A quem interessar possa:
Dia 12 de março, segunda-feira, às 20h, estarei na fnac da Paulista (Av. Paulista 901 - Térreo, Mez. e 1º subsolo, ext. Alameda Santos 960 - Bela Vista). Sim, isso é São Paulo. Capturou o momento?
Então. Aos que quiserem me conhecer estarei linda, absoluta e à disposição para beber um chope (tem isso no botequim dentro da fnac?) e rir.
terça-feira, fevereiro 27, 2007
...
A Lei de Murphy é implacável. Não tem volta, não tem exceção que faça essa regra, não dá descanso, é certa como certo são dois mais dois (mas jamais dando cinco). Depois da tarde terrível no Fórum, um engarrafamento monstro na porta da escola me obrigou, por mais de uma hora, a ouvir Zé Colméia tendo um surto de "Como seria bom se o papai". Sabe como é? Começa com "Você e o papai namoraram muito?", passa por "Você beijava ele na boca sempre?" e vai escorregando para o apocalíptico e torturante "Se o papai morasse com a gente ..............." (preencha os pontinhos com alguma coisa legal e utópica, tipo "... eu teria um pônei de verdade na minha varanda.").
Meu ânimo e minha energia foram ficando pelo caminho, e cheguei em casa me sentindo uma lesma depois da chuva. Enfiei as duas na cama e fui cozinhar. Fiz uma torta de banana com cobertura de suspiros. Mas foi muito rápido, e então resolvi fazer um bolo de chocolate com a massa muuuito bem batida. Depois que pus no forno, vi que passaria a noite cozinhando se não parasse. Então fui tomar banho - e comecei a cantar no chuveiro. Primeiro foram modinhas (já tentou cantar rock aos prantos? Não dá). Aí, quando a cachoeira desagüou toda pra fora, fui desfiando meu repertório - de Vicente Celestino a The Who, passando pelas escalas da aula de canto e pontos de umbanda. Depois que quase três horas, meu vizinho sutilmente pediu que eu parasse, jogando bolas de papel higiênico molhado na minha janela.
Água, música e comida - melhor terapia não há.
sexta-feira, fevereiro 23, 2007
quarta-feira, fevereiro 21, 2007
Num outro carnaval
- Mas eu não quero sair da sua vida!
- Não tem jeito; cada um vai seguir o seu caminho e, sim, você vai terminar saindo completamente da minha vida.
Meia dúzias de passos rápidos e ele atravessou a janela da sala para mergulhar de cabeça, 14 andares abaixo, no canteiro de onze-horas que nem bem ainda tinham florescido.
Ela jamais esqueceu aquele barulho surdo. E ele nunca mais saiu da vida dela.
terça-feira, fevereiro 20, 2007
Fogo eterno
Meus colegas de faculdade (e um professor de Filosofia - Gio-Alguma-Coisa) achavam muito provocadora minha mania de passar a língua sobre os lábios constantemente. Meus namorados e meu ex-marido consideravam, bom, convidativa a maneira como eu durmo recostada nos travesseiros, as pernas dobradas, com os joelhos pra cima.
Nada como uma boca eternamente seca e uma lombar defeituosa para acrescentar sexo e luxúria à sua vida.
Nada como uma boca eternamente seca e uma lombar defeituosa para acrescentar sexo e luxúria à sua vida.
sexta-feira, fevereiro 16, 2007
Flashback
Eu me lembro que, depois de mais de 20 anos, prestei atenção nele quando o vi, de costas, passando a mão nos cabelos. Eu me apaixonei por aquela mão. E hoje repito a cena em minhas lembranças vezes sem conta: os dedos da mão esquerda sumindo entre os cabelos castanhos escuros, agarrando uma mecha para soltar logo depois.
Não me apaixonei por ele, mas sim por sua mão esquerda, pelo gesto que ela fazia.
Às vezes, acho que os detalhes terminam por estragar tudo.
Não me apaixonei por ele, mas sim por sua mão esquerda, pelo gesto que ela fazia.
Às vezes, acho que os detalhes terminam por estragar tudo.
Ver e ouvir
Em minha casa, desde que nasci, sempre o barulho era produzido dentro, e não fora. Infância, adolescência, juventude – minha vida sempre foi silenciosa. Cresci rodeada por centenas, milhares de livros. Jamais tivemos um aparelho de som. Estante de LPs. Discos. O ruído chegava em silêncio, produzido pelo que eu lia. A música, as palavras, os sons da vida entraram pelos olhos.
Este ano fiz 40 anos, e minha vida deu uma cambalhota – o elástico estava por demais torcido, e as pontas não agüentaram mais a tensão. Mudei de carreira, de perspectiva, a maneira de encarar a vida. Para aliviar a tensão, alguns escrevem músicas, livros ou cartas suicidas; há os que costuram, pintam paredes, tomam comprimidos ou cozinham e ouvem música – eu sou um desses últimos.
Há meses decidi retomar o que eu sempre gostei de fazer – andar pela praia, ouvindo música e cantando, me encher de maresia, sentir as pernas desfalecerem pedindo misericórdia à areia molhada. Como eu jamais tive educação para a música (ela nunca foi parte presente em minha vida) comecei a procurar para gravar o que eu gostava na minha juventude - seria a trilha sonora dos meus passeios. Apreciava livros – ouvia música. Há apenas quatro anos descobri Eric Clapton, Santana – e há dois meses mergulhei nas 29 composições de Robert Johnson! Em realidade, um novo mundo se abriu – e eu, que jamais me contentei com um "É só isso" pesquiso, pergunto, escrevo, ouço, experimento versões.
Música e literatura. CDs e livros. Um fio puxa o outro, que puxa a meada, que me mostra o caminho. Delícia de rede.
quinta-feira, fevereiro 15, 2007
...
...
... e a resposta é que preciso me apaixonar. Tenho dois livros de contos prontos, plenamente esquecíveis, dormindo numa gaveta. Aprendi o inimaginável em edição de imagens. Comecei agora a mexer com vídeos e instalei no computador programas de edição de som. Comecei na web, sem nem saber direito o porquê, outro projeto que me consome, mas que não me satisfaz porque não faço, no fim das contas, para mim, mas para quem o vê. Já me inscrevi para voltar às aulas de canto e quero me envolver até a alma numa nova editora.
Porque ler e escrever - o que sempre me saciou - já não me bastam mais.
Porque ler e escrever - o que sempre me saciou - já não me bastam mais.
Bricabraque
Uma amiga desistiu de um emprego maravilhoso na Gávea, porque ia ficar lá de nove às cinco e, contabilizando o tempo no percurso Santa Teresa/Gávea/Santa Teresa, ela concluiu que "não vou ter vida própria".
E aí eu parei no ar o que estava fazendo: "Mas eu sou assim." É, eu sou assim. Minha vida parou no ar. Trabalho, casa, crianças. Caio morta na cama à noite, me arrasto feito sonâmbula de manhã. Perfeição é encapar livros sem bolhas no Contact. É olhar-me numa vitrine e congratular-me por não estar descabelada. É alegrar-me quando sinto prazer ao sentir minhas próprias mãos deslizando pelas costas - porque não me lembro mais como é sentir mãos alheias.
Aprendi então a emocionar-me através dos olhos, mas sem deixar transparecer. Cortázar descreve, em "O fascínio das palavras", a experiência que vivencio todos os dias:
"[...] Existe isso tão típico de Paris: as pessoas [no metrô] não se olham nos olhos porque é falta de educação. Então, eu olhava o vidro e via nele, refletida, uma moça que estava sentada na minha frente. Em alguns momentos ela também olhava o vidro, e então nos víamos através dele. Mas isso, socialmente, não era repreensível. Ou seja, um homem e uma mulher não podem se olhar nos olhos de frente, mas podem através de um reflexo indireto. Já que não há por que pensar que o outro está percebendo, você também pode olhá-lo, e assim surge um encontro de olhares."
Eu agora procuro, só isso. Procuro alguma coisa, procuro alguém. E escrevo aqui o que se passa lá fora. Como são as crianças brincando na pracinha. O olhar de tédio pelo fim da vida dos velhos no supermercado. A transformação do meu pai de homem duro, seco e rude num menino sofrido, solitário e, por isso mesmo, encantador. A maneira como o abraço do rapaz faz a moça perceber como ela é importante pra ele, naquele momento trivial, escolhendo iogurte num supermercado. A razão de abaixar a cabeça quando um homem interessante olha pra mim no metrô.
Às vezes sinto o quão pouco realizei até agora. Poucos homens significativos passaram pela minha vida. Amei poucos. E talvez aí esteja o erro? Deveria ter amado mais? Escolhido menos? Tido menos medo?
Deveria ter tido mais tempo? Deveria ter largado mais o que agarrei com tanta força e aberto espaço para que outras coisas fizessem parte do meu quebra-cabeças?
Amar contra o relógio. Amar a favor - do que quer que seja.
quarta-feira, fevereiro 14, 2007
Leite e mel
A nova forma da canção [árabe] que surgia era diferente. [...] Era dividida em estrofes que eram então "ligadas" de maneira absolutamente surpreendente: por meio de um pequeno refrão que se repetiria ao final de cada estrofe, algo semelhante ao que temos em nossas canções hoje em dia. Esse simples pormenor provocou uma reviravolta total na tradição poética árabe, posto que nada tinha de clássico.
As estrofes principais da canção continuavam a ser em árabe clássico, mas seus ritmos e rimas eram comandados pelo próprio refrão. Ocorre que a voz do refrão era sempre a de uma mulher, e ela cantava em vernáculo.
Além do mais, o refrão dizia coisas que quase sempre revertiam as expectativas e as intenções do resto da canção: enquanto a voz clássica, masculina, falava do amor por meio das elaboradas metáforas e alusões de costume, a voz do refrão dizia, em vernáculo, algo conciso e direto como "Cala a boca e me beija".
María Rosa Menocal, "O ornamento do mundo"
Editora Record, 2004
terça-feira, fevereiro 13, 2007
I'm sorry but... Who are you?
"Mas você se corresponde com gente famosa?" Sim, às vezes. Faz parte do meu trabalho. Algumas famosas, outras nem tanto, algumas muuuuito famosas, outras despontando para o anonimato.
Faz um tempinho, entrei em alguns fóruns de um cantor americano muito famoso. Eu adoro a voz dele, adoro as músicas que ele fez. São únicas. E fico absolutamente passada quando me deparo com temas como "O que você faria com Fulano no Dia dos Namorados". Como assim? Pois você ama o homem? Mas você nem CONHECE o homem! E aí tem declarações de amor rasgadérrimas, constrangedoras, às vezes resvalando no mau gosto (e o pobre já deu mostras que O-DEI-A isso).
Quem sou eu pra criticar? Bom, quando eu comecei a trabalhar em jornal, fui um dia entrevistar Paulo Autran, que ia fazer apresentação única de seu shakespeareano "A tempestade" aqui no Rio, no então Metropolitan. Fiz a entrevista e, obviamente, fiquei para apresentação. Depois, fui à festa, cheia de starlets & imprensa & famosos. E aí conheci um ator que, confesso, sempre foi lindo de babar. Conversa daqui, conversa dali, ele me chamou pra sair. Marcamos e, no dia, eu vi que fama e beleza, senhoras e senhores, mata qualquer deslumbramento.
Ah, sim, eu estava deslumbradérrima. Mas logo depois de ele parar em lugar proibido, humilhar o flanelinha, furar a gigantesca fila do restaurante, passar a noite se achando a bala que matou Kennedy (de tédio) e criar encrenca por causa de R$ 0,50 na conta (que ele tentou empurrar como cortesia na base do "Fulano está aí?"), eu vi que não, não é bem assim.
Porque você diz: "Ai, eu amo o Beltrano!". E faz declarações de amor como se o homem fosse aquela pessoa que esteve com você a vida inteira - o que não é, absolutamente, verdade. Conheço atrizes mentirosas compulsivas; grandes cantores que surravam sistematicamente suas mulheres; escritores que humilham publicamente seus filhos. E, mesmo assim, todos são alvo de amor incondicional. Gente histérica chorando e se desmanchando quando o dito aparece "casualmente" para o grupo de fãs à espera dele na porta do teatro.
Sim, eu baixei todos os vídeos e músicas dele e da banda com que ele cantava antes da carreira solo. Sim, eu adoraria encontrar com ele. Ele me conhece? Não; então como pode me amar? E eu, como posso amar alguém que não sei se é encantador com idosos ou rói as unhas, deixa sua roupa suja pela casa ou limpa as migalhas de pão da mesa? É mesquinho, come do prato dos outros sem pedir e abomina crianças - ou faz parte dos 0,0000726% dos homens inesquecíveis ainda existentes sobre a face da Terra?
Aprecio as músicas, admiro o trabalho, adoro a voz. Mas amar o homem?
Update: Mas que gente curiosa!
segunda-feira, fevereiro 12, 2007
Inesquecível
Fugindo do trabalho II
5 coisas que quero fazer antes de morrer:
* ver neve
* aprender a dirigir
* conhecer alguém que tenha influenciado minha vida (antes que eu fique sem opções, porque Julio Cortázar, George Duby e Ítalo Calvino já se foram)
* conhecer a Grande Mesquita de Córdoba, a Catedral de Santa Sofia e o Túmulo de Adriano
* escalar uma montanha
5 coisas que eu faço bem:
* cozinhar
* transar (sem modéstia nenhuma, que eu cansei disso - de ser modesta, não de transar :o)
* escrever
* amar (sou canceriana; se não sabe o que uma coisa tem a ver com a outra, recomendo "Seu futuro astrológico", de Linda Goodman)
* descobrir soluções, consertos, saídas estratégicas
5 coisas que eu mais digo:
* "Eu não perguntei se você quer; eu disse que você VAI tomar banho."
* "Mamãe te ama muito."
* "Carácoles!"
* "Como assim?"
* "Deixa que eu faço" (e me arrependo depois)
5 coisas que eu não faço (ou não gosto de fazer):
* Mentir
* Bajular
* Comer mocotó, ostras e rabada
* Dormir sem tomar banho
* Deixar comida no prato
5 coisas que me encantam:
* Dar presentes inesperados
* Olhar pra cima e me surpreender com um céu de tirar o fôlego
* Tomar banho de chuva
* Descobrir livros bacanas em sebos
* Fotografar pessoas quando elas menos esperam - distraídas, concentradas, encantadas com alguma coisa (mas não faço isso quando elas estão dormindo)
5 coisas que eu odeio:
* Acordar com a televisão ligada
* Gente que fala uma coisa e faz outra
* Ver humilhação alheia
* Me enxugar com toalha molhada
* Me sentir impotente
5 pessoas para responder isso:
Na boa, depois que ela me dispensou, quem quiser que copie e responda.
* ver neve
* aprender a dirigir
* conhecer alguém que tenha influenciado minha vida (antes que eu fique sem opções, porque Julio Cortázar, George Duby e Ítalo Calvino já se foram)
* conhecer a Grande Mesquita de Córdoba, a Catedral de Santa Sofia e o Túmulo de Adriano
* escalar uma montanha
5 coisas que eu faço bem:
* cozinhar
* transar (sem modéstia nenhuma, que eu cansei disso - de ser modesta, não de transar :o)
* escrever
* amar (sou canceriana; se não sabe o que uma coisa tem a ver com a outra, recomendo "Seu futuro astrológico", de Linda Goodman)
* descobrir soluções, consertos, saídas estratégicas
5 coisas que eu mais digo:
* "Eu não perguntei se você quer; eu disse que você VAI tomar banho."
* "Mamãe te ama muito."
* "Carácoles!"
* "Como assim?"
* "Deixa que eu faço" (e me arrependo depois)
5 coisas que eu não faço (ou não gosto de fazer):
* Mentir
* Bajular
* Comer mocotó, ostras e rabada
* Dormir sem tomar banho
* Deixar comida no prato
5 coisas que me encantam:
* Dar presentes inesperados
* Olhar pra cima e me surpreender com um céu de tirar o fôlego
* Tomar banho de chuva
* Descobrir livros bacanas em sebos
* Fotografar pessoas quando elas menos esperam - distraídas, concentradas, encantadas com alguma coisa (mas não faço isso quando elas estão dormindo)
5 coisas que eu odeio:
* Acordar com a televisão ligada
* Gente que fala uma coisa e faz outra
* Ver humilhação alheia
* Me enxugar com toalha molhada
* Me sentir impotente
5 pessoas para responder isso:
Na boa, depois que ela me dispensou, quem quiser que copie e responda.
sexta-feira, fevereiro 09, 2007
Quem não é assim?
Minha amiga Clara contou-me uma história sobre uma cliente sua, uma menina de oito anos que fizera regime durante dois anos e engordara sete quilos durante esse processo. Desesperada, a mãe consultou Clara e esta lhe perguntou qual era a comida favorita da filha. "Doces", respondeu a mãe.
"Muito bem. Quero que a senhora saia daqui e compre doces suficientes para encher uma fronha. Depois disso, dê a fronha para sua filha e deixe-a comer tanto quanto queira. Assim que estiver acabando, compre mais. Certifique-se que ela tenha sempre uma fronha cheia de doces. Libere-a do regime, deixe-a comer o que quiser quando tiver fome e telefone-me daqui a uma semana."
Após tremer de horror e de ameaçar Clara com um processo caso sua filha engordasse 25 quilos, a mãe saiu do consultório, entrou num supermercado e foi para casa com o pacote de doces.
A menina carregou consigo a fronha com os doces onde quer que fosse, durante oito dias. Dormia com ela, colocava-a ao lado da banheira quando ia tomar banho, deixava-a numa cadeira enquanto assistia televisão. E, naturalmente, servia-se das guloseimas sempre que sentia vontade. Nos primeiros dias isso acontecia com grande freqüência. Depois de a mãe ter comprado mais 1,5 quilo de doces no terceiro dia da experiência, ela estava pronta para processar Clara. Num telefonema histérico, contou-lhe que a filha estava comendo mais doces que nunca, e como ela emagreceria comendo daquele jeito?
Clara tranquilizou-a explicando que a filha estava reagindo aos anos de privação e que, quando ela se convencesse, realmente se convencesse, de que poderia comer o que bem entendesse, e que sua mãe não estaria ali pronta para tirar o pacote das mãos, ela acabaria relaxando e comendo apenas quando tivesse fome de verdade.
No nono dia, a fronha ficou no quarto. Ao final de cinco semanas, sua filha esquecera os doces e emagrecera três quilos.
Geneen Roth, "Carência afetiva e alimentação"
Editora Saraiva, 1993
"Muito bem. Quero que a senhora saia daqui e compre doces suficientes para encher uma fronha. Depois disso, dê a fronha para sua filha e deixe-a comer tanto quanto queira. Assim que estiver acabando, compre mais. Certifique-se que ela tenha sempre uma fronha cheia de doces. Libere-a do regime, deixe-a comer o que quiser quando tiver fome e telefone-me daqui a uma semana."
Após tremer de horror e de ameaçar Clara com um processo caso sua filha engordasse 25 quilos, a mãe saiu do consultório, entrou num supermercado e foi para casa com o pacote de doces.
A menina carregou consigo a fronha com os doces onde quer que fosse, durante oito dias. Dormia com ela, colocava-a ao lado da banheira quando ia tomar banho, deixava-a numa cadeira enquanto assistia televisão. E, naturalmente, servia-se das guloseimas sempre que sentia vontade. Nos primeiros dias isso acontecia com grande freqüência. Depois de a mãe ter comprado mais 1,5 quilo de doces no terceiro dia da experiência, ela estava pronta para processar Clara. Num telefonema histérico, contou-lhe que a filha estava comendo mais doces que nunca, e como ela emagreceria comendo daquele jeito?
Clara tranquilizou-a explicando que a filha estava reagindo aos anos de privação e que, quando ela se convencesse, realmente se convencesse, de que poderia comer o que bem entendesse, e que sua mãe não estaria ali pronta para tirar o pacote das mãos, ela acabaria relaxando e comendo apenas quando tivesse fome de verdade.
No nono dia, a fronha ficou no quarto. Ao final de cinco semanas, sua filha esquecera os doces e emagrecera três quilos.
Geneen Roth, "Carência afetiva e alimentação"
Editora Saraiva, 1993
quinta-feira, fevereiro 08, 2007
Breve retorno a um velho assunto*
O trecho a seguir, retirado do segundo volume do livro "Musashi", de Eiji Yoshikawa (pg. 1719), traduz muito bem, ainda que superficialmente, minha idéia sobre "talento":
"- Não acho que Musashi-sama seja limitado.
- Mas também não nasceu com o dom. Nada nele lembra a displicência do gênio que confia cegamente em seu talento. Mestre Musashi sabe que é homem comum e por isso se empenha incessantemente em polir suas habilidades. A agonia por que passa nesse processo só ele sabe. E quando, em determinado momento, essa habilidade alcançada com tanto custo explode em cores, o povo logo diz que a pessoa tem aptidão natural. Aliás, é a desculpa que os indolentes dão para justificar a própria incapacidade."
*Post do Pedro, a quem eu leio sempre. Agora é só esperar a horda de vikings recém-descongelada após 600 anos de animação suspensa.
"- Não acho que Musashi-sama seja limitado.
- Mas também não nasceu com o dom. Nada nele lembra a displicência do gênio que confia cegamente em seu talento. Mestre Musashi sabe que é homem comum e por isso se empenha incessantemente em polir suas habilidades. A agonia por que passa nesse processo só ele sabe. E quando, em determinado momento, essa habilidade alcançada com tanto custo explode em cores, o povo logo diz que a pessoa tem aptidão natural. Aliás, é a desculpa que os indolentes dão para justificar a própria incapacidade."
*Post do Pedro, a quem eu leio sempre. Agora é só esperar a horda de vikings recém-descongelada após 600 anos de animação suspensa.
terça-feira, fevereiro 06, 2007
segunda-feira, fevereiro 05, 2007
Irretocáveis
O primeiro beijo do meu primeiro namorado - matando aula numa terça-feira, às três da tarde, sentada no chão de um corredor da Faculdade de Filosofia da UFRJ.
Ver a lua cheia através de uma clarabóia, enquanto fazia amor.
Dormir abraçada numa noite de tempestade, e ouvir, quase dormindo: "Você me faz tão feliz", seguido de um abraço apertado.
Deitar ao lado de quem eu amava, ouvindo só sua respiração no escuro e me sentindo plenamente satisfeita e completa.
Acordar com minha filha de dois anos sentada ao meu lado na cama. Com uma mãozinha acariciando minhas mãos e com a outra, tentando sentir a irmã na minha barriga, ela esperava que eu acordasse vendo o sol nascer pela porta da varanda.
Perfeição, hoje: descobrir que encapei os livros das meninas sem deixar nenhuma bolha de ar no Contact.
Ver a lua cheia através de uma clarabóia, enquanto fazia amor.
Dormir abraçada numa noite de tempestade, e ouvir, quase dormindo: "Você me faz tão feliz", seguido de um abraço apertado.
Deitar ao lado de quem eu amava, ouvindo só sua respiração no escuro e me sentindo plenamente satisfeita e completa.
Acordar com minha filha de dois anos sentada ao meu lado na cama. Com uma mãozinha acariciando minhas mãos e com a outra, tentando sentir a irmã na minha barriga, ela esperava que eu acordasse vendo o sol nascer pela porta da varanda.
Perfeição, hoje: descobrir que encapei os livros das meninas sem deixar nenhuma bolha de ar no Contact.
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