terça-feira, setembro 05, 2006

Prece*



"Porque será que as pessoas boas sempre morrem. Eu sei... As pessoas ruins também, mas parece que essas não fazem falta, e dessa maneira parece que só as boas se vão. Tem uma velhinha chamada tia Terezinha, o nome é mesmo assim, Terezinha, para combinar com o seu tamanho. Mas apenas com o tamanho físico, pois em bondade e doçura é um verdadeiro gigante. Essa velhinha está no hospital, e não se sabe se vai sair andando ou não. Eu não tenho o hábito de rezar, aliás sou o que se pode chamar de ateu praticante, mas nesse caso pedi por ela. Se há no mundo alguém que mereça uma sobrevida é essa senhora. E Ele, lá em cima, se existir, há de concordar comigo.
Ela mora no interior, lá perto de Vassouras, numa fazendinha cercada por vacas, galinhas, patos e outros bichos mais. Ela é do tipo que tem a hora de dar milho para as galinhas, todo dia no mesmo horário, e agora mesmo, lá no hospital, deve estar mais preocupada com isso do que com sua própria saúde.
Eu a conheci há muito tempo, e sempre me tratou como a um filho. É uma personalidade dentro de sua comunidade. Ela e o marido doaram o terreno onde foi construída a igreja, e depois também uma escola, que ela fez questão de dedicar à memória de seu falecido marido.
Num certo mês do ano, que eu não sei qual é, me lembro que é no tempo do calor, à noite, rezam uma novena para Nossa Senhora. Nessas noites, ela ia andando até a igreja e voltava pela estrada completamente escura com a sua lanterna de pilha que quase nunca acendia. Algumas vezes, passando por ela, oferecia carona, mas ela preferia ir andando com as suas amigas da igreja. Nessas noites de verão, quando os vagalumes voam nos pastos com suas luzes tremulantes, ela se divertia a pegar alguns e pôr num vidro de maionese para iluminar a varanda onde ficava sentada para pegar "a fresca", como o pessoal da roça costuma chamar a brisa que sopra altas horas da noite. Na hora de dormir, soltava os pirilampos da janela.
Nunca vou me esquecer da paz infinita que reinava naquela pequena casinha. Parecia que o tempo parava - ou, pelo menos, que diminuía o ritmo.
Me dá vontade de chorar de saudade, por saber que talvez nunca mais vá me sentar àquela mesa tosca coberta por uma toalha já um tanto surrada para tomar o chá das cinco, que durante uma época da minha vida era quase que um ritual diário."

Se puder, mande uma energia boa ao meu amigo Marco. Ele está precisando, se quer mesmo segurar essa senhora por aqui mais algum tempo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigado