domingo, julho 03, 2005

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As meninas chegaram de viagem por volta das oito da noite. Com sono, os cabelos duros de cloro de piscina. O pai prometera parar num McDonald's na estrada. Não parou. Zé Colméia chorava, urrava porque queria ir lanchar e ganhar os bichinhos da promoção. Dei banho, falei com carinho, expliquei que não dava. Lavei os cabelos das duas, ensaboei com esponja de bichinho. Conversava baixo, dizendo que a gente ia durante a semana, mas hoje não dava.
Tirei Zé Colméia da banheira e, enquanto eu a enxugava, conversava com ela. Foi de repente: "Eu não quero ouvir!" e o tapa na minha cara que fez meus óculos voarem longe.
Seis anos. Ela tem sem anos. O que você faz? Fica em choque? Dá uma, duas, três palmadas nela? Enfia o dedo na cara dela e berra que quer respeito? Chora, se desespera, tenta imaginar por que ela chegou a isso? Onde estava o sinal, que eu não vi? Diz que ficou magoada? O que você faz?
Eu fiz tudo isso. E agora, depois de secar o cabelo das duas no secador e botar ambas para dormir, a única coisa que consigo fazer é chorar. Muito. E tentar entender onde está o nó. O que eu deixei pra trás. O que eu não percebi. Qual o fusível que se queimou. Qual a lâmpada que se apagou - e tentar fazer de tudo para que não haja, nunca, escuridão na minha querida filha. Nem em mim.

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