sexta-feira, setembro 22, 2006
Tarde
Quando acordei, [...] tomamos o café-da-manhã às duas horas na mesa da cozinha, depois a tarde se abriu em concha, convidando.
Eu a abracei. Era tão fácil abraçá-la. Suas espáduas faziam como uma bossa-nova de João Gilberto, nã, nã, nããã, nã, nãã e seus seios cabiam exatos nas minhas mãos, isso até parece poesia barata mas é verdade, talvez em nome da originalidade eu devesse dizer que minhas mãos cabiam exatas em seus seios. E beijei os bicos duros de seus seios macios enquanto ela revirava o pescoço, afundei o rosto entre o abraço de Teresa que me acariciava a bunda, dali em diante ela sempre gostou de me acariciar a bunda - dizia que era raro um homem com a bunda bonita. Quando Teresa dizia isso, eu ficava com um pouco de ciúme. Mas naquele oco de tarde ainda não havia ciúme: só as síncopes do corpo dela, os contratempos, a harmonia rica da bossa-nova.
Virei-a de bruços, escorreguei os dedos pescoço abaixo e vi os pêlos dos braços dela se eriçarem. Eu queria ver Teresa no fundo da Teresa, no seu mais desvão, mito, fortuna, na anatomia do sexo durante o sexo, na pele úmida, tensa, túrgida. Ali eu ainda estava meio tímido, mas depois aprendi a contemplá-la com os dedos, com a língua, toda inteira - toda inteira, mas sempre me faltava alguma Teresa. Sempre, algum recôndito aonde não chegava meu desejo, meu sexo, o que fosse. Não era possível tê-la ao avesso: a alma.
Adriana Lisboa, "Um beijo de colombina"
Editora Rocco, 2003
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Um comentário:
tô quase comprando esse livro...ôxe!
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