quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Leite e mel



A nova forma da canção [árabe] que surgia era diferente. [...] Era dividida em estrofes que eram então "ligadas" de maneira absolutamente surpreendente: por meio de um pequeno refrão que se repetiria ao final de cada estrofe, algo semelhante ao que temos em nossas canções hoje em dia. Esse simples pormenor provocou uma reviravolta total na tradição poética árabe, posto que nada tinha de clássico.

As estrofes principais da canção continuavam a ser em árabe clássico, mas seus ritmos e rimas eram comandados pelo próprio refrão. Ocorre que a voz do refrão era sempre a de uma mulher, e ela cantava em vernáculo.

Além do mais, o refrão dizia coisas que quase sempre revertiam as expectativas e as intenções do resto da canção: enquanto a voz clássica, masculina, falava do amor por meio das elaboradas metáforas e alusões de costume, a voz do refrão dizia, em vernáculo, algo conciso e direto como "Cala a boca e me beija".

María Rosa Menocal, "O ornamento do mundo"
Editora Record, 2004

Nenhum comentário: