sábado, fevereiro 11, 2006
Sangue em P&B não impressiona
Estava eu navegando pelo "No Mínimo" quando vi esta nota:
A foto do abutre e da criança sudanesa
Ao comentar a nota sobre o "World Press Photo", o leitor Jorji Akagi descreveu uma foto que lhe impressionou há alguns anos. A imagem [...] foi feita por Kevin Carter no sul do Sudão em 1993 e ganhou o Pulitzer: um abutre espreita uma menina esquálida à beira da morte.
A foto foi comprada e publicada no "New York Times" (foi o primeiro Pulitzer de fotografia ganho pelo jornal). Após a publicação, o diário recebeu inúmeros telefonemas de pessoas querendo saber o que havia acontecido com a menina. O fotógrafo disse ao jornal que havia afugentado o abutre e que ela havia se levantado e alcançado o centro de distribuição de alimentos, que estava próximo (antes e depois de ser questionado pelo NYT, Kevin deu versões contraditórias sobre o fato). De qualquer forma, ele não ajudou a menina. [...]
Não é o fim da história. Fotojornalista de guerra e com problemas com drogas, Kevin tinha uma filha pequena, Megan. Quando tirou a foto do abutre, ele estava acompanhado por outro fotógrafo, que estava próximo, mas não viu a cena. Emocionado ao descrever a cena para o colega, Kevin esfregava os olhos sem parar, repetindo: "Eu vejo tudo isso e só consigo pensar em Megan", disse. "Mal posso esperar para abraçá-la quando chegar em casa".
Deprimido com as críticas a seu comportamento e com a morte de um amigo, Kevin se matou dois meses depois de ganhar o Pulitzer. Na sua nota de despedida estava escrito: "Eu sou assombrado pelas memórias vívidas de mortes e cadáveres e raiva e dor... de crianças esfomeadas ou feridas, de malucos que gostam de puxar o gatilho, muitas vezes policiais (...) A dor da vida anula a alegria a um ponto em que a alegria deixa de existir".
A trajetória profissional de Kevin Carter (fotografado por Guy Adams enquanto registrava conflitos entre o CNA e o Inkatha no distrito negro de Alexandra, em Joanesburgo, África do Sul), que acabaria marcando-o ao ponto de levá-lo ao suicídio, está em "O Clube do Bangue-Bangue", da Companhia das Letras. O livro foi escrito pelos fotógrafos Greg Marinovich e João Silva, que cobriam para agências internacionais a guerra civil que se desenrolava na África do Sul.
Além desses três citados (Kevin, Greg e João) ainda fazia parte do Clube Ken Oosterbrook, morto durante um conflito em 18 de abril de 1994. João Silva não parou de registrar a morte do amigo (nem ele nem outros fotógrafos que estavam por perto), enquanto um moribundo Ken era amparado por um oficial da Força Nacional de Manutenção da Paz e pelo também fotógrafo Gary Bernard. Greg Marinovich foi igualmente ferido durante esse tiroteio, e também foi devidamente fotografado (tendo a morte de Oosterbrook como fundo para as imagens em que o mostram sangrando).
Um livro que eu demorei muito para conseguir terminar de ler.
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Um comentário:
Eu li este livro e me impressionou demais. Até hoje as imagens sugeridas pelos fotógrafos ainda rondam meus pesadelos em noites de kuito calor...
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