A noite de sexta-feira é especial para nós três. No dia seguinte não tem escola, não tem trabalho, não tem hora para acordar. Então nós lanchamos com calma, tomamos banho juntas, ficamos na rede da varanda falando bobagem, contando como foi a semana, sobre os aniversários que estão chegando.
Estávamos já na cama, olhando a noite pela porta da varanda, as três encolhidas debaixo do edredon. E eu inventei de perguntar às meninas o que elas gostariam de ter se pudessem desejar qualquer coisa.
"Uma estrela", disse Catatau.
"Um unicórnio", respondeu Zé Colméia. "E você, mamãe, o que queria ter?"
E eu, ainda rindo das respostas, comecei a pensar. E a alegria morreu ali. "Uma boneca de louça, como a da história que eu contei".
Eu não desejo uma boneca de louça. Elas podem ser compradas a R$ 25 no Centro do Rio. Eu não consegui pensar em nada que se comparasse ao pedido das meninas. Tudo o que eu imaginei - dinheiro para pagar todas as contas, casa própria, poupança para o futuro delas, alguém para dividir a vida - tudo me pareceu tão pequeno, tão... medíocre!
E eu descobri que perdi, sem me dar conta nem sentir falta, a capacidade de imaginar tão longe e de uma maneira tão incomensurável que o pedido é, no fim, certo e plausível, racional e lógico, como desejar uma estrela.
Ou um unicórnio.
* Voltaire
sexta-feira, maio 06, 2005
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