terça-feira, dezembro 21, 2010

Entreaberto botão

Esqueci de contar. Zé Colméia de formou - Ensino Fundamental I. É, hoje tem essas bossas. Enfim. Eu tinha prometido a ela uma tarde no salão pra manicure, pedicure e muuuitos cachos. Comprei um vestido ma-ra-vi-lho-so e, obviamente, uma sandália de saltinho (cachos, peitos, desodorante, sandália de saltinho. Cresci, mamãe. Sou o máximo).

Então, a pré-aborrecente se sentindo adultíssima escolhendo cores de esmalte enquanto a cabeleireira cortava um dobrado para cachear a juba da moça. Catatau, em cima da hora, pediu pra fazer as unhas (esmalte preto, minha senhora. Aquela mão gordinha, cheia de furinhos, e as unhas pintadas de preto) enquanto eu adiantava o pagamento. O salão cheio, Cacatau fora da vista da irmã, falei bem alto para a moça do caixa:

- São um penteado e mais duas mãos e um pé.

Do outro lado do salão eu vi o beiço dela crescer e os olhinhos se encherem de lágrimas por baixo dos cachos.

- O que foi, filha?
- Eu só vou pintar as unhas de um pé? E o outro, mamãe? Vai sem nada?

E uma lagriminha rolou. E eu não me aguentei e apertei minha pequena tanto tanto tanto, porque sabe, ali já tem seios e rebeldia e querência de vôos mais altos, mas por baixo disso ainda existe minha filhinha pequena, minha garotinha que, nessa nova fase de sua vida, está aprendendo a engatinhar.

Vício



Maldito. Maldito!

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Esperando o Natal

Sabe as banananeiras? Eram duas, no início. Ontem vieram abaixo 18. E mais uma figueira podre. E mais uma tonelada de capim colonião. E mais galhos secos da goiabeira e do jamelão. E mais três cupinzeiros. E sei lá o que mais. Tudo acondicionado em 48 sacos de lixo de 100 litros. Porque, você sabe, eu sou a Suzana - é, isso mesmo, A Suzana, lembrou? - então é óbvio que a caçamba contratada com dias de antecedência não apareceu. E eu vou ter que descer esses quase 50 sacos de lixo pelos 70 degraus amanhã de manhã cedo para o caminhão de lixo levar.

Não, os troncos, não. Estes estão escondidos atrás do carro abandonado há dois anos na minha calçada (lembra? Eu? Suzana? Então.) pra euzinha jogar na caçamba.
Se e quando ela aparecer.

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Primeiro dia de férias

Minha vontade era andar bem depressa pela calçada, bem depressa e deixar as meninas bem pra trás e fingir que tenho despreocupados 20 anos. Porque quatro horas - você leu direito: quatro horas - ininterruptas de "Você está me irritando!" "Pára!" "Me larga!" "Ela que começou!" "Buaááá" e "Sua idiota!" (sim, "idiota" já consta do vocabulário pré-adolescente) são demais.
Até pra mim.

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Stunning

Comprei na última semana de trabalho. Chegou ontem. Dois metros de pura resplandecência. Ela. É tão cafona que é LINDA!

Ai meu Deus, o que está acontecendo comigo?

segunda-feira, dezembro 06, 2010

Do cão

Eu adoro:

Mãe que passeia com os 18 filhos de mãos dadas pela calçada e aí ninguém mais passa;
Mãe que pára com seus 18 filhos pulando ao redor pra conversar com outra mãe e seus 14 filhos no meio da calçada e aí ninguém mais passa;
Mãe que passeia a 0,050076342 centímetros por hora empurrando o carrinho (enquanto deixa o filho menor todo lambuzado de sorvete limpar a mão na roupa de quem passa) no meio da calçada e aí ninguém passa;
Mãe que pára para mexer na merendeira da filha na saída da escola e no meio da calçada e aí ninguém passa.

Eu a-do-ro.

...

Antes da tempestade eu comprei (à vista, que não sou mulher de prazos) uma máquina fotográfica. E me deu uma vontade doida de botar no ar as fotos das minhas meninas. Muita gente diz que é perigoso porque a-rede-está-cheia-de-pedófilos-que-copiam-fotos-de-crianças-inocentes. De outro lado, gostaria de dar uma cara, aos poucos que ainda vêm aqui, à Catatau e Zé Colméia.

A ver.

sexta-feira, dezembro 03, 2010

Meus sais

Ontem foi o batizado da capoeira da Catatau. Obviamente, chorei litros ao ver minha pequena gingar fazendo juz ao seu novo nome: como uma Princesa. Delicadamente, com cuidado para não se machucar-e-fazer-roxos-nas-pernas, dando estrelas com leveza o suficiente para não sujar as mãos na quadra àquela altura imunda.

Sim, minha senhora. É assim que Catatau - aka Princesa - ginga capoeira.
Fresquíssima.

quinta-feira, dezembro 02, 2010

...

Preciso reaprender a ser uma desocupada.

terça-feira, novembro 30, 2010

Papai Noel antecipado

Sentir-se um fracasso é a pior das sensações humanas. O fracasso. Todo um esforço jogado no lixo - e, pior, a notícia de que "Meu bem, seu trabalho foi em vão" chega sem avisar, quando você fecha a gaveta e encerra o ano com a esperança de que muitas coisas boas virão, fruto do seu trabalho.

Eu fui demitida, de novo, perto do Natal. "Ah, ela já tem experiência nisso, não é?" Sim, tenho experiência. Em ter que devolver os presentes das meninas comprados para o dia 25; em andar muito a pé; em rezar para não ficar doente pela falta de plano de saúde; em reaproveitar roupas, colar sapatos, costurar tênis com fio dental, contar as bolas de almôndegas, os biscoitos no pacote. A mendigar o pagamento do frila, a não dormir por causa das contas atrasadas. A sentar com as meninas e dizer "mamãe perdeu o emprego."
A Experiência. E então a moça do DP diz "Coisas boas virão de novo".

Claro que virão. Eu só quero que elas durem.

sexta-feira, novembro 12, 2010

Abaixo do Equador

Temporais de madrugada no Rio são mágicas: a mulher vai dormir carioca, levanta-se americana e sai pra trabalhar londrina - de sobretudo, botas e cachecol. E ainda atocha luvas no filho que vai pra escola, tadinho.

... e sem escalas

E então eu estava com aquele vestido verde-água poderoso. Fluido, elegante. Escolhendo, poderosa, DVDs na megastore, com cara de refinada culturalmente. Com um DVD nas mãos, desci do mezanino pela escada rolante no meio do imenso salão da loja, de pescoço erguido. E soberba em minha aura de elegância quase fico pelada no meio da Saraiva, a saia do vestido, inclemente, enganchada entre os degraus.

Deus castiga, viu?

Direto pro inferno...

"Credo, que sapato medonho."
"Que calça apertada - será possível que ela acha isso lindo?"
"Meu-Deus-que-fedor! Desodorante, plizi!"
"Que cabelo... Jogou tinta de caneta na cabeça, fofa?"
"Parir um bebê assim tão feio deve ser castigo por outra encarnação."
"Essa saia não te valoriza, querida. Suas pernas NÃO SÃO lindas como você acha."
"Moço, se acha que com esse xaveco você tá podendo, sinto dizer que não, não está."
"Você JURA que acha esse esmalte bonito? Jura?"
"Quem te disse que bolsa micra é moda te enganou vergonhosamente."
"Dá pra parar de comer esse churro gordurento na minha cara, filhinha?"

A caminho do trabalho no metrô. Uns 300 anos de umbral, por baixo.

quarta-feira, outubro 27, 2010

Riscarei do meu caderninho

Até o fim do ano eu preciso terminar a lista de coisas que eu prometi fazer até 31 de dezembro - coias absolutamente irrelevantes que eu empurro com a barriga a... deixeuver... 3 anos?

- Arrumar a bagunça da minha página no Linkedin;
- Mandar fazer um livro do meu Breviário para dar às meninas quando elas fizerem 15 anos;
- Arrumar minhas bonecas;
- Mandar lavar os bichos de pelúcia - meus e das meninas;
- Organizar minha biblioteca;

E por aí vai.

Hein? 2010? Tá mais pra 2011, amor.

Catatau

- Aqui, filha: papel decorado pra você escrever sua carta pro Papai Noel. Capricha, tá? Se fizer garrancho ele não vai entender nada do que você quer.

[45 minutos depois]

- Já terminou?
- Ainda não.
- Mas a folha tá em branco! O que aconteceu?
- Sabe o que é, mamãe? Eu pensei, pensei, e não consigo lembrar de nada que eu queira.
- Você não quer nada?
- Não, mamãe. Eu não preciso de nada; eu sou feliz.

quarta-feira, setembro 22, 2010

Hate on me*

Posts longos. Noites com mais de quatro horas de sono. Unhas feitas às segundas-feiras. Uma conversa com minhas filhas que não envolva "Você já fez isso?" ou "Depois a gente conversa."

Eu disse essa última frase para Catatau enquanto lavava a louça e tentava me desviar do cachorro que me lambia as pernas com bafo de osso recém-roído. "Depois, quando, mamãe? Você só diz isso: 'depois', 'depois', 'depois'."

Depois. E eu jurei que não deixaria, nunca mais, nada para depois. E pra depois vão ficando as coisas, porque eu sinto que os anos que não dediquei a uma carreira estão me dando uma última oportunidade antes de irem embora pra nunca mais voltarem. Duas vezes por mês vou a São Paulo, e na terça vou apresentar o meu trabalho a um editor americano que foi contratado para dar um gás na empresa onde estou. Ele quer ver o que eu estou fazendo. Ouvir o que eu tenho a dizer. Os editores foram convidados a assistir. E a perguntar. Mas eu vou apresentar. E então. A oportunidade.

De manhã cedo, espremida entre as meninas no banco de trás do táxi, enquanto as duas tagarelam eu vou pensando e escrevendo as malditas cartas que se acumulam cheias de pó na minha cabeça. Escrevo para mim mesma - listas de coisas a fazer, comprar, cancelar, providenciar, encomendar, imprimir, esquecer. Deixo as meninas na escola e vejo quantas crianças chegam em carrinhos, tão grandes já que quase fazem a lona do assento encostar no chão; quatro, cinco anos, com as inseparáveis chupetas que as mães não ousam tirar. Algumas fazem a parada obrigatória no baleiro, abastecendo a merendeira já estufada pelo saco de batatas fritas com as balas e chhicletes do dia. E eu então escrevo uma longa carta de agradecimento à minha mãe que, no seu jeito quieto, não seguiu o rigor hipócrita do meu pai e nos criou à base de muito leite, carne e verduras, num cardápio temperado a Mentex, Frutella e balas Soft.

No metrô, na ida e na volta, escrevo aos meus amigos, alguns já mortos, sobre como é feia a moda de sapatos de bico fino; que interessante era aquele rapaz chinês lendo um livro em mandarim; a expressão da moça que olhava, com inveja, o casal se beijando na sua frente, ou como todo mundo parece se esquecer, com seus iPods & assemelhados que, sim senhor, fazemos todos parte de uma mesma humanidade então não adianta fingir que não viu a velhinha século XIX entrando no vagão.

Chego em casa e encerro o dia perto da meia-noite. Durmo no sofá do meu quarto e quem me acorda é um dos cachorros, me lambendo a cara. Retomo a vida perto de uma da manhã - tomo banho, apago as luzes, checo as meninas; me deito no escuro e escrevo a derradeira carta, aquela para que comprei papel de carta, envelopes, que tomei coragem e perguntei "Você me dá seu endereço?". Uma carta que jamais tem menos do que três páginas, onde abro o coração de uma maneira que não faço nem para mim mesma.

De uma maneira desapaixonada, me dou liberdade de questionar a vida, falar do meu medo de envelhecer sem ninguém, da solidão em que construo todo os meus santos dias, das coisas que queria fazer e não consigo, daquilo que faço e não deveria, das minhas conquistas que, no silêncio da madrugada, não interessam a absolutamente ninguém.

Escrever essas cartas no papel que escolhi - papel linho, branco e macio - e não apenas dentro de mim. Um dia. Porque elas nunca terminam com um "Saudades" ou "Com carinho". Quando durmo, escrevo no fim da página "Depois a gente conversa".

*Jill Scott. Música que não consigo parar de ouvir.

segunda-feira, setembro 13, 2010

Paz

Às vezes bastam dez minutos de silêncio e uma boa lembrança para rearrumar o mundo e trazer a existência de volta ao seu eixo.

terça-feira, agosto 03, 2010

Trote

Uma das coisas que eu mais gosto é ver um homem dirigir. É claro que eu tenho que estar envolvida com ele (não, eu não persigo motoristas de táxi). Mas é um sentimento meio assim, de me sentir segura, sabe? Eu sou a mocinha na garupa do cavalo branco, nós dois cavalgando em direção ao pôr do sol.
Ridículo.

quinta-feira, julho 29, 2010

Papier Chocolatier



Na papelaria, escolhendo material:

- Cadê sua irmã?
- Sei lá, ela estava ali naquele cantinho, com aquele caderno que cheira a chocolate. Ali, tá vendo? Atrás das agendas, bem no cantinho, no meio das pastas de elástico.

[...]

- CATATAU!
- Ui, mãe!
- Mas o que você está fazendo?
- Er... Nada, mãe.
- Como nada?
- Nada, mãe, eu só estava... bem... vendo esses cadernos.
- Vendo? Você estava LAMBENDO as capas!

*suspiro*

quarta-feira, julho 21, 2010

Primavera outonal

44.
Vamos ver... 44x2=88
É, dá pra dizer que estou na metade da vida. Ainda.
Então tá, né?
Viva eu.

terça-feira, julho 20, 2010

Orgulho besta é...

Consertar sozinha a máquina de lavar.
:o)

segunda-feira, julho 05, 2010

Há nove anos



Acordar de bom humor é um dom, seja verão calorento ou inverno frio e chuvoso. É um dom rir e fazer um vagão inteiro, superlotado e calorento, rir também – com ela, não dela. Avaliar a situação com apenas um olhar gordinho; guardar, de centavo em centavo, R$ 300 em quatro meses; saber quando pedir e quando calar. Abençoada com a destreza em enrolar qualquer um para pedir mais – ou conseguir menos quando convém. É um talento descobrir o que pode ser feito com paciência, e o que deve ganhar prontidão. Quando fazer beicinho e bater pé, quando revirar os olhos e pedir “por favor” com voz de coelhinho perdido na floresta fria e escura.
É um dom ser Catatau. E uma graça infinita eu ser mãe dela.
Feliz aniversario, querida.

terça-feira, junho 29, 2010

Figuração

Eu queria muito saber onde a Colgate arranja tanto dentista gato. Deve ser por isso que eles dão só o número do registro no Conselho - jamais o estado. Porque aí, né? Vai ter gente querendo provar a pasta de dentes ali, na boca do dentis... quer dizer, do caixa.

Euzinha inclusa.

quarta-feira, junho 23, 2010

Pra frente, Brasil!

- Mãe, tem um repórter no meio do campo!
- Peraí, tô terminando de fazer a pipoca!
- Mãe, vem logo! O homem tá correndo atrás dos jogadores e ninguém quer falar com ele!
- Mas o jogo não começou?
- Começou, e o cara tá correndo atrás de todo mundo! De microfone no ouvido, sabe? Que nem a moça do Disney Channel? E todo mundo fugindo dele, coitado. Ninguém quer dar entrevista - mas também precisa ser na hora do jogo?
- Cheguei! Cadê o homem?
- Ali, mamãe. Tá vendo?
- Não, não tô vendo nada! Meu Deus, cadê esse repórter que invadiu o campo? Ninguém fez nada? Cadê ele?
- A-li, mamãe. Tá cega?
- Onde, Gizuizcristim?
- ALI!!!!

E então eu vi. O juiz.

segunda-feira, junho 21, 2010

Há 11 anos



Onze anos é uma vida. A vida de Zé Colméia. “Mamãe, escreve na minha agenda por favor que eu estou no inferno astral”. Ela aprendeu a desculpa perfeita para o mau humor cavalar que a acometeu nos últimos dias. “Insuportável” não descreve a figurinha nem no geral, quanto mais nos detalhes.

Porque, sabe, ela odeia Copa do Mundo. Porque teve jogo no dia do aniversário dela – e zero de possibilidade de eu levá-la a um restaurante, como ela tanto queria. “Filha, mas tem a festa na escola, na próxima sexta-feira.” “Mãe, tem JOGO na próxima sexta”. “Então a gente faz na segunda. Ou na terça”. “Ai, Jesus, o Brasil vai jogar na segunda ou na terça. ODEIO COPA DO MUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUNDO!”

E assim foi. O jantar de comemoração foi no sábado, ela e a família do pai. Então eu levei ela e Catatau ao salão, pela primeira vez na vida, pra fazer as unhas. Catatau ia num vestido balonê lindo, lavanda, com uma rosa delicada no peito. Para complementar o visual, meia fina branca de bolinhas, sapato princesa cor de rosa e unhas preto-e-pink – uma preta, uma pink; uma preta, uma pink. Zé Colméia, num look chic-adulta, foi de chemisier azul marinho de pois – e unhas pink-com-brilho em cima (sim, mãos para batalhar na noite, que Deus me perdoe). Completando, bolsa-carteira rosa-pink da Barbie e sapatos idem. Um looshoo.

Divertiram-se as duas. Muito. Baldes. Foram dormir rindo às gargalhadas. De manhã cedo, os olhos de minha pequena cintilaram - como não o fizeram com as dúzias de pacotes recebidos na véspera - ao abrir meu presente: o primeiro sutiã*.

Felicidades, filha. Mamãe te ama de-mais!

* Experimentado em 0,0087 segundos e retirado aos gritos de “Ai, que coisa horrível, como aperta, pinica, coça, incomoda, tiiiirrrrrrraaaaaaaaggggggggggggoooooooooorrrraaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!

quinta-feira, junho 10, 2010

Amor estatístico*

Com quem eu vou passar o Dia dos Namorados?
Com o melhor namorado de todos, o que eu sempre sonhei:

Ruivo
Atencioso
Carinhoso
Respeitador
Organizado
Cheiroso

O amor da minha vida.

* Tô dentro.

sexta-feira, junho 04, 2010

...

E o monitor do meu computador finou-se.
Juntou-se ao micro-ondas, às lâmpadas do exterior de casa, ao aspirador de pó, ao chuveiro elétrico. Botou a mãozinha no coração e, sem nem um miado, apagou-se.
Estou numa lan house. Doida de vontade de trocar a foto aí de cima. Mas não dá pra botar o nome do blog.
*suspiro*

sexta-feira, maio 21, 2010

Apocalipto

A lista de desgraças atuais inclui:

Vazamento gigante não localizado (indicativo: caixa d'água de mil litros que se esvazia, sem ninguém em casa, em 12 horas)
Chuveiro elétrico pifado
Pia do banheiro descolada do mármore (interditada)
Duas tomadas em curto
Ferro elétrico liga-não-quer-ligar

Minha empregada. Ela voltou.
Aquela que traz destruição só de entrar num recinto.
Aquela que destrói as asas das xícaras só de usá-las.
Que racha pratos num simples raspar de garfo (sim, meninos, eu vi)
Que trinca vidros de janelas ao aspergir-lhes álcool
Im-pres-si-o-nan-te.

No início

Catatau está doente. Dor de garganta, muita febre, dor de estômago.
Cuidar dela - Deus me perdoe - é uma das coisas mais gostosas de se fazer (não, não gosto de ver minha pequena sofrendo. Quero mais que ela fique boa). Porque ela sofre da Síndrome do Ninho - quando está ferida, doente, magoada, quer colo de mãe.

E como isso anda raro, hoje em dia.

...

Deixar um blog às moscas deveria ser crime.
Abandono de incapaz.

Preciso achar uma lanhouse perto do trabalho.
É urgente.

quarta-feira, maio 05, 2010

O inferno é o limite

- Alô.
- Por favor, a Suzana?
- É ela.
- Ahn... Aqui é a Fulana, mãe da Sicraninha e do Beltraninho. Tudo bem? Seguinte: amanhã tem o almoço do Dia das Mães lá na escola, né? Sabe o que é? Eu marquei hora com uma mulher que é ma-ra-vi-lho-sa pra fazer a tinta - dizem que é ela que faz aquele louro da Global da Hora, sabe quem é? Daquela novela? Aí que ela só vai me atender na hora do almoço e será que não dá pra você não ir no almoço da escola? Porque aí a Sicraninha não vai chorar porque eu não vou - se você, que sempre vai, não for, aí ela vai fazer companhia pra [...] e aí elas ficam juntas no almoço, né? Já liguei para a mãe do X, da Y e do Z mas não consegui falar com elas. Então, você pode não ir ao almoço do Dia das Mães?"


Juro.

quinta-feira, abril 29, 2010

A caminho

Ser mãe é:

Fingir que está dormindo porque não está a fim de levantar e brincar de "Barbie vai às compras com Polly";

Deixar para jantar depois que os filhos dormem, pra não ter que ouvir "Você vai comer isso tudo - e não vai deixar nada pra gente?" (mesmo que seja aquele miojex básico, frio, de dois dias de geladeira);

Comer (escondido, óbvio) o restinho do ovo de chocolate de uma. E descobrir que a proprietária vai armar um escarcéu. Então tirar um pedaço mais ou menos do mesmo tamanho de outro ovo aberto e botar lá, em substituição. E fazer cara de paisagem quando a filha disser "Olha, esse pedaço não tem cocrante. Que esquisito!"

No caos-de-cada-dia, esquecer que enfurnou a faixa do quimono numa gaveta do armário (para não perdê-la no caos-do-dia-a-dia, veja só). E botar todo mundo pra procurar. E se irritar, descabelar-se, e achar a faixa, e morrer de vergonha do esquecimento - e acenar com a cabeça (humilhação suprema) quando a filha diz "Também a fulana enfurna tudo, né mãe", fazendo uma anotação mental de pedir perdão à empregada;

Enfiar o nariz naquele pescoço cheirando a suor e brincadeira quando o mundo lá fora parece muito, muito cruel.

Estou feliz, Angélica. Nenhuma criança mereceria uma mãe melhor do que você para acompanhá-la nesse mundo.

quarta-feira, abril 28, 2010

Saudade

Acordei muito cedo com um torpedo da Cristiane. Sentei na cama, respondi e chorei. Porque a gente se põe no lugar do outro que está sofrendo, tenta sentir o que ele sente e pensar numa maneira de amenizar aquela dor que, no fim, é o que nos molda na vida, por mais clichê que pareça.

Dói mais ainda porque olhamos nossos pais e não percebemos que os dedos se entortaram - exatamente pelo caminho que os seus já anunciam - os cabelos embranqueceram, a pele tornou-se papel de seda. São nossos pais. Não podem simplesmente deixar de ser só porque nossos filhos experimentam o que é nosso, cobiçam nossa vida e nossas liberdades de dormir tarde e jantar amendoins. São nossos pais. Eles são - verbo que não se conjuga, jamais, no pretérito, mesmo que ele tenha sido perfeito.

Nome aos bois

"Anônimo disse...
Pq essa vontade insaciavel de estar sempre com um homem??? Vc está numa outra estapa da vida. Não precisa de beijo na boca nao.
Vá criar suas filhas. É a melhor coisa que vc pode fazer.
Por enquanto vc pode exigir sexo casual, mas acho exagero em querer um relacionamento serio. Vc não é nenhuma adolescente!
Pra sexo casual, quiçá um namoro, eu te recomendo o chat do site uol.
É otimo!"

Repetindo: "Pq essa vontade insaciavel de estar sempre com um homem??? Vc está numa outra estapa da vida. Não precisa de beijo na boca nao. [...]
Por enquanto vc pode exigir sexo casual, mas acho exagero em querer um relacionamento serio. Vc não é nenhuma adolescente!"

Sexo casual. Você fica nua, física e psicologicamente, e alguém entra no seu corpo, física e psicologicamente. Pra mim isso jamais, em tempo algum, será casual.

Aí, como eu sou uma velha ranzinza e que leva uma vida mesquinha (como disse um outro sem nome), comentários não identificados serão deletados. Porque não assumir o que se diz é coisa de adolescente, e eu aposto que você não é um.

sábado, abril 17, 2010

...

O mundo gira, a Lusitana roda.

O casamento acaba, os cacos continuam debaixo do tapete pedindo cola ou o lixo definitivo, mas a gente bota a energia pra não deixar o mato invadir o canteiro, as paredes descascarem, os filhos desandarem.

A gente tem câncer, mas lá vem o bilhetinho na agenda avisando que tem apresentação sobre a chegada da primavera ("Contamos com você lá!"), a ração dos cachorros chega ao fim e as contas continuam a aparecer debaixo da porta impreterivelmente quando não temos mais dinheiro para pagá-las. Nossas roupas acabam - mas se continuam novas alguém herda tudo e um dia vai dizer: "Isso está tão puído!"

Choramos quando perdemos alguém, e na casa em frente ouvimos o parabéns pra você cantado e ip-ip-hurrado. Sentimos o coração afundar ao saber que "...infelizmente não posso ficar com você" enquanto alguém puxa a sua manga para avisar que acabou o papel higiênico no banheiro.

A vida segue. E eu quero amar de novo.
Por favor.

quarta-feira, abril 14, 2010

...

Minha advogada ligou para avisar que o juiz não aceitou a denúncia do Ministério Público e decidiu arquivar o processo criminal contra o meu vizinho pela morte da minha cadela.

Então a gente continua assim: janelas eternamente fechadas, sussurrando pelos cantos, com medo de ir ao banheiro e sem viajar, que é para os cachorros não ficarem sozinhos.

Sério, estou cansada. De ficar sozinha, se não ter pra quem dizer "Olha, faz voz bem grossa, uma cara bem feia, vai lá e resolve pra mim, porque eu sou frágil e delicada." Estou cansada de procurar analista pra criança, conversar com professora, segurar a sanidade mental dos outros em detrimento da minha.

Uma vez, uma vez só eu queria que alguém se responsabilizasse por mim. Mesmo que eu estivesse em cima do telhado, cacarejando ao vento.
Só uma vez, pra variar.

sábado, abril 10, 2010

Ponte aérea

Tem gente que acha puro glamour aquela profissão em que se dá um pulinho em São Paulo umas três vezes por semana. Eu não, baby. Detesto sair de casa, vá dizer de cidade, de estado. Tô fora.

Enfim. Quinta de manhã desovei as meninas na escola às sete da manhã e fui pro Santos Dumont. Atrasada, lógico - pra ida e pra volta. Um frio do cão, chuva que nem aqui, pousei no Rio às nove da noite. O que eu aprendi nesse dia:

* Refeições são patrocinadas. "Bom dia, blábláblá as comissárias a seguir estarão servindo um café da manhã com a saborosa linha ETC E TAL, mais saúde e sabor para o seu dia." E aquele suspiro coletivo e resignado de "Que merda!" e as moçoilas distribuindo uma caixinha com as coisas com mais saúde e sabor. De repente, um cheiro de peixe no ar. E o homem de cabelo ensebado, oleoso e untuoso na poltrona à minha frente levanta-se e, segurando uma lata de atum no azeite com a mão esquerda, abre o bagageiro com a direita e saca da bolsa, sob os olhos apavorados do povo, um garfo.

* Estou lançando uma campanha para que todas - TODAS - as companhias de cosmético do planeta pensem seriamente em banir a sombra azul de suas cartelas de cores. Porque, assim, sombra azul cintilante às sete da manhã é cafona, minha senhora. A não ser que a senhora tenha sido contratada para dar susto nos passageiros que estão cag... ignorando a comissária enquanto ela encena a pantomima narrada "E as máscaras cairão do teto", um clássico da aviação civil há meio século.

* Um frio de rachar. E o avião cheio de mulher de sandália de salto, minissaia e casaco com gola de pele (oi?). Como diria Renata, supercoerente.

* "Boa noite! Quem fala é o Comandante T (Tapado?) que dá a vocês as boas-vindas neste vôo TAM. Tá friozinho, né? Pois então não vou me desculpar pelo aquecimento da cabine, que vai durar um tempinho enquanto aguardamos autorização para decolar. Enquanto isso, que tal dar 'oi' para o seu companheiro de assento? Oi para o seu companheiro de assento! Cariocas e paulistas unidos pela chuva!"

Sílvio Santos. Lombardi. Túmulo. Pulos. Muitos pulos.

* "Estamos iniciando procedimento de descida. Enfrentaremos alguma turbulência, mas nada que ponha em risco a integridade do avião, apenas algum desconforto" diz o comandante, enquanto as comissárias, com cara de apavoradas, desembestam em alta velocidade pelo corredor.

sexta-feira, abril 02, 2010

XY

No fim de semana passado, depois de elas passarem 40 dias sem ir para a casa do indivíduo, o pai avisou que não pegaria mais as duas porque elas estavam "muito mal educadas" (oi, pai não educa?). Enfim. Depois de sumir ontem mandou a boa nova pelo telefone: vai ser pai novamente.

Catatau deu de ombros. "Por mim... Não escrevo nem mais o sobrenome dele no meu nome." Zé Colméia não tem mais o que chorar: os olhos secos, me encara com a certeza de que "meu pai não gosta mais de mim".

Sério, não há mulher na face desta Terra que tenha se enganado tanto, mas tanto como eu me enganei quando escolhi (pelo jeito, a dedo) o pai das minhas filhas.

Bem lá no fundo

Eu sempre tive a mania de ligar o que sinto e penso com imagens. Aquele pensamento limítrofe de ter que pedir ajuda ao figurativo para interpretar o sentimento, o pensamento.

Há uma semana estava assistindo TV quando senti uma saudade doída e doida de alguém. Por muitos motivos (reais e imaginários) esse alguém cortou relações comigo, mas não me fez esquecer tudo de bom que eu dei e recebi. Então, na impossibilidade de ligar, mandei uma mensagem.

Ao apertar o send do celular me veio à cabeça que minha mensagem era uma pedra, que eu acabara de jogar no fundo de um poço, condenando a pobrezinha à solidão, ao escuro e ao frio. Porque, veja bem, eu sabia que aquela mensagem não voltaria.
Caiu no fundo do poço e lá vai permanecer.

...

Tempo é hoje o que me falta, porque horário a cumprir eu tenho de montão. Aí no fim do dia eu tenho zilhares de coisas para comprar, pagar, imprimir, procurar, escrever - e esse meu breviário tão querido fica cheio de poeira e triste, esperando notícias minhas.
Desculpe.

domingo, março 21, 2010

...

Eu sei que incomodo algumas pessoas.
Eu não sei por que me incomodo com isso.

sábado, março 20, 2010

Maravilhas





Lili;

São essas que eu quero - mas vou comprar pras meninas porque, assim, 44 anos acho que não dá mais, né?
Se bem que esse Cheshire rosa tá o que há.

segunda-feira, março 15, 2010

É tempo



Você nota instantaneamente que alguma coisa mudou. É como se aquele vermelho vivo, o furta-cor tão cafona e tão presente, é como se o amarelo, o rosa, o azul royal e o verde bandeira virassem lilás, bege, café, verde água. A adolescência não é berrante. É uma cor que morre lentamente nos olhos dos nossos filhos. É o calor que fica morno, é a luz vibrante que se torna suave. Eu vi o início do fim nos olhos da minha filha exatamente às 9h do dia 14 de março de 2010.

Exatamente nessa hora, nós duas deitadas na minha cama, Catatau ainda esparramada em seu sono domingueiro, que Zé Colméia aprendeu o que é sexo. O que é relação sexual, coito, gravidez, prazer. Aids, pedofilia. Um pouquinho por vez, satisfazendo as perguntas, saciando a curiosidade que há tempos martelava minha paciência com "Mãe, o que é transa?", "Mãe, o que é sexo?" "Mãe, o que é relação sexual?"

Eu expliquei. Miudinho, respondendo somente o que ela me perguntava. O queixo apoiado nas mãos, ela abria a boca a cada cena imaginada. "Então você transou com o papai? O vovô fez isso com a vovó? Com a vovó, mãe?"

E então eu vi. Aquela luz tão intensamente brilhante foi enfraquecendo aos poucos. Dando lugar a outro tipo de brilho, mortiço, cálido. Maduro. Alguma coisa morreu ali. E com ela morreu também um pedacinho de mim. E meu luto apareceu à noite, sozinha e enrodilhada na cama, chorando em silêncio ao lembrar do meu bebê gordinho que dormia sobre o meu ventre como se dele ainda não tivesse saído. O andar inseguro agarrando-se no meu dedo mínimo, o sorriso desdentado. Os desenhos tortos de círculos e rabiscos. Os vestidinhos rodados, os sapatinhos de feltro colorido cheio de apliques de abelhas e flores. Os guarda-chuvas de bolinhas, as sandalinhas de girassol.

Doeu muito. Ainda dói.

segunda-feira, março 08, 2010

Recuso-me a usar esse clichê*

Sábado de temporal.
Depois de esperar baixarem as águas do Rio Carioca (que desce qual uma pororoca urbana do Cosme Velho até a Praia do Flamengo), fiquei uma hora e meia tentando pegar um táxi. Quando consegui, a chuva já estava apertando de novo. Ao descer do carro e abrir o portão já estava encharcada - claro, vestida de branco, como não poderia deixar de ser.

Ao término dos 70 degraus, um véu de noiva descia por baixo do portão. Sem luz, com o clarão de um raio vi duas figurinhas molhadas e assustadas, espremidinhas no último quadradinho seco da varanda, com cara de "Meu Deus, onde ela está?" - que imediatamente mudou para "GRAÇAS A DEUS VOCÊ CHEGOU!".

Todos os ralos entupidos com toneladas de folhas-e-coisas-moles-que-eu-me-recuso-a-pensar-no-que-deveriam-ser. A água descia numa torrente do terraço. As folhas que não conseguiram entupir o ralo de cima desceram os degraus e se enfiaram por baixo do portão dos cachorros e pelo ralo da varanda - a água, passando por cima dos dois, já estava invadindo a cozinha.

Uma hora depois - dez da noite, mas quem estava contando? - os cachorros roncavam na cozinha, secos, e eu enrolada num roupão me recusava a me mexer no sofá do meu quarto.

As delícias de se morar numa casa em Santa Teresa.

* Porque a Globo já usou "Águas de março" ad nauseum.

sábado, março 06, 2010

Dejà não vu

Catatau pulou dois números de sapato - em 50 dias. E está usando as minhas camisetas.
Zé Colméia está usando as minhas sandálias. E diz que quando corre os seios balançam e doem.

Minhas roupas. Meus sapatos.
Seios.

Socorro.

Severine





Em março/abril nas lojas, senhoras e senhoras.

Ser inferior

Detesto dia de chuva. Porque, sabe, tem gente que não sabe andar de guarda-chuva numa calçada cheia (eu). Enfia as varetas na cara de todo mundo (eu), e quando se vira pra pedir desculpas despeja uma cascata no pobre que estava atrás (eu). Atravanca a calçada (eu). Não sabe como lidar com o guarda-chuva e as trocentas bolsas e zilhares de pacotes que está sempre carregando (eu). Não olha por onde anda e mete o guarda-chuva no peito de quem está sob as marquises (eu).

Não sabe andar de guarda-chuva fica em casa, minha filha (eu).

Enfim, sós

Agora que eu comprei todo o material escolar, encapei tudo, comprei (e troquei) os tênis das meninas, levei as mochilas para o conserto (e peguei), comprei novas galochas e guarda-chuvas, renovei o estoque de uniformes, fui às reuniões do horário regular, do integral, das escolinhas, da nutrição, da psicopedagoga e da coordenação (sempre em dobro), agora que eu já acertei o calendário de provas, marquei dentista, dermatologista, oculista e teste de audição para as duas - agora que cumpri minhas obrigações maternais de começo de ano, tô aqui.
Oi. Tudo bem?

domingo, fevereiro 21, 2010

Um flash

Uma das coisas que eu me prometi esse ano: juntar dinheiro pra comprar uma máquina fotográfica. Mesmo que seja de segunda mão. Aí eu quero fazer um blog com as minhas fotos.
Eu era boa. Muito boa.
Palavra.

Tudo igual

A pior coisa do mundo é esse começo de ano. Quando embala aí vem carnaval - e, é claro, tem recesso a semana toda - e começa a acumular roupa suja, roupa para passar, trabalho, é caderno e livro que não acaba de comprar e de encapar que puxa vida, tô morta.

Por isso é que quando alguém diz "Segunda começa tudo de novo" eu só tenho uma coisa a dizer:

Graças a Deus.

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Carteira de ações escolares

Livros: R$ 1378
Material de papelaria: R$ 965
Uniformes: R$ 280

Total: Somem vocês.
Eu ainda estou em choque com o que gastei com as meninas nessa volta às aulas.
E ainda falta o material comunitário. Que eu, elegante e firmemente, ou comprarei em suaves e eternas prestações ou me farei de phina & sonsa e não comprarei.

Porque, afinal, ou eu equipo uma filha ou equipo a outra - uma delas tem que vender bala no sinal pra ajudar a pagar essa conta.

Fervura

40ºC
Sensação térmica: 50ºC
Umidade relativa do ar: 30%

Vou começar a entrar em sites de relacionamento profissional e pessoal do Canadá, da Finlândia, da Noruega...

Porque, sabe, eu ODEIO calor.
Um pouco mais do que detesto ar-condicionado.
Então já viu, né?
Lascou-se.

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

O dia de hoje

Eu poderia me alongar e dizer que o cara não foi - faltou à audiência de conciliação. Ou melhor, chegou 40 minutos atrasado. Só olhei para ele 2 segundos, literalmente, mas esses dois segundos me tragaram numa onda de mal estar que perdurou até a noite.

Eu poderia dizer que sinto a sua falta e de conversar com você. Só isso - sinto a sua falta.

Eu poderia comentar inclusive que enfiei um sonho de valsa inteirinho na boca, dentro do elevador - e antes que a porta se fechasse o presidente da editora entrou e deu bom dia. E a careca dele brilhava de tão divertido que ele estava por me ver constrangidíssima, tentando mastigar, engolir, sorrir e falar ao mesmo tempo - sem a jaqueta de chocolate em cima dos dentes.

Mas o que eu queria dizer mesmo tem a ver com o que eu vi, hoje, descendo a ladeira no fim do dia: como é gostoso ver meninas brincando de boneca. Eu brinquei muito, mas hoje não tenho paciência. Mas observar como se deixam absorver pelo papel que representa ali é arrebatador - a menina não brinca, ela É a boneca.

Eu perdi essa magia. Não sobrou nenhuma, e Zé Colméia e Catatau, que sempre me cobram participação mais ativa nos chás dançantes da Barbie, levarão essa mágoa de sua mãe por toda a vida adulta. Que elas não percam essa magia, também.

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

...

Amanhã, perto da hora do almoço, vou rever meu vizinho. É a audiência com o promotor público. Desde ontem sinto uma onda de mal estar, aquela sensação de impotência, de solidão, de saudades dela. A minha mão procurando por outra sem encontrar nada nem ninguém.
Ele também fez BO contra mim. "Perturbação de tranquilidade".
Eu quero minha paz de espírito de volta.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

A sentinela do abismo

... Fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto – quer dizer, ninguém grande – a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice.

Ninguém que tenha lido a obra-prima de J.D. Salinger poderá se esquecer da cena em que Holden, tarde da noite, resolve visitar a irmã, entrando sorrateiramente no apartamento para que seus pais não o vejam. Por sorte, eles haviam saído e Holden tem uma longa conversa com Phoebe, que não demora a descobrir que ele havia sido expulso da escola, reprovado em todas as matérias com exceção de inglês. Com a sensatez imbatível das meninas de dez anos de idade, a irmã o acusa de não gostar de nada e, tendo Holden a duras penas conseguido dizer que gostava do Allie (um irmão já morto) e de estar ali conversando com ela, Phoebe exige que ele diga o que gostaria de ser quando crescesse.

A resposta reproduzida acima, além de típica do estilo coloquial empregado com tanto êxito por Salinger para caracterizar o rapazote de dezesseis anos, sintetiza os dois traços centrais do personagem: sua recusa em aceitar o jogo dos adultos, representada pela escolha estapafúrdia do que faria ao crescer, e o amor ao próximo, aqui simbolizado pela preocupação em evitar que as crianças caiam no abismo (mas também presente mesmo no último parágrafo do livro, quando Holden diz sentir saudades até das pessoas que lhe fizeram mal). Nesse sentido, nada mais justo que Salinger retirasse de tal passagem o título de seu livro.

Muito justo, sem dúvida, mas se ponha na pele de Álvaro Alencar, Antônio Rocha e eu, já lá vão quarenta anos, tentando passar para o português "The Catcher in the Rye". Apanhador, palavra horrorosa que, segundo os dicionários, se aplicaria a quem colhe os grãos de café ou extrai o látex da seringueira, embora no linguajar corriqueiro só seja usada para designar um gandula. Centeio, quando muito, lembrava um tipo de pão àquela época pouco consumido por estas bandas; mas quem jamais teria visto um campo da tal gramínea? Não, intitular um livro "Apanhador no campo de centeio" seria como dar algum nome esdrúxulo a uma bela criança, seria condená-lo à mais absoluta rejeição.

É verdade que o título também não fazia muito sentido mesmo no idioma do autor. Para todos os efeitos práticos, a palavra catcher em inglês se refere àquele jogador de beisebol cujo rosto está sempre coberto por uma máscara e que, agachado atrás do batedor, fica pegando as bolas atiradas pelo lançador (ocupando assim, aparentemente, a posição mais besta de qualquer esporte se ao “apanhador” não coubesse também a responsabilidade crucial de indicar onde a bola deve ser lançada com base nas características do batedor). A segunda parte do título só é explicada na própria conversa de Holden com Phoebe, quando ele lhe pergunta se conhece a cantiga "Se alguém agarra alguém atravessando um campo de centeio". Phoebe o corrige, dizendo que o certo é "Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio", e ainda acrescenta que é baseada num poema de Robert Burns. De fato, trata-se de uma conhecida cantiga de crianças, mas, até mesmo devido ao "erro" de Holden ao trocar os verbos, jamais encontrei uma única pessoa nascida nos Estados Unidos que tenha feito de estalo a ponte mental entre a musiquinha e o título.

Voltando ao nosso drama lingüístico, fizemos longas listas de títulos alternativos até encontrarmos "A sentinela do abismo", em que respeitávamos tanto o contexto quanto o conceito. Heureca! Que nada, a alegria durou pouco. Da agente literária de Salinger veio a ordem ríspida: ou se vertia o título literalmente ou era suspensa a venda dos direitos de tradução. Ordens do autor. Em vão tentei explicar por carta que a expressão era virtualmente ininteligível no vernáculo. Aproveitando uma ida a Nova York, obtive a graça de uma entrevista com a agente, pois já então era de todo impossível comunicar-se com o próprio eremita de New Hampshire. Nenhuma chance de revisão da sentença, porém ao menos fiquei sabendo que Salinger entrara em órbita ao tomar conhecimento de certas versões dadas ao título que lhe devera ter custado imensas dores de parto.

Com base em três delas que vim a conhecer mais tarde, passei a dar toda a razão ao autor. Senão vejamos.

Em espanhol, saíram-se com "El cazador oculto", obviamente por conta da menção a um campo e ao fato de que o Holden adulto nele estaria escondido para não comprometer a espontaneidade das crianças ao brincarem. Mas que extraordinário exemplo de insensibilidade do tradutor ao não perceber o quanto a idéia de caçada e de morte era antagônica à mensagem que o título buscava transmitir!

O francês nos brindou com "L’attrape-coeurs", que corresponderia em português a um abominável Pega-corações. No entanto, quando a língua de Racine já tem consagradas as expressões attrape-mouchesattrape-nigaud (prima-irmã de nossa "pegadinha"), dá para questionar a qualidade da versão gaulesa independentemente de sua dose excessiva de açúcar.

E, por fim, a mais notável, inclusive por demonstrar a desistência do tradutor português – recurso ao menos rechaçado pelos coleguinhas de Espanha e França – de extrair o título da rica contextura em que o original o situara. Pois bem, o ilustre sr. João Palma-Ferreira tascou "Uma agulha no palheiro" (na melhor tradição do conterrâneo que batizou o "Psycho" hitchcockiano de "O filho que era a mãe")! Todavia, desconfiando de que não havia mesmo nenhuma relação entre o fundilho das calças e o orifício por elas protegido, ofereceu à posteridade uma Advertência cujo sabor só pode ser apreciado mediante sua reprodução integral: "O título português do romance de J.D.Salinger 'Uma Agulha no Palheiro' foi especialmente escolhido tendo em atenção a singularidade expressiva desta frase comum portuguesa (sic) e não corresponde à nem pretende ser a tradução do título original norte-americano: The catcher in the rye, para o qual foi sempre difícil encontrar uma forma suficientemente alusiva e gramaticalmente correcta em todas as que ocorreram ao tradutor. Supõe-se, pois, que, sem fugir ao que o escritor pretendeu (sic), o título da edição portuguesa marcará incisivamente o espírito deste livro admirável."*

Seja como for, ao fim e ao cabo a edição brasileira estampou a tradução literal, ainda que amenizada por breve nota onde se lia: "Os três jovens diplomatas brasileiros que fizeram a presente tradução escolheram o título 'A Sentinela do Abismo'. O Autor preferiu, entretanto, o título 'O Apanhador no Campo de Centeio'." O que, pelo jeito, não atrapalhou em nada, se é que não serviu para tornar ainda mais indelével a marca do livro na memória do leitor. As vendas continuam firmes, ano após ano, mesmo depois que o tresloucado assassino de John Lennon foi apanhado com um exemplar da obra. Que aqui no Brasil passou a ser carinhosamente chamada de Apanhador.

E você, já leu "O Apanhador"?

* Há outras coisas imperdíveis nessa tradução lusa. Quando o Edgar Marsalla quase manda pelos ares o teto da capela onde os alunos eram obrigados a ouvir o discurso do agente funerário e grande benfeitor do colégio, seu “peido infernal” (terrific fart) se metamorfoseia num “tremendo arroto”. Quando Holden se enfurece com os palavrões que vê escritos nas paredes da escola da irmã e do museu, os muitos "Foda-se" se transformam em pálidos "Vai à merda". Graves problemas de sinonimia ou de anatomia?

Jorio Dauster (que traduziu "O apanhador no campo de centeio" para o português com Álvaro Alencar e Antônio Rocha, fala da dificuldade de verter o título original da obra, The catcher in the rye)
Prosa & Verso - Jornal O Globo
29 de janeiro de 2010

Mater

As meninas usam na escola potes de sorvete para guardar, no banheiro, o material de higiene: xampu, condicionador, sabonete, esponja de banho, pente & escova.
Eu sempre mandei o branco. Foi quando eu vi, na geladeira do supermercado, que tem agora um sorvete (dois litros) cujo pote é rosa.
E então eu, há dois dias, só tomo sorvete. Em todas as refeições.
Café da manhã. Merenda. Almoço. Lanche. Jantar. Ceia.
O segundo pote está no finzinho. Bem na hora.
As aulas recomeçam depois da manhã.
E eu também não estou aguentando mais.

E não, eu não pensei o óbvio: virar o sorvete em outro pote. Não até hoje de manhã.
Excesso de chocolate no cérebro.
Sorry.

sábado, janeiro 30, 2010

...

Madrugadas foram feitas, definitivamente, para qualquer coisa - menos dormir.

Podia, mas não estou

Eu podia estar bebendo, eu podia estar transando, mas estou aqui, ouvindo a trilha sonora de "Love actually" e pensando nos acontecimentos do dia. Assim, eu não sou a melhor nem a mais brlhante profissional que a face da Terra já conheceu. Mas sempre tento seguir a máxima que meu avô me ensinou: "Bom senso é tudo na vida".

E aí eu vejo o trabalho da assessoria de imprensa. Que recebe lá, limpinho, R$ 8 mil para escrever o nome de tudo quanto é autor errado e dizer que há 70 anos o mundo exultava com uma economia capitalista desenfreada - quando na verdade as pessoas comiam carvão e se jogavam do alto dos prédios no desespero da recessão entre guerras.

E aí o gerente de marketing me liga. Ele é novo na casa, também. Um mês. Mas é um trator. E conversando me disse pra eu segurar as rédeas. Pisar no freio. Porque, você sabe, muita gente gosta da incompetência delas. Mesmo que isso signifique um prejuízo monumental todo mês - dinheiro vivo, ali, contado num cálculo mental de 3 segundos.

Eu podia estar bebendo. Eu podia estar transando.
Mas eu tô aqui, pensando na incompetência alheia.
Que tristeza.

quinta-feira, janeiro 28, 2010

E contando



Mais um que se vai. Todos uns grossos. Duby, Cortázar, Calvino, e agora Salinger - indelicadeza morrerem antes que eu pudesse conhecê-los pessoalmente. Tudo bem que o homem era um recluso, mas sei lá, né?
O mundo é um dedal, já dizia minha avó. E a esperança é a última que morre.

Pelo menos ela é educada.

Cidade Maravilhosa

Rio de Janeiro.
Alto verão. 38°C. Às sete da manhã.
Sem vento. Sem sombra. Sem trégua.
Sem água.
Desde sexta-feira.

Falando em arte perdida: ministrarei, brevemente, o curso "Como tomar um banho completo (lavagem de cabelos + depilação), lavar seu quintal e dar de beber a dois cães com apenas meia garrafa de água mineral (1,5 l)."
Inscrições abertas. Vagas limitadas.

Arte perdida

A menos de uma semana do início das aulas, não passei nem na porta da papelaria.
Comprar material escolar em cima da hora, vocês sabem, não é para amadores.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Vai lá

O baile, talecoisa. Então. Não fui. Cheguei a São Paulo na terça-feira, podre, debaixo de um temporal cretácico.
Primeiro esporro.
- Puxa vida, mamãe, como assim você não foi? Seu vestido tava liiiiiindo! A gente botou toda a nossa maquiagem [Sim. Minhas filhas têm mais maquiagem do que eu. Só coisa boa. Batom da Mônica & Nívea & que tais] na sua mala, você levou aquele perfume cheiroso e pra nada? Puxa, mãe. Que vacilo, hein?

Dormi com essa. Mas só até a quinta-feira, quando o boliche foi transformado, por conta do chuvaréu, numa ida a um bar.
Segundo esporro.
- Como você não foi? Como NÃO FOI? Assim não dá, né mãe? Você adora chope, diz que fica com a boca cheia d'água quando lembra do chope geladinho [Minhas filhas olham e dizem: "Nossa mãe, aquela pinguça" *suspiro*] e quando tá sozinha sem a gente NÃO VAI? Assim você não vai arranjar namorado, né mamãe? Assim, ele não vai cair no seu colo, né?

Minhas filhas, senhoras e senhores. Orgulho de mami.

domingo, janeiro 24, 2010

Ponte aérea

Primeiro dia, na esteira de bagagens em Congonhas:
9 ligações não atendidas
7 recados ("Mãe, você já chegou, é? Tem muita gente aí em São Paulo, tem?")
4 mensagens de texto
20 minutos ao celular

Segundo dia, hora do almoço:
14 ligações não atendidas
9 recados
8 mensagens de texto
14 minutos ao celular

Segundo dia, hora do jantar:
9 ligações não atendidas
4 recados
8 mensagens de texto
7 minutos ao celular

Terceiro dia, hora do jantar:
25 ligações não atendidas
14 recados de voz ("Sua caixa postal está cheia. Por favor, elimine algumas mensagens.")
13 mensagens de texto
6 minutos ao celular

Quarto dia, 5h15m:
"Mãe, te acordei? Mãe, você tá aí? Você volta hoje, né mãe? Mãe? Cê tá me ouvindo? Cê me traz alguma coisa aí de São Paulo? Traz, mãe? Mãe? Tá acordada? MÃE, ACOOOOOOOORDA! Oi, mãe?"

Vou precisar vender Catatau pra pagar a conta do celular. Se vender a Zé Colméia, aí que vou me lascar - só dando pro dono da Claro.

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Socorro

Logo no primeiro dia do seminário da editora em São Paulo haverá um baile de gala. Sim, baile de gala. Pede-se traje passeio completo para homens e longo - LONGO - para as mulheres.

Levo o meu vison?

terça-feira, janeiro 12, 2010

Verbete

Suzana Elvas (Rio de Janeiro, 21 de julho de 1966 - Thousand Islands, 8 de julho de 2064). Jornalista, editora, autora de livros infantis, cronista.

Este artigo é um esboço sobre Suzana Elvas. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.

Não aprende

Sabe quando você acorda e diz "Hoje vou fazer AQUELA arrumação no meu armário" e começa cheia de boas intenções e tira todas as roupas e sapatos e cintos e maquiagens e acessórios e tralhas lá de dentro e começa a ver coisa por coisa e escureceu e você nem LIMPOU as gavetas e tudo está esparramado pelo chão cama sofá cadeiras mesa de cabeceira biombo espelho sapateira & outros móveis e falta menos de hora e meia pra você ir dormir porque amanhã tem reunião cedo e POR QUE EU FUI INVENTAR ESTA MERDA?

Pois é.

...

Calor.
Trabalho.
Falta de inspiração.
Feia, a coisa.

sexta-feira, janeiro 08, 2010

No meio



Às vezes eu me sinto o leão.
Às vezes eu me sinto o domador.
Ultimamente eu sou o chicote. Quando gostaria, porém, de ser apenas a rede.

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Anjo de esplendor

Nós três sentadas na cama, acompanhando um filme muito meloso, muito melodramático. A mocinha-que-fugiu-de-casa-para-realizar-seus-sonhos, depois de enfrentar bandidos que queriam pegar seus preciosos cachorrinhos, termina em trapos e suja, dando o último sorriso moribundo nos braços do amado-rapaz.

Zé Colméia se encolhe no meu colo e suspira; Catatau dá uma fungadinha e diz, compungida, depois de um minuto de silêncio solene:

- Mamãe, eu já sei como quero morrer.
- É, filha? Como?
- Muito bem vestida.

segunda-feira, janeiro 04, 2010

A falta que faz



Eu sinto saudades de pessoas. Gente que eu nunca mais vou ver, que eu não sei se ainda está por aqui ou se um dia aquela sensação de injustiça vai desaparecer. Tenho saudades do cheiro de pinheiros que eu sentia quando chegávamos a Teresópolis, eu e meus irmãos espremidos no banco traseiro do Karman-Ghia do meu pai. Saudades do copo-estrela, um copo alto e último da espécie onde minha mãe botava uma medida de sagu para fazer o mingau que meu pai tomava antes de ir para o trabalho, as manhãs ainda escuras e silenciosas.

Sinto falta de andar em silêncio ao lado de alguém. Sinto saudades de amamentar, de Catatau segurando meu dedo mindinho enquanto bamboleava os primeiros passos, de Zé Colméia dormindo aninhada na curva do meu pescoço, de comprar vestidinhos enfeitados de margaridas ou sapatinhos com joaninhas de feltro.

Sinto saudades de cozinhar nas férias para uma multidão. De tomar sol até a pele arder, de estudar, de desenhar, de ter um diário escrito, de aprender caligrafia. Da minha cadela querida, dos meus avós, da comida da minha mãe, dos beijos das minhas filhas, do carinho daquele que porventura dormisse entre os meus cabelos.

Quando todo mundo fala em renovar, em (re)começar, eu ainda não consegui terminar, mesmo que queira. E eu, sinceramente, não quero.

ZZZ...

Achei nessas férias uma velha caderneta de telefones e endereços. Comparando com uma mais recente, me dei conta que eu sou um tédio. Meu celular é o mesmo há mais quase sete anos. Moro na mesma casa há quase nove anos; montei meu ex-critório no apartamento dos meus pais - o mesmo telefone há duas décadas e o mesmo endereço há quase meio século.

Pensando muito, mas muuuuito mesmo consegui lembrar de uma mudança em mim: agora eu gosto de esfiha de verduras.

*suspiro*

Bibidubidubidubibi

Ganhei um panetone do Roberto Carlos. E-mo-ções. Nem abri: repassei-o à minha mãe, que ficou de olhinhos rasos d'água.

Aí, ela adora o cara, bicho.

Shoppaholic

Sumir não significa esquecer, pois então. Muito trabalho, muitas responsabilidades. E não apenas com o emprego. Estabilidade financeira também demanda esforço, porque a primeira vontade que dá é entrar na primeira loja (e o problema é esse: QUALQUER loja) e desafogar anos de apertos. Anos de privações. Becky Bloom com limite ilimitado do cartão de crédito, sabe? Só que sem o cartão de crédito. E sem o limite ilimitado.

Pela primeira vez em anos consegui botar as contas em débito automático. Mal consigo acreditar. Débito au-to-má-ti-co. Fomos ao shopping no sábado para trocar um vestido que Catatau ganhou de Natal. Passamos na porta de uma loja-de-sapatos-fofos - uma, duas, três, quatro vezes. "Mamãe, que tanto você olha nessa loja?" "Ah, queria aquela sapatilha ali." "Compra, mãe. Vai, compra. Você quase nunca compra nada pra você." "Ah, mas é quase R$ 90. Deixa pra lá." E o que se viu foi as duas atrás de mim batendo os pés que nem soldado cantando aos berros "Compra um, tãtãtã! Compra um, tãtãtã! Compra um, tãtãtã!" Vergonha. Todo mundo rindo e eu, com a cara pegando fogo, emburacando loja adentro.

E por falar em vida nova: Novo Hotel Jaraguá, senhoras e senhores. É lá que vou descansar a cútis na semana de 18 a 22 de janeiro.