domingo, dezembro 30, 2007

80

Calor. Muito calor. Dei banho nos cachorros - e eles agradeceram.

Sozinha em casa, meninas com o pai. A casa fica muito silenciosa, mas ele não consegue jamais deixar a irritação de lado quando as meninas me ligam 18 vezes ao dia para conversar, fofocar, pedir conselhos ou avisar que se machucaram. Dependência: palavra inexistente no dicionário das mães.

Ceia de Ano-Novo: tudo velho, sem idéia do que fazer.

Como assim Robert Palmer morreu?

"As cem melhores canções dos anos 80". Sim, vamos esfregar na cara o quanto todos estamos ficando velhos. Aquele som inovador do REM agora é clássico. Todo som novo que eu descobri é clássico. Menos eu - eu não virei um clássico. "Fight the power"; "What I like about you" (The Romantics; como uma banda pode se chamar assim?), "Love shack", "Kiss"! Prince com três músicas; Mr. Nelson rules! Michael Jackson é o clássico dos clássicos, junto com Rufus & Chaka Khan, The Cure, Echo & The Bunnymen (não, eles não estão na lista. Mas Katrina and The Waves estão!) e outros.



Um dia eu quis ser como Paula Abdul dançando para Arsenio Hall em "Straight Up" A dinossaura tenta explicar à amiga de 16 anos nomes como Poison, Whitesnake, AC/DC, Joan Jett, Young MC, Bruce Springsteen (sim, The Boss), Rick James, Depeche Mode, INXS ("I need you tonight/ 'Cause I'm not sleeping/ There's something about you girl/That makes me sweat" - a conversa mais mole que eu já ouvi na boca de um homem bonito :o) e outros - e porque eu achava absolutamente lindo o dono do mullet mais poderoso dos anos 80: Bono Vox. VH1, I love you.

Eu gostei dos anos 80. As mulheres tinham o direito de serem gordinhas (vide Madonna e as meninas do Go-Go's) e de usar o cabelo crespo (e, ironia, quem não tinha armava o seu com laquê).

Sempre fazia aquela continha básica na calculadora: quantos anos eu teria no anos 2000. E ficava hor-ro-ri-za-da com o resultado: 34 anos. Não conseguia nem por bula papal me imaginar com mais de 30. Rá... Rá rá.

Digressão filosófica: Jim Kerr (Simple Minds) cantando "Mandela days" me fez pensar no vazio existencial (ugh) que tenho sentido faz tempo. Quer dizer, minha juventude assistiu grandes eventos. Quando eu tinha meus 20 anos o mundo lutava contra "inimigos" claros, por assim dizer: Mandela sob prisão perpétua e o apartheid; a fome da África; a abertura do regime político no Brasil; idem para Argentina e outros países latino-americanos; a Alemanha dividida; Ronald Reagan e sua "Guerra nas Estrelas"; a União Soviética que ainda mantinha Sakarov exilado em sua própria casa, em Gorki; a frente pela libertação de Rudolf Hess, o último e único prisioneiro de guerra alemão em Spandau. O mundo mudou muito ou eu não estou mais prestando a menor atenção nele.

Você sabe que está ficando velha quando o cara que você queria casar tá ficando careca (btw, eu vi os pais dele... hum... namorarem e se casarem. Eu vi essa criatura nascer. Estive praticamente na concepção do dito cujo!) e você torce fervorosamente para que a banda que você gostava faça uma reunion tour. TDUD, I love you.



Está tudo muito confuso, hoje.

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Por último

Uma das coisas que minha avó dizia era que, se você não tem nada de bom a dizer, não diga nada. Faz tempo que tenho pensado em mudar o status do meu Breviário para que só eu possa ler. Porque faz tempo que eu não tenho nada de bom para dizer. E as pessoas, quando lêem o que eu escrevo, também não têm o que dizer. Dizer o quê?

Passei o Natal sozinha - as meninas foram para a casa do pai. Nunca tinha passado o Natal sem elas. E como doeu. Não montei a árvore, não pendurei a guirlanda na porta, não botei as meias vermelhas na janela. Nunca imaginei que me sentiria tão profundamente triste como me senti.

Como estou sem dinheiro, comprei duas camisolas de uma vizinha, embrulhei os livros que sobraram ainda do tempo em que eu ainda recebia livros infantis, duas bolsinhas compradas em camelô e foi isso. E sentia muito medo de elas não gostarem de nada, de acharem tudo insignificante perto do que ganhariam na casa do pai.

Elas voltaram ontem carregadas de presentes. Cada uma segurando a sua Miracle Baby - R$ 300 reais cada - muitos brinquedos, roupas, vestidos, walkie talkie da Xuxa, bichinhos que ronronam e andam. Tudo jogado nas sacolas das lojas dos outros presentes trocados na casa do pai: Cantão, Sacada, Imaginarium, M. Officer, Osklen.

Dei os meus presentes, esperando que elas gostassem; Catatau me abraçou e disse que era a camisola mais linda que ela já tinha visto; Zé Colméia despejou tudo da sua bolsa antiga e encheu a nova.

E foram dormir. E eu dormi abraçada com elas, pensando e pedindo que 2008 seja melhor. Seja de menos dor, mais comida e descanso, mais alegrias e menos preocupações.

Hoje de manhã, tomando banho para ir trabalhar, tudo subiu de uma maneira tão brutal que vomitei na banheira. Tremia inteira de tanto ódio, de tanta amargura pela lembrança dele dizendo à juíza que ele mal ganhava para viver. E as sacolas dos presentes. E as duas bonecas a R$ 600. E eu chorei até meus olhos secarem embaixo do chuveiro. E eu desejei que ele morresse, e eu odiei o Natal. E odiei minha vida, tudo o que eu vivo hoje. Odiei, odiei, odiei.

Porque eu pedi de Natal, quando estava sozinha na minha cama, ouvindo os vizinhos comemorarem e rirem e desejarem-se paz, que eu não odiasse mais. Que eu tivesse apenas coisas boas e alegres e cheias de otimismo para escrever aqui. Que eu pudesse lidar melhor com a incapacidade de trabalhar mais, de arranjar um emprego decente que me desse um plano de saúde, dinheiro para alimentar minhas filhas corretamente, para não dever mais nada a ninguém, que me desse novamente satisfação, que me desse a oportunidade para ser disponível para alguém.

Que eu pudesse recuperar na alma os anos que eu deixei pra trás. Que eu pudesse ser novamente a mulher que eu era, que achava coisas boas em tudo, que raramente achava motivo para chorar. Que não maldizia ninguém, que era batalhadora, briguenta, forte, vivaz.

Eu não quero escrever mais isso aqui. Eu quero desejar Feliz Natal e próspero Ano Novo como todo mundo. Não quero odiar meu ex-marido por ele fazer o que faz. Não quero mais me sentir incomodada com a felicidade dos outros. Com o riso dos outros. Com a paz dos outros.

Eu quero a minha própria paz.

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Adriana

Adriana Lisboa é uma mulher excepcional: além de grande escritora, é uma tradutora esplêndida e uma amiga de coração reluzente. Há anos deixei a editora que era a dela, mas ainda mantemos (pouco) contato. Ela me mandou isso, e espero que sensibilize vocês como tocou a mim:

"Amigos e amigas,

Uma amiga nossa, Vera Alves, que morou nos Estados Unidos durante quarenta anos e agora está de volta ao Brasil (em Florianópolis), mandou a notícia abaixo:

'Dou aula de inglês para meninos na minha vizinhança que são de famílias pobres e são vítimas do ensino falho da escola pública. Com isso, acabou ampliando para português, e tudo mais, onde vejo falhas. Comecei um clube de leitura, que no momento só envolve 3 crianças, mas um dia por semana nos reunimos para ler. Cada uma lê um capitulo, comentamos o que foi lido para verificar o entendimento, e está indo bem. Uma menina foi pela primeira vez na biblioteca e tirou um livro para ler! fiquei tão feliz. Tínhamos lido a 'Bolsa amarela' da Lygia Bojunga, e ela foi atrás da 'Casa da Madrinha'... Não é maravilhoso? Estou com esse projeto com os livros infanto-juvenis que tenho. Livros são caros e não estou podendo comprar. Pegar livros no centro fica difícil porque viajo de ônibus. Tudo dando certo antes que acabem meus livros, já vou ter um carro... Comecei também uma campanha de reciclagem na minha rua e está começando a funcionar.'

Vera está fazendo isso porque sim. Não está ganhando nada – nem está pedindo nada. Mas resolvi escrever pra vocês: se acharem que podem contribuir com livros infanto-juvenis para esse projeto dela, solicitando exemplares junto a suas editoras ou doando livros usados em bom estado, por favor escrevam pra ela: alves.vera@gmail.com

Agradeço em nome da Vera, e em nome desses pequenos leitores."

Tenho muitos livros infantis em casa que as meninas não lêem mais. Quantos desses livrinhos a gente não ganha naqueles saquinhos de brindes de festas infantis?
Quem aqui do Rio quiser colaborar por favor me avise que eu vou buscar os livros; faço um pacote só e mando para Floripa. Quem estiver em outras cidades... Bom, qualquer ajuda é bem-vinda!

Ouvindo



Anita O' Day. Que voz.

Inícios e fins

Uma das coisas que eu mais faço (aliás, faço mais do que o habitual) é pensar no passado. Eu sou canceriana, e acredito que possa descontar aí a minha mania de sempre pensar e repensar o passado, imaginar caminhos outros que não os que eu escolhi, jogar mentalmente com as infinitas possibilidades que se apresentaram. Não, jamais me arrependi do que eu fiz - mesmo me casar, porque se não fosse meu ex minhas filhas não seriam assim tão especiais. Não seriam o que são.

Estava eu pensando em ritos de passagem. Porque agora eu venho sozinha trabalhar de manhã - as meninas estão de férias. Então eu sento no ônibus e venho pensando. Ritos de passagem. Há sempre acontecimentos que, parece, encerram uma etapa da nossa vida. Às vezes é uma frase, às vezes uma situação.

Eu me lembro quando minha infância de encerrou. Eu tinha uns 12 anos. Morávamos em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo. Meu pai trabalhava em outra cidade, e precisava ir receber um dinheiro extra na capital. "Por que você não vai hoje, pai?" "Porque eu tenho R$ 18 e a passagem de ônibus custa R$ 23." "Pega mais no banco." "Não há mais o que pegar. O dinheiro acabou."

O dinheiro acabou. Salário. Contas. Despesas. O dinheiro acabou. Alô, responsabilidades.

Sentada em frente ao computador na minha sala, na editora em que eu trabalhava, me dividia entre pilhas de livros para examinar, uma lista de autores para contactar, jornalistas esperando respostas, eu correndo pra dar tempo de pegar Catatau na creche e levá-la ao pediatra, voltar ao trabalho e depois, às sete da noite, correr para a FGV para o curso que graciosamente a publisher da editora tinha conseguido para mim. Entra a mensagem do meu ex: "Você não disse que ia escrever a coluna pra mim hoje?" "Não posso, estou atolada de trabalho. Por que você não escreve?" "Porque você se comprometeu, sua inútil." Me lembro até hoje da posição da mensagem na tela. A dor que eu senti na hora - e que eu sinto ainda hoje, e que agua meus olhos nesse exato momento.

Ali, naqueles segundos que eu levei para ler essa frase, meu casamento acabou.

"Oi Helena!" E aí a pessoa piscou os olhos, se desculpou e sorriu: "Desculpe, achei que era a sua mãe." Minha mãe, com seus 68 anos. E eu me olhei no espelho do elevador e vi que estava vestindo o mesmo tipo de roupa que a minha mãe. Uma mulher de 40 anos vestindo-se como uma de 68 anos.

Não, sou muito muito nova pra me enterrar assim. Muito nova pra aceitar que a vida é "deixa pra lá", é "não vale a pena". Muito nova pra ser um zero à esquerda, "uma inútil".

...

Dessa vez foi apenas um dia e meio sentindo pena de mim: estou ficando rápida em engolir o sapo.

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Cintilante

R$ 25 mil em dívidas, uma tuberculose que não se curou, muita solidão, noites de insônia, dias engolindo em seco, nunca nenhum almoço, choro escondido no chuveiro, privações, brigas, impotência, quase nenhuma paz de espírito: tudo sumiu naquele exato momento em que, no meio da nuvem de lágrimas que não consegui controlar, Catatau sorriu pra mim, vestida de branco, tiara de strass na cabeça, anel reluzente no dedo gordinho e diplominha na mão, na frente de sua turma.

Minha pequena se formou. Eu chorei muito, porque a felicidade em Catatau não é uma experiência solitária, egoísta, pessoal: minha filha tem o dom de fazer com que todos vejam que ela está feliz e, como por encanto, todos se sintam felizes também.

E ela sempre faz isso, mesmo inconscientemente. Ela foi Maria no peça de Natal. Contrita e com olhar humilde, vestiu seu manto pobre e surrado. "Cumpra-se em mim a vontade de Deus", disse ela, tentando ser grave naquela voz esganiçada dos seus seis anos, ao saber pelo anjo que seria mãe do filho de Deus, olhando para o céu e levantando as mãos.

O manto escorregou, os braços ficaram nus - e a platéia riu baixinho (que é pra ela não ficar sentida; e dali de cima eu vi que ela sorriu) ao ver a pobre Maria, no casebre onde morava, usando um rico bracelete de "diamantes" - porque minha filha pode ser pobre, limpinha e humilde, mas imagina se não ia botar um brilho na sua formatura! Como ela mesma diz, "Mãe, se você não tem brilho você não tem nada!"

A gente, nessas horas, tem certeza de que vive pra isso.

terça-feira, dezembro 11, 2007

Ao infinito

Catatau se forma essa semana. Jamais imaginei a dimensão do orgulho dela em deixar a pré-escola (o chamado Ensino Básico) e entrar no Ensino Fundamental. Na cabeça dela - e apesar de todas as suas dobrinhas, furinhos e risadas de bebê - ela agora é, definitivamente, uma menina crescida, que já assina o nome, tem sua "chamadinha" (como ela chama sua carteira de identidade) e sabe dar o laço no sapato e fazer rabo-de-cavalo sozinha.
"Tô crescendo, mamãe!"
É, filha, eu sei. Pena que isso dói à beça em mim...

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Empregos

"Empresa situada em Realengo seleciona SECRETÁRIA com as seguintes características:

Ser do Signo de Capricornio, virgem ou Leão
Ser Dinâmica
Até 35 anos
Nivel superior ou cursando, preferêncialmente do Curso de Administração
Ótimos conhecimentos em Word e Excel.
Salário: R$ 500,00"

Puxa, sou canceriana...

terça-feira, dezembro 04, 2007

...

Chega uma hora na vida da gente em que a vontade é entregar os pontos. Dizer "cansei" e deixar a maré nos puxar para o fundo, mandar alguém tomar conta, desistir. Depois de perder minha afilhada de maneira estúpida, Zé Colméia está suspensa da escola por dois dias, por ter agredido um inspetor com uma tesoura. A escola sugere "com veemência" que ela faça terapia. Catatau fala de uma maneira que ninguém entende, e para o próximo ano terá que fazer fonoaudiologia. Ambas precisam urgentemente ir ao dentista, e a editora que me contratou para dar consultoria - e que me exigiu full time - acaba de me comunicar que o pagamento do próximo dia 5 (ou seja, amanhã) é o último. Posso então contar em receber R$ 0 em janeiro. R$ 0 no mês em que as crianças estão de férias em casa, comendo e gastando o dia inteiro. R$ 0 no mês das listas de material escolar, dos uniformes. Mês parado no mercado editorial, sem nada pra fazer. R$ 0 num mês sem trabalho.

Eu já cansei de contar as vezes em que eu caí e me levantei. Já perdi nas lembranças quando almocei pela última vez, uma refeição decente, não pão com margarina e água - quando tenho dinheiro para o pão e a margarina, e gasto sem pensar em quantas passagens de ônibus esse mesmo valor pode pagar. Já esqueci quando comprei alguma coisa boa para mim, sem sentir culpa. Quando dormi tranqüila à noite com as contas pagas. Quando tive dinheiro para uma emergência. Quando sentei e tomei um chope. Quando, com centavos no bolso, não enganei o trocador de ônibus dizendo que peguei a linha errada - fazendo isso umas quatro vezes para tornar menos penoso o caminho até o lugar onde eu receberia dinheiro. Não me lembro o exato momento em que deixei a vergonha e o pudor de lado e comecei a achar isso normal, aceitável, justificável.

Já me esqueci da última vez em que atendi o telefone sem medo de ser alguém me cobrando dinheiro. Quando pude comprar alguma bobagem para as minhas filhas. Quando deixei que comessem quantos biscoitos quisessem. Quando levei as duas para comer fora sem me arrepender amargamente depois. Quando pensei em me tornar interessante para o mundo e deixar de ser a sexualmente morta que sou hoje.

Não me lembro mais quando mandei consertar alguma coisa quebrada, quando marquei uma consulta médica e fui, sem precisar me preocupar se teria dinheiro para o remédio depois. Já me esqueci quando foi a última vez em que não pensei em dinheiro, dívidas, o futuro imediato das meninas ou como sobreviver à próxima semana, ao próximo mês.

Já me esqueci quando foi isso. Ouvindo a pessoa do outro lado dizendo "Não precisamos mais dos seus serviços" me lembrei da cara de desolação de uma conhecida da minha mãe, ao saber que eu estava desempregada: "Seus pais não criaram você para essa vida." Naquele dia, inexplicavelmente, sem razão, senti vergonha, uma imensa e devoradora vergonha de ser o que eu sou.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Azedo humor



Roubei daqui.

Sin perder la ternura jamás



[...] Se aparecerei ou não novamente nas páginas da revista enquanto você estiver por aí, não me preocupa. O que PREOCUPA é que, com tantos jornalistas brilhantes como há no Brasil, foi a você que "Veja" escolheu para ser "editor de internacional".

Jon Lee Anderson

Eu já fui repórter; sofri a ditadura da chamada "reco" (apelido carinhoso para "reportagem recomendada"); como assessora de imprensa me vi diversas vezes frente ao muro onde se lê "temos um milhão e meio de assinantes". Por isso, confesso que senti um certo júbilo brioso ao ler o post do Alexandre Maron sobre a capa (e matéria) polêmica sobre Che Guevara na "Veja", de quase 15 dias atrás:

"A revista publicou uma capa algumas semanas atrás tão alucinada e histérica que até eu que nunca fui fã de Che Guevara fiquei chocado. Aliás, a Veja simplesmente tomou por hábito chamar as pessoas de fedorentas e sujismundas, como se esse tipo de qualificação fosse discussão para a maior revista semanal do Brasil. O título da "reportagem" (assim, com aspas) é “Há quarenta anos morria o homem e nascia a farsa”. Aproveite para ver uma reportagem da mesma "Veja" feita dez anos atrás [grifo meu: assinada pela Dorrit Harazim. O nome da Repórter (com "R" maiúsculo) fala por si. Pra quem não sabe, Dorrit é - ou era - mulher do Elio Gaspari.]. Diz muito a respeito do que a revista se tornou.

Começa quando Pedro Doria mostra a carta de Lee Anderson para Diogo Schelp, da Veja.

Em seguida, surgem a resposta de Schelp e os gritos histéricos de Reinaldo Azevedo.

Logo surge a tréplica de Lee Anderson, demolidora.

O comentário de Doria, logo em seguida, é irretocável."

Larga de preguiça, pára de ler blog de fofoca e confere os links; é melhor do que as picuinhas do falecido PapelPobre :o)

* Pois é; um dos melhores jornalistas do mundo, autor da biografia do Che ("Che - Uma biografia" eu já li e é fantástica) e do livro "A queda de Bagdá", também imperdível, e repórter da "The New Yorker" nunca mais - nunca mais! - aparecerá na "Veja". Será que ele tá dormindo depois dessa? Comendo? Respirando? Coitado; jamais terá a oportunidade de abrilhantar seu currículo com uma participação nas páginas da revista que tem "um milhão e meio de assinantes". So...?

quarta-feira, novembro 28, 2007

Você sabe que algo deu errado...

... quando você visita a página dos seus amigos no Orkut e sente uma compulsão violenta de apagar todos os spams da página de recados - deles.

... ao ver sua filha mais velha se virar pra você e dizer (no seu tom de voz): "Eu não arrumei, não; só dei uma geral básica no quarto."

... ao ouvir sua filha mais nova dizer: "Tô chiquerésima!"

... ao descobrir que o estoque de biscoitos de chocolate da casa, programado pra durar um mês, sumiu em três dias.

... quando lava o cabelo depois de usar aquela henna carésima e importadíssima e o que escorre pelos seus ombros é igualzinho a água de salsicha.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Perdi alguma coisa?




Alguém pode me dar uma explicação que traga paz ao meu coraçãozinho atormentado?
Por que os homens acham bonito, cool, atual, charmoso, moderno, elegante ou o que quer que seja tirar foto com aquele dedão fazendo "positivo" pra câmera?

Além do arco-íris

Com o pai ofertando generosamente um quinto do total de gastos das meninas (o que a juíza considerou justo "porque ele precisa viver" - as mães não precisam, aparentemente) chego à conclusão que, trabalhando 16 das 24 horas de um dia e na impossibilidade de comer e dormir ao mesmo tempo (o que me deixaria ainda umas duas horas por dia a trabalhar) tenho que arranjar um emprego fixo, urgentemente. Ou me casar com alguém que me ajude a sustentar as meninas.

Bom, já que eu estou sonhando, também queria um pônei.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Por email



"Hã? Oi, como? Batom? Que batom?
Ah, ESSE batom... Nããããão, não fui eu!
Não mesmo. Não. Nem pensar. Eu tava ali. É, ali."

Obrigada, meu amigo. Só você pra me fazer rir.

quarta-feira, novembro 21, 2007

Depois

Uma pessoa muito querida se foi, e a nós que ficamos resta apenas pensar muito, sentir bastante, chorar e engolir a raiva, conformar-se. Ontem, conversando com a mãe da Carolina, ficamos horas ao telefone nos questionando quão inútil (não sei se essa é a melhor palavra) tornam-se os vestígios da existência de uma pessoa depois que ela se vai, materialmente falando.

Ela me disse que na segunda, de volta do cemitério, entrou no quarto da filha e começou a separar as coisas dela. Fazer logo antes que o arrependimento batesse e ela decidisse ficar com tudo, transformar o quarto naquele lugar "do jeito que ela deixou antes de ir para o hospital". Não consigo nem imaginar a dor.

Ela contou que abriu gavetas e armários e não arrumou nada; ficou horas revirando cada caixa, olhando cada envelope, revista, saquinho, embalagem de plástico. Lendo pilhas de bilhetes, separando tíquetes de cinema e teatro. Descobrindo segredos da adolescente que a filha era. Tentando entender a utilidade de pulseiras de plástico, embalagens de filmes cheias de contas coloridas, recortes de receitas rasgados, pastas cheias de trabalhos escolares de anos.

"Pra que ela guardou isso tudo?" Oito pastas com recortes e impressões feitas via web da banda de rock preferida dela. Cadernos anotados com telefones sem nome, blocos com endereços sem identificação, rabiscos urgentes sublinhados e marcados com caneta vermelha.

Guardar para um dia usar. Porque jogar fora aquelas notas de supermercado pode ser uma insensatez. Os postais sem nome, as figurinhas de um álbum que não existe mais. Telefones de anos, adesivos de disquetes que estão fora de linha, etiquetas amareladas. Receitas que a vida não terá duração suficiente para ver sair do forno ou deixar a panela.

"Eu não sei o que jogar fora, se devo jogar fora. Não significam absolutamente nada para mim, mas deviam ser muito importantes para ela, porque estavam juntos num envelope ou dentro de uma caixa de sapatos. O que eu faço?"

E ela chorava, como se mandar para um aterro sanitário os guardados preciosos da filha diminuíssem o imenso amor que uma sentia pela outra. "Sabe o que eu mais penso agora? A tristeza que ela deve estar sentindo em imaginar que eu estou jogando fora tudo o que ela guardou com tanto carinho. O que é uma doideira, como é doideira a aflição que eu senti quando o enterro acabou e eu não queria sair de perto da sepultura, imaginando que logo ia ser noite e ela ia ficar sozinha ali, no escuro, sem ninguém a fazer companhia para ela."

segunda-feira, novembro 19, 2007

...



Como a gente perde alguém com quem falamos todo santo dia por e-mail, através de cartas ou encomendas contendo bobagens como um álbum de figurinhas sem nada colado e todos os cromos a colar - e nenhum repetido?

Como a gente perde uma risada torta, engasgada?

Como a gente perde uma fã ardorosa, maluca, esganiçada, fã de um cantor envelhecido 30 anos que não canta mais?

Como a gente perde uma companhia sempre alegre, sempre divertida, sempre invulnerável às centenas de rasteiras que a vida lhe deu?

Não sei. Sem chorar, sem acreditar, sem pensar muito. Apenas sentindo que o cérebro se recusa a processar a imformação, contando ao corpo e ao consciente que ela foi viajar, que não vai poder falar comigo por muito muito muito tempo mas que, quando eu menos esperar, ela volta. Lendo e relendo uma das últimas cartas que me escreveu, contando todas as senhas da internet, os segredos, as datas importantes para ela e para a mãe, para quem deve presentes, CDs gravados, o que prometeu ao namorado, que fim dar à sua coleção de traquitanas ligadas à sua banda de rock preferida, quem ficará com cada boneca, cada bijuteria, cada peça de roupa, cada bobagem guardada.

Desde sábado eu só me pergunto como a gente perde uma menina tão maravilhosamente lutadora como Carol. Qual a receita, a bula, o memorando, o manual de instruções. Como vou lidar com a dor quando ela chegar. Como vou encarar a mãe dela. Como vou responder ao último e-mail que ela me mandou.

sexta-feira, novembro 16, 2007

Além

Tem uma hora na vida que aprendemos da pior maneira uma porção de novas palavras e outros sentidos para velhos termos: taquipnéia, microtrombose, alcalose respiratória, hiperbilirrubinemia, bradiquinina, catecolaminas, hipoperfusão, fator Hageman, azotemia, hiperventilar.

Orar.

terça-feira, novembro 13, 2007

...



- Que mais você tinha para aprender?
- Bem, havia o mistério... o Mistério, antigo e moderno, mais Mareografia... Arrastamento, Esticamento e Desmaiar em Espirais. (de "Alice no País das Maravilhas").


"A criança de Escorpião adorará o carnaval, filmes de monstros na televisão, histórias de ficção científica e de fantasmas. Adorará também o sexo oposto. Ele respeita profundamente o círculo da família. Venha a ser o que for, ele será o melhor no campo que escolheu. O jovem de Escorpião é bastante decidido para conseguir o que quer, e tem força suficiente para segurar o que obteve. Mas não deixe que sua auto-confiança impeça que ele receba o seu apoio.
Essa é uma criança estranha e encantadora, que tem provavelmente um grande destino e muitas milhas a andar antes de atingi-lo. Acompanhe-o enquanto ele precisar de você, e depois deixe-o sozinho. Ele regressará são e salvo com qualquer que seja o prêmio que busca.
Plutão lhe dá uma grande coragem, força e inteligência, mas compete a você dar-lhe o que ele mais precisa: um exemplo diário de como amar... e ser amado."

Querido você já é. Bem-vindo seja, Theodoro.:o)

... sai pelo outro

O problema maior não é o barulho do aspirador, da enceradeira ou de todas as torneiras dos dois banheiros abertas jorrando água doidamente porque os dois têm que ficar de molho com muito sabão em pó e mais água sanitária e toda a espécie de detergente líquido ou em pó que possa existir no supermercado, ou ainda dos pedreiros arrebentando a fachada do prédio e retirando todo o reboco numa chuvarada de pastilhas e pedras que parecem estar caindo na minha cabeça enquanto a broca que eles usam entra pela janela até o interior dos meus miolos, mas sim o fato de que como ela vem somente de quinze em quinze dias são praticamente duas semanas em que fatos palpitantes aconteceram na vida dela, e é preciso que ela reporte tudo, tintim por tintim, para alguém que mostre o menor interesse em conhecer todos os detalhes da complicada cirurgia por que a filha dela teve que passar e cujo nome ela não se lembra bem - apenas que começou de manhã e terminou quase de noitinha, e o médico disse que em dois dias ela se levantava mas em menos de 12 horas a filha dela, que é muito forte porque comeu tutano cru quando era criança, levantou e começou a arrumar a casa - ou quem sabe tomar conhecimento da labuta e o peso que é agora que o cunhado morreu cuidar do sobrinho do irmão da sogra da ex-cunhada, que deixou escrito que queria que ela ficasse com o guri - que, na verdade, não vale nada e dorme o dia inteirinho quando não está grudado na televisão ou brigando com o Fernando, que agora voltou pra casa porque se separou da Sônia que não valia nada, porque pegou dinheiro emprestado do pai e não pagou nada porque usou para pagar as dívidas do amante e não tem mais onde dormir porque o garoto tomou posse do quarto que agora está novo em folha porque o marceneiro foi lá e deu um jeito nas camas, mas não cobrou nada a mais do que tinha pedido depois que perdeu a madeira que tinha comprado no churrasco que a Rosa resolveu dar mesmo com todo mundo dizendo que ia chover muito - mas a Rosa não escutblábláblá e hfiyeke djfehqpudf hjfhfakd,ofifjweww ddfudpsfod...

Dia de faxineira.

Fotógrafos III - Robert Doisneau



Un regard oblique,1948



Un regard oblique [1],1948



Un regard oblique [2],1948

segunda-feira, novembro 12, 2007

All your love in your eyes




I covered you in roses
Like the stars at night
I covered you in love
Like a blanket on a cold winter's night
I covered you with joy
To make your lifetime big and bright

...



Eu tenho esse blog faz bastante tempo. Aqui eu compartilhei minhas dores e alegrias, dividi conquistas e perdas. Fiz bons amigos e é a eles que eu peço ajuda. Eu tenho um vício que, no começo, não era bem um vício porque não me custava tanto dinheiro mas que agora está destruindo, aos poucos, a minha saúde, minhas noites de sono. Fui apresentada a ele quando estava frágil, ainda doída pelo divórcio e pela pedreira de responsabilidades, compromissos e dívidas que eu teria que enfrentar todos os dias.

Quem me introduziu nele foi uma grande amiga, também separada, quatro filhos, jornada de trabalho de 18 horas por dia. No princípio era somente nos fins de semana, quando eu estava sozinha. Depois, passou a ser quase semanal, senão diário.

A primeira vez em que, perto da meia-noite, me vi sem aquele pó branco mágico fiquei em pânico. As meninas dormiam, e eu nervosa, já suando o desespero que estava por vir. Liguei para uma outra amiga (viciada como eu) e pedi um pouquinho só. Pode mandar de táxi? Eu te pago sem falta amanhã. Claro, ela disse, me perguntando se eu estava bem. Eu ficaria.

A segunda vez foi pior, porque chovia muito, e não havia como ir numa daquelas biroscas do Morro dos Prazeres para conseguir pó. Liguei para outra amiga (a que me introduziu nesse vício maldito) e pedi pelo amor de Deus que me mandasse uma dose só. Ela só tinha um pouco, o suficiente para uma única vez. Mas foi a salvação: quando abri a caixinha e vi o pó branco no fundo só consegui respirar fundo e antecipar o prazer que viria, aquela transformação mágica de que só ele é capaz - fazer do mundo num lugar mais quente, cheiroso, acolhedor.

Ontem, plena madrugada, acordei para uma insônia cortante onde eu ouvia, ao fundo, o vício me chamando. Sem pó em casa - não, não vou ligar pra ninguém. Me enrolei num cobertor, antevendo os tremores e a paranóia que viria.

Chega. Não vou pedir pra mais ninguém que me mande fermento de táxi. E amanhã prometo procurar um Cozinheiros Notívagos Anônimos. Porque eu preciso largar esse vício maldito de fazer bolo no meio da noite de qualquer maneira.

quinta-feira, novembro 08, 2007

...

O pior sentimento que existe, maior do que a injustiça, a humilhação, o desrespeito, é a impotência.

terça-feira, novembro 06, 2007

Eu odeio...



Quem não tem a menor educação quando fala ao celular - dentro do elevador lotado, na mesa do restaurante, no teatro infantil (porque criança é de suma irrelevância, não é?), no cinema.

Quem acha que dar a alguém o número do seu celular faz desse ser o sócio majoritário da sua vida; ou seja, ele pode ligar a qualquer hora do dia e da noite se quiser. Ele não entende um "Agora não posso falar" - não consta no seu dicionário de alertas de simancol (se é que ele tem um).

segunda-feira, novembro 05, 2007

...

Essa história ainda não tem final feliz.

Um dia esbarrei sem querer numa moça muito franzina, com um bebê no colo. Não consegui esconder a cara de horror ao ver o rostinho desfigurado da menina, com uma fenda tão incrivelmente monstruosa que imediatamente pensei "Como ela consegue comer?". Ali surgiu uma amizade entre nós duas - e, depois, entre nós três. A mãe, uma baiana lutadora, conseguiu energia, força e dinheiro para operar a filha vezes sem conta. A filha, essa conseguiu energia, força e alegria em dose mais do que suficiente para se transformar numa adolescente feliz, de bem com a vida, estudiosa e sonhadora. Mesmo sem que quase ninguém entendesse o que ela fala, mesmo sorrindo um sorriso torto.

Virei madrinha dela. Temos as mesmas paixões, alguns gostos musicais em comum, a mesma mania de reclusão quando algo espeta demais, incomoda em demasia, dói além da conta. Quando vinha ao Rio, ela se hospedava comigo. "Vestibular" é a única idéia que está em sua cabeça - mais do que Carlos Henrique, o namorado que vê naquela boca cheia de cicatrizes a fonte das coisas mais bonitas e doces que uma jovem pode dizer.

Carolina é o nome dela. Carol está internada numa UTI de um hospital de Salvador desde sábado, quando teve uma parada cardíaca durante sua milésima cirurgia para correção da boca.

Carol é lutadora, e eu sei que ela vai sair dessa.

quinta-feira, novembro 01, 2007

Eu confesso que...

... sou viciada em cheiro de pasta rosa e creolina.

quarta-feira, outubro 31, 2007

Rio 354626374888,7 graus

Hum... Com licença... Oi?
Deus?
Dá pra fazer um pouco mais de calor? Sabe o que é, eu usei henna faz dois dias e como no começo ela escorre quando o cabelo está molhado... Bem, eu estou suando marrom dourado-avermelhado mas até agora só pingou atrás das orelhas. E ninguém está vendo. Dá pra aumentar a fornalha? Aí o suor escorre da testa e todo mundo pode ver a mulher que sua - ops, transpira. A mulher (Educada. Fina. Fashion. Essa sou eu.) que transpira colorido.
E dá pra ser pra hoje?
Valeu.

segunda-feira, outubro 29, 2007

Mais um dia

O encontro era megaüberplusimportante. Então, acordei de madrugada pra tomar um belo banho, escolher a roupa com cuidado (atenção para a blusa com ares japoneses adquirida num brechó "sou-antenada-sou-chique-E-sou-pão-dura" de cetim fosco verde), dar um upgrade na fachada e arrumar o cabelo - que está comprido o suficiente pra eu finalmente usar meu palito de laca vermelha pra prender um coque. No escuro consegui me arrumar e arrumar as meninas. Saímos amanhecendo de casa. Despejei meus tesouros sonolentos na escola e rumei pro Recreio.

O motorista do táxi me olhava pelo retrovisor de tempos em tempos, e minha auto-estima ia às alturas. "Puxa vida, tô bonita, tô maquiada, tô penteada e tô cheirosinha. Resumindo, tô podendo."

Saltei do carro, chequei a montação (nada esburacado, nada manchado de pasta de dentes, nada com fio puxado, nada do avesso, nenhuma bola-de-rímel-no-canto-do-olhos, dentes ok) e fui confiante. Atravessei uma enorme praça, entrei no prédio, esperei na fila do elevador e adentrei o dito de queixo em pé.

Meu andar era o último - o 28º. Sozinha, me virei para dar uma última ajeitada nas sobrancelhas - e descobri que estava com um pincel das meninas, de cabo vermelho e ainda grudado de tinta, a prender meu coque estiloso.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Aliás

Tinha...



... mas acabou.



Roubei daqui, via Marinex - aquela que é à prova de choque e olho gordo.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Pensamentos despenteados para dias de temporal*

Odeio luz artificial. Quando chove torrencialmente e não há santo que mande o sol faço tudo na penumbra. Têm coisas, momentos, dias que a gente não deve estragar com insignificâncias civilizadas, como luz elétrica.

Redescobrir músicas que não achávamos assim grande coisa (ouvíamos sem entendê-la) é a afirmação inegável que nos tornamos melhor com o passar dos anos (com raríssimas exceções, reconheço).

Eu tenho uma blusa (uma bata, para ser mais exata) que eu visto quando acho - acho, não tenho certeza - que engordei. É batata: é entrar no vagão do metrô e alguém dar lugar pra grávida. Assim sendo, há duas semanas azeitei esteira, halteres, supinos & remos. Eu, que nunca tive barriga, sinto-me frontalmente (com trocadilho e redundância) afrontada.

Descobrir livros de que ninguém ouviu falar é a afirmação inegável que a gente se torna mais seletivo com o passar dos anos (com raríssimas exceções, reconheço).

De todas as coisas boas que um bom namoro traz, uma única me faz uma falta atroz: aquele momento, milésimos de nanossegundos, que antecede um beijo terno.
Principalmente em dias assim, de temporal.

* Thanks, Nemo ;o)

terça-feira, outubro 23, 2007

Fúria e folia

Na praça aberta sou um colar de livres pensamentos...
Eu trabalho para o nada espalhado pelo chão.

I love rock 'n' roll





I saw him dancin' there by the record machine
I knew he must a been about seventeen
The beat was goin' strong
Playin' my favorite song
An' I could tell it wouldn't be long
Till he was with me, yeah me, singin'

I love rock n' roll
So put another dime in the jukebox, baby
I love rock n' roll
So come an' take your time an' dance with me

He smiled so I got up and' asked for his name
That don't matter, he said,
'Cause it's all the same

Said can I take you home where we can be alone

An' next we were movin' on
He was with me, yeah me

Next we were movin' on
He was with me, yeah me, singin'

I love rock n' roll
So put another dime in the jukebox, baby
I love rock n' roll
So come an' take your time an' dance with me

Said can I take you home where we can be alone

An we'll be movin' on
An' singin' that same old song
Yeah with me, singin'

I love rock n' roll
So put another dime in the jukebox, baby
I love rock n' roll
So come an' take your time an' dance with me

* Estou te esperando :o)

Spam nosso de cada dia*

Um dia quiseram ver quem era o melhor: o MacGyver, o Jack Bauer ou o Capitão Nascimento.

Chegaram pro MacGyver e falaram: "A gente soltou um coelho nessa floresta. Encontre-o mais rápido que os outros e você será considerado o melhor!" MacGyver pegou uma moeda de 5 centavos no chão, um graveto e uma pedra e entrou na floresta. Demorou 2 dias pra construir um detector de coelhos na floresta e voltou no terceiro dia com o coelho.

Daí chegaram pro Jack Bauer e falaram a mesma coisa. Ele entrou correndo na floresta, e 24 horas depois apareceu com o coelho. Durante a operação, desarmou 5 bombas nucleares, recuperou 10 armas químicas, escapou de um navio cargueiro e foi pra China matar 100 terroristas.

Pediram então para o Capitão Nascimento ir buscar o coelho. Se ele demorasse menos de 24 horas, seria o melhor. E ele respondeu:

- Tá de sacanagem comigo, 05? Ce tá de sacanagem comigo? Você acha que eu tenho um dia inteiro a perder com essa porra de coelho, 05? Tu é um mo-le-que! MO-LE-QUE, 05!!!
Virou para a floresta e gritou:
- Pede pra sair! Pede pra sair, cambada!

Em menos de cinco segundos, já tinham saído da floresta 300 coelhos, 20 jaguatiricas, 50 jacarés, Robin Hood, 1000 paca-tatu-cotia-não, o Shrek e uma preguiça correndo a 40 km por hora.

Daí ele gritou:
- 02, tem gente com medinho de sair da floresta, 02! Tem gente com medinho de sair da floresta, 02!!! 07, traz a "ponto 30".

Nisso, o Bin Laden saiu da floresta. Chorando.

* Peguei no blog da Rê que, junto com outra Re(nata), consegue espantar meu mau humor - porque, rapaz, nem eu estou me agüentando mais.

segunda-feira, outubro 22, 2007

...

Antigamente, planos profissionais frustrados botavam lenha na fogueira do meu empenho - um "não rolou" era suficiente para me fazer trabalhar em dobro e conquistar em triplo.

Hoje, um "não" me paralisa. E eu me vejo em pé, no meio do fogo, sem saber o que fazer - esperando que caia do céu a chuva providencial que, obviamente, não virá.

sexta-feira, outubro 19, 2007

...

Meu advogado ligou pra avisar que na primeira semana se novembro é a audiência de julgamento da pensão de alimentos para as meninas.

Sabe, é como um processo criminal, em que você conta, fala, narra o que aconteceu, conta mais uma vez, explica e tira centenas de cópias e elabora uma dúzia de dossiês provando que 2.654.384.647.897.004 despesas x 83.987.888.789.980 contas não dará jamais os R$ 300 pagos de pensão para duas meninas.

Cansa, desgasta, tira o sono e acaba gerando aquela vontade de jogar tudo pro alto e dizer "Já banquei até hoje, continuo bancando". Mas aí vem a lembrança dos fins de semana trabalhando feito uma condenada, os sapos engolidos a seco, os pagamentos atrasados (como já virou costume todos os meses, longe ficou o teórico dia 5 para o fictício recebimento da nota), os programas não realizados, as roupas não compradas, os livros e CDs deixados de lado. Os dias de andar até em casa, as mentirinhas contadas para as meninas quando a falta de dinheiro adia até mesmo o picolé na esquina. Eu lembro disso tudo e vejo o relógio novo no pulso, a calça diferente, o carro novo, as novidades que as meninas contam sobre a casa nova do pai no condomínio perto da praia.

Vingança e ressentimento jamais deveriam servir de incentivo para nada nem ninguém.

terça-feira, outubro 16, 2007

Eu odeio...

... publicidade em geral e publicitários em particular. Não tudo e todos, é óbvio. Mas não sei porque, sempre tenho a impressão que todos se consideram semideuses que sabem o que é melhor pra mim. Acreditando piamente que o que eles bolam é original e, pior, condizente com o mundo em que vivemos. E não, não estou falando das mulheres e homens maravilhosos dos sempre-iguais anúncios de perfumes Givenchy/Chloé/Carolina Herrera & similares.



Estou falando do Bernard chegando em casa e dizendo "A minha família não é diferente da sua: a gente também faz compras." Eu queria saber em que supermercado, porque sacolas de papel não são usadas no Brasil há 20 anos (aliás, personagens de anúncios que vão ao supermercado têm um que é só deles; ninguém chega em casa carregando sacolinhas de plástico vagabundo que de tão finas são usadas umas dentro das outras).



Estou falando daquela mãe que assiste, impávido colosso, o filho detonar uma camiseta pra fazer uma bandagem no pé enlameado da pobre menina que torceu o pé - se acontecesse na vida real, ela ia descer a encosta descabelada gritando "Mas que diabos ('diabos' se ela fosse uma mãe controlada; se mais normal fosse era 'merda', mesmo) você está fazendo com a sua camiseta?!??!??".



Estou falando de anúncios que não tem pé nem cabeça quando o assunto é o cliente, mas a assinatura da agência é de grife - e a gente faz um malabarismo mental pra ligar a história da lágrima com o cartão de crédito: a pessoa chora quando vai ao teatro e a lágrima só apareceu porque a pessoa conseguiu comprar o ingresso com o cartão de crédito?



Estou falando dos anúncios que mostram a mulher (leeenda) acordando e fazendo compras e passeando com a filha e indo pro trabalho (pasmem, ela é médica - e de hospital) e malhando numa esteira e saindo à noite pra jantar e emendando numa festa e chegando em casa ma-ra-vi-lho-sa porque toma a suplemento vitamínico X. O dia dela também deve tomar, porque ali não tem nem morta 24 horas. Pelo menos, não terrestres.

Só pra ficarmos em TV.

E se você vier me falar de conceito juro que bloqueio o seu IP!

As imagens eu peguei aqui - um blog muito legal onde você pode ver boa propaganda - sim, ela existe.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Farra de madrugada

Quando criança, era esperar Papai Noel.
Quando pré-adolescente, era assistir è entrega do Oscar escondido.
Jovem, resumia-se a experimentar um barzinho novo a cada noite, usando a roupa comprada numa Yes, Brazil da vida pela manhã (Fórum de Ipanema, ever)
Adulta, era transar horas, tomar café da manhã e ir trabalhar sentindo que a calçada era a passarela da Victoria's Secret - cabelos e pele na capa da Vogue inglesa.
Hoje, é assar e confeitar dois bolos de chocolate até as quatro da manhã - e dormir em cima do teclado do computador.

Decadência, acho, é a palavra perfeita para esta ocasião.

Destino



"Todas nós somos princesas", disse Catatau
"E quando crescemos viramos rainhas", acrescentou Zé Colméia.
"E quando ficamos velhas?", perguntei eu.
"Aí seremos fadas", explicou uma. "Ou bruxas", completou a outra.

Espero que nada disso se perca (apenas fique guardado com carinho dentro delas) quando minhas filhas forem adolescentes de calças de cintura baixa, esmalte de uma cor inexistente na natureza e viciadas em algum cantor.

quarta-feira, outubro 10, 2007

Só um instante

Eu sempre te ouvi, sempre te amei. Sempre estive aí.
Mas, apesar de meu coração se recusar a admitir, eu nunca serei grande o bastante.
Isso é tudo o que tenho e te dou.
Mas para você, serei sempre seu antigo e pequeno,
Jamais amor.


Perdido nos meus guardados. É engraçado como doeu escrever isso - e aí você se lembra o quanto gostou dessa pessoa, mas alguma coisa se perdeu, acabou, ficou pelo caminho. Foi-se.
E é bom que assim seja.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Fotógrafos II - Bruce Davidson



"Time of change" (a serie).



"Brooklin Gang" (a serie).



"Central Park" (a serie).

Logo ali



Uma das coisas que eu mais amava fazer era andar debaixo de temporais, principalmente para pensar num problema aparentemente sem solução (porque, como minha avó dizia, "sem solução, solucionado está"). E descobri que adoro ouvir músicas em que se pode ouvir o barulho da chuva caindo.

Ah, é. O fim do ano está chegando.
É.

N'alma




(Hoje de manhã) "Mãe, já te disse hoje que te amo demais?"

(Sábado, pelo telefone)"Nossa, quando te vi na rua... Jamais imaginei que você ia conseguir ficar mais bonita do que já era."

(Semana passada)"Pelos seus exames, seus pulmões estão ok. Mas olha lá, hein?"

(Por e-mail, há alguns meses)"Eu só queria dizer que, naquele dia, eu devia ter ficado. Terminar com você foi a maior merda que eu poderia ter feito na minha vida. Por causa do que eu fiz perdi você e a reboque, meus amigos e tudo de bom que eu vivi na faculdade. Poderia ter sido tudo diferente, não é? Um arrependimento que eu vou levar pro resto da vida."

quinta-feira, outubro 04, 2007

Eu confesso que...



... apaixonada®, usava uma twin-lens Rolleiflex 6x6 com filme Ilford 100 ASA pra fotografar a respiração dele nos momentos em que ele se perdia no mundo e se ausentava sem me perceber.

Copyright ® Elesbão

quarta-feira, outubro 03, 2007

Se você quer emocionar alguém...



... escreva uma carta (Australia Post)

Porque ainda existe (muita) vida inteligente no mundo da publicidade que consegue vender de maneira tão delicada um conceito antiquado como escrever cartas.

Ah, eu escrevo. Principalmente para as minhas filhas - elas têm sua própria caixa de correio, pregada na casinha de madeira na varanda.

Peguei aqui.

Eu odeio...

Inspirada na Cris e insuflada pelo meu mau humor, inauguro aqui a série "Eu odeio":

... velhinhas que atrapalham a passagem. Esse seria o nome da minha banda de rock, se eu formasse uma. Sabe? Imagina: a velhinha, ainda sacudida e fofinha, entra no ônibus cheia de sacolas de todos os tamanhos (e sempre tem uma de O Boticário, pode reparar. Nova ou usada, sempre tem uma). Inúmeros cavalheiros e cavalheiras oferecem o lugar. Ela não quer: "Vou saltar logo!" E sorri e se ajeita perto da porta com um milhar de sacolinhas pelos pés, caindo pelo corredor, por sobre o pobre que está no banco onde ela se segura. Ah, a velhinha é gordinha. Não goooorda: fofa.

Bom, ela fica ali, o ônibus vai enchendo e ela atrapalhando quem entra e quem sai - todo mundo se espremendo pra não amassar a Velhinha & seus Pacotes (ótimo nome pra outra banda de rock. Mangue beat. Anota aí.). Aí ela pede ao gentil jovem cheio de cadernos e livros e mochila pesada & precariamente equilibrado ao lado dela que ele puxe a cordinha do sinal que ela vai descer. Vai andando, pedindo licencinha entre sorrisos - atrás dela tem um mooonte de gente também se preparando pra descer, naquele movimento de troca de lugar das massas em ônibus cheio. Ela faz que desce mas não desce, se vira pro motorista e pergunta: "Tem um ponto mais perto do lugar tal?" O motorista responde: "Tem, sim". "Ah, então eu vou descer lá."

E volta pro lugar, e o motorista fecha a porta e já começa a partir antes de ouvir os gritos da turba que quer descer mas não pode - porque no caminho tem uma Velhinha que Atrapalha a Passagem.

Eu odeio Velhinhas que Atrapalham a Passagem.

sexta-feira, setembro 28, 2007

Solidão

Lendo um dos posts que a Renata escreveu - que fala das pessoas que escrevem para colunas de orientação médica e legal que todo jornal tem - fiquei, como dizer? - triste em ver como todos os comentários riam disso. Ah, sim, o texto é engraçado, e os comentários refletem a dúvida (quase uma piada) que a Renata expôs no fim: "Por que as pessoas continuam escrevendo esse tipo de carta para os jornais, se a resposta sempre é 'procure o seu médico'?"

Eu respondi: "As cartas não são falsas. Elas chegam naqueles envelopes aéreos, escritas a caneta (os mais caprichosos batem à maquina) e com a letra meio torta. Muitas com erros de português.

Sabe, desculpe, mas não é engraçado. O jornal publica apenas o essencial, mas quando você lê a carta toda nota que dali se desprende uma imensa solidão. São pessoas de meia-idade que não querem se mostrar dependentes dos filhos, vão ao médico sozinhas e ouvem um "vamos ver depois dos exames" que não explica o porquê da visão dupla, da dor no pescoço, dos vômitos constantes.

É o cara que fez a duras penas o Primeiro Grau, tem um emprego e um plano de saúde meia-boca cujo médico tem que atender muita gente, R$ 24 por cabeça.

As respostas às cartas são, na verdade, uma maneira de clarear a visão que o leitor tem de sua doença. Mas houve casos em que o médico me ligou e disse: 'Essa pessoa que escreveu essa carta está com câncer no estômago. E, pelos sintomas, é terminal. Como o médico dela não explicou nada?' E o que você faz?

É triste - uma pessoa que tem que recorrer à seção de um jornal para que alguém diga, finalmente, de que maneira ela poderá viver nos próximos meses."

Altas horas da noite ou naqueles momentos mortos do fim de semana, todo repórter de plantão já recebeu uma ligação de uma velhinha que quer comentar alguma notícia, ou perguntar o que vai ser a capa do jornal no dia seguinte. Me lembro de uma em particular que dizia que tinha sido "namoradinha" (palavras dela) do Roberto Marinho. Uma vez a seção do jornal em que eu trabalhava recebeu uma carta de uma moça de São Gonçalo endereçada à editora. Ela pedia apenas que minha editora respondesse "porque eu não tenho ninguém com quem conversar e preciso disso muito." Gente que não tem dinheiro pra pagar advogado ou um especialista e já enfrentou a humilhação de ficar horas à espera de um estagiário que acha tão divertido tirar duas horas de almoço. Ou é tratado feito incapacitado pelos filhos, ou tem vergonha de contar àquele médico tão cheio de pose que o remédio de R$ 200 não funcionou.

E você sempre se sente culpado porque simplesmente não pode resolver o problema que realmente está nas entrelinhas daquelas cartas.

quinta-feira, setembro 27, 2007

Eu confesso que...

... chegando altas horas da noite em casa, a difícil escolha entre comer ou tomar banho é resolvida rapidamente: dormir sem nem escovar os dentes.

Mais mistérios inexplicáveis do sobrenatural

O autor do livro é português. O diretor é brasileiro. Entre os muitos colaboradores há uma produtora brasileira. Boa parte do filme será rodada em São Paulo. Metade da equipe é de brasileiros.

Alguém pode me dizer por que todo mundo chama o filme de "Blindness" (até o Fernando Meirelles no seu blog, que está sendo escrito em português) e não "Ensaio sobre a cegueira"? E não me venha com essa história de que "é uma produção internacional". Antes de estrear aqui todo mundo já falava de "O jardineiro fiel". O livro em que esse filme é baseado é de um inglês (John le Carré), e nem por isso você dizia que ia ver a "The constant gardener".

Velhice, rabugice etc. É, tô sabendo.

terça-feira, setembro 25, 2007

Mistérios inexplicáveis do sobrenatural

Eu tenho uma agenda e dois cadernos de anotações. Checo meus e-mails pelo celular. Na geladeira tenho, escrita em duas folhas de papel A4, a rotina das crianças - que sabem de cor endereços e telefones de emergência e dos parentes, além de terem decorado as dosagens e os nomes dos remédios que mais usam.

Mantenho atualizado um cadastro de serviços de entrega em domicílio (incluindo 24 horas), cooperativas de táxi e moto, entregas expressas (municipais, estaduais e nacionais), agências de viagens, colaboradores (babás, cozinheiras, faxineiras, motoristas) etc.

Todo o material necessário para o meu trabalho pode ser acessado através de qualquer computador.

Todo e qualquer documento referente à minha saúde, à saúde das meninas e à saúde dos cachorros (receitas, cadernetas de vacinação) estão guardados em pastas.

Então por que tudo acaba ficando para os 48 minutos do segundo tempo da prorrogação da final?

quinta-feira, setembro 20, 2007

...



Você já viu, nos olhos de um homem, aquele lampejo mostrando amor e paixão e alegria? Aquele luz que não entra, mas sai dos olhos que por muitos segundos simplesmente não piscam? Você realmente já viu?

Eu já. Mas não por mim.

Mistérios inexplicáveis do sobrenatural

Por que o cabelo de toda demonstradora de tintura é tenebrosamente mal pintado, seco e sem corte?

Por que toda atendente de salão de cabeleireiro responsável pela depilação de sobrancelhas tem as suas medonhamente desenhadas?

quarta-feira, setembro 19, 2007

Imaginemos...

... que você pega o elevador na garagem. Entra, aperta o seu número e fica ali encostada no fundo. Aí de repente entra um dos pedreiros que estão fazendo obras no telhado do edifício. O cara tá imundo, com aquelas roupas esfarrapadas de pedreiro. Tá um calor danado e ele não está cheirando exatamente a jasmim recém-colhido. Ele vem carregando um montão de coisas (incluindo um saco de cimento branco debaixo do braço) e você, educada, pergunta: "Vai para o último andar?". E olha pra ele. E ele é lindo.
Lindo.
E ele diz um "É, o último." E sorri. E, pasmem, o sorriso também é lindo.
Lindo.

Eu desci também no último andar. É o andar do apartamento dos meus pais.
E então, imaginemos... Sei lá o que imaginemos. Tô passada até agora.

segunda-feira, setembro 17, 2007

UK rocks!



Um dia a Cris me perguntou quem era Helen Mirren - essa atriz que eu conheci numa das primeiras temporadas de "Prime suspect". Eu sempre achei que, tirando meu ex-marido, a audiência dessa série inglesa no Brasil fosse inexistente. Continuo sem saber se tem mais gente que prefere esse estilo mais seco e humano de errar dos ingleses ao salto alto da polícia americana.

Porque os ingleses erram a lot. Hoje eu sou viciada em "Life on Mars" - e estou desoladérrima em saber que a série só tem duas temporadas. Não por falta de audiência, mas porque, acredito eu, o tema central se perderia se a série tivesse oito temporadas. No meio do caminho ia ter gente perguntando "Mas como ele foi parar aí, mesmo?". A primeira temporada terminou agora, e como eu perdi alguns episódios vou começar a perguntar na locadora se eles vão comprar a caixa da primeira temporada.

Séries policiais inglesas são melhores do que as americanas por um fator fundamental: o policial que tem cara de fodão (desculpem o palavrão mas é essa a cara de um policial americano - AKA Horatio Caine em "CSI: Miami") é tããããão sacaneado! Coitado. Porque policiais ingleses são homens torturados, cheios de conflitos porque têm que ser certinhos em nome de Sua Majestade e, ao mesmo tempo, sabem ser muito, mas muito fdp - mais do que os americanos (e olha que eu assisto também "The Shield", com os policiais mais fdp da TV).

Tomemos "Criminal minds". Eu já eviscerei a net buscando o nome do seriado inglês* que passava num Hallmark Channel da vida que tinha essa premissa: um cara que ajudava a polícia buscando pensar como o assassino (eram sempre assassinos, cada um mais doidão que o outro). Ele ficava no meio do departamento de polícia, escrevendo num imenso quadro. Enquanto os policiais corriam fazendo o trabalho braçal, ele ia anotando as pistas nesse quadro e, depois, se sentava em frente a ele e ficava somente... pensando. E muitas vezes ele deduzia alguma coisa que se mostrava, depois, muito, MUITO errada. No primeiro episódio a gente sabe que ele, antes de começar a fazer esse trabalho para a polícia, estava trancado num manicômio (não me lembro o porquê).

Bem, isso pra dizer que ele não tinha aquele ar de "minha mente fervilha de pensamentos obscuros" que aquele policial de "Criminal minds" tem. Não tinha equipe tecnologicamente up nem ninguém usava seus celulares de maneira tão frenética. Mas era viciante. Porque a gente sabia que o cara que estava analisando a mente do criminoso estava tentando (a palavra é essa: tentando) interpretar as pistas e sinais que o assassino largava pelo caminho - e, dessa maneira, ficar um passo à frente dele. A capitã, chefe de polícia, às vezes concordava, às vezes discordava, às vezes entrava bem (um dos erros do psicólogo quase fez milady falecer no banheiro, com a garganta cortada). Os policiais muitas vezes levavam na galhofa o que ele achava, muitas vezes não diziam nenhuma palavra: levantavam e iam seguir a pista que ele indicava.

Agora que "Life on Mars" acabou, vou ter que começar a procurar outro policial inglês pra me viciar.

* Update: A Solange me deu o nome dessa série: é "Wire in the blood", já vai entrar na quinta temporada e agora passa na HBO. Aqui você vê o thriller de estréia. Eu te amo, Solange :o).

Também quero!

My Peculiar Aristocratic Title is:
Lady Madame Suzana the Omnipresent of Pigotts Sty
Get your Peculiar Aristocratic Title


Eu sou madame, você não é, eu sou madame, você não éééé!!!

Helen, go home!



Agora que "Prime suspect" acabou, quem sabe sobram mais Emmys pros outros no ano que vem.

quinta-feira, setembro 13, 2007

Pescado

Há uma denominação para aquele sutiã sem bordados exagerados, tradicionais? As formas limpas, lisas, são dignas de nota.
E mãos.

Uma vez controlado o volume de conversa, a mesa feminina pode ser um prazer.

Gostar das mulheres (e não apenas DE mulheres) é uma arte.

terça-feira, setembro 11, 2007

Oh my God, oh my God, oh my God, it's him!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Eu já falei aqui que gosto muito de um cantor anos 70/80/90 que, para mim, é uma das mais belas vozes que eu já ouvi. Então. Eu freqüento algumas comunidades sobre ele (o que eu também já falei aqui) e a discussão agora é "Deixem o cara em paz, porque ele quer garantir sua privacidade". Ok, concordo. Não estou interessada na marca de macarrão que ele gosta, se ele tem uma filha ou o que a mãe disse antes de morrer nos braços dele - mas quem começou a discussão ainda acrescentou "DJs, repórteres, mídia em geral, parem de perguntar se ele vai voltar para a banda."

E aí vamos por partes. Os fãs continuam comprando os "Greatest hits" que a Sony lança a cada ano (o próximo é um "Hits Plus" que deve sair até o fim do ano) - só um deles vende 500 mil cópias anuais, sem contar os "Essencial", "Best Balladas" and "Special box" da vida. Existem comunidades no Orkut, fóruns em profusão, sites para troca de músicas e fotos e todo aquele yadda yadda de fã.

O sonho de todos os fãs da banda é ver seu vocalista-mór de volta. Fãs que se metem em batalhas sangrentas por músicas não-lançadas, por fotos antigas (nooossa, essa briga é de lascar; todo mundo pega fotos nos sites & blogs de todo mundo, mas uns e outros acham que uma vez achado não é roubado e tascam um "Property of XXX" na foto e ai de quem reclamar), por shows inéditos. Tópicos são lacrados quando a baixaria rola (e muitas vezes rola mesmo). E quando este ano a banda despede seu vocalista atual nenhum jornalista vai correr lá e perguntar "Mister, agora você volta?"?

O sentimento que eu tenho é que ser fã é uma coisa muito louca. Todos são mais reais que o próprio rei. Não se pode falar em absoluto sobre a vida pessoal da reverenda criatura, mas todas se sentem à vontade para comentar, com desenvoltura e nos mínimos detalhes, o que ele tem dentro das calças e fazer fotomontagens da joalheria do moço, carinhosamente apelidada de "Lefty" (o "moço" hoje soma 58 anos and a half).

Ele é meu e ninguém tasca - "Eu estudei com ele e ele me pedia para jamais cortar meus louros e longos cabelos"; "Eu fui apresentada a ele por um amigo há 15 anos", "Eu o vi tomando café da manhã e ele é sooooooooooooooooo cute!"... Os fóruns são aldeias medievais sempre em guerra umas com as outras. São precisos codinomes, senhas, identidades duplas, comportamento de agente secreto numa Alemanha dividida pelo Muro se você quiser sobreviver neles (e, se conseguir, parabéns: uma vez lá dentro é muuuuito divertido ver como o mundo, mesmo com a alardeada globalização, tem tantas e profundas diferenças culturais). Eu, por exemplo (junto com outra fã brasileira), sou alvo de inveja profunda por falar português - o dito é de família portuguesa.

E o homem continua, impávido colosso, assinando fotos e encartes de CDs onde aparece jovem, com sua camiseta característica, seus cabelos longos, em pleno ato de alcançar aquelas notas maravilhosas.

Se ele volta? I hope so.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Sim

Eles não estão em "Nova Noiva"; não precisam de buquês artísticos nem foram feitos por fashion designers de Nova York. Eles são apenas lindos, antigos - e parecem recém-saídos de uma caixa, desembrulhados de uma nuvem de lavanda e papel de seda.



Ivory taffeta, organdy and satin, circa 1870




Charmeuse e pearl beaded lace, circa 1910



Lace with peplum and train, circa 1935



Deco patterned lace and satin, circa 1935



Beaded and embroidered voile, circa 1965

Mais vestidos aqui.

Meu sonho desde menina era me casar vestida de noiva. Podia servir qualquer vestido de noiva. Aí eu cresci e meu desejo era me casar com o vestido de noiva da minha mãe.
Eu me casei grávida, com um vestido marrom e branco, no cartório. Meu casamento faliu, mas eu ainda guardo, no fundo das minhas lembranças amareladas, o desejo - agora convertido em capricho - de me casar com um vestido de noiva antigo.

sábado, setembro 08, 2007

... para sempre

- Oi, queria saber a que horas eu posso pegar as meninas.
- Não sei, estou na emergência do hospital, a [...] quebrou o dedo mindinho do pé.
- Bom, então quando acabar aí me avisa.

Paternidade - que piada.

quarta-feira, setembro 05, 2007

Cegueira branca

(E quer saber? Se numa cena destas alguém ficar olhando para o fundo da sala para procurar erro de continuidade, merece encontrar. Um baita esforço deste para nêgo vir dizer que não gostou do filme porque o barbudinho atrás da Julianne desapareceu no segundo contraplano? Give me a break!).

"Ensaio sobre a cegueira" foi o primeiro livro que eu li do Saramago - e carrega uma fieira de simbolismos em minha vida. E não falo da escrita.

Foi minha introdução ao mundo português guiada por meu ex-marido. Tal como no título e carregando no clichê, estava eu reclinada em flores, uma recèm-casada plena de alegrias, esperanças e ilusões. Me lembro de estar terrivelmente grávida, uma barriga gigantesca andando loucamente atrás do Saramago na Bienal do Rio.

Além de marcar o início do meu casamento, "Ensaio sobre a cegueira" me traz a imagem da encosta de uma colina, por onde Saramago suavemente começou a descer em sua carreira literária - caminhando devagar, aproveitando um sol de primavera e uma brisa morna. Sem pressa, sem trauma. Apenas... caminhou verde encosta abaixo. Cada vez menos gostei do que ele escreveu depois desse livro estupendo.

O que me chamou atenção, mais do que a cena do fogo-fátuo no depósito do supermercado, foi o cão das lágrimas. Assim como o cão das escadarias de São Crispim em "História do Cerco de Lisboa", sempre aquela sombra, sempre aquela figura que, quando menos se espera, está ali.

Sua grandeza e sua importância se resumem a isso: ele sempre só está... ali.

segunda-feira, setembro 03, 2007

É pra acabar

Assim: se você quer terminar aquele relacionamento mas não sabe como (a gente sempre tem aquelas coisas de "não ferir os sentimentos dele" e outros surtos incuráveis) nem gosta de armar brigas homéricas, aqui vão umas dicas gastronômicas inestimáveis (pensadas na fila do banco):

- Coma bastante manga. Daquelas cujo apelido é "fiapo". Não esqueça do sorriso "Mozinho eu te amo" depois.

- Jabuticabas, note bem, devem ser mordidas com a boca entreaberta para garantir que a maior parte do sumo seja expelida à velocidade da luz no olho do amado.

- Se a opção é fast food, bata pé e vá de Bob's. Não se esqueça de pedir Bob's Burguer (e exija uma porção extra do molho verde para garantir que, na primeira mordida, o tomate caia no seu colo, a alface descambe à esquerda e a carne voe direto à frente, na camisa dele.)

- Peixe é sempre uma excelente opção. Quanto mais espinhas, melhor. É uma visão inesquecível observar o ser adorado vasculhando o interior da boca à procura daquela espinha inconveniente.

Update: Já mandaram um "Mas e o alho?" Alho é muito óbvio; você pode comer doses industriais mas NÃO NA FRENTE DELE. Porque aí fica óbvio o que você quer - e você é tudo menos óbvia, não é? Então. Coma muito, mas MUITO alho - jamais na frente dele. E não se preocupe que a ação alhística se fará sentir no doce aroma de meias não lavadas com queijo mofado que emanará de você quando começar a transpirar (porque você não sua, meu bem. Você transpira). Uma fungada no seu cangote porá nocaute o amado-mas-nem-tanto sem noção.

sexta-feira, agosto 31, 2007

Eu... preciso

Gente, o Papel Pobre acabou.
Como eu vou viver sem a sabedoria de Katylenny Beezmarck?
Como???

Até que a morte...

Estava eu contando para uma amiga que, nos dias em que a faxineira vem ao apartamento dos meus pais eu não consigo trabalhar porque ela fala sem parar. E disse a ela que estava com saudades dos meus pais se engalfinhando em silêncio. "Ah? Explica, amiga". Então:

Minha mãe tá costurando na sala com tudo espalhado na mesa. Vem meu pai, estica o braço e empurra tudo prum canto só. Ela pára, olha e empurra de volta. Ele pega coisa por coisa e vai botando num canto. Ela vai botando de volta no lugar. Ele suspira, levanta e vai na cozinha. Ela volta a costurar. Ele acende um cigarro sabendo que a fumaça vai pra sala. Ela levanta com cara de nojo e abre a janela. Ele volta e abre o jornal por cima das coisas dela. Ela rapidamente começa a tirar as coisas de debaixo do jornal e vai botando num canto da mesa. Ele vai pegando e botando de volta no lugar onde estavam. Ela suspira, deixa a costura na mesa e vai pra outra sala. Ele abre o jornal todo pra ler em cima da mesa. Ela abre o janelão da sala. O vento carrega o jornal dele. Ele desiste e dobra o jornal e vai ler no quarto.

Só quem treina quase 50 anos consegue começar e terminar uma briga cheia de picuinhas e implicâncias no mais absoluto silêncio.

Em outra dimensão do tempo/espaço

Da Folha Online:

"Antonio Fagundes, que não queria fazer novela tão cedo, foi convencido pela Globo a entrar em "Duas Caras", que substituirá "Paraíso Tropical". De bigode e com tatuagem (falsa) no braço, o ator será líder de uma favela."

terça-feira, agosto 28, 2007

...

Poucas das minhas virgindades deixaram saudades - mas uma me faz uma falta danada: a do meu cabelo.

sexta-feira, agosto 24, 2007

Terceira infância

- Pra que você tirou da mesa? Eu disse que ia usar!
- Disse nada! Não falou nada disso!
- Falei, sim! Falei, sim!
- ...
- Carácoles, vocês não podem ficar um minuto sem discutir e brigar?

- Não tenho nada pra fazer.
- Vai ler um livro - tem tantos aqui...
- Ah, não quero. Eu tô é com vontade de comer um doce, um chocolate...
- Mas não encheu o chocolate depois do almoço? Não dá pra comer toda hora, né?
- Mas eu não tenho nada pra fazer...

- Mas criatura pra que você mexeu nisso? Eu acabei - A-CA-BEI! - de arrumar!
- Mas eu não estava achando as minhas revistas...
- Sabe, eu PRECISO trabalhar e não dá pra ficar arrumando essa mesa toda santa hora!

As meninas? Ah, tão na escola. Mas meus pais não sossegam UM MINUTO!

Nelson Rodrigues ever

Se inveja matasse seria um sururu ali na Glória, por volta das 18h, quando eu caísse preta e dura no meio das mesinhas do Amarelinho.
Sem dar um pio. Sem nem um ai. É ver as tulipas suando e póf!
Morri.

...

É impressionante como as pessoas são doces ao telefone quando querem um contato importante - e com que rapidez batem o telefone na sua cara quando finalmente você fornece o número.

Voltando

Hoje eu botei uma das minhas 54.638.575.837.575 saias e uma blusinha branca basiquinha. Aí tô eu no elevador subindo e reparando o quão descabelada eu ando pela rua quando notei. Lá, debaixo do sutiã. Ele. O pneu, a dobra maldita, o acolchoado do demo.

E me peguei pensando no tempo em que eu lavava, à falta de xampu esquecido de ser reposto, meu cabelo com o ODD maçã verde da pia da cozinha e como minhas melenas ficavam macias e ma-ra-vi-lho-sas. Quando eu ensaboava o rosto com sabonete vagabundo do banheiro da faculdade e minha cútis brilhava sedosamente digna de um comercial da Clinique. Quando eu fumava, comia gordura, açúcar, refinados, dormia sem escovar os dentes às cinco da manhã vinda da noite em algum antro, tomava sol feito uma demente e era a gostosa do Posto 9 em Ipanema.

E me olhando ali, de frente ao espelho do elevador, 41 anos na cara e no corpo, só consegui ouvir a voz do Marlin, em "Procurando Nemo": "Você acha que pode fazer todas essas coisas mas você NÃO PODE, Nemo!"

Adeus, banana com Nescau.

quarta-feira, agosto 15, 2007

Por aí

Como eu não recebi, parei de trabalhar. Achei um pacote de Miojo (validade: janeiro 2007 - pelo menos é deste ano) e estou navegando pela net enquanto o Financeiro não me liga pra dizer que o depósito doi feito.

Ontem à noite, já com aquela megainsônia instalada e sem computador em casa, o jeito foi passear via controle remoto. E não é que você encontra umas coisas assim, super? Então:

- O cara mais macho naquele clipe de "Bad" é o Michael Jackson. Palavra.

- Tudo de delicious ver filmes velhos, como "Cinco dias de um verão", com o "o-asilo-de-idosos-é-aqui-em-casa" Sean Connery ou filmes desconhecidos, como "Relatives Values", com o Colin Firth e a Julie Andrews.

- Não se deixe enganar em "Caçadores de fantasmas", no SciFi. Eles trabalham no Roto-Rooters (sim, no primeiro, único e legítimo Roto-Rooters!) de manhã, mas à noite eles integram a Taps (não sei o que quer dizer a sigla), caçando fantasmas, manifestações paranormais & que tais com a aparelhagem mais modernosa que eu já vi. Ontem o chefão tava reclamando que um técnico perdeu um dos tripés de uma das quatro câmeras - reclamava e guardava os laptops da equipe (só num dos casos eles eram oito). Então tá.

- Gentem, clipe do Eurythmics com participação especial do John Malkovich e do Hugh Laurie é muito pro meu coraçãozinho.

- Gene Simmons. Em "Rock School" o homem ensinou meia dúzia de inglesinhos, alunos de uma escola de música eruditérrima, a formarem uma banda heavy metal (e ele ainda diz no começo que usa mais maquiagem e saltos mais altos que sua mamy :o). E "Family Jewels" é de cho-rar de rir. Muito.

- O canal FoxFashion é o mais longo e chato desfile de moda que eu já assisti. Ninguém fala, ninguém comenta, ninguém nada. Entre um desfile e outro, anúncio de cruzeiros marítimos com uma mulher sussurrando ao fundo. Mas eu aprendi quem é RoccoBarocco. As roupas dele são leeeendas - não todas. As da coleção do próximo verão. Que eu só vou poder vestir numa próxima encarnação.

- As legendas do canal Multipremier são com uma fonte parecida com as de uma máquina de escrever. Corpo 6. Pra assistir só com leitura dinâmica e nariz colado no visor.

- A sobremesa: o que foi Robert Downley, Jr no "Inside the Actor's Studio"? Foi ....................... (preencham vocês. O moço falou de tudo: das drogas que cheirou/injetou/comeu/queimou/passou no cabelo até ao que é interpretar. Póf, morri, Dita).

terça-feira, agosto 14, 2007

...

Você é chamada pra fazer um trabalho por quatro meses, superbacana. Manda a proposta, a criatura regateia, você tira mil reais, ele topa, você manda de novo, e lá tá bem claro: "mais encargos".

A data de pagamento é dia 5. No dia 10, o cara te chama pra mais uma reunião, te enche de pedidos, e você discretamente pede que ele acerte (depois de fazer isso por e-mail umas três vezes). Então ele manda um e-mail pro cara do financeiro, que não responde até que você liga pra ele - e ele não acerta seu nome nem por decreto.

Depois de mandar uma ficha pra você preencher num PDF que você não pode mexer e finalmente dizer que você pode mandar o recibo via fax (que está permanentemente ocupado) você manda sua RPA devidamente preenchida, com o líquido indicando o que você combinou - o X mais encargos. Aí você descobre que não é nada disso, que não havia "encargos" e, pior, você não pode receber porque você é pessoa física, não pessoa jurídica, e como o trabalho é tocado via patrocínio pessoas físicas não podem ser contratadas - e pagas. Somente pessoas jurídicas.

Enquanto isso você recebe todos os avisos possíveis e imaginários de corte de serviços, sua empregada está em casa com a filha sem fraldas, você está übergripada e economizando suas quatro aspirinas porque sua carteira avisou que R$ 4,85 é tudo o que você tem no momento.

Alguém tem um emprego sobrando por aí? Porque, na boa, não agüento mais me humilhar pra receber o que eu suo tanto por merecer.

segunda-feira, agosto 13, 2007

Berço

É nessas horas de febre, garganta inflamada, dores nas costas e nas juntas, que eu quero minha mamãe.

segunda-feira, agosto 06, 2007

Eu confesso que...

Depois que as meninas dormem eu vou pra cozinha, escondida, comer banana com Nescau - enfiando a dita na lata do cujo.

Mais ogro, impossível.

quarta-feira, agosto 01, 2007

Página 35, duas linhas

Um dos blogs que eu freqüento é o do Mizarela. Lendo este post comecei a pensar numa prática muito comum em jornais e revistas como saída para o "E se não foi assim?".

Tipo: você acompanha a PM numa Operação Asfixia (que é como eles chamam aquela presepada de cercar a favela e subir o morro atirando). Então. Você vai, fica lá esperando o tiroteio terminar (porque quem tem que ir lá são os fotógrafos e cinegrafistas). Aí depois que a fumaça desce você cola no comandante do batalhão (aprende aí: quando entrar em morro depois de invasão da PM vira a sombra do tenente-coronel ou do coronel: traficantes não atiram nessa figura. Dá muita merda depois, se fizerem o moço de alvo).

Enfim, você cola nele e acompanha quando vem os PMs darem relatório. "Pegaram quantos?" "Uns oito, coronel. Tudo traficante, avião." E aí vêm descendo os soldados do Bope (pra quem não sabe, Batalhão de Operações Especiais - aquela divisão da PM que tem como símbolo uma caveira com uma adaga enterrada bem em cima) carregando os corpos, trilhas de sangue pra tudo quanto é lado, fuzil pra cima.

A família chora, você conversa com eles e começa a ouvir coisas do tipo "Ele tava na laje fumando escondido de mim, porque sabe que eu não gosto, a polícia chegou gritando "Perdeu! Perdeu!" e ele nem teve tempo de dizer nada: tava agachado, levantou, levou um tiro no meio do peito. Mas olha aqui a carteira dele: ele trabalha, estuda!" E coisas do tipo.

E você volta e bate a matéria, falando dos dois lados. E no dia seguinte abre e tá lá: "Segundo a PM, os mortos SERIAM traficantes a mando do gerente Fulano. Eles TERIAM atirado contra a polícia. Eles ESTARIAM envolvidos numa disputa por áreas de drogas." Sobre o que as famílias disseram, nem uma palavra.

Se não for traficante a família vai processar? Não. Alguma ONG? Quem sabe? "Mas o jornal não escreveu que era certeza; eles SERIAM traficantes". Do começo ao fim, futuro do pretérito: não apenas o tempo verbal, mas uma certeza, se não tivesse ficado pra sempre no passado: "Morto durante a invasão da favela pela polícia, estava estudando para fazer o vestibular e tentar uma vaga numa faculdade"; "Tinha começado a trabalhar num escritório como contínuo, mas queria mesmo era estagiar na área de informática".

Você lê isso no dia seguinte, nos jornais?
Eu nunca li.