sexta-feira, setembro 30, 2005

Africae

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[Suzana], querida;

[...] Entre gnus e rinocerontes, sobrevivo só pensando que, em algum lugar deste planeta, não chove. Aqui há verdadeiras torrentes que inundam tudo. Só para depois descer um calor insuportável e subir um nevoeiro que, pelo menos, espanta os mosquitos.
Tudo bem? Cintia e Roberto vieram ao acampamento há duas semanas. Hoje estou na casa do administrador do parque, e quase não acreditei quando encontrei minha caixa postal com a capacidade quase estourada. Digo isso para te pedir um favor: liga para a minha mãe. Como é aquela história? "Quando Deus se deu conta que realmente não poderia estar em todos os lugares, inventou a mãe judia". É isso. Ela está à morte, achando que vou ser comido por um leão.
Por falar nisso, assim que cheguei aqui tive a oportunidade de tratar de um. Ou melhor, não consegui fazer nada: o bicho estava tão mal que só pudemos sacrificá-lo. É duro ver o quanto se é impotente no meio dessa terra. Aliás, esqueci de dizer. Se parar de chover ao menos três dias, no fim aparecem aquelas florzinhas redondas (tá muito gay essa conversa ;-) e o vento sopra e a impressão que se tem é de que está nevando. [...]
Saudades, moça. Se Deus quiser estou aí em dezembro.
Do teu Daktari de araque, beijoca nas três meninas
Felipe

Já me disseram

Eu estou no emprego errado.
Tô sabendo.

Adieu, mes enfants

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Se eles não empregarem mais ninguém, se as contas continuarem a migrar para o escritório de São Paulo, enfim, se tudo der errado, em fins de novembro eu vou pra .

quinta-feira, setembro 29, 2005

Mais uma que amarelou

Mudei eu ou mudou ele, sei lá.
Mas o bolinho Ana Maria nunca mais teve o sabor que eu amei na minha infância. Hoje tem gosto de bolo industrial, meio azedo, meio amargo.
Me lembro que, quando lançaram o Ana Maria no mercado, meses depois fizeram uma promoção: quem encontrasse um cupom dentro do bolo ganhava não-me-lembro-mais-o-quê. Só sei que era um prêmio valioso, tipo viagem a Paris. Andando de mão dada com minha mãe, me lembro de ver dezenas de bolinhos abertos, esmigalhados, literalmente estripados. As pessoas destroçavam os bolinhos, muito macios, à procura do tal cupom. E então eu guardei na memória uma das máximas do meu pai, horrorizado com aquela literal destruição de comida:
"A educação de um povo se revela no supermercado".

Eu confesso que...

... fiquei viciada. É a novela mais interessante e palpitante que já li. Me lembra Suzana Flag :o)

quarta-feira, setembro 28, 2005

E antes que eu me esqueça

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Para duas doidas que jamais me esquecem, e que sempre me fazem sorrir.
Obrigada por ambas existirem :o)

Grey's Anatomy, again

E por falar em médicos:

"Quer subir na vida? Consulte um urologista"

Esse era o texto de um outdoor instalado na Lapa, ao lado da ACM, em comemoração ao dia do urologista. Eu...err... não entendi.
Alguém me explica?
Um urologista, talvez?

...

Manhã muito chuvosa, fria. Sentadas as três no táxi, Catatau entretida descabelando sua boneca num penteado interminável. Virei-me e vi Zé Colméia olhando pela janela. Mãozinha apoiando a cabeça. "O que você está pensando, filha?" "Nada, mamãe".
Mas os olhos dela vieram cheios de uma melancolia profunda, uma tristeza doída. E eu abracei minha pequena e senti aquele corpinho magro, e só pensei o quanto daquela tristeza fui eu, no fim das contas, que ajudei a cimentar no seu coraçãozinho.

Grey's Anatomy

A partir das 8h, foram quatro consultas médicas diferentes: oftalmologista, dermatologista, alergista, otorrino. Até às 10h, quando corri de volta para deixar as meninas na escola (Zé Colméia tinha um aniversário, nas palavras dela, "importantíssimo"). Mal cheguei ao escritório, meu celular toca: "A senhora pode confirmar a consulta de [...] para as 16h30m?" "Que consulta?" "A consulta que seu marido marcou para ela. Confirma?"
Ódio. Ódio, ódio, óóóóóódio. O "marido" (MUNDO!!!!!!! EU ESTOU SEPARADA HÁ DOIS ANOS!!!!!!!!) marcou a consulta e se pirulitou para Teresópolis.
"Sim, pode confirmar". E lá fui eu inventar desculpa para o quinto médico: odontopediatra. Catatau tinha que tirar molde para fazer uma plaquinha que ajuda a criança a largar o hábito de chupar o dedo. Eu disse "tinha" porque ela não tirou: quase vomitou duas vezes, com aquela gosma quase na garganta. Nem Cristo descendo numa nuvem faria aquela criatura tirar as mãozinhas da boca. A salvação eterna não valia a pena, se o preço era enfiar aquela geleca verde de novo na boca.

Sua moda veste mulheres grandes?*

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Moda e gordura não combinam. Cheguei a fazer até 46, mas estou parando, porque o que vendo mais é 38 e 40. É uma opção de trabalho - quem faz moda não pode fazer roupa para mulheres gordas. São mercados diferentes. Se a Maria Bonita começasse a fazer roupas grandes, sei que haveria fila na porta, mas não é essa a minha intenção.

Candida Sarmento, da Maria Bonita

* Pesquisa realizada pela Revista Marie Claire para a edição de outubro de 1998. Atente-se ao detalhe que a pergunta era "Sua moda veste mulheres GRANDES?", e não "mulheres GORDAS".

domingo, setembro 25, 2005

O que eu ainda não vi

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O monte Saint-Michel é um ilhote rochoso na embocadura do Couesnon, no departamento da Mancha, na França, onde foi construído um santuário em homenagem ao arcanjo São Miguel. Seu antigo nome é "monte Saint-Michel em perigo do mar" (Mons Sancti Michaeli in periculo mari)
A arquitetura prodigiosa do monte Saint-Michel e sua baía constituem o ponto turístico mais freqüentado da Normandia e um dos primeiros da França, com cerca de 3,2 milhões de visitantes por ano. Uma estátua de São Miguel erguida no topo da igreja abacial culmina a 170 metros de altura.
A Abadia foi construída a partir do século X num areal à beira mar, local da segunda maré mais alta do mundo (o desnível chega a 15 metros). Duas vezes ao dia, a maré sobe a uma grande velocidade, e transforma a cidadela numa ilha. Na maré baixa, a distância entre o monte e a beira-mar chega a atingir 18 quilômetros, fazendo desse areal uma paisagem surreal mas também perigosa, devido à presença de areias movediças.
Dia a lenda que, em 708, Auberto, bispo da cidade de Avranches, teve um sonho em que o arcanjo Miguel punha o pé sobre a grande pedra e ordenava a construção de uma igreja no local. Obediente, Auberto ergueu um oratório. Depois vieram a abadia e um claustro. Uma grande igreja começou a ser construída em 1023. O ano de 1154 marcou o início de um período de esplendor em Saint-Michel. O abade Robert de Torigni, homem de vasta cultura, fez da abadia a "cidade dos livros" ao construir uma biblioteca, que se tornou uma das mais importantes da França.

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Em quase 1300 anos, a abadia do Monte Saint-Michel testemunhou e participou da história da França. Cercado por muralhas, o edifício transformou-se em fortaleza durante a guerra dos Cem Anos (1337-1453) contra os ingleses. Viveu seus piores dias após a Revolução Francesa (1789), quando foi usada como prisão. A cada incêndio e destruição, a abadia foi sendo reconstruída ainda com mais vigor. O resultado é uma mistura harmoniosa de estilos, que a torna única. Em 1966, um monge beneditino decidiu viver confinado em Saint-Michel, resgatando a missão da abadia como a casa de oração, determinada por São Miguel ao bispo de Avranches.
Diversos prédios e habitações do sítio são, a título individual, classificados como monumentos históricos (a igreja paroquial desde 1909, por exemplo) ou inscritos no inventário suplementar de monumentos históricos.
Classificado monumento histórico em 1987, o sítio figura desde 1979 na lista do Patrimônio Mundial da Unesco.

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Desculpem a noça falha

Tá lá no menu da DirecTV:

"Adam & Eve: um reality sem sensura"

É nessas horas que eu dou graças por minhas filhas ainda não saberem ler.

Libris

Suzana,
como presente de grego, em estrita e absoluta confiança, e para Vc. matar saudades, se tiver um tempinho, e, em segredo, eis "[...]" como será entregue à editora. Pena que meus originais de "[...]" ficaram para publicar em 2006. Mas este romance, a meu ver, tinha que sair na frente.
Bjs.

Ele já lançou três livros, pela maior editora do país - romance e contos. Esse é o seu quarto título. E ele me mandou por e-mail, para que eu o lesse - miolo e orelhas. É nessas horas em que eu vejo:
O quanto sinto falta de trabalhar com livros;
Como fiz bons amigos entre os melhores escritores do país;
Como eles me têm em consideração;
O que eu daria para não ter que pensar em dinheiro quando me levanto todos os dias para ir trabalhar.

Devaneios

Os minutos antes de eu pegar no sono são aqueles em que as maiores besteiras, as melhores idéias, o óbvio e o não tão evidente aparecem. Pois eu estava distraída sentindo as mãozinhas da Zé Colméia do meu braço quando me toquei que nada, absolutamente nada mudou na vida do meu ex-marido: ele voltou a ter sua vida de solteiro, morando com a mãe no mesmo quarto, fazendo os mesmos programas, viajando com a namorada. Até a parcela do que ele gasta com pensão alimentícia com as filhas (nossas e a do primeiro casamento) é a mesma, porque ele teve dois aumentos.
Eu? Eu vivo como uma viúva. Aquela que não tem mais aquele com quem dividir as despesas, que é pai e mãe ao mesmo tempo e se desdobra em muitas para dar conta de tudo.
A vantagem? Muito pouca coisa nessa vida, hoje, é capaz de me quebrar. E eu me orgulho de, apesar das crises, do choro, do cansaço, de tudo o que me dobra às vezes, eu sempre me levanto no dia seguinte.

Você inventa o amor, eu invento a solidão*

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É fácil encantar com conversas baratas no meio do bar. Tomar cerveja, inclinar os peitos, fazer cara de malvada, simular trejeitos, soltar a fumaça do cigarro com uma simples pressão dos lábios, cruzar as pernas direitinho, dar risadas debochadas, levantar e ir embora como um sonho bom.

Difícil mesmo é ser amada por quem bem te conhece. Quem acorda de manhã e agüenta o mau humor, a espinha gigantesca na testa e a insegurança das manhãs de domingo. Parece impossível amar quem a gente não queria, chora-se por tentar encaixar a realidade numa ilusão de outrora. Lidar com a realidade foge do padrão onírico dos contos de fada. Porque amor não dá as respostas certas na hora que a gente quer. É o único momento na vida em que o corpo quer rumar para um lugar incerto enquanto a alma precisa de chá, bolachas e cafuné no sofá.

*Post do blog Garrafas ao Mar, da Lígia, com quem ainda não tive o prazer de disputar, numa mesa de bar, quem inclina os peitos melhor :o)

sábado, setembro 24, 2005

Pequeno Príncipe

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Deitada na cama do hotel. Uma lua fantástica, o vento nos coqueirais (não deu pra resistir :o), um céu estreladíssimo, tudo de bom. Andei, virei, fiquei um tempão na varanda, e o sono, nada. Aí liguei a televisão.
RAI, concurso de miss Itália. A candidata de número 23 exibe-se com uma fita - sabe?, aqueles movimentos de ginástica rítmica. Zé Colméia faz igual (pra não dizer melhor). Ela, coitada, não teve chance quando a candidata 58 mostrou seu talento com o arco & flecha. Acertou na mosca na segunda tentativa - tudo bem que quando ela soltava a flecha a bunda dela dava um tremelique e os juízes iam ao céus.
Imagine se isso interferiu no julgamento deles. Não mesmo.

Voltei

Cheguei da Bahia na segunda, mas o trabalho acumulado era inenarrável. A pilha já estava três andares acima. As meninas, depois de duas semanas em casa, doentes, trouxeram cada uma outra pilha de circulares, deveres (sim, Zé Colméia tem dever de casa), pedidos, esclarecimentos, informes & advertências.
Só voltei a ser gente ontem de manhã - quando levei as duas meninas ao dermatologista e decobri que a consulta é quarta-feira.
Ou seja, tudo voltou ao normal. É bom estar de volta :o)

sexta-feira, setembro 16, 2005

Primeira noite

Acabei de jantar com um marroquino e com um francês. As mesas postas num imenso coqueiral, a lua cheia batendo no mar, logo ali. As outras duas mulheres da mesa suspiravam de prazer. E eu, de saudades.

quinta-feira, setembro 15, 2005

Últimas notícias

Depois de duas semanas doente, Zé Colméia se recuperou. A febre cedeu, a alergia foi embora, o nariz secou. Já dá para dormir deitada, sem roncar nem vomitar no meio da noite.
Eu? Estou um bagaço. Amanhã viajo para Salvador e só volto domingo.
As meninas ficam com o pai. Seja do que Deus quiser.
Até a volta.

domingo, setembro 11, 2005

Lutetia*

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Conheci a cidade de Paris em 1995 - ou seja, já se vão dez anos. Muita coisa estava em obras de restauração: Notre Dame, o Louvre. Mas Paris sempre me encantou não por ser Paris, não por ser chique. Um dos meus sonhos não realizados era fazer uma pós-graduação em História medieval, e a França é um dos poucos (se não for o único) países com uma história linear, onde se pode traçar uma reta dos dias de hoje até Carlos Magno. O reino franco, suas tradições, alianças. Seus santos (Luís, rei da França, foi feito santo; dele descende Felipe, o Belo, que inicia a saga Os Reis Malditos, de Maurice Druon), a sua construção, suas catedrais, seu envolvimento nas Cruzadas, seu poder de eleger papas (ou tirá-los do poder). A catedral de Reims (na cidade de mesmo nome) onde os reis era coroados; Cluny, a abadia mais poderosa que já se ouviu falar; os inúmeros castelos, fortalezas, universidades, claustros. A História do Homem pode ser resumida na França. O maior medievalista era francês, George Duby.

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Em Paris, o Louvre, em seu subsolo, teve suas paredes evisceradas, e pode-se ver como ele foi, antes de toda a perfumaria e maquiagem por que passou, uma fortaleza rude e construída em 1190 para deter as invasões vikings. Os prédios do século XVIII de pedras acinzentadas - uma cor indefinida, que lembra prata antiga - e que foram retiradas do chão da própria Paris. Escadarias, igrejas, monumentos. O conjunto de pontes. Notre Dame com sua rosácea tão característica da época em que foi construída, suas gárgulas (uma delas, de chapéu, é considerada, em tom de piada, como a padroeira das sogras :o), seus santos no portal (um deles, São João Batista, aparece degolado). Os túmulos pelo chão, alguns com inscrições tão gastas que a única coisa que se pode divisar é a cruz no escudo, o que mostra que ele foi um cruzado.
Eu gostaria de morar, sim, em Paris. Se pudesse ter uma casa na Itália, então, estaria realizada. Túmulo de Adriano, Coliseu, as termas, os templos. As praças, os palácios, o Vaticano. Mas isso é para outra vida, assunto para outro post.

* O primeiro nome de Paris. Os primeiros habitantes das imediações do Rio Sena chegaram à região cerca de 4.500 aC. Em 300 aC, a tribo celta dos Parisii se instalou em uma área conhecida por Lutécia. Em 55 aC, quando os romanos conquistaram a Gália (França), fortificaram a região e estenderam a aldeia até a margem esquerda do Sena. O nome Paris foi dado pelos francos, quando estes chegaram a região, fazendo da aldeia a capital do seu reino.

sábado, setembro 10, 2005

Origem

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Era o século dos estrangeiros, morenos, amarelos e brancos. Era o século do grande experimento imigrante. Só assim tarde do dia, ao entrar num playground, a gente topa com Isaac Leung ao lado do tanque de peixes, Danny Rahman no gol do futebol, Quang O’Rourke jogando basquete e Irie Jones cantarolando uma canção. Crianças com o nome e o sobrenome num conflito direto. Nomes que ocultam em si um êxodo em massa, navios e aviões apinhados, desembarques mal recebidos, exames médicos. Só assim tarde do dia, [...] a gente encontra as melhores amigas, Sita e Sharon, constantemente confundidas uma com a outra, porque Sita é branca (a mãe gostou do nome) e Sharon é paquistanesa (a mãe achou que era o melhor nome – menos problema). No entanto, apesar de toda a confusão, [...] ainda é difícil aceitar que não haja alguém mais indiano do que o inglês. Ainda há jovens brancos que se irritam com isso, que sairão às ruas mal iluminadas, na hora em que os bares fecham, com uma faca de cozinha disfarçada na mão cerrada.
Mas provoca risos no imigrante ouvir os temores do nacionalista, com medo de infecção, penetração, mestiçagem, quando isso não é nada, quando isso é mixaria, comparado ao que o imigrante teme – dissolução, desaparecimento. Mesmo a imperturbável Alsana Iqbal normalmente aordava numa poça de suor depois de uma noite em que era assediada por visões de Millat (geneticamente, BB, em que B representa bengali-dade), casando com uma moça chamada Sarah (aa, em que "a" representa ariana), resultando num filho chamado Michael (Ba), que, por sua vez, casa com uma moça chamada Lucy (aa), deixando Alsana com um legado de bisnetos irreconhecíveis (Aaaaaaa!), a bengali-dade da família totalmente diluída, o genótipo oculto pelo fenótipo.
[...] Mas com Irie e Clara a questão era, na maioria das vezes, tácita, pois Clara sabia que não se encontrava numa posição de pregar. Mesmo assim, não procurava disfarçar a decepção ou a dolorosa tristeza. Do santuário de ídolos hollywoodianos de olhos verdes no quarto de Irie até o bando de amigos brancos que com freqüência nele entravam e saíam, Clara via um oceano de peles róseas cercando a filha e receava a maré que a levaria embora.

Zadie Smith, "Dentes brancos"
Companhia das Letras, 2003

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Luz

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As meninas estão doentes desde o feriado. Minha chefe tira, a partir de segunda, dez dias de férias. Eu viajo para Salvador a trabalho na próxima sexta - e por isso vou perder a feira de artes das meninas (elas trabalharam quase dois meses, com afinco, preparando os trabalhinhos que serão expostos somente no sábado dia 17).
Faz três noites que eu não durmo direito - sentada na cama, revezando no meu colo quem está tossindo mais. Então, o que eu mais gostaria nessas noites de muito cansaço é sentir a mão de alguém nas minhas costas para me dar certeza que existe alguém mais respirando, além de mim, na escuridão.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Gestalt

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Quando uma mulher olha uma vitrine, você sabe exatamente o que ela vai fazer, somente observando como ela age.
Se automaticamente começa a correr os dedos pelos cabelos, ela não vai entrar na loja nem comprar nada. Ela não tem dinheiro para gastar com roupas daquela grife. Ela deseja, mas não pode comprar. Pode ser até que entre e peça para experimentar, mas vai estar pensando: "Que doideira, meu Deus, como eu vou pagar depois?"
Se ela olha, simplesmente, ela está pensando se combina com a roupa, se vale a pena comprá-la. O preço não é o primeiro item da lista - provavelmente ela compra roupas em lojas do mesmo padrão. Se ela entrar para experimentar a roupa, ela só não leva se não cair bem ou se ela decidir que não tem nada que combine - mas não por causa do preço.
Eu já fiz isso uma vez: fiquei numa esquininha do shopping, em frente a M. Officer, olhando as mulheres que paravam em frente à vitrine. Se começava a passar a mão no cabelo, podia contar que ela não ia entrar - e não entrava mesmo. As que olhavam a vitrine somente podiam ir embora - mas muitas entravam, conversavam com a vendedora, olhavam as araras.
Linguagem corporal - não dá para mentir quando você a usa.

segunda-feira, setembro 05, 2005

Sutilezas do fim

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Um dos sinais de que alguma coisa ficou pelo caminho: andando na frente, parado ao lado para atravessar a rua ou tentando vencer uma multidão, nenhum dos dois tem aquele movimento involuntário (que as mães têm com os filhos, aquele instinto de proteção, de cuidado) de estender a mão ao outro para que ambos entrelacem os dedos.
Dar-se as mãos deixa de ser instintivo. E aí o que se perdeu não se recupera jamais.

domingo, setembro 04, 2005

As tiranias da intimidade

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Cada pessoa, mergulhada em si mesma, comporta-se como se fora estranha ao destino de todas as demais. Seus filhos e seus amigos constituem para ela a totalidade da espécie humana. Em suas transações com seus concidadãos, pode misturar-se a eles, sem no entanto vê-los; toca-os, mas não os sente; existe apenas em si mesma e para si mesma. E se, nestas condições, um certo sentido de família ainda permanecer em sua mente, já não lhe resta sentido de sociedade.

Tocqueville, citado por Richard Sennett em
"O declínio do homem público"
Companhia das Letras, 1989

sábado, setembro 03, 2005

Créditos

Para quem me escreveu perguntando por que eu não dou os créditos das fotos que publico aqui, respondo que dou, sim. É só passar o mouse sobre a imagem que você vai ler, lá embaixo (onde aparece aquela frasezinha "Abrindo página..." enquanto o site carrega), o nome da foto e o do fotógrafo. Se não aparecer o autor é porque ele não estava identificado quando salvei a foto.

Protegida do mundo lá fora

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Um dia, alguém me disse que sentia muito frio na rua por onde estava andando, e que gostaria que eu estivesse ali, nós dois encasacados e abraçados, meu cabelo voando.
Bom, eu não gosto de correntes de ar, mas seria num lugar assim que eu adoraria estar abraçada com alguém, agasalhada e quentinha, olhando do meio dos braços dele a imensidão dessa cúpula. Uma sensação a se guardar pra sempre.

Maratona

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Especial Clube das Winx. Hoje, no Cartoon Network. Das 13h às 18h. Cinco horas só pra mim, enquanto as meninas nem respiram assistindo à sua nova paixão.
Ah, eu sou a Bloom, a de cabelo vermelho. Catatau é a Stella (a loura do meio) e Zé Colméia é a Flora (no desenho aí em cima é a de cabelos castanhos, mas que no desenho tem a cabeleira dourada). Tem ainda a Musa (a de cabelo azul) e a Tecna (de cabelo rosa)
Eu ainda prefiro a Mulan :o)

Prefira cardápios a menus

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Há muitos anos trabalhou comigo um maître, Januário, daqueles bem vividos na profissão, que contava alguns fatos que presenciou ao longo de sua carreira. O menu do restaurante apresentava ovos e omeletes. O rapaz pediu com toda a segurança: "Quero um Omelette toute façon", que figurava para dar ao cliente a liberdade de escolher como e com o quê deveria ser feito o seu omelete. Ele mandou fazer com queijo, presunto, ervas, champignons e cebola. O rapaz adorou e, provavelmente hoje um senhor, deve continuar pedindo e comendo cada vez um omelete diferente.
Houve outro que pediu um Coelho à lapin e que ele dizia ter perguntado se não gostaria de um Pato à canard. E outro, metido a entendedor de vinhos, que contava que o vinho mais antigo experimentado por ele tinha sido um Maison fondée 1827...
[...] Uma vez a maître do Gourmet chegou aflitíssima e disse: "Ele está comendo o papel!". Como, há muitos anos, num bar, um cliente engoliu a nota para não pagar, disse para ela não se preocupar e mandar a segunda via. "Não, ele está comendo o papel do frango em papillotte". Para alguém que não domine o francês, explico: era peito de frango cortado mais fino, com cogumelos refogados em ervas e tudo embrulhado em papel-manteiga, concluído no forno [...] O pacotinho é aberto por quem vai comer [...]. Muito bem, o jovem cortou o papel que tinha ficado meio dourado e até um pouco crocante e começou a comer tudo junto, frango, cogumelos e o próprio papel, pensando que fosse uma massinha qualquer.
Olhei discretamente e vi o casal embevecido e com a cara mais feliz do mundo. A maître perguntou: "E agora, o que eu faço?" Disse para não fazer nada e acrescentei que, se ela fosse explicar que ele estava comendo papel, a namorada ia ficar desapontada e ele, mais ainda.

José Hugo Celidônio, "Histórias e receitas"
Ediouro, 1998

quinta-feira, setembro 01, 2005

...

E por falar em vida, duas vezes esta semana eu fiz uma coisa não muito correta, maternalmente falando, mas muitíssimo prazeirosa, maternalmente falando.
Todo dia, eu acordo cinco e meia. Pela hora, já deu pra ver que tenho tido insônia. Pois dois dias essa semana eu perdi a hora. E quando vi, deixei rolar. Fiquei na cama cheia de preguiça. Catatau acordou (ela sempre acorda primeiro, durante a semana - é a fome, que sempre clama por atenção na minha pequena :o) e ficamos as duas chamegando, conversando, olhando o dia clarear, os pássaros cantarem, esperando Zé Colméia acordar e se juntar a nós. Acabo me levantando quando minha empregada chega, depois das sete. E as meninas, que deveriam chegar na escola às sete e meia, acabaram entrando quase nove da manhã.
Dor na consciência? Um pouquinho. Só um pouquinho.

Vida real e imediata

Nessa última semana, duas coisas que eu presenciei me fizeram pensar que, quase aos 40 anos, eu sou a última flor ignorante da vida.
Almoçando no Mundo Verde, vejo que agora eles vendem fluden, que eu amo.
- Oba, que legal, vocês vendem fluden!
- Fluden? É o nome desse docinho? É muito gostoso, nunca tinha provado. Pensei que fluden fosse o fabricante.
- Não, é o nome. Eu provei a primeira vez em que fui num casamento judeu.
- Judeu?
- Sim, fluden é um doce tradicional judeu.
A mulher ficou olhando para mim com uma cara muito estranha, a boca cheia do doce (ela tinha posto quase tudo de uma vez na boca). Abriu a lata de lixo e, na frente de todo mundo (horrorizado, como eu), cuspiu tudo lá dentro:
- Odeio judeus. Podem morrer todos que não vão fazer falta.

Reunião de semestre com um diretor e um vice-presidente de uma grande empresa, cliente nossa. Um chega, o outro está atrasado.
- Vocês desculpem, ele voltou hoje de madrugada dos Estados Unidos.
O atrasado chega, cheio de olheiras, pede desculpas e, quando estamos entrando na sala de reuniões (são duas portas, uma ao lado da outra: uma para a sala de reuniões, outra ao corredor que leva aos banheiros) pede para a gente ir começando, que ele vai ao banheiro.
Minutos depois, volta sorridente para começar os trabalhos. Minha chefe me cutuca por baixo da mesa, porque eu estou olhando a cara dele fixamente. A outra executiva de conta, que veio de São Paulo para a reunião, tenta disfarçar, mas também não consegue parar de olhar para ele. O dono da agência em que trabalho, então, começa a reunião, mas a gente vê que ele passa um lenço por debaixo da mesa para o executivo.
Que estava com a asa de uma das narinas manchada de pó.

Manter o foco

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Uma das coisas que sempre gostei de fazer foi fotografar. Sempre foi o meu escape, a minha terapia. Fotografei muito as meninas, e modéstia à parte sempre fui feliz no que registrei.
O que sempre me chamou a atenção foi o inusitado, como a foto aí de cima (não, não é minha; que pretensão :o). Faz um tempo venho guardando um microdinheirinho suado para comprar uma máquina nova, porque a que eu usava é do meu ex-marido. Não tenho vontade nenhuma de comprar uma digital; experimentei uma em Angra dos Reis e achei, sei lá, sem charme - não é bem essa a palavra. É a mecânica de ajustar a lente, procurar a luz, calcular abertura do diafragma, escolher o filme pensando na foto que se vai fazer. A digital não tem nada disso.
Minha irmã achou um absurdo eu comprar uma máquina a essa altura do campeonato. Mas, rapaz, é o único prazer que me restou. Quase nunca eu me dou algo (e, quando isso acontece, quase morro de remorso) e, sinceramente, eu acho que estou merecendo.
Nem que seja para manter a minha sanidade - que está quase dobrando a esquina.

Neblina

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Quando as coisas começam a clarear, você vê que tudo estava ali, na sua frente. Você é que não conseguia enxergar.