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Acabei de assistir a "Tango", de Carlos Saura. Este é um dos meus diretores preferidos, porque foi através dele e de Antonio Gades que descobri o flamenco e dancei oito anos como profissional. Quando fui à Espanha, me esbaldei nos tablados, cantando e dançando.
"Tango" é um filme bonito, e ali se enxerga facilmente "Carmen", e não apenas na história, mas nos ângulos, os cortes para as imagens de dança. Até mesmo a estrutura é parecida: um filme dentro de outro filme - nesse caso, um musical dentro do filme.
Se no início o tango me pareceu uma dança que esbarra no flamenco, uma das cenas desfez essa impressão: a dançarina de tango não pode dançar sozinha pelo simples fato que não sabe o que fazer com braços e mãos. No par, elas estão sempre ocupadas segurando o corpo do parceiro. A dançarina de tango, sozinha, torna-se desengonçada se se abster aos passos tradicionais do tango.
Isso não acontece no flamenco, onde a força advém dos pés mas também dos braços e das mãos ("Suaves como una paloma", já ensinava Blanca del Rey, uma deusa do flamenco que tive o prazer de ver dançar duas vezes, no Brasil).
Antonio Gades vi dançar pelo menos quatro vezes. Tive o privilégio de conversar com ele (ou melhor, ele falou e eu, estupidamente, sorri e ouvi) da última vez em que veio ao Brasil. Vi-o dançar em Madri. Era pequeno, mas se agigantava quando estava no palco.
Vou tirar para ver "Bodas de sangue" e matar as saudades do sangue nos sapatos, dor nos rins e joelhos torcidos.
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