sábado, fevereiro 11, 2006

Num sábado qualquer

10 de fevereiro
19h10m: Desaba o temporal. As meninas sentam-se para lanchar. Olho pela janela e vejo o pátio dos fundos e a varanda enchendo: o ralo principal está entupido. Vou lá fora tentar limpá-lo. Em 20 segundos, estou encharcada. Os cachorros, excitados com os trovões, me arranham as pernas. Volto semiviva para a cozinha.

10 de fevereiro
19h20m: Ainda pingando água, enxugando o chão da cozinha, olho lá para fora para ver se o pátio esvaziou: sim, esvaziou, e deixou à mostra um rato morto. Estou só com a roupa de baixo, e é assim que volto lá para fora para recolher o cadáver e desfazer a cena do crime. Ponho the body na pá de lixo. A lixeira, enorme, está cheia de água até a metade. Entorno a água, enquanto os cachorros pulam nas minhas costas para saber o que de interessante tem na pá de lixo. Escorro o corpinho duro num saco, dou um nó e jogo no lixo. Entro na cozinha com as costas cheias de arranhões e nos ouvidos um fiu-fiu do meu vizinho seboso.

10 de fevereiro
20h: Sete goteiras pela casa. Acabaram-se os panos de chão e os baldes. Ainda estou andando de sutiã e calcinha encharcados pela casa. As meninas já estão arrumadas, prontas para dormir. Me enfio debaixo do chuveiro. A luz acaba. Saio do chuveiro mais gelada do que entrei. Ao pendurar a toalha no banheiro, depois de me vestir, a luz volta.

11 de fevereiro
4h10m: Catatau acorda com fome. Levanto-me, dou o mingau a ela. Depois de comer, volta para a cama. Eu também volto, a tempo de ouvir Zé Colméia miar um "estou sem sono. Conversa comigo?" Vemos um pseudo alvorecer juntas, o suficiente para ela voltar a dormir. E Catatau acordar definitivamente.

11 de fevereiro
10h23m: Vou lá fora limpar o pátio e dar comida aos cachorros. Estou fazendo festa nos três quando a labradora vem me oferecer sua novidade mais recente. O tamanho é minúsculo, mas dá para ver o rabinho saindo da boca. Dou um berro, mando ela largar. E ela faz que engole mas não engole. Faço um escândalo de nervosa, ofereço favores sexuais para que ela solte aquilo, o que ela faz alegremente, para lamber minhas pernas. Tranco os cachorros do lado de fora do pátio, recolho o rato e jogo no lixo. Me enfio no tanque e esfrego as pernas com sapólio. Ao sair, ela me dá uma lambida no rosto.

11 de fevereiro
17h45m. Brigo com Catatau, que não me deixa ver Jornada nas Estrelas. Ela se irrita e vai se trancar no banheiro. Literalmente. Com o trinco virado, não tem força para destrancar a porta. Prendo os cachorros, boto uma escada do lado de fora da casa, quebro o vidro da janela e entro no banheiro. Corto um dos pés. As meninas batem palmas e gritam: "Eba, mamãe agora é ladrona!"

E o dia ainda não acabou, senhoras e senhores.

3 comentários:

Anônimo disse...

moça, eu sei que não é o caso, mas estou rindo de todas as cenas...seu dia é muito movimentado.

anouska disse...

como se dizia no meu antigo emprego: "never a dull moment..."

pelo menos você não pode reclamar de monotonia. bj

Marilia disse...

suzana, eu tb sei que isso é tragicomédia, mas do jeito que vc escreve, fica hilário!
beijos