Minha amiga Clara contou-me uma história sobre uma cliente sua, uma menina de oito anos que fizera regime durante dois anos e engordara sete quilos durante esse processo. Desesperada, a mãe consultou Clara e esta lhe perguntou qual era a comida favorita da filha. "Doces", respondeu a mãe.
"Muito bem. Quero que a senhora saia daqui e compre doces suficientes para encher uma fronha. Depois disso, dê a fronha para sua filha e deixe-a comer tanto quanto queira. Assim que estiver acabando, compre mais. Certifique-se que ela tenha sempre uma fronha cheia de doces. Libere-a do regime, deixe-a comer o que quiser quando tiver fome e telefone-me daqui a uma semana."
Após tremer de horror e de ameaçar Clara com um processo caso sua filha engordasse 25 quilos, a mãe saiu do consultório, entrou num supermercado e foi para casa com o pacote de doces.
A menina carregou consigo a fronha com os doces onde quer que fosse, durante oito dias. Dormia com ela, colocava-a ao lado da banheira quando ia tomar banho, deixava-a numa cadeira enquanto assistia televisão. E, naturalmente, servia-se das guloseimas sempre que sentia vontade. Nos primeiros dias isso acontecia com grande freqüência. Depois de a mãe ter comprado mais 1,5 quilo de doces no terceiro dia da experiência, ela estava pronta para processar Clara. Num telefonema histérico, contou-lhe que a filha estava comendo mais doces que nunca, e como ela emagreceria comendo daquele jeito?
Clara tranquilizou-a explicando que a filha estava reagindo aos anos de privação e que, quando ela se convencesse, realmente se convencesse, de que poderia comer o que bem entendesse, e que sua mãe não estaria ali pronta para tirar o pacote das mãos, ela acabaria relaxando e comendo apenas quando tivesse fome de verdade.
No nono dia, a fronha ficou no quarto. Ao final de cinco semanas, sua filha esquecera os doces e emagrecera três quilos.
Geneen Roth, "Carência afetiva e alimentação"
Editora Saraiva, 1993
sexta-feira, fevereiro 09, 2007
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