quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Avante, Sr. Sulu*

O designer inglês Tony Alleyne é um "trekkie" corajoso. Este fã do seriado "Jornada nas Estrelas" resolveu bancar do próprio bolso a metamorfose de seu apartamento em Leicester, Inglaterra, numa cópia fiel do interior da espaçonave "Enterprise". Tudo começou quando a mulher de Alleyne pediu o chapéu e abandonou o barco: foi a senha para ele estourar o limite de 100 mil libras em QUATORZE cartões de crédito para realizar o seu grande sonho.
Paredes pré-moldadas, painéis com controle sensíveis ao toque, um console central, a cópia fiel do teletransportador (incluindo feixes de luz verticais e o escambau), está tudo lá. Quando viu o buraco negro financeiro em que havia se metido, Tony colocou o apartamento à venda no eBay por 2 milhões de dólares mas não conseguiu nenhum "trekkie" endinheirado para comprá-lo. Ele tem um consolo: com as milhas acumuladas nos cartões de crédito, certamente poderá tirar uma passagem nos vôos espacias que serão realizados pela Virgin Galactic em breve.

Do blog Feira Moderna, do Beto Largman

* Eu JURO que jamais faria isso. Só se tivesse muita grana pra gastar :o)

Queima III, a fronteira final

Mandei para as pessoas que me pediram a lista com os livros. Felicia e Monica: meus e-mails para vocês duas estão voltando :o(
Obrigada por tudo, a todos, e que vocês tenham um bom carnaval. Vou vir pouco por aqui até meados de março: meu computador entregou sua alminha ao criador e só terei os R$ 300 para o conserto, com alguma sorte, só depois do dia 15.

sábado, fevereiro 18, 2006

Mudez da pele

Bia estava aprendendo a escrever. Gostava de deitar no tapete da sala, com o estojo gigante de lápis de cera (que a tia Geralda, que trouxe o presente dos Estados Unidos, gostava de chamar de "creiôns") e muito papel. Passava horas desenhando cada letra, uma a uma de cores diferentes. Ficava tão dentro daquilo que só depois de muitos dias foi que percebeu que, quando abria a caixa dos lápis, vó Maria começava a fazer uns barulhinhos muito estranhos. Vó Maria, que ficava sempre na mesma posição que mamãe a botava, sentada na maior poltrona da sala, "para ela ficar confortável, tadinha", mamãe dizia.
Na verdade, ninguém prestava mais atenção à vovó, desde que ela tinha tido aquele desmaio esquisito, dentro da garagem (mamãe disse que foi um "derrame", mas nem eu nem a Bia entendemos o que se derramou dentro da vovó). Um dia, a Bia resolveu perguntar o que a vovó queria, mas ela não disse nada que desse para entender. Falava baixinho, mastigado, um barulhinho que parecia nascer bem grande na barriga mas chegava na boca já cansado da subida.
Quando a Bia se inclinou para ouvir, vovó agarrou com força o lápis que ela estava segurando. E não quis soltar. Bia então botou embaixo do lápis o seu bloco. Com esforço, vovó fez umas coisas esquisitas, que pareciam letras com cara de desenho: + O C Μ | П.
Bia ficou com aquele papel por muito tempo. Mostrou à mamãe, a mim, ao papai, à Gerusa (uma besteira, já que a Gerusa lia pior do que eu), e ninguém sabia o que era aquilo.
E vovó continuava a fazer aqueles barulhinhos cada vez que Bia aparecia de manhã com seus lápis e seu bloco. E Bia continuou a estudar o alfabeto. Um dia, peguei-a sentada no colo da vovó falando sobre o primeiro livro que tinha lido. Mamãe ainda brigou com ela – "Vai machucar sua avó!" – mas Bia respondeu: "Vou nada, ela é que quer!". Todo mundo riu (menos a vovó, claro, que ela não podia mais rir, nem falar nem nada) e Bia continuou a sentar na poltrona grande da sala. Brincava com os dedos da vovó, alisava o seu pescoço, e ainda arriscava enfiar as duas mãos pelo seu cabelo fofo (que a Gerusa penteava todo dia, branquinho que era, e enrolava num coque que despencava perto da hora do almoço).
Vovó morreu uns três anos depois. Nunca voltou a falar, andar ou se mexer. Mamãe dava comida a ela, brigava quando ela cuspia os remédios e chorava que não queria mais "cuidar dessa planta" (quando disse isso, papai fechou a cara e mandou a gente sair da cozinha).
Quando Bia estava arrumando o quarto da vovó, que agora ia ser o dela, achei o papel onde vó Maria tinha rabiscado.
– Olha só aquelas coisas estranhas que a vovó escreveu! Agora a gente nunca mais vai saber o que é, né?
– Eu sei. E não contei para ninguém porque ninguém queria, mesmo, saber.
– O que a vovó queria?
E Bia me disse a frase que fez meu coração parecer uma bola de chumbo, como aquelas que os presos levam naqueles filmes velhos que vovó gostava tanto de ver:
– "Toque em mim".

...

Hoje de tarde, sentei com as meninas e conversei com elas. Quase uma hora. Amanhã, fecho minha casa e vou morar no apartamento da minha mãe. Tirando meus aparelhos de ginástica, ele está vazio. Eu vou dormir no chão, e as meninas vão ficar nos colchonetes que elas usavam na escola. Elas encararam numa boa, e me surpreendi que, em vez de reclamarem por não terem televisão lá, se angustiaram com o destino dos cachorros.
Quando me separei há dois anos, uma das coisas que meu ex-marido disse é que eu nunca seria nada sem ele, que eu não conseguiria sobreviver. Ele tinha razão. Não consegui. Briguei durante dois anos da melhor maneira que pude, senti-me orgulhosa a maioria das vezes. Mas agora eu tenho menos de vinte reais na carteira, uma despensa vazia e meu nome a caminho do SPC. Tentei manter as contas em dia, mas as próximas vencem na segunda-feira e eu não terei como pagar. Nem agora nem tão cedo.
As meninas estão me ajudando. Cada uma escolheu alguns brinquedos para levar e uma boneca, cada uma. Depois da escola, virei aqui alimentar os cachorros e lavar o terraço e o pátio deles.
Não sei como vou levar o computador, porque vou tentar ir de ônibus com as bolsas e a mala delas. Assim, talvez eu fique um tempo sem vir aqui, a não ser para mandar a lista dos livros.
A todos os que me mandaram palavras de incentivo, carinho, o meu muito obrigado. Mesmo.

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Bom, querida, se o Boteco BG, na Gávea, tem bife à cebolado, no Lamas, no Flamengo, eles servem fígado com elas. Quem são elas? Elas, ora bolas :o)

Porvir

minhas 7 quedas

minha primeira queda
não abriu o pára-quedas

daí passei feito uma pedra
pra minha segunda queda

da segunda à terceira queda
foi um pulo que é uma seda

nisso uma quinta queda
pega a quarta e arremeda

na sexta continuei caindo
agora com licença
mais um abismo vem vindo

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meus amigos
quando me dão a mão
sempre deixam
alguma coisa

presença
olhar
lembrança calor

meus amigos
quando me dão
deixam na minha
a sua mão

Fred Góes e Álvaro Marins (org), "Paulo Leminski"
Coleção Melhores Poemas, Global Editora, 1995

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Queima II, a missão

Algumas pessoas estão inserindo, nos comentários, endereços de e-mail para eu enviar a lista dos livros. Não vou subir esses comentários para não divulgar os e-mails, certo? Espero na terça-feira já ter a lista com os preços.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Queima

Sábado, vou começar a fazer um levantamento dos meus livros para começar a vendê-los. Quem estiver interessado em receber a lista com os preços (pelo menos 50% do preço de livraria) pode me mandar um email (o endereço está ali no meu perfil) ou deixar nos comentários. Quem não for do Rio vou ter que combinar como enviar.

O outro lado do reverso da meia-medalha

Ler Sidney Sheldon é uma descoberta. O homem literalmente mudou a minha vida. Achei que isso já tinha acontecido quando fui obrigada a ler Paulo Coelho (sim, a gente pode ser OBRIGADA a isso), mas me enganei. Sidney Sheldon é um gênio. Só isso explicaria como livros com histórias tão sem pé nem cabeça e ridículas podem fazer o homem um multimiliardário.
Tem de tudo:

* Presidente americano que vai ver a amante numa cabana fora de Washington - e ninguém descobre, porque ele vai com UM agente de segurança. O homem mais poderoso do planeta sai para trepar no meio da noite com um agente de segurança. Leia de novo: um agente de segurança. O chefe de gabinete faz isso sem NENHUM agente de segurança. A Casa Branca é The Mother Joan's House: todo mundo entra e sai a hora que quiser.
* Empresária gostosa-maravilhosa (que não tinha um tostão furado no começo da história) compra cadeias de televisão, rádios e jornais nos Estados Unidos para se vingar do homem que a deixou no altar - e que por acaso virou o presidente americano. Ela vira a Magnata da Imprensa - em dois anos.
* Mocinha de 19 anos sem ter onde cair morta (serve refeições numa pensão de mineiros) convence um empresário e um banqueiro a emprestarem US$ 6 milhões (seis milhões de dólares - e ela não é Steve Austin, o Homem Biônico);
* Mocinha gostosinha que vai (injustamente) para a cadeia acaba ganhando o perdão do governador porque salvou de afogamento a filha do diretor da penitenciária perdida no meio do nada, num estado tipo Wyoming (seu ato heróico é capa da People, da Time, do NYTimes e Washington Post. Por favor, vá beber água para não se engasgar de rir). Adendo: ela acha que é inocente, mesmo tendo metido um balaço num mafioso. Ela é acusada TAMBÉM de roubar um quadro, coisa que ela não fez. Mas enfiou um balaço, sim, no homem.

E por aí vai. A lista de sandices é complementada por uma obcecada fixação que Sidney Sheldon tem pelo Brasil. A empresária que anda solenemente para a lei de controle de imprensa nos EUA (no fim do livro ela tem mais veículos de comunicação que Murdoch e Ted Turner juntos) compra jornais, TVs e rádios em outros países, incluindo o Brasil; um político abandona a família para se encontrar com o amante... no Brasil. Um advogado da máfia que entrega os chefões ao FBI quer nova identidade, mas não precisa de mais nada: vai para sua fazenda... no Brasil. A mocinha trapaceira diz que o suposto marido não foi ao baile porque está tomando conta de suas propriedades... no Brasil. No final, ela foge com outro trambiqueiro - para o Brasil.
Tem uma que é o ó: essa mesma mocinha, querendo se vingar de um bandidão, arma para cima do sujeito para ele ficar sujo com o capo de tutti capi: faz com que pensem que ele está fugindo, com dinheiro desviado, para o Brasil. A prova: chega um telegrama para ele, confirmando sua reserva da suíte presidencial do Rio Othon Palace, Praia de Copacabana, Rio de Janeiro.
E vem assinado pelo gerente: J. Montalband!
Tem nome mais tropical-Zé Carioca do que esse?
Estou adorando. Recomendo.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Encruzilhada

O nível de dificuldade financeira sofre um upgrade quando, somando todo o dinheiro que você tem, descobre que é o suficiente apenas para a condução das meninas de casa para a escola e vice-versa OU para comprar um mínimo de comida para a última semana do mês.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Toma lá, dá cá

No apartamento dos meus pais, há anos montei uma miniacademia para mim. Quando era solteira, fazia esteira de manhã cedo e supino quando voltava da redação.
Agora, em vez de ficar olhando o teto, todos os dias eu faço uma hora de esteira, meia hora de abdominal e 40 minutos de musculação. E ainda me sobra tempo de ler a coleção de Sidney Sheldon da minha mãe.
Vou ser a desempregada mais gostosa do pedaço.

Com licença poética

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Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
– dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado, "Bagagem"
Editora Record, 2003

domingo, fevereiro 12, 2006

...

Não sei o porquê, mas hoje simplesmente meu corpo acordou, e estou com dificuldade até em respirar direito. Minha vontade, na falta de opção, é de dormir encolhida embaixo do chuveiro frio.

A casa dos meus sonhos

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Eu costumo sonhar com a minha avó materna, que teve uma presença mais marcante na minha infância do que a minha avó paterna.
Minha avó tinha uma casa em Teresópolis. E o engraçado é que, mesmo pequena, eu me lembro de cada detalhe daquela casa. Ela ainda existe, mas foi completamente desfigurada - chegaram a fazer um segundo andar nela.
Me lembro dos quartos, dos banheiros, do jardim de pedras, que era moda naquela época. Do imenso pinheiro, cortado alguns meses antes de a casa ser vendida, e que enfeitava-se de gotas de cristal quando chovia. Do canteiro de copos de leite e do de hortênsias. Me lembro das janelas de madeira, onde eu me sentava até o dia amanhecer quando tinha minhas crises de asma.
O jardim de inverno, com seu piso de mármore, vetado às crianças e somente aberto para as visitas. A cozinha enorme, a geladeira antiga, os bibelôs de louça. O corredor até o fundo, onde uma porta se abria para um quintal imenso, com duas pereiras que nunca davam fruto - com exceção de uma vez, quando enterramos nossa coelha em baixo de uma, e ela deu tanta pera que Teresópolis inteira comeu dela.
As camas tinham mosquiteiros, pregados com tachinhas. No quarto de minha avó ficava sua coleção de Seleções do Reader's Digest, algumas de duas décadas passadas. Na cômoda, um candelabro de arame retorcido que minha mãe havia feito nos tempos de colégio. Me lembro de minha mãe tirando do guarda-roupas desse quarto os cobertores, lencóis e travesseiros e botando-os nas janelas para pegar sol e perder o cheiro de guardado.
Nas férias, minha mãe e minha avó faziam pé-de-moleque. Me lembro que uma vez elas esqueceram de untar a pedra mármore de manteiga e o doce grudou de tal maneira que foi preciso um martelo e uma talhadeira para tirá-lo de lá. Me lembro que esperávamos o carro do meu pai (um Karmann Ghia azul-piscina) chegar sexta à noite - ele não tinha férias como minha mãe, que era professora. A TV preto-e-branco, o silêncio que a falta de um telefone (graças!) fazia. A piscina de plástico montada no quintal, o medo dos sapos enormes que viviam entre as hortênsias e entravam em casa à noite.
Sonhava mais com minha avó, agora sonho menos. Mas ela sempre tem o mesmo comportamento: ri como se fosse de uma piada que só ela entendesse. Ri (e ela diz isso) porque enganou todo mundo, que acha que ela morreu. Todos são uns bobos, ela sempre diz.
Era uma casa maravilhosa, onde passei a parte feliz da minha infância. Se tivesse dinheiro e se as plantas daquela casa existissem na Prefeitura de Teresópolis, eu a reconstruiria. Não seria a mesma coisa, eu sei. Não dá para resgatar a infância da gente. Há mais de 20 anos que minha avó não está mais aqui, aquela menina não existe mais. Mas seria uma maneira de criar uma impressão semelhante nas minhas filhas, perpetuando o tanto que minha avó me deu.

sábado, fevereiro 11, 2006

Num sábado qualquer

10 de fevereiro
19h10m: Desaba o temporal. As meninas sentam-se para lanchar. Olho pela janela e vejo o pátio dos fundos e a varanda enchendo: o ralo principal está entupido. Vou lá fora tentar limpá-lo. Em 20 segundos, estou encharcada. Os cachorros, excitados com os trovões, me arranham as pernas. Volto semiviva para a cozinha.

10 de fevereiro
19h20m: Ainda pingando água, enxugando o chão da cozinha, olho lá para fora para ver se o pátio esvaziou: sim, esvaziou, e deixou à mostra um rato morto. Estou só com a roupa de baixo, e é assim que volto lá para fora para recolher o cadáver e desfazer a cena do crime. Ponho the body na pá de lixo. A lixeira, enorme, está cheia de água até a metade. Entorno a água, enquanto os cachorros pulam nas minhas costas para saber o que de interessante tem na pá de lixo. Escorro o corpinho duro num saco, dou um nó e jogo no lixo. Entro na cozinha com as costas cheias de arranhões e nos ouvidos um fiu-fiu do meu vizinho seboso.

10 de fevereiro
20h: Sete goteiras pela casa. Acabaram-se os panos de chão e os baldes. Ainda estou andando de sutiã e calcinha encharcados pela casa. As meninas já estão arrumadas, prontas para dormir. Me enfio debaixo do chuveiro. A luz acaba. Saio do chuveiro mais gelada do que entrei. Ao pendurar a toalha no banheiro, depois de me vestir, a luz volta.

11 de fevereiro
4h10m: Catatau acorda com fome. Levanto-me, dou o mingau a ela. Depois de comer, volta para a cama. Eu também volto, a tempo de ouvir Zé Colméia miar um "estou sem sono. Conversa comigo?" Vemos um pseudo alvorecer juntas, o suficiente para ela voltar a dormir. E Catatau acordar definitivamente.

11 de fevereiro
10h23m: Vou lá fora limpar o pátio e dar comida aos cachorros. Estou fazendo festa nos três quando a labradora vem me oferecer sua novidade mais recente. O tamanho é minúsculo, mas dá para ver o rabinho saindo da boca. Dou um berro, mando ela largar. E ela faz que engole mas não engole. Faço um escândalo de nervosa, ofereço favores sexuais para que ela solte aquilo, o que ela faz alegremente, para lamber minhas pernas. Tranco os cachorros do lado de fora do pátio, recolho o rato e jogo no lixo. Me enfio no tanque e esfrego as pernas com sapólio. Ao sair, ela me dá uma lambida no rosto.

11 de fevereiro
17h45m. Brigo com Catatau, que não me deixa ver Jornada nas Estrelas. Ela se irrita e vai se trancar no banheiro. Literalmente. Com o trinco virado, não tem força para destrancar a porta. Prendo os cachorros, boto uma escada do lado de fora da casa, quebro o vidro da janela e entro no banheiro. Corto um dos pés. As meninas batem palmas e gritam: "Eba, mamãe agora é ladrona!"

E o dia ainda não acabou, senhoras e senhores.

À sombra da paineira rosa

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um bom poema
leva anos cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto.

Paulo Leminski

Sangue em P&B não impressiona

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Estava eu navegando pelo "No Mínimo" quando vi esta nota:

A foto do abutre e da criança sudanesa

Ao comentar a nota sobre o "World Press Photo", o leitor Jorji Akagi descreveu uma foto que lhe impressionou há alguns anos. A imagem [...] foi feita por Kevin Carter no sul do Sudão em 1993 e ganhou o Pulitzer: um abutre espreita uma menina esquálida à beira da morte.

A foto foi comprada e publicada no "New York Times" (foi o primeiro Pulitzer de fotografia ganho pelo jornal). Após a publicação, o diário recebeu inúmeros telefonemas de pessoas querendo saber o que havia acontecido com a menina. O fotógrafo disse ao jornal que havia afugentado o abutre e que ela havia se levantado e alcançado o centro de distribuição de alimentos, que estava próximo (antes e depois de ser questionado pelo NYT, Kevin deu versões contraditórias sobre o fato). De qualquer forma, ele não ajudou a menina. [...]

Não é o fim da história. Fotojornalista de guerra e com problemas com drogas, Kevin tinha uma filha pequena, Megan. Quando tirou a foto do abutre, ele estava acompanhado por outro fotógrafo, que estava próximo, mas não viu a cena. Emocionado ao descrever a cena para o colega, Kevin esfregava os olhos sem parar, repetindo: "Eu vejo tudo isso e só consigo pensar em Megan", disse. "Mal posso esperar para abraçá-la quando chegar em casa".

Deprimido com as críticas a seu comportamento e com a morte de um amigo, Kevin se matou dois meses depois de ganhar o Pulitzer. Na sua nota de despedida estava escrito: "Eu sou assombrado pelas memórias vívidas de mortes e cadáveres e raiva e dor... de crianças esfomeadas ou feridas, de malucos que gostam de puxar o gatilho, muitas vezes policiais (...) A dor da vida anula a alegria a um ponto em que a alegria deixa de existir".

A trajetória profissional de Kevin Carter (fotografado por Guy Adams enquanto registrava conflitos entre o CNA e o Inkatha no distrito negro de Alexandra, em Joanesburgo, África do Sul), que acabaria marcando-o ao ponto de levá-lo ao suicídio, está em "O Clube do Bangue-Bangue", da Companhia das Letras. O livro foi escrito pelos fotógrafos Greg Marinovich e João Silva, que cobriam para agências internacionais a guerra civil que se desenrolava na África do Sul.
Além desses três citados (Kevin, Greg e João) ainda fazia parte do Clube Ken Oosterbrook, morto durante um conflito em 18 de abril de 1994. João Silva não parou de registrar a morte do amigo (nem ele nem outros fotógrafos que estavam por perto), enquanto um moribundo Ken era amparado por um oficial da Força Nacional de Manutenção da Paz e pelo também fotógrafo Gary Bernard. Greg Marinovich foi igualmente ferido durante esse tiroteio, e também foi devidamente fotografado (tendo a morte de Oosterbrook como fundo para as imagens em que o mostram sangrando).
Um livro que eu demorei muito para conseguir terminar de ler.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

E fez-se a luz

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Ela só disse isso: "Não saia daí!". Era uma ordem, dita sem paciência. De uns tempos para cá, minha mãe só conseguia falar comigo assim, aos arrancos, como se cada palavra gasta comigo fosse um desperdício sem paga. E eu então me sentei no banco da estação e ali fiquei. Não sei porque, mas percebi que ela não ia voltar. Minha mãe não ia voltar para me buscar. De manhã, quando saímos de casa, peguei minha caixa de cartas ao acaso, mesmo com ela gritando "Deixe isso aí!". Mas me agarrei à minha caixinha e levei-a comigo. Ainda bem. Mas não quero pensar muito nisso, porque senão vou me lembrar que deixei Anabel deitada em minha cama e que não haverá ninguém para cobri-la à noite, quando a porcelana do seu rosto ficar gelada. Ela terá que se virar sem mim.
Vou me distraindo com os sons à minha volta. Os ônibus chegam e se vão, as pessoas passam apressadas. E no meio do barulho que todo mundo deixa para trás quando a pressa é a maior urgência, simplesmente fez-se silêncio quando comecei a me lembrar do momento em que minha mãe deixou de me amar. Aprender a andar, com cuidado para não cair da escada, não tropeçar nos móveis. Banhar-me, trocar de roupa, usar o banheiro. A contínua falta de paciência com minhas perguntas ("Onde está o meu casaco?", "Pra que lado fica a casa da Susi?") foram descascando e depois corroendo o sentimento de proteção que toda mãe deveria ter pelos filhos.
Meu pai foi-se, da mesma maneira com que entrou na minha vida: uma voz mansa, calma, repleta de dor e de complacência. Ele não podia. Simplesmente não podia. O que, nem ele mesmo sabia.
Um dia, o silêncio era tão grande em casa que a única coisa que se podia ouvir eram os soluços de angústia de minha mãe. Eu sei que ela estava, sentada na mesa da cozinha, a me encarar, amaldiçoando o dia em que nasci. E aquilo, estranhamente, não doeu. Apenas me senti velha e muito pequena, desprotegida, procurando naquela escuridão algo quente e acolhedor que me desse esperança.
A noite veio e foi embora e, pela manhã, minha mãe mandou que eu me vestisse e a acompanhasse. Andamos muito tempo, sob um sol sufocante, eu correndo como podia atrás dela, agarrada à minha caixinha de cartas. Cartas de minha avó, de um irmão que nunca vi, de uma professora que fez por mim o que pôde. "Não saia daí!", disse minha mãe. E eu fiquei ali, sentada, como se nada melhor tivesse a fazer.
As horas se passaram, o movimento diminuiu. Alguém tocou no meu braço. Levantei-me e fui, deixando para trás minha caixa de cartas e minha bengala. Pois a escuridão, que antes batia às portas dos meus olhos, havia entrado. E eu nada havia feito para impedir.

Memorando



Eu me lembro de uns versos:
"Quando os teus olhos fecharem
Para o esplendor desse mundo
Hei de ficar de joelhos:
Quando os teus olhos fecharem
Hão de murchar as espigas
Hão de cegar os espelhos".

Geraldo Mayrink e Fernando Moreira Salles, "Memorando"
Companhia das Letras, 1993

Até cansar

Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho. Trovão é só barulho.
Ai...

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

...

E às vezes a gente precisa abrir as janelas e as portas, jogar o entulho fora, deixar de se lastimar e continuar tentando.
Uma vez algum me disse que, num primeiro momento, a tristeza do outro nos comove. Depois, enche o saco. Pois então. Nem eu estou me agüentando, o que dirá os outros. O que doer a gente empurra para o lado e continua andando. Ou acaba atropelada.

Água que leva tudo

Hoje à tarde, dei um trato no cabelo. Refiz a cor, dei um senhor banho de creme, fiz uma super hidratação. Esfoliei o corpo inteirinho com açúcar e óleo de amêndoa, caminhei, dormi de tarde.
Deu um bocado de trabalho, mas consegui empurrar o rinoceronte para a água - sempre pensando no que ela e ele me disseram.
Ajudou muito. Mesmo.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

E la nave va

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Terça, quarta, quinta. Um, dois, três dias. Amanhã de noite vou ter jogar o rinoceronte da minha autopiedade no meio do oceano para deixar o barco correr.

Reticências

Sabe, eu gosto de você. Bastante. Mas às vezes eu me pego profundamente decepcionada com a sua frieza.
Quer saber? Deixa pra lá.

domingo, fevereiro 05, 2006

...

Último dia de férias das meninas. Achei que esse dia nunca chegaria.

Adendo

As meninas acrescentaram mais um item a essa lista: a qualquer coisa que eu digo, elas respondem com um pomposo

"Como você quiser, oh minha bela Katrina!"

Agora me diz, onde elas arranjaram isso?

sábado, fevereiro 04, 2006

...

Acho que, se alguma coisa acontecesse, pegaria minhas filhas e correria. Sem olhar para trás. Talvez me preocupasse em soltar meus cachorros, mas o desapego que estou sentindo pelas coisas e pelas pessoas, com exceção das meninas, está crescendo dentro de mim de uma maneira assustadora.
Quinta-feira, dia 9, completam-se dois meses de desemprego. O tempo passou depressa, o dinheiro foi-se com a mesma velocidade.
Acho que o camundongo morreu embaixo do armário, depois de fazer uns barulhinhos estranhos - ele comeu ontem à noite metade de uma caixa de Racumin. Eu vou desligar o computador, apagar as luzes e tentar dormir, entre Catatau e Zé Colméia. E, antes de fechar os olhos, vou pedir uma nova chance para mim, para o meu coração e para o meu futuro.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Admirável*

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Ele começou a repreendê-la, porque sua falta de jeito poderia ser mal-interpretada por esses alemães, e os olhos dela recomeçaram a intumescer mas, graças a Deus, num escuro desse ninguém ia perceber, e depois foram para casa juntos, sem falar um com o outro, como se fossem estranhos – e em casa eles voltaram a trocar insultos durante o chá, embora já não houvesse mais o que dizer, depois ela lhe perguntou algo sobre a viagem que ele tencionava fazer a Homburg, e ele de novo começou a ralhar com ela, que também gritou qualquer coisa em revide e foi para o quarto, enquanto ele se trancou em seu gabinete, mas mais tarde foi lhe dar boa-noite – ele vinha todas as noites despedir-se dela, principalmente depois das brigas e desavenças – ele a despertava ternamente e a acariciava, beijava-a, porque ela era dele e dependia dele fazê-la infeliz ou feliz [...] – ele a abraçava, beijava-lhe os seios e eles começavam a nadar – nadavam a grandes braçadas, estendendo simultaneamente os braços na água e simultaneamente enchendo os pulmões de ar, afastando-se cada vez mais da margem, em direção à saliência azul do mar, mas quase todas as vezes ele caía numa contracorrente que o arrastava para o lado e até um pouco para trás – ele não conseguia alcançá-la, mas ainda assim ela continuava a estender os braços na mesma cadência, chegando a perder-se ao longe, e ele tinha a impressão de que já não nadava, mas apenas debatia-se na água tentando alcançar o fundo com os pés, e essa correnteza o arrastava para o lado e o impedia de nadar junto com ela [...].

Leonid Tsípkin, "Verão em Baden-Baden"
Companhia das Letras, 2003

* Isso porque o autor era médico. Susan Sontag, que assina a apresentação (chamada "Amar Dostoiévski", já que o livro trata justamente do verão em que esse escritor russo morou em Baden-Baden), escreve: "Cerca de dez anos atrás, ao vasculhar uma arca de livros de bolso de segunda mão e de aspecto imundo, diante de uma livraria na Charing Cross Road, em Londres, deparei exatamente com um desses livros [segundo ela, no mesmo texto, "obras-primas a serem descobertas"], "Verão em Baden-Baden", que eu contaria entre as realizações mais belas, arrebatadoras e originais de um século de ficção e de paraficção."
Leonid Tsípkin - importante pesquisador russo, autor de uma centena de trabalhos publicados em revistas científicas na União Soviética eno exterior - não viveu o suficiente para ver nada de sua obra literária editada. O manuscrito foi contrabandeado para os Estados Unidos e apareceu pela primeira vez num semanário dirigido a imigrantes russos. O médico morreu, no dia do seu 56º aniversário, sete dias depois que o primeiro capítulo fora publicado nos EUA.

Os sonhos mais lindos

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Muitas das tarefas e obrigações que tenho com as meninas são um porre de fazer. Mas uma das maneiras que eu tenho de não me chatear e curtir essas horas é pensar que nunca mais, depois de elas crescerem, terei a oportunidade de fazer o que faço. Refiro-me à rotina de volta às aulas: encapar cadernos, escolher mochilas, comprar material escolar.
Comprar a lista que a escola pede é, sim, um saco. Filas intermináveis e itens a decifrar. Mas o maior prazer é tentar dar uma cara ao material que elas vão usar.
Por exemplo: este ano, Zé Colméia vai usar quatro cadernos - dois pequenos e um grande, de desenho; um pautado, para escrita. Encapados. Achei um Contact das Princesas, todo em rosa e branco. As etiquetas são da Barbie Magia de Alados. Tirei as espirais dos cadernos, virei ao contrário, encapei tudo e levei hoje para furar as capas novamente.
A mochila das meninas eu mando fazer, porque como são 70 degraus a subir aqui em casa, sou eu quem carrego. Mochila de rodinhas para elas não adianta; além do mais, são dois lances de escadas a subir na escola, e elas levam três mudas de roupas, um par de sapatos e mais material de higiene. Para não dar escoliose em nenhuma delas, as mochilas são, na verdade, grandes sacolas de lona, para eu levar.
A da Catatau é azul, amarelo e vermelho - as cores da Branca de Neve, cuja figura está bordada ao lado do nome dela. A da Zé Colméia é a da sua princesa favorita: rosa e branco, com a figura da Bela Adormecida. O nome das duas foi bordado em letras rebuscadas, como merecem ser os nomes de princesas :o)
Borrachas da Barbie. Aventais das Meninas Superpoderosas. Xampu, condicionador e escovas de dentes da Hello Kitty. Muita gente pode achar que é consumismo. Pode ser. Mas elas não pedem, eu é que compro. Eu não tive isso na minha infância. Cedo parei de acreditar em príncipes e cavalos brancos, e fico imensamente feliz em ver que, para as minhas meninas, o castelo ainda está ao alcance dos sonhos de ambas. Quanto mais eu puder fazer isso durar, antes que as calças abaixo da cintura, os palavrões e o esmalte verde entrem na vida delas, melhor.

Abominável*

Quando se é um vagabundo em férias (leia-se eu), começa-se a inventar qualquer coisa para se ocupar. Todo dia eu tiro algumas horas para telefonar para um monte de gente e mandar meu currículo. As outras eu dedico a ler.
Estava saindo da casa da minha mãe quando peguei ao acaso um livro largado por lá. Eu tenho o grave defeito de quase nunca conseguir largar um livro no meio (até hoje, que eu me lembre, só fiz isso uma vez). Então, fui obrigada a ir quase ao fim de "Esaú", de autoria cometida por Phillip Kerr, com a cumplicidade da Editora Record.
Rapaz, o livro tem 428 páginas. Se ele tirasse descrições inteiras dos equipamentos que o grupo protagonista do livro usa, o livro não fecharia com 80 páginas.
Em "Esaú", você aprende que:

"[Armas Palmer] são rifles de longo alcance acionados por dióxido de carbono comprimido, com eficácia para 32 metros. [...] Rifles Zuluarms, de maior alcance, [...] utilizam uma combinação de munição de rifle 0.22 e de revólver 28, acionados por espoletas de percussão, com precisão de até 75 metros. O rifle Zuluarms dispara uma seringa Cap-Chur especial, com corpo de alumínio. [...]"

E por aí vai. O enredo? Um grupo vai para o Himalaia capturar o Abominável Homem das Neves. Ah, não vou contar se eles conseguem ou não. Não vou sofrer sozinha.

* Não resisti ao trocadilho :o)

...

Nós somos egoístas, mesmo sem a intenção de ser. Porque nem sempre é algo sobre mim. Pode ser sobre você, não é?

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Leitura da madrugada



O rei jacaré

- Ei, jacaré, quantos dentes você tem?
- 144, por isso sou rei.
- Você nunca morde a língua?
- Só conversando em javanês.
- Você fala javanês, seu rei?
- Não, porque mordo a língua.
- E alemão?
- Só falo “crocodilo”.
- Como todos aqui no Nilo...
- E quatro palavras em inglês.
- Quatro palavras?
- God save the king... É para impor respeito.
- Com tantos dentes, para que quatro palavras?
- Diplomacia. É a melhor arma da aristocracia.

A bananeira e o comprador de bananas

- Bom-dia, Bananeira, quanto custam suas bananas?
- Que bananas?
- Como “que bananas”?
- Agora dou maçãs.
- Banana-maçã?
- Não, só maçã.
- Mas como, foi mutação genética?
- Mutação de mercado.
- Ah, o mercado...
- A banana anda em baixa.
- E a maçã em alta.
- Exatamente.
- Mas eu quero banana!
- Agora sou Macieira...
- E se eu quiser banana?
- Fale com a Jabuticabeira.

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O telefone

Triiim... triiim... triiim...

- Au?
- Alô? É você, Rex?
- Au! Au!
- Ambrósio está?
- Au.
- Vá chamá-lo, por favor.
- Au...
- Alô, Ambrósio?
- Miau.
- Ambrósio, não esqueça de tomar o seu remédio.
- Miau.
- Então um beijo, até já.

Bip, bip, bip, bip...

O coelho e o gato curioso

- Olá, Coelho.
- Bom-dia, Gato.
- Você se chama Botelho?
- Botelho? Não...
- Achei que todo coelho se chamava Botelho.
- Sou Naftalina, coelho branco.
- E sua prima amarela?
- Amaralina.
- E sua prima vermelha?
- Hemoglobina.
- E a sua prima azul?
- Gasolina.
- E sua prima verde?
- Clorofila.
- E sua prima cor de laranja?
- Laranja-Lima.
- E sua prima roxa?
- Márcia Jones.
- Márcia Jones?
- É, ela é roqueira.

Gilles Eduar, "Diálogos interessantíssimos"
Companhia das Letrinhas, 2003

...

Quisera eu saber o porquê. Só isso.

Guarda-chuva

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Quando chove, sempre experimento duas sensações. Uma, a de que parece que eu jamais sentira antes aquele cheiro de terra molhada: ele sempre traz a estranheza do novo, do fresco, do não-usado.
A outra é uma certeza que aquela será a última vez na vida em que sentirei aquele cheiro. E então eu começo a suspirar, e a tentar reter em mim o máximo de lembrança daquele aroma e do sabor de coisa limpa e ressurgida.

Paso doble

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Gostaria muito de voltar a dançar flamenco. Tenho ouvido minhas fitas antigas, e descobri que ainda danço bem uma sevilhana. Tirei meus vestidos do armário, encerei minhas castanholas, escovei meus sapatos.
Saudades de um tempo, das pessoas que partilharam daqueles oito anos em que subia no palco me sentindo a mais bela e poderosa das mulheres.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

...

Não é bem tristeza, é mais...
Decepção.