catedral Metropolitana e mais dezenas de outros edifícios - refletirem a luz do sol e tornarem-se como de ouro puro. Ficam douradas, o céu vermelho. Hoje havia gaivotas nas correntes de vento. E eu fico ali, fumando, meus cachorros deitados em baixo, escutando a cantoria dos passarinhos no fim de tarde.
Nessas horas, meu coração admira aquela paz, por um instante que seja. E eu sou feliz.
domingo, março 06, 2005
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