Aqui na esquina da rua onde trabalho, todas as quintas, tem uma feira. Tem gente que prefere saltar a três quarteirões do que vir pela outra ponta, bem mais perto, mas onde se instala os caminhões de peixe. Eu adoro. O peixe fresco, as postas abertas, a carne brilhante, o gelo arrumado artisticamente (tem feirante que enfeita até com casquinhas de limão) me encantam. Não sei porquê.
Adoro o mar e tudo o que vem dele. Adoro praia, não pelo motivo nascisista de quase todo mundo que freqüenta. Gosto de andar pela praia, sentar-me na areia e cheirar a maresia. O vento salgado, o barulho - que barulho! Dá para chamar aquele arrulho de "barulho"?
E a feira me lembra coisa de criança - não a minha infância (até um pouco) mas a infância de Drummond, Bandeira, Nelson Rodrigues, Clarice Lispector. TODO mundo ia à feira. Os supermercados eram mercearias - a lembrança mais vívida que minha mãe guarda de sua infância é ela, com quatro anos, marcando seu lugar na fila do pão - a família, muito grande, ia em peso buscar sua ração de pão, em tempos de guerra. Ela, em cachos, fitas e rendas, aguardando sua vez de pegar o pão, numa esquina da Tijuca. Atrás dela, os outros três irmãos, a mãe, o pai, os tios, a avó e o avô.
Gosto do cheiro e do barulho das feiras. Tem gente que compra flores (mesmo sabendo que muitas vezes elas não sobreviverão para ver o carrinho dobrar a esquina), temperos a granel (nossa, que espanto ao descobrir que baunilha vem em favos, e que o curry é uma mistura de pós aromáticos!). As mulheres que compram... por que a maioria é de portuguesas? Os coques branquinhos, os cabelos macios escapando por cima do invariável xale preto (faça calor ou brisa fresca), as reclamações da vida, naquele sotaque não domado nem por mais de 50 anos de Brasil ("Não, sinhoire, não preciso de paixe muito grande porque amanhã não vou cozinhaire").
Quinta-feira é dia de comprar biscoitos para as meninas. Sequilhos, de nata, com goiabada, rosquinhas de leite, de lamego, de cebola, pimentinha, folheados...
A feira começa bem o meu dia. Pena que somente às quintas.
quinta-feira, março 10, 2005
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