Nesse esplendoroso dia de sol outonal, sabe o que eu vou fazer?
Nada. Vou sentar na varanda, ler e curtir o resto da manhã.
Até porque estou voltando da feira (uma que tem na Glória, só de produtos orgânicos, maravilhosa) e estou com preguiça de fazer outra coisa que não descansar, botar minha leitura em dia e ouvir música.
Ah, não se incomode comigo, não. Sai e aproveita o domingo :o)
domingo, maio 29, 2005
...
Dei pra sonhar com gente que nunca vi na vida. E sempre me vejo apaixonada por um homem que jamais encontrei (é, aquele do post anterior).
Que estranho, né? Vai entender...
Que estranho, né? Vai entender...
Em silêncio
sábado, maio 28, 2005
Anedotário
A única vez em que encontrei William Faukner, perguntei-lhe como ele havia criado seu truculento personagem negro Lucas Beauchamp. "Eu o vi", respondeu Faukner, "andando por cima da minha máquina de escrever".
Irving Howe
Personagens são o museu privado de pessoas empalhadas que todo escritor agradecido tem em algum lugar de sua residência.
Vladimir Nabokov
Moby Dick é o homem ou a baleia?
Harold Ross
Muitos dos meus personagens aparecem pela primeira vez para mim como vozes. É por isso que uso um gravador.
William Burroughs
Pergunta: De onde você tira os seus personagens?
Kurt Vonnegut: Cincinnati
Pergunta: Como você dá nome aos seus personagens?
Ernest Hemingway: Da melhor forma que posso.
André Bernard, "Madame Bovary, c'est moi!"
Editora José Olympio, 2005
Update: O livro é muito legal, mas a tradução é de arder o coração de tão ruim...
Irving Howe
Personagens são o museu privado de pessoas empalhadas que todo escritor agradecido tem em algum lugar de sua residência.
Vladimir Nabokov
Moby Dick é o homem ou a baleia?
Harold Ross
Muitos dos meus personagens aparecem pela primeira vez para mim como vozes. É por isso que uso um gravador.
William Burroughs
Pergunta: De onde você tira os seus personagens?
Kurt Vonnegut: Cincinnati
Pergunta: Como você dá nome aos seus personagens?
Ernest Hemingway: Da melhor forma que posso.
André Bernard, "Madame Bovary, c'est moi!"
Editora José Olympio, 2005
Update: O livro é muito legal, mas a tradução é de arder o coração de tão ruim...
Primeiros e únicos
Sobre a minha letra
Quando eu era adolescente e não existia internet, eu escrevia cartas. Muito poucas. Pré-aborrecente, mantive um diário que não passou de dois dias.
Depois que fui mãe, comecei a escrever cartas. Para as meninas, mas não as envio (mando para elas envelopes cheios de figurinhas, adesivos, revistinhas, tudo com uma cartinha minúscula, com um desenho e o nome delas, e um "Eu te amo" bem grande, que elas já reconhecem como tal). Guardo para imprimir e dar a elas quando forem mais velhas – nessas cartas estão os momentos mais marcantes da infância, como quando Zé Colméia descobriu finalmente o que é a morte e Catatau sentou pela primeira vez.
Escrevo cartas aos meus pais, agradecendo, cobrando, amando. Escrevo cartas ao meu ex-marido, para tentar entender como aquele castelinho que nós imaginamos transformou-se numa cela de tortura tenebrosa. Escrevo ao meu ex-namorado.
Escrevo para quem já se foi (da minha vida e desse planeta), e quanta falta eles me fazem. Escrevo a um amigo com quem forcei uma briga, porque ele se apaixonara por mim – e ele morreu num desastre de carro ano passado, sem saber que ele não fizera nada; e que eu é que nunca tive coragem de dizer a ele que eu queria apenas a sua amizade.
Escrevo aos meus avós; escrevo aos meus bisavós de quem só tenho retratos e uma dedicatória no álbum de batizado.
Escrevo às pessoas que não têm a menor idéia do quanto de bem e de mal me trouxeram.
sexta-feira, maio 27, 2005
...
Ainda tenho pelo menos uma hora de trabalho pela frente.
Estou tão cansada que minhas sobrancelhas doem e meus dentes coçam...
Estou tão cansada que minhas sobrancelhas doem e meus dentes coçam...
...
Ando com uma sensação muito esquisita nestes últimos dias. Como se algo muito importante fosse acontecer, mas eu não faço a menor idéia do que pode ser.
Sentar e esperar, é só.
Sentar e esperar, é só.
Pré-aquecimento
Cara Lys;
É outono, estação em que as folhas caem e o humor despenca. Mas não liga, não. Tem coisas ótimas ainda por acontecer pra espantar o tédio - vai por mim :o)
Amante
Astros
Meu maior defeito, entre tantos que tenho, é o de ser profundamente canceriana.
Bom ou ruim, tudo fica guardado. Não consigo jogar absolutamente nada fora.
Bom ou ruim, tudo fica guardado. Não consigo jogar absolutamente nada fora.
Dá mas não passa
Estou roxa de vontade de tomar um chope depois do trabalho e aproveitar que estou sem as crianças até domingo.
E sei exatamente quem eu vou chamar :o)
E sei exatamente quem eu vou chamar :o)
Sem parar
O cérebro da gente tem umas coisas que não se consegue entender. Acordei hoje com um sol esplendoroso invadindo o quarto. As meninas estavam na minha cama, uma da cada lado, esperando que eu acordasse, já com o "Estou com fooooooooooooomeeeeeeee!!!" engatilhado. Pois a primeira coisa que eu pensei foi: "Os apartamentos mais caros de Roma são aqueles que foram, na antiguidade, os alojamentos dos centuriões, dentro das muralhas da cidade". Meu cérebro desencavou essa cantilena de guia turístico que eu ouvi tem quase dez anos, e não parei de pensar nas pessoas chiques e ricas (porque os apartamentos são caríssimos) que vivem hoje onde dormiam, há mais de dois mil anos, os soldados romanos.
quinta-feira, maio 26, 2005
Pardon, no compreendo you
Por que homens em geral e ex-maridos em particular não percebem que, ao dizerem "Se der, o papai vai ver se consegue vir buscar vocês à noite", as crianças SEMPRE vão entender "Prometo que venho buscar vocês à noite"?
Retrato de uma paixão
No curso de cinco séculos e meio de sua história, esse conjunto glorioso de folhas impressas organizou-se convencionalmente da seguinte forma:
* Abrindo-se a capa, aparecem páginas brancas de guarda, ou cortesia, de duas a quatro.
* Em seguida, a primeira página ímpar impressa chama-se ante-rosto (ou falsa folha ou falso frontispício) e traz impresso apenas o título da obra, em corpo pequeno.
* A página ímpar seguinte ao ante-rosto chama-se frontispício (ou página de rosto) e é o verdadeiro cartão de identidade do livro, pois nela figuram: o título completo (em corpo maior que o do ante-rosto, embora menor que o da capa), o subtítulo ou as partes, nome do autor e a identificação da editora (logotipo, denominação, cidade e ano da edição).
* A página seguinte chama-se página de créditos (ou ainda verso da folha de rosto); nele se apresentam os créditos editoriais, outros detalhes específicos (como copyright, depósito legal, ficha catalográfica, dados da editora etc), título da obra no idioma original, em se tratando de tradução, a numeração, caso seja edição para bibliófilos, e a licença eclesiástica, se pertinente.
* A página ímpar seguinte pode ser reservada para dedicatória.
[...]
* Por último, mas antes das páginas de guarda ou cortesia (se houver, pois são optativas) costuma aparecer o colofão, última página impressa, que contém tradicionalmente a data em que se acabou de imprimir o livro, o local e a gráfica.
* As capas do livro podem ser rígidas ou flexíveis. As primeiras denominam-se capas duras ou cartonadas, as segundas, rústicas ou moles. As capas duras, por sua vez, revestem-se em geral de tecido, tela, couro ou pergaminho, obedecendo sempre a tradição histórica. E nessa tradição, trazem sempre pouca impressão: uma vinheta decorativa ou o título na capa da frente, impresso em geral com destaque, não raro em ouro ou prata – como se continua praticando desde Manuzio – ou em outra cor qualquer. [...]
* A lombada foi, historicamente, o primeiro e principal elemento da capa a ser decorado. [...] Em virtude da redução progressiva dos formatos e espessuras, somente no século XX se introduziram as atuais disposições de títulos redigidos de baixo para cima, ou vice-versa, paralelas à lombada, e não no sentido transversal, segundo a tradição clássica. As lombadas com legendas de baixo para cima chamam-se à francesa e as de cima para baixo, à inglesa.
* As guardas, formadas de dois jogos de quatro páginas, a primeira e a última coladas à capa dos livros de cartonados (capa dura) mostram-se habitualmente com desenhos de mosaicos ou indianas em cores, lembrando as técnicas características dos papéis pintados artesanalmente – que ainda sobrevivem – e praticadas na Europa desde o século XVII. Têm sua origem numa prática turca iniciada duzentos anos antes.
Enric Satué, "Aldo Manuzio – Editor. Tipógrafo. Livreiro"
Coleção Artes do Livro, Volume 4
Ateliê Editorial, 2004
* Abrindo-se a capa, aparecem páginas brancas de guarda, ou cortesia, de duas a quatro.
* Em seguida, a primeira página ímpar impressa chama-se ante-rosto (ou falsa folha ou falso frontispício) e traz impresso apenas o título da obra, em corpo pequeno.
* A página ímpar seguinte ao ante-rosto chama-se frontispício (ou página de rosto) e é o verdadeiro cartão de identidade do livro, pois nela figuram: o título completo (em corpo maior que o do ante-rosto, embora menor que o da capa), o subtítulo ou as partes, nome do autor e a identificação da editora (logotipo, denominação, cidade e ano da edição).
* A página seguinte chama-se página de créditos (ou ainda verso da folha de rosto); nele se apresentam os créditos editoriais, outros detalhes específicos (como copyright, depósito legal, ficha catalográfica, dados da editora etc), título da obra no idioma original, em se tratando de tradução, a numeração, caso seja edição para bibliófilos, e a licença eclesiástica, se pertinente.
* A página ímpar seguinte pode ser reservada para dedicatória.
[...]
* Por último, mas antes das páginas de guarda ou cortesia (se houver, pois são optativas) costuma aparecer o colofão, última página impressa, que contém tradicionalmente a data em que se acabou de imprimir o livro, o local e a gráfica.
* As capas do livro podem ser rígidas ou flexíveis. As primeiras denominam-se capas duras ou cartonadas, as segundas, rústicas ou moles. As capas duras, por sua vez, revestem-se em geral de tecido, tela, couro ou pergaminho, obedecendo sempre a tradição histórica. E nessa tradição, trazem sempre pouca impressão: uma vinheta decorativa ou o título na capa da frente, impresso em geral com destaque, não raro em ouro ou prata – como se continua praticando desde Manuzio – ou em outra cor qualquer. [...]
* A lombada foi, historicamente, o primeiro e principal elemento da capa a ser decorado. [...] Em virtude da redução progressiva dos formatos e espessuras, somente no século XX se introduziram as atuais disposições de títulos redigidos de baixo para cima, ou vice-versa, paralelas à lombada, e não no sentido transversal, segundo a tradição clássica. As lombadas com legendas de baixo para cima chamam-se à francesa e as de cima para baixo, à inglesa.
* As guardas, formadas de dois jogos de quatro páginas, a primeira e a última coladas à capa dos livros de cartonados (capa dura) mostram-se habitualmente com desenhos de mosaicos ou indianas em cores, lembrando as técnicas características dos papéis pintados artesanalmente – que ainda sobrevivem – e praticadas na Europa desde o século XVII. Têm sua origem numa prática turca iniciada duzentos anos antes.
Enric Satué, "Aldo Manuzio – Editor. Tipógrafo. Livreiro"
Coleção Artes do Livro, Volume 4
Ateliê Editorial, 2004
Ventre
Foram os momentos mais sublimes da minha vida: os meses de gravidez, o bebê se mexendo na minha barriga. O prazer de amamentar, dormir com as meninas sobre mim, acompanhar os primeiros sorrisos, as primeiras palavras - tentando adivinhar que som a voz delas teria. Os gostos, as habilidades, os medos, os defeitos.
Eu já estou passando da idade, não tenho condições financeiras nem um parceiro que me proporcione isso. Mas eu adoraria ser mãe, novamente.
quarta-feira, maio 25, 2005
Belas maldições*
Dizem que o Diabo tem as melhores músicas.
Isto é em grande parte verdade. Mas o céu tem os melhores coreógrafos.
Neil Gaiman e Terry Pratchett, "* - As belas e precisas profecias de Agnes Nutter, bruxa"
Editora Bertrand, 1990
Isto é em grande parte verdade. Mas o céu tem os melhores coreógrafos.
Neil Gaiman e Terry Pratchett, "* - As belas e precisas profecias de Agnes Nutter, bruxa"
Editora Bertrand, 1990
Considerando
Sabe, já tem uns dias que eu venho pensando nisso. É que "covarde" não é bem a palavra certa.
Vamos ver...
Ah, sim.
CAFAJESTE.
É isso.
Vamos ver...
Ah, sim.
CAFAJESTE.
É isso.
Depois do temporal
Alerta geral! Postos de combate!
Piii-póóó! Piii-póóó! Piii-póóó!
Alcançando níveis perigosos de pieguice!
Alerta vermelho! Alerta vermelho! Todos aos postos de batalha!
Alcançando níveis perigosos de pieguice!
Alerta vermelho! Alerta vermelho! Todos aos postos de batalha!
terça-feira, maio 24, 2005
Fim do dia
Vou chegar em casa, fazer uma sopa bem gostosinha e pão dourado na manteiga para acompanhar. Depois, me enfiar debaixo do edredon com as meninas para ver Cartoon.
Estou cansada. Da vida idiota que eu tenho levado, principalmente. Como eu disse aqui uma vez, não sei viver sem amar alguém.
PRECISO de alguém, mas não de qualquer um. Pra mim, amar alguém é essencial, vital, primordial.
Estou cansada. Da vida idiota que eu tenho levado, principalmente. Como eu disse aqui uma vez, não sei viver sem amar alguém.
PRECISO de alguém, mas não de qualquer um. Pra mim, amar alguém é essencial, vital, primordial.
Condolências
Uma das piores coisas de uma gripe braba não é a parte física (que, por si só, é tenebrosa): é a depressão que vem depois de dias sem fôlego, sem ânimo, sem ninguém para cuidar da gente.
Eu estou assim. Vim trabalhar hoje como se fosse para a forca, sem direito a apelação. Minha sala está atulhada de caixas, papéis, correspondências não respondidas, gente me cobrando material e autores querendo me pagar o almoço pelo trabalho na Bienal - e eu atendendo o telefone com voz de defunta, entonação de finada, passamento recente: "Puxa, eu adoraria, mas estou saindo de uma gripe e, com o feriado na quinta, fica ainda mais complicado..."
A coisa boa: não fumo desde quinta. A coisa ruim: estou doida pra fumar - é a única coisa que me faz relaxar, atualmente.
João, meu valoroso assistente, comprou a caixa com a primeira temporada de "Jornada nas Estrelas". Já pedi emprestado para ver no feriado, já que as meninas vão para a casa do pai. Não existe programa melhor para curar ressaca de gripe - bom, existe sim, mas infelizmente não para mim, neste momento.
Eu estou assim. Vim trabalhar hoje como se fosse para a forca, sem direito a apelação. Minha sala está atulhada de caixas, papéis, correspondências não respondidas, gente me cobrando material e autores querendo me pagar o almoço pelo trabalho na Bienal - e eu atendendo o telefone com voz de defunta, entonação de finada, passamento recente: "Puxa, eu adoraria, mas estou saindo de uma gripe e, com o feriado na quinta, fica ainda mais complicado..."
A coisa boa: não fumo desde quinta. A coisa ruim: estou doida pra fumar - é a única coisa que me faz relaxar, atualmente.
João, meu valoroso assistente, comprou a caixa com a primeira temporada de "Jornada nas Estrelas". Já pedi emprestado para ver no feriado, já que as meninas vão para a casa do pai. Não existe programa melhor para curar ressaca de gripe - bom, existe sim, mas infelizmente não para mim, neste momento.
Procura-se
Perdi meu fôlego (acho que os pulmões também, mas não tenho certeza, ainda tenho esperança de encontrar pelo menos um em casa) no Pavilhão nº 3 (o Azul), RioCentro, na sexta-feira dia 20. Se alguém encontrar pode me devolver? Tá fazendo uma falta danada.
Léxico
Antes de se tornar um gênero literário, "romance" era a denominação geral das diversas línguas de regiões como a Gália (França atual) e a Península Ibérica (Espanha e Portugal), que estiveram sob a dominação de Roma. "Romance" designava as línguas intermediárias entre o latim e qualquer língua românica, em oposição à língua culta, que era o latim clássico.
O termo vem do advérbio latino romanice que, por sua vez, deriva do adjetivo romanicus, que significa "de Roma". Com a queda do Império Romano, em casa região foi se cristalizando uma língua resultante desse latim alterado. Na Idade Média, foram escritas em "romance" muitas obras narrativas, tanto em prosa como em verso, e o termo passou a denominar contos, ou histórias de aventuras.
O romance moderno, como é conhecido hoje, surge no século XVIII, na França, substituindo o poema épico.
Márcio Bueno, "A origem curiosa das palavras"
Editora José Olympio, 2002
O termo vem do advérbio latino romanice que, por sua vez, deriva do adjetivo romanicus, que significa "de Roma". Com a queda do Império Romano, em casa região foi se cristalizando uma língua resultante desse latim alterado. Na Idade Média, foram escritas em "romance" muitas obras narrativas, tanto em prosa como em verso, e o termo passou a denominar contos, ou histórias de aventuras.
O romance moderno, como é conhecido hoje, surge no século XVIII, na França, substituindo o poema épico.
Márcio Bueno, "A origem curiosa das palavras"
Editora José Olympio, 2002
domingo, maio 22, 2005
O mais belo
O Senhor é meu pastor, nada me faltará. Faz-me deitar em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranqüilas. Refresca a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça por amor de seu nome.
Ainda que eu andasse pelo vale das sombras e da morte, não temerei mal algum, porque Tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.
E a bondade e a misericórdia me seguirão toda a minha vida e habitarei na casa do Senhor por longos dias.
Salmo 23, autor desconhecido.
Olhos verdes
Faz muito tempo, disse a alguém que não era ciumenta. E não sou, sou possessiva, o que dá um mar de diferença entre os dois conceitos.
Uma caneca, um filho, uma roupa, um álbum de fotografias, um amante - tudo fica mais ou menos no mesmo nível, porque tudo isso é MEU. Mas o filho vai dormir na casa dos amigos, o amante vai jogar futebol - mas volta.
No caso do ciumento, tudo é dele, mas o mundo não pode usufruir disso, nunca. Os filhos ficam em casa, o amante não pode respirar além do batente da porta.
Não consigo imaginar uma coisa assim. Ah, sim, eu tenho ciúmes se ele olha uma bunda escultural, se comenta que "Fulana tem um corpão". Eu sou normal. Mas se ele liga e diz "Vou ficar mais um pouquinho no trabalho, trancado na sala de revisão", eu vou fazer o quê? Ligar para ver se ele está realmente lá?
Confiança recíproca (e desculpe a redundância) é a única coisa em que se pode confiar num relacionamento. Desconfiou uma vez, perdeu-se tudo. Até o amor.
sábado, maio 21, 2005
Enfermaria 3
sexta-feira, maio 20, 2005
Ring-a-tone
Eu sei que você gostou do livro e do marcador (eu vi a sua cara de surpresa e, modéstia à parte, gastei três horas fuçando as estantes da Travessa para achar algo com a sua cara). Então, dá para se apressar?
Porque, você sabe, não dá para viver só esperando o telefone tocar. Não tenho mais idade pra isso.
À luz da noite
Ontem à noite fui a um lançamento em Ipanema. Voltei às onze e, no táxi, passei pela Glória, com as "meninas" trabalhando furiosamente, ocupando todas as calçadas e disputando a tapa as esquinas. Num sinal, o carro encostado no meio-fio, fiquei olhando como elas trabalham. E foi aí que eu vi: uma loura imensa, botas de verniz acima dos joelhos, um biquini que parecia um micro maiô (sei lá descrever aquilo), os seios de fora. Ao lado dela, uma moça que parecia uma crente, saia comprida e coque, deu à prostituta um bebê de uns quatro meses, muito gordinho e lindinho, risonho, as mãozinhas procurando os cabelos louros. "Vai com a Tetê que mamãe depois vai, tá?" E cheirava a bochecha, e tentava não esfregar o rosto ultramaquiado na pele da criança. E o que mais me chamou a atenção: antes de receber o bebê, ela estendeu a fralda de pano no colo, tapando os seios.
Não sei, tem certas coisas que a gente vê, processa mas não sabe o resultado. Até agora, não sei o que pensar. Às vezes, a engrenagem que achamos ter um movimento perpétuo pára e começa a rodar ao contrário. E tudo sai dos eixos. Até o que achamos ser a ordem natural (e preconceituosa) das coisas.
Não sei, tem certas coisas que a gente vê, processa mas não sabe o resultado. Até agora, não sei o que pensar. Às vezes, a engrenagem que achamos ter um movimento perpétuo pára e começa a rodar ao contrário. E tudo sai dos eixos. Até o que achamos ser a ordem natural (e preconceituosa) das coisas.
Fim dos tempos
Estou em casa. A gripe que eu vinha soterrando com doses industriais de aspirina, própolis e Tylenol sacudiu a poeira, deu a volta por cima e amanheceu anunciando sua glória na minha garganta e no meu nariz. Não consigo formular um pensamento sem tossir ou espirrar.
E, por caridade, alguém pode me ajudar a tirar esse elefante que sentou no meu peito?
E, por caridade, alguém pode me ajudar a tirar esse elefante que sentou no meu peito?
quinta-feira, maio 19, 2005
Mneme
Eu desejo.
Há muito tempo que só consigo desejar. Não alguém, não um rosto. Apenas desejo a sensação de estar com alguém. Sentir a calma percorrendo as minhas costas e arrepiando os meus mamilos. Aquele suspiro profundo, de quem vai mergulhar e se prepara para não mais voltar à superfície. O olhar que apalpa o meu rosto. O calor que aumenta, a luz que diminui para não machucar a pele. A ausência de qualquer som que não seja a respiração. As ondas que vêm e vão, as asperezas, a maciez, os gostos e sabores. Inspirar depois o ar frio e sentir a alma voltar ao seu lugar.
Mas, antes do desejo, sinto falta de fazer e dar amor a quem mereça.
quarta-feira, maio 18, 2005
Star Wars
Enquanto todo mundo aguarda a estréia de "Como-Anakin-virou-Darth-Vader", a lesada aqui está viciada em "Guerras Clônicas". Ah, o que é isso? O desenho animado do jovem Anakin e seu mestre Obi-Wan Kenobi. Passa no Cartoon, em horários aleatórios.
O problema é que eu só consigo assistir aos capítulos 23, 24 e 25. Não sei se eles têm os outros capítulos. Só sei que eu vejo esses, passo um tempinho sem ver (porque não sei os horários) e, quando calha a sorte de passar quando estou com a TV ligada no Cartoon... é o capítulo 23, 24 ou 25.
Se alguém souber como salto dessa rodinha de hamster, por favor me diga. Estou chegando no ponto de saber os diálogos de cor.
Que horror, né?
O problema é que eu só consigo assistir aos capítulos 23, 24 e 25. Não sei se eles têm os outros capítulos. Só sei que eu vejo esses, passo um tempinho sem ver (porque não sei os horários) e, quando calha a sorte de passar quando estou com a TV ligada no Cartoon... é o capítulo 23, 24 ou 25.
Se alguém souber como salto dessa rodinha de hamster, por favor me diga. Estou chegando no ponto de saber os diálogos de cor.
Que horror, né?
Amiga
Você é uma mulher bonita, segura, eficiente, uma profissional de valor. Hoje, me pedindo ajuda por e-mail, me mostrou como é conseguir, depois de tudo, dar a volta por cima. Apesar de você jamais ter saído do topo.
Ah, não, você não consegue cair. Mesmo que queira ou que tentem derrubar você.
Você é, querida, o máximo!
Mas ainda está me devendo um café com leite na mesa da cozinha - e hospedagem de graça!
Meu joelho manda agradecer
Grata ao Lauro (ortopedista pediátrico) e à Melissa (fisioterapeuta): já troquei a bolsa de água quente pela de gelo.
Thanks! :o)
Thanks! :o)
Na estante
Um dia alguém me disse que isso aqui era o "metidaaintelectualizada.com.br". Pode até ser, mas quer saber? Não estou nem aí. Amo livros; já passei dos dois mil volumes. As meninas têm uma biblioteca que está avançando pelos 400. Eu e meu ex-marido sempre ganhamos muitos livros (adultos e infantis). Meu trabalho envolve livros. Tenho tantos que acabo lendo, às vezes, quase seis ao mesmo tempo. Aí paro, me organizo e aproveito um de cada vez. Foi o que aconteceu com o Manoel de Barros. Nem sabia que tinha, mas como tem a capa bonita enfiei na bolsa para ler no ônibus. O do Cortázar estava na minha mesa, e peguei por acaso, enquanto ouvia uma pessoa muuuuuuuuuuuito chata ao telefone.
Adoro livros: o cheiro, as cores, as capas. As guardas (aquele papel colorido que vem entre a capa e a página de rosto), as orelhas, o tipo de papel, as ilustrações ou os detalhes. Meu sonho (que espero realizar quando for a São Paulo) é finalmente conhecer a biblioteca de José Mindlin. E morro de ciúmes dos livros que comprei com dificuldade, ou que herdei, ou que me foram dados por alguém especial.
Não me importo que minhas filhas manuseiem os delas. Elas tomam cuidado, mas viram as páginas de qualquer maneira e acabam amassando muitas. Mas é assim que se aprende a gostar de livros: usando. Para ficar bonitinho na estante, é melhor comprar caixote pintado.
Adoro livros: o cheiro, as cores, as capas. As guardas (aquele papel colorido que vem entre a capa e a página de rosto), as orelhas, o tipo de papel, as ilustrações ou os detalhes. Meu sonho (que espero realizar quando for a São Paulo) é finalmente conhecer a biblioteca de José Mindlin. E morro de ciúmes dos livros que comprei com dificuldade, ou que herdei, ou que me foram dados por alguém especial.
Não me importo que minhas filhas manuseiem os delas. Elas tomam cuidado, mas viram as páginas de qualquer maneira e acabam amassando muitas. Mas é assim que se aprende a gostar de livros: usando. Para ficar bonitinho na estante, é melhor comprar caixote pintado.
Descobrindo mais um
Um dia me chamaram primitivo:
Eu tive um êxtase.
Igual a quando chamaram Fellini de palhaço:
E Fellini teve um êxtase.
O rio cortava a tarde pelo meio.
De um lado passeavam cavalos,
De outro Passo-Triste, aves e borboletas.
Passo-Triste tinha um gosto entre beato e bêbado.
Uma espécie de ascese moscal o perseguia.
Andava favorável para coisas.
Pedra ser, inseto ser era seu galardão.
Sua casa era guardada por aves do que ferrolhos.
Não tinha dente nem letras.
Dava aos andrajos grandeza.
Vivia desgualepado.
Certa vez pegou moléstia de cobra e se arrastava
de barriga pelos lajedos.
Cachorros faziam poste nele.
Gostava de encantações do que de informações.
Passo-Triste é meu Pastor.
Ele me guiará.
Manoel de Barros, "Retrato do artista quando coisa"
Editora Record, 1998
Eu tive um êxtase.
Igual a quando chamaram Fellini de palhaço:
E Fellini teve um êxtase.
O rio cortava a tarde pelo meio.
De um lado passeavam cavalos,
De outro Passo-Triste, aves e borboletas.
Passo-Triste tinha um gosto entre beato e bêbado.
Uma espécie de ascese moscal o perseguia.
Andava favorável para coisas.
Pedra ser, inseto ser era seu galardão.
Sua casa era guardada por aves do que ferrolhos.
Não tinha dente nem letras.
Dava aos andrajos grandeza.
Vivia desgualepado.
Certa vez pegou moléstia de cobra e se arrastava
de barriga pelos lajedos.
Cachorros faziam poste nele.
Gostava de encantações do que de informações.
Passo-Triste é meu Pastor.
Ele me guiará.
Manoel de Barros, "Retrato do artista quando coisa"
Editora Record, 1998
Fado
Não tenho paciência com pessoas fracas. Não falo de quem tem momentos de fraqueza (eu tenho, e muitos). Mas quem vive numa só lamentação, eterna. Estou falando isso porque aqui onde trabalho existe uma pessoa assim. Anda atrás de quem lhe deu emprego como um cachorrinho. Lamenta-se de tudo: da falta de dinheiro, que casou (pela enésima vez) de maneira errada, que não se separa porque o filho vai sofrer, a outra pessoa vai fazer chantagem e por isso tem que fazer tudo para nada acontecer, que tem que se submeter a chefia porque precisa etc e tal. E vai levando, culpando a vida por tudo de ruim.
Deus que me perdoe, mas a vontade de ser grosseira com quem larga essa chorumela pelo caminho é incomensurável. Não tenho o menor saco.
Deus que me perdoe, mas a vontade de ser grosseira com quem larga essa chorumela pelo caminho é incomensurável. Não tenho o menor saco.
A resposta
Posso ter demorado para perceber. Não me culpo. Saber antes não me traria nenhum benefício - falta-me jeito para fazer sala à verdade. A mulher não gosta de dar respostas. Explicar, argumentar, avisar, sinalizar, mostrar com o dedo. A vida não pode ser resumida aos três sinais do semáforo.
A mulher não deseja ser mãe de seu homem. Não deseja ser professora de seu homem. Não deseja ser tia de seu homem. Muito menos avó, com chá de boldo na cama. Não fica excitada de colocá-lo de castigo. A mulher não deseja que ele concorde, longe disso. Deseja ser compreendida. Se o homem diz que a compreende, por que ela é obrigada a convencê-lo a todo momento? Não tem lógica.
A mulher termina enfastiada com a idéia de repetir a mesma ladainha: "você não me entende?" E ele não entende, apressa entender, que é diferente. A mulher deseja silenciar, mas não silenciar um silêncio qualquer, um silêncio ríspido, um silêncio grosseiro, de talher e cabeça baixa, e sim um silêncio satisfeito, um silêncio de orla, um silêncio de calçadão. Quando a mulher se irrita, não lhe falta argumentos, ela apenas desistiu de falar. E o homem pensa que ela enfim aceitou sua opinião.
A mulher não deseja dar a resposta, está esperando a reação dele. Nunca que pergunte: "o que está pensando", que é a mortalidade infantil do pensamento. Nunca que reclame ou edite o discurso a seu favor. Não adianta fazer ciúme ou fingir remorso. Teatro amador é na escola.
A mulher não deseja dar a resposta, o que não significa que não deseja a resposta. É que responder perde a graça, o entusiasmo, o charme. A mulher joga cabra-cega com a boca. Não é um jogo, um mero resultado, a vida do relacionamento depende dessas poucas palavras. É arriscar ou encenar uma falsa sapiência durante cinco dias, cinco meses, cinco anos até acontecer a separação. A paciência tem limite, ora bolas. Ela não vai ficar dando resposta infinitamente. Tampouco deseja que o homem memorize a resposta. Repetir o que ela falou atesta que ele não a estava ouvindo. A tática de reiterar a última frase para fingir atenção não funciona mais. Cansa voltar ao ponto de partida, como se nada tivesse existido antes. É simples.
A mulher não deseja dar a resposta. Quer ser antecipada, sonhada, imaginada. Tanto faz que ele erre. Deseja ser sondada, visitada, pressentida. A mulher deseja ser adivinhada. A mulher não deseja a resposta certa, não há resposta certa. Deseja ser a resposta que o homem procura fora dela.
Fabrício Carpinejar. Esse, ele me avisou por e-mail: "Olá, minha menina. Tem um texto em meu blog que irás gostar."
Pois é, gostei :o)
A mulher não deseja ser mãe de seu homem. Não deseja ser professora de seu homem. Não deseja ser tia de seu homem. Muito menos avó, com chá de boldo na cama. Não fica excitada de colocá-lo de castigo. A mulher não deseja que ele concorde, longe disso. Deseja ser compreendida. Se o homem diz que a compreende, por que ela é obrigada a convencê-lo a todo momento? Não tem lógica.
A mulher termina enfastiada com a idéia de repetir a mesma ladainha: "você não me entende?" E ele não entende, apressa entender, que é diferente. A mulher deseja silenciar, mas não silenciar um silêncio qualquer, um silêncio ríspido, um silêncio grosseiro, de talher e cabeça baixa, e sim um silêncio satisfeito, um silêncio de orla, um silêncio de calçadão. Quando a mulher se irrita, não lhe falta argumentos, ela apenas desistiu de falar. E o homem pensa que ela enfim aceitou sua opinião.
A mulher não deseja dar a resposta, está esperando a reação dele. Nunca que pergunte: "o que está pensando", que é a mortalidade infantil do pensamento. Nunca que reclame ou edite o discurso a seu favor. Não adianta fazer ciúme ou fingir remorso. Teatro amador é na escola.
A mulher não deseja dar a resposta, o que não significa que não deseja a resposta. É que responder perde a graça, o entusiasmo, o charme. A mulher joga cabra-cega com a boca. Não é um jogo, um mero resultado, a vida do relacionamento depende dessas poucas palavras. É arriscar ou encenar uma falsa sapiência durante cinco dias, cinco meses, cinco anos até acontecer a separação. A paciência tem limite, ora bolas. Ela não vai ficar dando resposta infinitamente. Tampouco deseja que o homem memorize a resposta. Repetir o que ela falou atesta que ele não a estava ouvindo. A tática de reiterar a última frase para fingir atenção não funciona mais. Cansa voltar ao ponto de partida, como se nada tivesse existido antes. É simples.
A mulher não deseja dar a resposta. Quer ser antecipada, sonhada, imaginada. Tanto faz que ele erre. Deseja ser sondada, visitada, pressentida. A mulher deseja ser adivinhada. A mulher não deseja a resposta certa, não há resposta certa. Deseja ser a resposta que o homem procura fora dela.
Fabrício Carpinejar. Esse, ele me avisou por e-mail: "Olá, minha menina. Tem um texto em meu blog que irás gostar."
Pois é, gostei :o)
...
Vontade de comer paçoquinha. De sentir frio e andar sob o sol bem agasalhadinha.
Saudade de sentar num bar e comer filé aperitivo, batata frita, tomar chope escuro e jogar conversa fora, entre um beijo e outro.
Saudade do cheirinho das minhas filhas. Do meu diário, que eu escrevi aos 10 anos suspirando pelo Luke Skywalker (humm...). Vontade de conversar por e-mail com amigos. Descobrir coisas engraçadas na web. Comprar roupas novas, decorar decentemente minha casa, ter o dorso das mãos liso do jeito que um dia eu tive.
Melancolia é uma merda.
Saudade de sentar num bar e comer filé aperitivo, batata frita, tomar chope escuro e jogar conversa fora, entre um beijo e outro.
Saudade do cheirinho das minhas filhas. Do meu diário, que eu escrevi aos 10 anos suspirando pelo Luke Skywalker (humm...). Vontade de conversar por e-mail com amigos. Descobrir coisas engraçadas na web. Comprar roupas novas, decorar decentemente minha casa, ter o dorso das mãos liso do jeito que um dia eu tive.
Melancolia é uma merda.
Na cabeceira
Um Diário como o de Gide, inteiramente de vigília, sem rastros de sonho. Ai, este caderno é a jaula dos monstros; e fora está Buenos Aires.
Flowers have all exquisite figures. (Bacon)
Extraio do meu Webster's a deliciosa citação acima. Vale a pena ler os seus 23 parágrafos consagrados a figure. Poucas coisas podem dar mais alento à imaginação do que um bom dicionário. Ele apresenta a conseqüência, não pode haver nem temor nem suspeita de que lhe estejam "influenciando" - expressão idiota.
Julio Cortázar, "Diário de Andrés Favas"
Editora José Olympio, 1997
Jamais vou perdoar o destino por ter matado Julio Cortázar.
E Ítalo Calvino. E Georges Duby.
Flowers have all exquisite figures. (Bacon)
Extraio do meu Webster's a deliciosa citação acima. Vale a pena ler os seus 23 parágrafos consagrados a figure. Poucas coisas podem dar mais alento à imaginação do que um bom dicionário. Ele apresenta a conseqüência, não pode haver nem temor nem suspeita de que lhe estejam "influenciando" - expressão idiota.
Julio Cortázar, "Diário de Andrés Favas"
Editora José Olympio, 1997
Jamais vou perdoar o destino por ter matado Julio Cortázar.
E Ítalo Calvino. E Georges Duby.
terça-feira, maio 17, 2005
Na letra
Ano passado, a Marina me pediu que pegasse com a Lygia Fagundes Telles um autógrafo - ela estava lançando Meus contos preferidos.
Saramago, Veríssimo, Carpinejar, Moacyr Scliar, Cony, Flavio Tavares, Lya Luft, Lygia Bojunga, Tom Wolfe, Paul Auster, John Berger, Umberto Eco, Ferreira Gullar, Caetano, Chico, José Eduardo Agualusa, Margaret Atwood, Sérgio Sant'Anna, Marcelo Mirisola, Marco Lucchesi, Silviano Santiago, Luiz Ruffato, Carlos Nejar, Domingos Pellegrini, Julian Barnes, Eric Hobsbawn, Ruy Castro, Millôr Fernandes, Don DeLillo, Jeffrey Eugenides, Colm Tóibín, Ian McEwan, João Ubaldo Ribeiro e por aí vai: conheci a todos (com alguns ainda me correspondo), mas não tenho livro com dedicatória de ninguém. Minto: tenho um, que me foi enviado - um mimo gracioso de Cristóvão Tezza, quando lançou O fotógrafo. Não consigo, tenho vergonha: na maioria das vezes, estou trabalhando, acompanhando, orientando o escritor. E aí, quando o trabalho termina, quando rola o almoço de confraternização, a despedida no aeroporto... cadê a coragem?
Eu sei que, um dia, vou me arrepender.
Saramago, Veríssimo, Carpinejar, Moacyr Scliar, Cony, Flavio Tavares, Lya Luft, Lygia Bojunga, Tom Wolfe, Paul Auster, John Berger, Umberto Eco, Ferreira Gullar, Caetano, Chico, José Eduardo Agualusa, Margaret Atwood, Sérgio Sant'Anna, Marcelo Mirisola, Marco Lucchesi, Silviano Santiago, Luiz Ruffato, Carlos Nejar, Domingos Pellegrini, Julian Barnes, Eric Hobsbawn, Ruy Castro, Millôr Fernandes, Don DeLillo, Jeffrey Eugenides, Colm Tóibín, Ian McEwan, João Ubaldo Ribeiro e por aí vai: conheci a todos (com alguns ainda me correspondo), mas não tenho livro com dedicatória de ninguém. Minto: tenho um, que me foi enviado - um mimo gracioso de Cristóvão Tezza, quando lançou O fotógrafo. Não consigo, tenho vergonha: na maioria das vezes, estou trabalhando, acompanhando, orientando o escritor. E aí, quando o trabalho termina, quando rola o almoço de confraternização, a despedida no aeroporto... cadê a coragem?
Eu sei que, um dia, vou me arrepender.
Intervalo
Vou ficar longe da bienal até sexta, tarefas aos potes em cima da minha mesa. Gente que não vem para a feira mas vem depois. Muuuito trabalho atrasado, supermercado por fazer e contas a pagar, mas dias lindos de céu resplandescente.
Estou com um sono mortal e uma dor no joelho que bolsa de água quente nenhuma faz passar. C'est la vie.
Bom-dia!
Estou com um sono mortal e uma dor no joelho que bolsa de água quente nenhuma faz passar. C'est la vie.
Bom-dia!
segunda-feira, maio 16, 2005
Notícias da Bienal
Muita gente, muita confusão, programa de índio para quem quer somente comprar. Quem gosta de encontrar autores, fuçar estandes, aproveitar saldões, é ótimo. Mas tem que levar lanche: Bob's cobrando quase R$ 8 por um hambúrguer; batata média a R$ 5. Pedaço de pizza? De R$ 9,50 a R$ 14,90. Sentou? Cachorro-quente a R$ 14,90. O resgate é pago, muitas vezes, duas horas antes de alguém se dignar a trazer a sua comida.
Lya Luft (aparece mais que arroz de festa), Cristóvão Tezza falando da solidão e da paixão (ui!), Luis Fernando Veríssimo, Flávio Tavares, Diogo Mainardi, Fausto Wolff, Lygia Fagundes Telles, Marco Lucchesi, Moacyr Scliar, os franceses... Ah, os franceses! Que bom que foram todos embora! Porque a coisa mais chata do mundo é agente literário que fica de cão de guarda do seu autor. Teve uma que parecia ter feito xixi em volta do seu cliente: mulher invadia a área e ela rosnava. E o cabelo louro pra cá e pra lá, pra cá e pra lá...
Mais a atração maior para quem trabalha na bienal é o Gustavo, um dos rapazes que dirigem os carrinhos que levam e trazem os autores para os eventos. Uia!
O mais hilário:
Heloísa Perrissé chegando de carrinho escoltado por oito seguranças (parecia o carro do Kennedy em Dallas). A turba de estudantes correndo atras, ela entrando esbaforida no Café Literário do Armando Nogueira falando de Nelson Rodrigues. Silêncio total. Ela constrangidíssima, ainda encostada na porta, de braços abertos, pedindo desculpas. E a horda enfurecida do lado de fora querendo entrar.
Lily de Carvalho autografando seu livro. Ela está sempre com cara de que está encantada. Com qualquer coisa. Com qualquer pessoa. Acho que não dá mais para desmanchar o sorriso.
Hoje tem Marcelo Mirisola (que só conheço por e-mail) e João Gilberto Noll. Pouca coisa que é muita.
Trabalhei 16 horas no sábado; completei 14 horas de vaivém nos pavilhões no domingo. Mas estou muuiiiito feliz. Porque sou privilegiada por privar da amizade de grandes escritores e de poder entrar onde o público é vetado.
É por isso que eu amo Bienal do Livro :o)
Lya Luft (aparece mais que arroz de festa), Cristóvão Tezza falando da solidão e da paixão (ui!), Luis Fernando Veríssimo, Flávio Tavares, Diogo Mainardi, Fausto Wolff, Lygia Fagundes Telles, Marco Lucchesi, Moacyr Scliar, os franceses... Ah, os franceses! Que bom que foram todos embora! Porque a coisa mais chata do mundo é agente literário que fica de cão de guarda do seu autor. Teve uma que parecia ter feito xixi em volta do seu cliente: mulher invadia a área e ela rosnava. E o cabelo louro pra cá e pra lá, pra cá e pra lá...
Mais a atração maior para quem trabalha na bienal é o Gustavo, um dos rapazes que dirigem os carrinhos que levam e trazem os autores para os eventos. Uia!
O mais hilário:
Heloísa Perrissé chegando de carrinho escoltado por oito seguranças (parecia o carro do Kennedy em Dallas). A turba de estudantes correndo atras, ela entrando esbaforida no Café Literário do Armando Nogueira falando de Nelson Rodrigues. Silêncio total. Ela constrangidíssima, ainda encostada na porta, de braços abertos, pedindo desculpas. E a horda enfurecida do lado de fora querendo entrar.
Lily de Carvalho autografando seu livro. Ela está sempre com cara de que está encantada. Com qualquer coisa. Com qualquer pessoa. Acho que não dá mais para desmanchar o sorriso.
Hoje tem Marcelo Mirisola (que só conheço por e-mail) e João Gilberto Noll. Pouca coisa que é muita.
Trabalhei 16 horas no sábado; completei 14 horas de vaivém nos pavilhões no domingo. Mas estou muuiiiito feliz. Porque sou privilegiada por privar da amizade de grandes escritores e de poder entrar onde o público é vetado.
É por isso que eu amo Bienal do Livro :o)
quinta-feira, maio 12, 2005
Informação
Preciso de um dia de 36 horas/100 giga. Alguém sabe onde eu acho?
O meu, modelo 24 horas/1kb, não está mais funcionando.
O meu, modelo 24 horas/1kb, não está mais funcionando.
quarta-feira, maio 11, 2005
Não altera o produto
Primeiro comi a sobremesa. Agora, terminei o jantar: pratarrão de macarrão. Miojo, of course! Que mais haveria de ser?
Só elas
Por isso eu tenho orgulho da Zé Colméia e da Catatau: as duas economizaram seus ovos de Páscoa pra mamãe aqui poder surrupiar chocolate de madrugada. Dá para não amar as duas?
Não dá!
Não dá!
terça-feira, maio 10, 2005
Baile noturno
Então a gente combina assim: você me manda e-mails para eu ficar acordada e eu juro que não começo a babar e a roncar em cima do teclado.
Recebendo para o chá
Hoje descobri que ganhei link em dois blogs pra lá de bons: no Olhos Caramelos, da Cássia Costa (que me botou na sua lista de favoritos) e no Reticentia, da Marília (que perguntou se eu voltei. Tô aqui!).
Às duas, um beijo pela gentileza :o)
Às duas, um beijo pela gentileza :o)
segunda-feira, maio 09, 2005
Recolhendo a âncora
Faz mais de um ano que alguém me mandou isso:
Meu amor navega lento no teu mar
indo aonde o teu vento for levar
e a distância, bem mais perto avisto a paz
lanço velas e bandeiras no teu cais
Li isso novamente hoje (ah, sim, tudo é reciclável, Lavoisier que o diga :o) Logo depois, alguém me perguntou uma coisa boba, me olhou nos olhos e esperou uma resposta. Coisa simples, sobre como os barcos fazem quando chegam a um porto e este está cheio. E ali, naquele momento, eu percebi que a porta já estava fechada há muito tempo.
Só eu que ainda não tinha percebido.
O pior
Não existe nada pior do que você virar as noites trabalhando, brigando para fazer coisas novas, dedicar menos de duas horas por dia às suas filhas, ser uma das últimas a sair, trabalhar fins de semana e feriados e, quando você acha que tudo está do jeito que tinha que estar, alguém se vira e diz: "Só isso? Você só fez isso? E o resto?"
Fora do ar
Sinto falta de beijar o rosto inteiro de alguém. Devagar, com carinho, com cuidado. Naquela ante-sala do fazer amor, a lentidão proposital, saboreando o gosto da pele do outro, explorando o rosto em cada linha, em cada ruga, em cada poro. A calma que antecede a tempestade, aquele momento em que escorrer os dedos pelos cabelos do outro é a melhor maneira de sentir o calor do que está por vir.
Sinto muita falta disso. Até porque o fiz a noite passada inteira, sonhando com um homem que jamais encontrei na vida.
Sinto muita falta disso. Até porque o fiz a noite passada inteira, sonhando com um homem que jamais encontrei na vida.
...
Meu Dia das Mães pareceu Dia das Madrastas. Muuuuuuuuito más.
As meninas não tiveram dó de mim. Nenhuma.
Tô quebrada.
Bom-dia...
As meninas não tiveram dó de mim. Nenhuma.
Tô quebrada.
Bom-dia...
sábado, maio 07, 2005
Tempo
"Com afeto, da sua amiga"
Há muito tempo, assisti um filme chamado, se não me falha a memória (e ela tem me deixado na mão, ultimamente), "Dedicatória". Conta a história de uma mulher que compra livros não por seu conteúdo, mas pelas dedicatórias que ela encontra na folha de rosto.
Eu sou um pouco assim. Adoro sebos e brechós. Sempre acho que compro, além de um objeto, um pedaço do passado de alguém. Com livros, isso é mais profundo, porque dar um livro e escrever uma dedicatória nele despendeu minutos da vida de alguém, o pensamento de quem redigiu as poucas linhas direcionado a quem recebeu o presente.
E as dedicatórias dos livros que comprei (todos muito antigos) vêm numa caligrafia caprichada, em caneta-tinteiro.
As meninas sempre dão de aniversário dois presentes: um brinquedo ou uma roupinha e um livro, com uma dedicatória que eu escrevo com elas.
Livros são memória, do que está escrito e do que não está. E, para mim, memória é o que resta, quando tudo o mais já se foi.
Eu sou um pouco assim. Adoro sebos e brechós. Sempre acho que compro, além de um objeto, um pedaço do passado de alguém. Com livros, isso é mais profundo, porque dar um livro e escrever uma dedicatória nele despendeu minutos da vida de alguém, o pensamento de quem redigiu as poucas linhas direcionado a quem recebeu o presente.
E as dedicatórias dos livros que comprei (todos muito antigos) vêm numa caligrafia caprichada, em caneta-tinteiro.
As meninas sempre dão de aniversário dois presentes: um brinquedo ou uma roupinha e um livro, com uma dedicatória que eu escrevo com elas.
Livros são memória, do que está escrito e do que não está. E, para mim, memória é o que resta, quando tudo o mais já se foi.
Amor cego
Como você descobre um escritor, um livro?
Estava fazendo o almoço das meninas, e às vezes tenho que mexer uma panela uma dezena de minutos, e para matar o tempo pego qualquer livro na estante.
Hoje peguei "O diário de um fescenino", do Rubem Fonseca (autor de que não gosto, mas sempre volto para ver se sou pescada por um trecho). Nesse caso, fui. Mas não por ele:
Não sei como foi que se matou Sá-Carneiro, aos 26 anos, o poeta maldito português que escreveu este verso de amor: "Se meus olhos te incomodam quando te olho de frente, não me importo de arrancá-los e amar-te cegamente." (pág 248. "Diário de um fescenino", Companhia das Letras, 2003)
Mário Sá-Carneiro. A primeira vez em que eu ouvi falar dele foi num disco da Adriana Calcanhoto, que musicou um poema dele, e dizia no show (gravado ao vivo) o quanto tinha penado para fazê-lo. Tenho livros dele aqui em casa, mas foram presente ou herança - não comprei-os nem os desejei, não os cobicei numa vitrine. Somente os folheei, nunca foram lidos.
É muito bom descobrir um autor novo, um novo mundo, uma nova visão das coisas. Poesia, então, é um achado.
Estava fazendo o almoço das meninas, e às vezes tenho que mexer uma panela uma dezena de minutos, e para matar o tempo pego qualquer livro na estante.
Hoje peguei "O diário de um fescenino", do Rubem Fonseca (autor de que não gosto, mas sempre volto para ver se sou pescada por um trecho). Nesse caso, fui. Mas não por ele:
Não sei como foi que se matou Sá-Carneiro, aos 26 anos, o poeta maldito português que escreveu este verso de amor: "Se meus olhos te incomodam quando te olho de frente, não me importo de arrancá-los e amar-te cegamente." (pág 248. "Diário de um fescenino", Companhia das Letras, 2003)
Mário Sá-Carneiro. A primeira vez em que eu ouvi falar dele foi num disco da Adriana Calcanhoto, que musicou um poema dele, e dizia no show (gravado ao vivo) o quanto tinha penado para fazê-lo. Tenho livros dele aqui em casa, mas foram presente ou herança - não comprei-os nem os desejei, não os cobicei numa vitrine. Somente os folheei, nunca foram lidos.
É muito bom descobrir um autor novo, um novo mundo, uma nova visão das coisas. Poesia, então, é um achado.
sexta-feira, maio 06, 2005
Amo quem almeja o impossível *
A noite de sexta-feira é especial para nós três. No dia seguinte não tem escola, não tem trabalho, não tem hora para acordar. Então nós lanchamos com calma, tomamos banho juntas, ficamos na rede da varanda falando bobagem, contando como foi a semana, sobre os aniversários que estão chegando.
Estávamos já na cama, olhando a noite pela porta da varanda, as três encolhidas debaixo do edredon. E eu inventei de perguntar às meninas o que elas gostariam de ter se pudessem desejar qualquer coisa.
"Uma estrela", disse Catatau.
"Um unicórnio", respondeu Zé Colméia. "E você, mamãe, o que queria ter?"
E eu, ainda rindo das respostas, comecei a pensar. E a alegria morreu ali. "Uma boneca de louça, como a da história que eu contei".
Eu não desejo uma boneca de louça. Elas podem ser compradas a R$ 25 no Centro do Rio. Eu não consegui pensar em nada que se comparasse ao pedido das meninas. Tudo o que eu imaginei - dinheiro para pagar todas as contas, casa própria, poupança para o futuro delas, alguém para dividir a vida - tudo me pareceu tão pequeno, tão... medíocre!
E eu descobri que perdi, sem me dar conta nem sentir falta, a capacidade de imaginar tão longe e de uma maneira tão incomensurável que o pedido é, no fim, certo e plausível, racional e lógico, como desejar uma estrela.
Ou um unicórnio.
* Voltaire
Estávamos já na cama, olhando a noite pela porta da varanda, as três encolhidas debaixo do edredon. E eu inventei de perguntar às meninas o que elas gostariam de ter se pudessem desejar qualquer coisa.
"Uma estrela", disse Catatau.
"Um unicórnio", respondeu Zé Colméia. "E você, mamãe, o que queria ter?"
E eu, ainda rindo das respostas, comecei a pensar. E a alegria morreu ali. "Uma boneca de louça, como a da história que eu contei".
Eu não desejo uma boneca de louça. Elas podem ser compradas a R$ 25 no Centro do Rio. Eu não consegui pensar em nada que se comparasse ao pedido das meninas. Tudo o que eu imaginei - dinheiro para pagar todas as contas, casa própria, poupança para o futuro delas, alguém para dividir a vida - tudo me pareceu tão pequeno, tão... medíocre!
E eu descobri que perdi, sem me dar conta nem sentir falta, a capacidade de imaginar tão longe e de uma maneira tão incomensurável que o pedido é, no fim, certo e plausível, racional e lógico, como desejar uma estrela.
Ou um unicórnio.
* Voltaire
Tesourinha
Estou muito copy & paste, né?
Falta de tempo para pensar. Lendo muito (estou comendo um sanduíche na minha mesa enquanto termino o "Amor, poesia, sabedoria"), trabalhando feito uma condenada. Mas vício é vício :o)
Falta de tempo para pensar. Lendo muito (estou comendo um sanduíche na minha mesa enquanto termino o "Amor, poesia, sabedoria"), trabalhando feito uma condenada. Mas vício é vício :o)
...
Que falta isso me faz
Ser Homo implica ser não somente sapiens mas igualmente demens: em manifestar uma afetividade extrema, compulsiva, com paixões, cóleras, gritos, mudanças brutais de humor; em carregar consigo uma fonte permanente de delírio; em crer na virtude de sacrifícios sanguinolentos, e dar corpo, existência e poder a mitos e deuses de sua imaginação. Há no ser humano um foco permanente de Ubris, a desmesura dos gregos. [...]
A boca não se limita somente ao que se come, absorve, dá (lamber, salivar). É também a via de passagem da respiração, que corresponde a uma concepção antropológica da alma. O beijo na boca, que o Ocidente popularizou e globalizou, concentra e concretiza o singular encontro de todos os poderes biológicos, eróticos e mitológicos da boca. De um lado, ele é um analogon da união física e, de outro, representa a fusão de duas respirações, que é também uma fusão de almas.
A boca é algo verdadeiramente extraordinário, algo aberto para o mitológico e o fisiológico. Esquecemos que esta boca fala, e o que há de muito belo é que as palavras de amor são seguidas de silêncios de amor.
Edgar Morin, "Amor, poesia, sabedoria"
Bertrand Brasil, 1998
A boca não se limita somente ao que se come, absorve, dá (lamber, salivar). É também a via de passagem da respiração, que corresponde a uma concepção antropológica da alma. O beijo na boca, que o Ocidente popularizou e globalizou, concentra e concretiza o singular encontro de todos os poderes biológicos, eróticos e mitológicos da boca. De um lado, ele é um analogon da união física e, de outro, representa a fusão de duas respirações, que é também uma fusão de almas.
A boca é algo verdadeiramente extraordinário, algo aberto para o mitológico e o fisiológico. Esquecemos que esta boca fala, e o que há de muito belo é que as palavras de amor são seguidas de silêncios de amor.
Edgar Morin, "Amor, poesia, sabedoria"
Bertrand Brasil, 1998
Fé é álbum de figurinhas
[...] Álbum é destinado para incompletude, disciplinar o esforço, respeitar os vazios. Se eu adquirisse todas as figurinhas, seria igual a tantos que concluíram o livro como uma tarefa. Se carecesse de uma ou de duas, o álbum torna-se particular, pessoal. Não concluir o livro é amor. Poucos terão as mesmas figurinhas faltando. Pode soar absurdo, entretanto, o álbum de figurinhas me ensina sobre a relação a dois. Não se deve completar tudo, preencher tudo.
Há lacunas que nos alimentam. Há páginas que ficarão em branco, cromos que não serão colados, lembranças que não terão ilustração. A incapacidade de chegar ao fim é o que mais me comove, porque se reserva um espaço para companhia. Igual medida encontro no casamento. Não é a paixão. Não é a amizade. Não é a afinidade. Não é a convivência. Não é a sorte. Não são os filhos. Não são as conveniências. Nada disso determina a harmonia de um casal. Qualquer uma dessas causas não impedirá a separação. O que exerce a diferença e sustenta a permanência é a fé.
Duas pessoas que se apaixonam uma pela fé da outra é amor. Duas fés juntas, nem Deus impede, nem o diabo separa, nem o azar dificulta. Fé é espessura. A fé que começa em um álbum de figurinhas e não termina com ele, a fé que começa com as mãos dadas no cinema e se transforma em nó de balanço, a fé que começa ao arrumar uma gravata do marido ou ao limpar a boca da mulher no almoço, a fé que começa sem importância, em uma miudeza que só quem tem fé repara. A fé, que não se importa com provas e acusações, que não mudará o que acredita por indícios e suspeitas, que perdoa antes de acontecer, que reconhece antes de ver, que compreende antes de ler. A fé que não é roupa para se achar no armário, muito menos memória para consolar. A fé.
Fabrício Carpinejar
Há lacunas que nos alimentam. Há páginas que ficarão em branco, cromos que não serão colados, lembranças que não terão ilustração. A incapacidade de chegar ao fim é o que mais me comove, porque se reserva um espaço para companhia. Igual medida encontro no casamento. Não é a paixão. Não é a amizade. Não é a afinidade. Não é a convivência. Não é a sorte. Não são os filhos. Não são as conveniências. Nada disso determina a harmonia de um casal. Qualquer uma dessas causas não impedirá a separação. O que exerce a diferença e sustenta a permanência é a fé.
Duas pessoas que se apaixonam uma pela fé da outra é amor. Duas fés juntas, nem Deus impede, nem o diabo separa, nem o azar dificulta. Fé é espessura. A fé que começa em um álbum de figurinhas e não termina com ele, a fé que começa com as mãos dadas no cinema e se transforma em nó de balanço, a fé que começa ao arrumar uma gravata do marido ou ao limpar a boca da mulher no almoço, a fé que começa sem importância, em uma miudeza que só quem tem fé repara. A fé, que não se importa com provas e acusações, que não mudará o que acredita por indícios e suspeitas, que perdoa antes de acontecer, que reconhece antes de ver, que compreende antes de ler. A fé que não é roupa para se achar no armário, muito menos memória para consolar. A fé.
Fabrício Carpinejar
Corrente literária
Ela pede, eu obedeço:
Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
"Lolita", de Nabokov.
Já alguma vez ficaste apanhadinho(a) por um personagem de ficção?
Não, nunca.
Qual foi o último livro que compraste?
"A idade viril", de Michel Leiris (Cosac & Naify)
Que livros estás a ler?
"A idade viril" (Michel Leiris), "Amor, poesia, sabedoria" (Edgar Morin) e "Trapo" (Cristóvão Tezza).
Que cinco livros levarias para uma ilha deserta?
Julio Cortázar, Ítalo Calvino, Fabrício Carpinejar, Cristóvão Tezza - qualquer livro desses autores. E mais "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago.
A quem vais passar este testemunho?
Ela, você, esta aqui e mais essa recente delicadeza.
Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
"Lolita", de Nabokov.
Já alguma vez ficaste apanhadinho(a) por um personagem de ficção?
Não, nunca.
Qual foi o último livro que compraste?
"A idade viril", de Michel Leiris (Cosac & Naify)
Que livros estás a ler?
"A idade viril" (Michel Leiris), "Amor, poesia, sabedoria" (Edgar Morin) e "Trapo" (Cristóvão Tezza).
Que cinco livros levarias para uma ilha deserta?
Julio Cortázar, Ítalo Calvino, Fabrício Carpinejar, Cristóvão Tezza - qualquer livro desses autores. E mais "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago.
A quem vais passar este testemunho?
Ela, você, esta aqui e mais essa recente delicadeza.
Uma semana
Como trabalho numa das empresas participantes, recebi hoje a programação completa da Bienal. E já vi que vou me despedir das meninas, botar um colchonete debaixo do braço e só volto dia 22.
As palestras são maravilhosas, escritores amigos vêm de todo país (a começar por Cristóvão Tezza), o material que preparei está maravilhoso.
Deus, como amo trabalhar em Bienal. É como dar à luz :o)
As palestras são maravilhosas, escritores amigos vêm de todo país (a começar por Cristóvão Tezza), o material que preparei está maravilhoso.
Deus, como amo trabalhar em Bienal. É como dar à luz :o)
quinta-feira, maio 05, 2005
O último dia da Terra
Atrás da minha mesa a janela (enorme) tem um parapeito. Atrás da janela da Camila, minha assistente, tem outra janela enorme - com parapeito.
Ali, botamos os livros que não têm lugar nas duas outras estantes da nossa sala. Ali, bate um sol maravilhoso todos os dias.
As formigas são aquelas grandonas, vermelhas, que parecem prontas para devorar o mundo (e passeavam aleatoriamente pelos terminais, papéis, telefone - uma ali, outra acolá, hoje, dois dias depois).
Pois é. Dois ninhos. Ovos pra todo lado. Livros, idem. Papéis, idem. Meu telefone tocou e eu não sabia onde ele estava. As latas de lixo estão cheias de livros entupidos de inseticida.
Estou esperando a manutenção chegar - depois do almoço, quem sabe lá pelas 16h? Pode ser?
Pode não, moço. Ainda tem mais três parapeitos a inspecionar.
Ali, botamos os livros que não têm lugar nas duas outras estantes da nossa sala. Ali, bate um sol maravilhoso todos os dias.
As formigas são aquelas grandonas, vermelhas, que parecem prontas para devorar o mundo (e passeavam aleatoriamente pelos terminais, papéis, telefone - uma ali, outra acolá, hoje, dois dias depois).
Pois é. Dois ninhos. Ovos pra todo lado. Livros, idem. Papéis, idem. Meu telefone tocou e eu não sabia onde ele estava. As latas de lixo estão cheias de livros entupidos de inseticida.
Estou esperando a manutenção chegar - depois do almoço, quem sabe lá pelas 16h? Pode ser?
Pode não, moço. Ainda tem mais três parapeitos a inspecionar.
quarta-feira, maio 04, 2005
A cena muda (aliás, um ótimo brechó:o)
Sempre gostei do cinema em seus primórdios. A época de Douglas Fairbanks, Louise Brooks, Pola Negri. Rodolfo Valentino! Até 1940, quando parece que todo mundo deu o pulo do gato (vide "... E o vento levou", de 1939), o cinema era literalmente o Olimpo - eles lá em cima, os mortais muito cá embaixo.
Gosto muito de "Intolerância", "O nascimento de uma nação" (gosto, aliás, de D. W. Griffith), "Napoleão", de Abel Gance, e outros do tipo. Os gestos teatrais dos homens (obviamente, a maior parte vinda dos palcos, onde os gestos são enormes). As mulheres com a boca minusculamente pintada, o chapéu escondendo o cabelo a la garçonne, a cintura muito baixa, os sapatos de salto grosso, forrados. E as pérolas. As pérolas!
Nas fotografias e nos filmes da época - como sempre - tudo é perfeito. Até demais.
Educação no trânsito
Indo buscar as meninas na escola, no meio do caminho ficamos presos num engarrafamento monstruoso. Todo mundo impaciente, hora pra chegar no colégio, meu chefe com compromisso marcado. De repente, veio vindo aquela voz lá longe, num auto-falante: "Por gentileza, abram caminho. A senhora aí na frente pode dar passagem? Por favor, senhor, encoste mais à direita."
Era uma ambulância. De giroscópio e sirene ligados - o que, pelo visto, não está adiantando mais.
Era uma ambulância. De giroscópio e sirene ligados - o que, pelo visto, não está adiantando mais.
Incomodada ficou a mãe do lado
A professora disse que ela treinou o desenho por semanas, com a ajuda de duas monitoras. Ficou nervosa, pediu para fazer de novo, discutiu que cor a flor teria.
Hoje, no meio de desenhos indefinidos e jardins tortos, meu presente de Dia das Mães que a Zé Colméia fez (uma toalhinha para enrolar o cabelo depois do banho) gritava no meio dos pacotes de celofane transparente. As outras mães vieram ver, perguntaram "De quem foi a idéia?", e ela gritava "Minha! Minha!"
Ganhei uma toalhinha com uma Hello Kitty. Pintada pela Zé Colméia.
Amei :o)
Hoje, no meio de desenhos indefinidos e jardins tortos, meu presente de Dia das Mães que a Zé Colméia fez (uma toalhinha para enrolar o cabelo depois do banho) gritava no meio dos pacotes de celofane transparente. As outras mães vieram ver, perguntaram "De quem foi a idéia?", e ela gritava "Minha! Minha!"
Ganhei uma toalhinha com uma Hello Kitty. Pintada pela Zé Colméia.
Amei :o)
terça-feira, maio 03, 2005
Enterrando a infância
Da Folha de S. Paulo:
Morreu sábado, aos 94 anos, a escritora Lúcia Machado de Almeida. A autora de O Escaravelho do Diabo estava internada havia uma semana no hospital Santa Inês, em Indaiatuba (102 km de São Paulo), em razão de uma infecção pulmonar. Natural de Nova Granja, no interior de Minas Gerais, a autora, que completaria 95 anos nesta quarta-feira, notabilizou-se pelos livros da coleção Vaga-Lume (Ática), voltados ao público infanto-juvenil, que fizeram muito sucesso nos anos 80. Entre os principais títulos escritos por ela, estão Xisto no Espaço, O Caso da Borboleta Atíria, Spharion e O Asteróide, além de O Escaravelho do Diabo.
Morreu sábado, aos 94 anos, a escritora Lúcia Machado de Almeida. A autora de O Escaravelho do Diabo estava internada havia uma semana no hospital Santa Inês, em Indaiatuba (102 km de São Paulo), em razão de uma infecção pulmonar. Natural de Nova Granja, no interior de Minas Gerais, a autora, que completaria 95 anos nesta quarta-feira, notabilizou-se pelos livros da coleção Vaga-Lume (Ática), voltados ao público infanto-juvenil, que fizeram muito sucesso nos anos 80. Entre os principais títulos escritos por ela, estão Xisto no Espaço, O Caso da Borboleta Atíria, Spharion e O Asteróide, além de O Escaravelho do Diabo.
Brincadeira de criança
Existem adultos que ainda levam em si a criança que foram um dia - ou não. Porque existem adultos que exercem com os outros a crueldade que não manifestaram na infância. A vontade de quebrar, de destruir, de aniquilar mesmo quando o brinquedo não está mais ao seu alcance - ou quem lhe tem afeição não percebeu o mal que está por vir. A vontade de brincar, de maneira cruel, com tudo e com todos.
A solução? O conselho que dou às minhas filhas: afastem-se. Essa criança terminará por ficar completa e absolutamente só - se é que já não está.
Ou, quem sabe, a brincadeira seja exatamente essa, ser cruel consigo mesma: essa pode ser, afinal, a sua máxima diversão.
segunda-feira, maio 02, 2005
Mami
Amanhã é a comemoração dos Dia das Mães na sala na Catatau. Na quarta, é a vez da Zé Colméia. Fiz rocambole de doce de leite para levar (é um café da manhã coletivo) e prometi bolo de chocolate com cobertura para quarta-feira.
E não adianta comprar pronto: Zé Colméia já avisou que vai ajudar a fazer. Na boa? É abrir a boca para prometer essas coisas para eu me arrepender um micronésimo de segundo depois. E o pior é que eu nunca aprendo: todo ano faço a mesma besteira.
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