sábado, setembro 03, 2005
Prefira cardápios a menus
Há muitos anos trabalhou comigo um maître, Januário, daqueles bem vividos na profissão, que contava alguns fatos que presenciou ao longo de sua carreira. O menu do restaurante apresentava ovos e omeletes. O rapaz pediu com toda a segurança: "Quero um Omelette toute façon", que figurava para dar ao cliente a liberdade de escolher como e com o quê deveria ser feito o seu omelete. Ele mandou fazer com queijo, presunto, ervas, champignons e cebola. O rapaz adorou e, provavelmente hoje um senhor, deve continuar pedindo e comendo cada vez um omelete diferente.
Houve outro que pediu um Coelho à lapin e que ele dizia ter perguntado se não gostaria de um Pato à canard. E outro, metido a entendedor de vinhos, que contava que o vinho mais antigo experimentado por ele tinha sido um Maison fondée 1827...
[...] Uma vez a maître do Gourmet chegou aflitíssima e disse: "Ele está comendo o papel!". Como, há muitos anos, num bar, um cliente engoliu a nota para não pagar, disse para ela não se preocupar e mandar a segunda via. "Não, ele está comendo o papel do frango em papillotte". Para alguém que não domine o francês, explico: era peito de frango cortado mais fino, com cogumelos refogados em ervas e tudo embrulhado em papel-manteiga, concluído no forno [...] O pacotinho é aberto por quem vai comer [...]. Muito bem, o jovem cortou o papel que tinha ficado meio dourado e até um pouco crocante e começou a comer tudo junto, frango, cogumelos e o próprio papel, pensando que fosse uma massinha qualquer.
Olhei discretamente e vi o casal embevecido e com a cara mais feliz do mundo. A maître perguntou: "E agora, o que eu faço?" Disse para não fazer nada e acrescentei que, se ela fosse explicar que ele estava comendo papel, a namorada ia ficar desapontada e ele, mais ainda.
José Hugo Celidônio, "Histórias e receitas"
Ediouro, 1998
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