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A maternidade é um voto
difícil de quebrar.
Uma vigília que me impede
de dormir a vida inteira.
Estou sempre rente
à respiração de minhas filhas,
à beira do sol das narinas,
como uma jangada,
coruja do oceano.
Não tente aplacar o luto
dos que perderam uma criança,
o tormento de ser vizinha
de uma escola e suportar
o sobrevôo das vozes no recreio.
Sentir-se culpada por aquilo
que não foi vivido.
Não conferir palavras no dicionário.
A linguage se contenta
com as pontadas do parto.
Concluir que foste inútil;
fizeste o trabalho para a morte.
Não tente entender.
O amor se aquieta em ameaça.
Fabrício Carpinejar, "Cinco Marias"
Editora Bertrand, 2004
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