Às vezes, a gente lê que uma pessoa deixou de visitar o pai ou a mãe. Ou internou-os num asilo, ou simplesmente não liga mais. Eu sempre achei isso de uma ingratidão sem par. Ora, são pai e mãe! Às vezes, isso acontece com um filho doente, ou um irmão. Hoje, depois que o Alzheimer levou dez anos para quebrar minha avó e está lentamente apagando a memória do meu pai, penso diferente.
Minha mãe me pediu que eu fosse com ela a Friburgo, onde meus pais moram, porque meu pai vai ter que fazer uma bateria pesada de exames (alguns com internação) e ela precisa de alguém para ajudar.
Quer dizer, não há nenhuma ajuda. Há, sim, duas pessoas para suportar meu pai insistindo em fumar, mesmo dentro do quarto do hospital. Recusando-se a seguir as orientações do médico. Muitas vezes, ele é grosseiro com as atendentes e enfermeiras.
Isso me cansa. Me aborrece, me irrita. Me dá uma exaustão mental acachapante. E então me sinto culpada. Muito. Porque é meu pai, e no fundo o que ele sente é um medo gigantesco de perder a consciência, o que lhe restou da saúde. E, o pior medo, perder sua dignidade.
sexta-feira, janeiro 13, 2006
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Um comentário:
Menina, há um tempo li um artigo falando sobre isso que nós somos: a geração do meio. Essa que fica entre a infantil e a velhice.Cuidando de filhos e cuidando dos pais idosos.
O recheio do sanduíche mais doloroso que possa haver. Eu tbm vivo isso, tenho pais que se comportam mais como filhos que como pais, mas aprendi a não sofrer mais que alguns minutos.
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