segunda-feira, julho 06, 2009

Entardecer



Minha primeira menstruação aconteceu quando eu tinha 11 anos. A lembrança mais forte que eu tenho é a de ter ficado muito assustada, com um tremendo nojo do meu próprio corpo. Eu então tinha uma existência pela frente para viver o constrangimento mensal de me preocupar se está aparecendo, se sujei a roupa, se vai dar tempo de ir àquela festa, se minha barriga está muito inchada, se essa cólica vai passar, se o remédio para enxaqueca vai fazer efeito, se é possível uma espinha crescer (e doer) tanto, se eu vou agüentar isso pelo resto da minha vida.

Não, não vou. Porque hoje, vendo minha filha mais velha desabrochar lentamente, ao me aproximar dos meus 43 anos percebo que o tempo que me resta de fertilidade está terminando. A cada mês que sinto meus seios incharem e minhas pernas tornarem-se pesadas comemoro secretamente mais um ciclo ganho. Não que eu vá ter mais filhos, mesmo desejando-os; não sou ingênua a esse ponto. Sei que a cota que me cabe nesta vida já a preenchi, e sinto-me realizada e agradecida por isso. Mas o pensamento de que um dia não terei mais a opção de gerar uma criança enche-me de uma tristeza amarga. Tornar-me naturalmente estéril é um pensamento que sou incapaz de entender. Ou aceitar.

3 comentários:

Adrina disse...

E eu juro pra você que acho essa responsabilidade de parir um fardo muito pesado que eu não quero carregar, que estou me esforçando ao máximo para protelar.

Anônimo disse...

eu tenho certeza que poderia entender você melhor do qualquer pessoa no mundo. Poderia te amar mais do que jamais foi amada. Poderia segurar tua mão e olhar para o por do sol sabendo que amanhã você estaria do meu lado. Poderia beijar docemente os teus lábios, delicadamente passar minha mão atrás da tua nuca e sussurrar em teu ouvido o quão feliz você me faz. Beijo grande pra você.

K disse...

Puxa, Suzana, tenho 47 anos, dois filhos e sinto essa angustia, cada dia mais forte. Não quero, não posso ter outro filho, ou melhor, acho que quero muito um outro filho, o Benjamin ou a Irene, o Vicente ou a Veridiana mas vou ter que viver, sobreviver sem eles porque não ha nada que eu possa fazer.A idade avançada, a falta de grana, o marido(?) que não é presente...