sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Ver e ouvir



Em minha casa, desde que nasci, sempre o barulho era produzido dentro, e não fora. Infância, adolescência, juventude – minha vida sempre foi silenciosa. Cresci rodeada por centenas, milhares de livros. Jamais tivemos um aparelho de som. Estante de LPs. Discos. O ruído chegava em silêncio, produzido pelo que eu lia. A música, as palavras, os sons da vida entraram pelos olhos.

Este ano fiz 40 anos, e minha vida deu uma cambalhota – o elástico estava por demais torcido, e as pontas não agüentaram mais a tensão. Mudei de carreira, de perspectiva, a maneira de encarar a vida. Para aliviar a tensão, alguns escrevem músicas, livros ou cartas suicidas; há os que costuram, pintam paredes, tomam comprimidos ou cozinham e ouvem música – eu sou um desses últimos.

Há meses decidi retomar o que eu sempre gostei de fazer – andar pela praia, ouvindo música e cantando, me encher de maresia, sentir as pernas desfalecerem pedindo misericórdia à areia molhada. Como eu jamais tive educação para a música (ela nunca foi parte presente em minha vida) comecei a procurar para gravar o que eu gostava na minha juventude - seria a trilha sonora dos meus passeios. Apreciava livros – ouvia música. Há apenas quatro anos descobri Eric Clapton, Santana – e há dois meses mergulhei nas 29 composições de Robert Johnson! Em realidade, um novo mundo se abriu – e eu, que jamais me contentei com um "É só isso" pesquiso, pergunto, escrevo, ouço, experimento versões.

Música e literatura. CDs e livros. Um fio puxa o outro, que puxa a meada, que me mostra o caminho. Delícia de rede.

2 comentários:

Anônimo disse...

amei seu texto. Muito legal mesmo, e seu blog é 10. Adicionei aos meus favoritos. Grande abraço e otima semana

Anônimo disse...

maravilhas tecnológicas.