segunda-feira, setembro 04, 2006
Terça-feira, Agosto 29, 2006
Uma coisa que aprendi cedo. Desde que eu era menina. Foi que as pessoas dizem tudo ao contrário. Sempre chamaram meu pai de vagabundo. E ele ralava muito. Ela pegava papelão, lavava chão de bar, colhia resto de feira, ralava todo dia para ter comida em casa e uma pinga na hora do almoço. Chamavam meu pai de pinguço. E ele só bebia um copo. Na hora do almoço. Sempre chamaram a gente de preto. Preto era o Pelé. Preto era o Pitta. Quem dera a gente tivesse a grana que eles tinham. A gente tinha fuligem em cima da pele. Poeira. Era muito difícil tomar banho naquela época. Se secar era pior. As vezes pegava uma chuva e depois ficava gripada. Era tudo uma merda. Quando meu pai morreu, chamaram ele de filho de Deus. Só se virou depois de morto. Nunca Deus agiu como meu pai. Nunca vi Deus ralando para por um marmitex para os filhos. Meu pai nunca ganhou porra nenhuma de Deus. Quando eu era pequena e ainda não sabia que as pessoas chamavam as outras pelo que elas não eram, ouvi dizerem: "Mulher de vida fácil". Como se fosse fácil ficar assim no frio, com essa roupa ridícula, para ganhar um trocado.
Ronaldo Ventura
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