terça-feira, março 08, 2005
"Amando você"
A escalada é demorada. É preciso preparação, fôlego. Um roçar de mãos, de braços. O beijo terno, dedos carinhosos alisando, tateando, procurando onde se apoiar. Vocês sobem, cordas tensionando-se em pernas e braços urgentes. A subida é dura, íngreme, mas é sabido: a vista é maravilhosa. Não dizem isso, sempre? Pois há de ser assim.
Cada vez mais poderosa, desafiante, sarcástica, a montanha debocha, ri. O silêncio é ensurdecedor, nada mais é ouvido, a não ser a respiração entrecortada, nomes e promessas sussurradas em aflição. Nada é certo nem será lembrado depois; no momento do presente já será passado amargo. Mas você avista o cume, e aperta o passo, esquece o cansaço e dá a mão ao companheiro. É preciso correr, a noite está chegando, nada mais importa. Você alcança o pico da montanha, ri, grita de felicidade, abre os olhos, e vê, no meio do intenso nevoeiro do gozo, os olhos dele. E descobre que, ao contrário do que você tão intensamente sentia, são duas encostas, duas montanhas, duas caminhadas. Vocês jamais estiveram juntos. E olha, estarrecida, o abismo da descida que terá que empreender, penosamente, na mais completa solidão.
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