domingo, agosto 28, 2011
Day 19: Favorite nonfiction book
De como os expedicionários equiparam Fafner* com os mantimentos essenciais para uma empresa de tal envergadura, mais sua enumeração detalhada, que generosamente transmitem a outros autonautas que possam tentar cruzeiros desta natureza.
Decidido à dar à expedição o caráter mais científico possível, o Lobo foi consultar eminentes livros de viagem a fim de aquipar Fafner* com as provisões adequadas. O diário do capitão Cook - cujo sobrenome era em si só uma promessa -proporcionou-lhe as interessantes informações que se seguem:
"Já notei a constante preocupação do Almirantado em nos facilitar todas as provisões que a experiência ou os conselhos autorizados nos levavam a considerar como favoráveis à saúde dos marinheiros; não vou abusar do tempo de meu leitor repetindo a relação completa, limitando-me às mais úteis."
"Forneceram-me uma provisão de malte, com o qual preparamos o mosto doce [...] O chucrute, de que tínhamos grande quantidade, não só de legume saudável como, em minha opinião, possui as qualidades antiescorbúticas notáveis, e não se deteriora com o tempo [...] Os tabletes portáteis de sopa..."
- Um momento - disse Carol. - Se vamos ter que viver mais de um mês engolindo essas porcarias, prefiro ficar em casa.
- Mas acontece que o capitão Cook...
- Antes que você termine a frase inutilmente, proponho que vá comigo ao supermercado da esquina, que não deve ser o Almirantado mas, em compensação, está cheio de coisas tão gostosas quanto antiescorbúticas. [...]
Os autonautas da cosmopista (ou Uma viagem atemporal Paris-Marselha)
Julio Cortázar e Carol Dunlop - Tradução de Josely Baptista
Editora Brasiliense, 1991
* Sobre Fafner, diz Cortázar: "[...] Porque o Dragão , está na hora de apresentá-lo, é uma espécie de casa rolante ou caracol que minhas obstinadas predileções wagnerianas me levaram a batizar com o nome de Fafner, [nossa] Kombi vermelha.[...] Essa história de dragão vem de uma antiga necessidade: quase nunca aceitei o nome-rótulo das coisas e penso que isso se reflete em meus livros. Não vejo motivo para tolerar invariavelmente o que nos vem de antes e de fora, e então fui colocando, nas pessoas que amei e que amo, nomes que nasciam de um encontro, de um contato entre chaves secretas, e aí mulheres foram flores, foram pássaros [...] mas voltando ao Dragão, direi que há dois anos eu o vi subindo a rue Cambronne, em Paris, vinha novinho em folha e quando me enfrentou vi sua grande cara vermelha, os olhos baixos e acesos, um ar entre atrevido e aventureiro, foi um simples click mental e já era o dragão e não um dragão qualquer, mas Fafner, o guardião do tesouro dos Nibelungos, que segundo a lenda e Wagner teria sido tonto e perverso, mas que sempre me inspirou uma secreta simpatia, talvez pelo simples fato de estar condenado a morrer nas mãos de Siegfried, e essas coisas eu não perdôo aos heróis, como trinta anos atrás não perdoei Teseu por ter matado o Minotauro. [...]
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Um comentário:
Menina, tua lista de livros é irretocável, quero ler tudo.
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