terça-feira, setembro 19, 2006
Noturno
Morder o seio tenso da fruta e lamber sua pele doce e úmida equivalia a tentar desvendar um segredo. Que segredo seria aquele, que segredo-pevide do qual eu nem mesmo suspeitava, e que me aguardava apenas, no meio do mundo, no meio da minha vida, no meio da tarde? Aguardava, talvez, os dentes que viessem desenterrá-lo, como o coração de qualquer fruta.
As pequenas pevides aguardavam, pequenas promessas prontas a explodir. Mas não explodiam: seguiam sendo promessas, simples promessas de outra maçã dentro daquela maçã, como as bonecas russas que vão saindo umas de dentro das outras. Como as pessoas que somos, e que vão saindo umas de dentro das outras ao longo dos anos. Ao longo das horas.
No dia seguinte, Teresa morreu.
[...]
Deu nos jornais que Teresa morreu em Mangaratiba, saiu para nadar no final da tarde e nunca mais. Nem encontraram o corpo. Poucas horas antes (isso não deu nos jornais), ela lera para mim o poema de Bandeira chamado "Sob o céu todo estrelado", e foi sob um céu todo estrelado que fiquei esperando Teresa voltar.
Adriana Lisboa, "Um beijo de colombina"
Editora Rocco, 2003
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