domingo, junho 19, 2005

Orgasmo

Debochadamente alguém me pediu para escrever sobre o orgasmo. Começo dizendo – a sério - que é difícil escrever sobre uma sensação tão diferenciada. Orgasmo é orgasmo. Nada é parelho. Imagino que não seja muito diferente para os homens.
Também posso garantir que há orgasmos e orgasmos.
O melhor de todos é quando ele vem muito bem embalado na delícia da paixão. Aquele sentir de pele, cabeça, tronco e membros. Aquele desejo que nasce quando você pensa no outro. É fermentado no encontro, embalado no primeiro toque e vai fomentando e dirigindo as carícias. Elas vão acontecendo e a gente vai junto. Sem saber bem para onde. Mas vai, porque sabe que o fim é um recomeço de vida. Depois de um orgasmo desses a gente renasce mesmo.
É só olhar no espelho. O rosto tem aquele corado de criança. O sorriso é largo, farto. O corpo fica leve, ágil. A vitalidade é preguiçosa, mas absoluta. Esses não têm preço. Também não são muito comuns. A tal da felicidade é avarenta. Tem mão fechada. Dá sempre menos do que a gente precisa.
Os homens eu não sei. Mas nós mulheres somos muito gulosas de felicidade. Talvez por isso que a gente seja um pouquinho (só um pouquinho mesmo) mais complicada.
Honra seja feita. Mesmo os orgasmos médios trazem boa dose de prazer que é bem próxima da felicidade.
Orgasmos médios são aqueles do sexo casual. Dois corpos juntos. Um não está louco pelo outro, mas a química cafajeste da busca do prazer é ativada e resulta numa troca de carícias que acaba em orgasmo. Não é ruim. Longe disso. Também não é nenhuma Brastemp.
É bom explicar. O sexo casual não acontece só com parceiros esporádicos não. Pinta no casamento também. Aliás, uma das tragédias da convivência diária é que as coisas vão perdendo a especialidade para se tornarem casuais. Em alguns casos, infernais.
Há também o orgasmo da ansiedade. Daqueles dias em que você ta-com-a-macaca. Não alivia gastar energia em horas de academia, quilômetros de corrida, dança frenética, longo e perfumado banho de banheira.
Nada resolve. Daí a gente apela para a energia sexual. E o orgasmo pinta rápido. Meio beijo e você já está fervendo. São os orgasmos mais michos. Também não é ruim. Mas é descarrego. Não deixa lembrança, digamos assim. Cumpre a função de devolver a paz ao corpo. A macaca vai embora. Ponto. Relaxa, mas não engrandece o espírito.
Lamento dizer, mas nessa área, a única coisa que traz grandeza, dá alma à vida é a paixão. Tudo que vem embalado nela é muito melhor – traz felicidade. E essa é a grande causa da nossa curta e atormentada existência.

Tânia Fusco, no Noblat.

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