segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Um lugar ao sol

Hoje, no fim do dia, tenho dermatologista. Depois de 15 anos sem ir à praia, quero voltar a tomar sol, até porque as meninas adoram. Estou fazendo um tratamento bem devagar, para aproveitar o sol de inverno, que é mais fraco. Comecei a tomar sol bem aos bocadinhos e pimba! Quatro manchas: uma pequena, no rosto, e três nas pernas - essas grandes.
Meu derma disse que é a herança da minha avó, que era ruiva. Posso me bronzear (até uns 25 anos eu torrava sem dó nem piedade da minha pele, mas jamais descasquei. A pele ficava muito escura e opaca, sem aquele brilho natural) mas ele diz que tem que ser muuuuito devagar. Então, vou dando uma de bebê: sol, somente até às 9h. Já estou coradinha :o)

Som da hora

"Jazz Ballads". Chet Baker, Miles Davis, John Coltrane, Sarah Vaughan, Cannonball Adderly e outros. Estou ouvindo agora Billie Holliday cantando "Moanin' Low".
Para um dia precedido de uma tempestade d'alma, a calmaria está um fino :o)

Enfants de la patrie

Hoje tive minha primeira aula de francês (estou fazendo uma reciclagem -relâmpago).
Meu professor nasceu na Argélia, mas é filho de franceses; os pais trabalhavam naquele país. Tem 43 anos, chama-se Jean-Michel Sarrè. Por seis meses, ele viaja a Europa trabalhando como guia de turismo (lá eles são frilas, trabalham por contatos que têm com as agências de turismo). Os outros seis meses ele mora no Brasil, trabalhando como tradutor (fez alguns trabalhos para a minha empresa) e professor de conversação.
Jean-Michel Sarrè é meu professor. E assim deve permanecer até o fim do curso. Espero (ou não :o).

domingo, fevereiro 27, 2005

Certame

Vou inscrever três contos meus num concurso literário que acontece durante a Jornada Literária de Passo Fundo. Dois escritores, um deles consagrado, disse que tenho chance. O prêmio é pequeno, mas só o fato de reconhecerem que você ESCREVE (assim mesmo, com letras maiúsculas) já vai valer a pena.

Canícula (blog também é vocabulário :o)

O calor que está fazendo aqui é senegalesco. Vou tomar um banho frio na ducha do terraço pra baixar a fervura (em todos os sentidos).

Som da hora

"Layla", de Eric Clapton

Essa música é especial para mim. Quando Zé Colméia nasceu, eu fui mãe pela primeira vez. Era o desejo de uma vida, e eu curti cada momento, cada pedacinho. Depois da minha licença-maternidade, pedi demissão, sob protestos do meu ex-marido, e fiquei com minha pequeninha em casa até ela fazer um ano. Montei um escritório e trabalhava feito doida para compensar o salário de que eu abrira mão (e não me arrependo até hoje).
Ela sempre foi um doce, me deixando trabalhar em paz. Ela e eu descobrimos, juntas, Eric Clapton - músico que eu, como qualquer ser humano, sabe quem é, mas que eu jamais realmente ouvira. Um dia, puxei a primeira caixa de CD à mão e botei para rodar no computador. Minha filhota escutou as primeiras faixas sem ouvir, mas assim que os primeiros acordes de "Layla" tocaram (não a a versão antiga; a unplugged) ela parou o que estava fazendo e ouviu sem piscar. E, a partir daquele dia, ela só dormia ouvindo "Layla".
Descobrir Eric Clapton marcou o fim da minha juventude e o início da maturidade - acredite se quiser :o)

Programa de domingo

Fiquei fora, ontem à noite, duas horas. Tomei três chopes. E estou, hoje, de ressaca, Valha-me Deus, não dou pra isso não :o)

Som do dia

Dinah Washington, "Finest Hour"
Dá para se bronzear na clareza da pronúncia dessa mulher.
Bom-dia. São 10h33m, céu claro, temperatura em elevação. Em Santa Teresa, 26 graus.

Plantão da madrugada

Sem sono. Nenhum. Zero. No sleep. No sueño.
Estou ouvindo Elvis, bem baixinho. E depois vou botar para rodar a trilha sonora de Lilo & Stitch. É muuuito bom :o)

sábado, fevereiro 26, 2005

An affair to remember

Assisti hoje de tarde "Tarde demais para esquecer" (An affair to remember), um dos poucos DVDs que eu tenho. Descobri três coisas:
Um clássico é um clássico, e eu adoro clássicos;
Deborah Kerr era linda;
A voz do Clark Gable - Jesus, o que era aquilo? Que coisa irritante! Era homem para deixar sentado, só respirando. Abriu a boca, estragou tudo...

+ de 40

Memorando

"Eu me lembro da duradoura virgindade de Doris Day, que acabou no filme 'Confidências à meia-noite', quando ela levou Rock Hudson para a cama e ouviu dele um pedido: 'Não me machuque'".

Programação

Completei 26 horas ininterruptas no ar.
Não dou para essa vida de médica plantonista... :o)

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Aborrecentes

Odeio meus hormônios. São independentes demais para o meu gosto

Achando-se em versos

Este ano, minha filha mais velha começou a aprender a escrever. Primeiramente o nome; antes, apenas reconhecia as letras.
Meu bairro, Santa Teresa, é um morro. Basicamente, a encosta em que moro tem a rua de cima e a rua de baixo. Para se chegar à minha rua, há dois caminhos: ou descemos uma ladeira íngreme que começa num dos três largos (Largo das Neves (é o meu), Largo do França, Largo dos Guimarães – existe o Curvello, que não tem Largo no nome mas é um, em essência) ou descemos uma escadaria de 156 degraus.
Normalmente, desço pela escadaria, que começa na rua de cima exatamente em frente aos pontos do ônibus e do bonde. Minha pequena adora descer essa escada. Para ela, é a escada dos nomes.
Ela aprendeu a reconhecer as letras que compõem seu nome porque ela vive em Santa Teresa e, como moradora desse pedacinho maravilhoso do Rio de Janeiro, o fez saltando por sobre os versos de Augusto dos Anjos. Nessa escadaria, com seus cansativos, melancólicos e cinzentos 156 degraus, estão impressos os versos de "O mar, a escada e o homem".
Só quem pode ler é quem desce; afinal, quem sobe maldiz a escadaria que, da rua de baixo, não mostra o seu topo, tal a extensão. Mas quem desce vai lendo os versos, fragmentados uma palavra por vez. Quem desenhou a escadaria ainda teve o requinte de dividir as palavras de tal maneira que a última palavra do poema só aparece depois de findo um lance de escadas – ela está imprensa no primeiro degrau do lance seguinte. "Caos!", espera quem desce. O poema termina no meio (não na metade) da escada, e você desce o restante pensando no que Augusto dos Anjos quis dizer. Quem quiser ler depois o poema inteiro pode fazê-lo num quadro afixado logo no início da escadaria.
Pois foi assim, pisando nos versos do poeta, agachando-se hora aqui, hora acolá, passando o dedinho pelo desenho das letras, subindo e descendo alternadamente os degraus num ziguezague pleno de "Olha ali a letra de fulano!" que minha querida filha aprendeu a reconhecer o seu, o meu nome, o da irmã. Procurou as letras de "mamãe", "papai", "vovó", "irmã". Mesmo sem saber ler nem imaginar quem foi o poeta, minha menina procurou achar-se (e se achou) nos versos de Augusto dos Anjos.

Que falta você me faz

O orçamento está curtinho. Mas que bom que desejar e lamber com os olhos aquela capa maravilhosa com a Bethânia e o Vinícius é de graça. Quem sabe no mês que vem - ou no próximo...

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Ajoelhou, tem que ...

Do Globo Online:

Agora, você não precisa mais ler escondido. Esta frase estampará um dos cartazes de divulgação dos chamados "catecismos" de Carlos Zéfiro, as revistinhas de sacanagem dos anos 60 que estarão novamente nas bancas, em março, fiéis às edições originais. As centenas de histórias pornográficas que mudaram a cultura sexual no país estão sendo recuperadas e restauradas através de tecnologias mais modernas do que as que dispunha Alcides Caminha - este era o verdadeiro nome de Zéfiro - em seu quarto proibido na casa em Anchieta, onde, segundo amigos, produzia suas histórias sem que a família soubesse.

Dona da famosa banca carioca A Cena Muda, que negocia revistas e livros usados, Adda Di Guimarães decidiu comprar os direitos de reprodução dos catecismos - que receberam estes nomes, segundo especialistas, por serem comumente vendidos disfarçados dentro de publicações religiosas - porque "as pessoas enlouqueciam quando encontravam um dos exemplares à venda". E, já no mês que vem, reiniciará a republicação.

Da hora

Como manter um nível saudável de insanidade:

* No seu horário de almoço, sente-se no seu carro estacionado, coloque seus óculos escuros e aponte um secador de cabelos para os carros que passam. Veja se eles diminuem a velocidade.
* Insista que o seu e-mail é Xena.Princesa.Guerreira@nomedaempresa.com.br ou
Elvis.O.Rei@nomedaempresa.com.br
* Sempre que alguém lhe pedir para fazer alguma coisa, pergunte se quer que fritas acompanhem.
* Encoraje seus colegas de sala para fazer uma dança de cadeiras sincronizada com você.
* Coloque a sua lata de lixo sobre a mesa e escreva "Entra" nela.
* Desenvolva um estranho medo de grampeadores.
* Coloque café descafeinado na máquina de café por três semanas. Quando todos tiverem superado o vício a cafeína, mude para expresso.
* No canhoto de todos os seus cheques escreva "Ref. favores sexuais".
* Sempre que alguém lhe falar alguma coisa, responda com "Isso é o que você pensa".
* Termine todas as suas frases com "de acordo com a profecia".
* Ajuste a brilho do seu monitor para o que o nível dele ilumine toda a área de trabalho. Insista com os outros que você gosta desse jeito.
* Não use pontuações.
* Sempre que possível, pule me vez de andar.
* Pergunte às pessoas de que sexo elas são. Ria histericamente depois que elas responderem.
* Quando estiver em um drive-thru, especifique que o pedido é para viagem.
* Cante junto na ópera.
* Vá a um recital de poemas e pergunte por que os poemas não rimam.
* Descubra onde o seu chefe faz compras e compre exatamente as mesmas roupas. Use-as um dia depois que o seu chefe usá-las. Isso é especialmente efetivo se o seu chefe for do sexo oposto.
* Mande e-mails para o resto da empresa para dizer o que você está fazendo. Por exemplo: "Se alguém precisar de mim, estarei no banheiro, na segunda porta à direita".
* Coloque uma tela de mosquitos ao redor do seu cubículo. Toque um CD com sons da floresta durante o dia inteiro.
* Com cinco dias de antecedência, avise seus amigos que você não pode ir à festa deles porque não está no clima.
* Ligue para o CVV e não fale nada.
* Faça seus colegas de trabalho lhe chamarem pelo seu apelido: "Duro na Queda".
* Quando sair dinheiro do caixa eletrônico, grite.
* Ao sair do zoológico, corra na direção do estacionamento gritando "Salve-se quem puder, eles estão soltos!"
* Fale para o seu chefe que "são as vozes na minha cabeça".
* Na hora do jantar, anuncie para os seus filhos: "Devido à nossa situação econômica, teremos de mandar um de vocês embora."
* Todas as vezes que você vir uma vassoura, grite "Amor, sua mãe chegou!"

Happy weekend

Quarta-feira. Meio da semana, um frila pronto, outro por terminar.
Se as meninas deixarem, termino tudo até amanhã - com as duas na casa do pai, vou ter o fim de semana de gata preguiçosa, para não fazer nada*!

* Arrumar armários, dar banho nos cachorros, separar brinquedos para doar, costurar etiquetas nos uniformes das meninas, [......] - preencha a linha pontilhada que eu boto na minha lista.

Léxico

O que sempre me espantou nas crianças (não somente as minhas; todas são assim) é a capacidade que elas têm de serem geniais quando o quesito é achar a palavra, a expressão certa para designar uma situação, um objeto, uma sensação, qualquer coisa. Pedro Bloch contava que uma paciente sua definiu rosa como um "vermelho devagar"; outro dizia que "impaciência é esperar com pressa".
Estava cortando ontem à noite, na banheira, as unhas da Catatau. Os dedos pequeninos, gordinhos, estavam molhados e as aparas se grudavam na pele. Agoniada com aquela sensação de cosquinha desagradável, me pediu num fiozinho de voz lamentoso: "Mamãe, tira por favor esses cabelinhos de unha?"

Traduzindo

Como dizia Juan de Mairena, "são os eventos consuetudinários que se dão na via pública".
Você pode simplesmente dizer "é o que acontece na rua", mas não vai parecer tão culto.

Daqui pro Méier

Taxitramas: você já foi lá?

Extremos

Dois tipos de casais me chamam a atenção. A mãe levando o filho pequeno pela mão (ou o pai com a filha pequena, tanto faz) e um casal de idosos de mãos dadas.
O primeiro e o último amor de uma vida.

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Total

No espaço de duas horas:

Ganhei um sorriso luminoso, importado;
Um elogio,
Uma cantada,
Um convite para jantar.

Em francês. E a glória maior foi que eu entendi tudo. E consegui manter uma conversa inteligente e não-gaguejante. Depois de mais de 10 anos sem falar nem oui.

Ah, o convite? Não, não aceitei. Ainda é muito cedo para pular de novo na frigideira. Mas nada que me obrigue a ficar afastada do fogão :o)

Memorando*

Estou ficando velha. Sandra Dee morreu.
Adorava assistir "Gadget" na Sessão da Tarde.

* Um ótimo livro da Companhia das Letras, escrito por Geraldo Mayrink e Fernando Moreira Salles (e hoje só encontrável em sebos). De vez em quando, vou postar alguns trechos aqui

Do Leblon ao Catete

Hoje de manhã, vinha no táxi (atrasada para uma reunião de trabalho) olhando distraída pela janela. Pensava numa porção de coisas, tarefas a realizar, nas minhas filhas, na viagem que farei para São Paulo, no tempo que, agora, sempre ameaça mudar. O caminho que costumo fazer quando venho de táxi rodeia uma praça, onde fica a Igreja do Santo Cristo, no bairro de mesmo nome. A praça tem bancos de jardim e brinquedos para as crianças - mas vive cheia de desocupados.
Olhando para esse arremedo de praça infantil, vi uma cena que me mostrou o quanto o ser humano pode ter dignidade, quando nada mais há de digno em sua vida. E como o caráter de uma pessoa pode permanecer imutável, seja ela rica ou pobre.
Sentado num dos bancos, vestindo apenas uma calça rota, os pés imundos e doentes, um mendigo segurava um caco de espelho, menor do que a palma da mão da minha caçulinha. Tentando mirar-se, contorcendo-se para sua imagem caber naquele ínfimo pedaço refletor, ele fazia, caprichosamente, a barba.

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Blue velvet

Gosto de amanheceres e entardeceres. Sim, são bonitos. Mas dois momentos do dia são mais especiais para mim.
Primeiro é quando a noite se transforma subitamente em dia. O céu, antes de tornar-se avermelhado, se colore de um azul especial - aquele azul que toda avó chamava de "royal". Mas é o conjunto: o cheiro maravilhoso e fresco, aquele céu explodindo num azul de cegar.
O outro momento é como o céu está agora. Deve ser por causa da chuva, que caiu torrencialmente até o meio da tarde e depois, deu lugar ao sol (eu adoro quando faz chuva e sol; hoje de manhã, por um breve instante, isso aconteceu, e me lembrei da primeira vez que as meninas viram isso, nós três andando pela rua, encharcadas até os ossos e brincando de pisar nas poças onde o sol se refletia :o). O céu abriu-se, e agora está azul muito escuro, como nas noites de outono. A lua quase cheia, muito branca.
A impressão que dá é que, se você estender a mão, vai sentir no dorso aquele macio do veludo e, na palma, passando os dedos por trás da lua, aquele friozinho de porcelana.
Aos dois momentos, algo em comum: somente silêncio e paz.
Vou me juntar às meninas na rede para ver o céu. Até amanhã.

Só tem graça com papel grudado

Da Revista IstoÉ:

O mundo chupa balas Juquinha

As balas Juquinha, quem diria, ganharam o mundo. Criado há 60 anos em São Paulo, esse caramelo é um dos mais antigos do País e o seu jingle que tocava no rádio e na tevê é até hoje um dos dez mais lembrados da propaganda nacional. Agora, as vendas das balas Juquinha no Exterior representam metade do total de negócios da empresa. São 47 países que chupam balas Juquinha.
Lembra do jingle?
"Juquinha quando está chupando bala, não pára, não fala, nem dá doce, nem bala..."

Agora não tem mais graça: as balas não vêm mais embrulhadas em papel encerado, e sim em plástico. O gosto não é igual - ou por acaso você conseguia desembrulhar a bala direitinho? Pois se conseguia, era bobão: o papel era justamente para ajudar a digerir a bala - celulose, fibras, intestino mais soltinho - entendeu?

Pedestal

Hoje de manhã chovia torrencialmente. Acordei às quatro em ponto com um temporal de arrancar telhas. Assim, fiz tudo com calma: arrumei as meninas com antecedência, tomei banho feito gente civilizada. Quando estava arrumando minha bolsa, ouço um grito da varanda: “Mamãe, corre aqui!!!”
Quando cheguei perto, Zé Colméia não falou nada: apenas apontou para o ninho já meio desfeito, e um projeto de passarinho dentro, resfolegando. Catatau não viu nada, brincando que estava com a empregada, que achou por bem distraí-la antes que ela visse o passarinho sofrendo.
Me ajoelhei e peguei o ninho nas mãos, sem saber o que fazer:
– Salva ele, mamãe! Faz alguma coisa!
– O que, filha? Eu não sei o que fazer!
E o pobre passarinho ali, molhado, pequenino, naquele ninho se desfazendo nas minhas mãos. E ele parou de se mexer.
– Mamãe, ele... morreu?
– Morreu, filha. Desculpe. Não fica triste.
O que você diz? Nada. Ela não parava de olhar para o passarinho, que parecia que ia se desmanchar junto com aquela bola de palha. Me levantei, entreguei o ninho para a empregada, dei a mão às duas e descemos as escadas. Entramos no carro. Quando viramos a primeira esquina, minha filha olhou para mim. Estava chorando, pela primeira vez na vida, como uma adulta: em silêncio, com raiva do mundo. E quando ela me olhou, eu chorei com ela. Não por causa do passarinho morto, que Deus me perdoe. Mas porque, naquele exato momento, aos olhos da minha filha, minha adorada e corajosa filha, eu deixava de ser onipotente e passava a ser, simplesmente e até o fim de nossas vidas, falível.

Para minhas meninas

Ao sol

No varal de roupas
Vou estendendo os meus amores, minha vida
Primeiro foram as camisas
pequeninas, bordadas, preciosas
As fronhas brancas, os lençóis
de bichos e flores
Depois vieram as calças furadas
nos joelhos, os vestidos manchados
das primeiras tintas
dos primeiros rabiscos
da primeira infância
E quando as meias já
se viam na rua de baixo
surgiram novamente
as mesmas camisas pequeninas,
os mesmos lençóis de bichos, de flores
a secar no fim da tarde
No varal de roupas
penduro todos os dias
meus amores, minha vida
Porque as camisas pequeninas
se vão; vão-se os lençóis
de bichos, de flores
Mas o perfume das tuas roupas
estará sempre ali
Cresçam os lençóis
Os vestidos manchados
das primeiras tintas,
dos primeiros rabiscos
A primeira infância será da geração seguinte
Mas a minha vida
o meu amor por ti
estará ali, sempre à mostra
no varal onde pendurei
Meus amores, minha vida

(Escrito quando minha querida e amorosa caçula chegou a esse mundo :o)

sábado, fevereiro 19, 2005

Cerejeiras em flor

A vantagem de se morar em casa é poder ter muitas coisas que seriam impossíveis num apartamento. Plantas eu não tenho muitas (fiquei sempre na promessa de ir com o Doc comprar algumas na comarca onde ele mora. It's the past, anyway) mas há árvores - frutíferas - em profusão: mamoeiro, bananeira, pé de maracujá, cacaueiro...
E me lembrei agora há pouco que, quando eu era menina, lia nos romances que as mocinhas sempre passeavam por pomares e voltavam para os braços de seus amados com os cabelos perfumados por pêssegos, maçãs ou cerejas.
Bom, eu voltei do jardim rescendendo a goiaba. Muuuuito romântico - mas tudo bem; as meninas babam no travesseiro, mesmo :o)

Frases que me irritam

"Pesquisando o sinal do satélite. Por favor, aguarde alguns minutos."
"Este celular está fora da área de cobertura ou desligado. Tente mais tarde."
"No momeinto, todos os nossos operadores estão em atendimeinto. Por favor, não desligue: sua ligação é muito importante... para nós!"
"Olá, Suzana! Você tem 0 mensagens!"

Princesas, sempre elas

A vida seria muito mais fácil se pudéssemos, até o fim da vida, conservar aquele pedaço de nós que, na infância, acredita que o baú imperial é o melhor lugar para se guardar as jóias da Princesa Annelise - mas, na falta de coisa melhor, uma caixa de fósforos longos Paraná serve à perfeição.

The jungle

Madalena canta Babalu em ritmo de frevo na minha cabeça; as duas cadelas estão no cio e nem cogitam a hipótese de dar pro macho, que desde quinta uiva dia e noite sem parar. Zé Colméia e Catatau não páram um minuto sequer, o que me leva às raias da irritação e do stress.
Quebrei uma garrafa e depois de ter rastejado a cozinha inteira para me certificar que não havia mais vidro no chão, me levantei, me virei e fiz um talho de três centímetros no calcanhar. Obviamente, a dor se juntou à sujeira de sangue respingando para todo lado enquanto eu tentava passar entre a multidão de duas aos gritos de "olha lá, olha lá, a mamãe tá fazendo sangue!!! Tá pingando, tá pingando!!! Ai, vou vomitar..."
Apesar disso tudo, li de uma enfiada só "A vida de Pi", do Yann Martel.
Dividir um bote salva-vidas com um tigre de 200 quilos?
Moleza. Pelo menos, alimentado, ele cala a boca e sossega.

sábado, fevereiro 12, 2005

Amazing Stories

Sim, enfrentei a horda de mães sanguinárias. Comprei o material escolar das meninas - surpreendentemente, em meia hora já estava com tudo, com a ajuda de um funcionário muito solícito e o involuntário vestido que me fazia parecer grávida.:o)
No caixa, paguei o resgate com cheque, porque meu ex-marido vai dividir a conta. A mocinha (sempre são mocinhas com cara das mais eficientes e conhecedoras de seu ofício, jogando os potes de 500g de guache por cima dos lápis de cera) entrega a nota com meu cheque (com os telefones do meu trabalho e de casa) e minha carteira de identidade a um rapaz igualmente eficiente, que some no meio da multidão em busca do Cálice Sagr..., quer dizer, em busca do gerente e sua aprovação.
Quarenta minutos e nada. "Ele volta hoje?", pergunto, já de mau humor.
Lá vem ele no meio do mar de gente.
- Desculpe, seu cheque não foi aprovado.
- Como é que é? Tenho crédito, contas pagas, dinheiro no banco, estou pagando em cheque por comodidade, mas pago em Redeshop, se for o caso. Qual o problema?
- Sabe o que é, ligamos para os telefones que estão no verso e ninguém atende.
- Deve ser porque eu estou aqui. Não estou em casa nem trabalhando.
- Ah, é?

"Ah, é." A criatura ainda responde.
Casa Cruz, senhoras e senhores. Largo de São Francisco, Centro do Rio.

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Rio antigo

Da Revista IstoÉ:

Livros
Olhar carioca (Monte Castelo Idéias, 130 págs., gratuito pela internet) – Saborosas e bem-dosadas gotas da irreverência carioca ilustram a publicação, que, ao contrário das obras maçantes no gênero, revela filigranas da cultura exportada para todo o País. Com texto leve e informativo, conta que o banho de mar só foi adotado em 1873, sob prescrição médica, e que, em 1917, lei municipal impôs “vestuário adequado”, sob pena de multa. O aluguel de janelas e varandas, marca do réveillon de Copacabana, começou em 1857, no desfile de 7 de setembro. O jogo do bicho era um inocente sorteio no zoológico, criado em 1890 pelo Barão de Drummond. Em Copacabana, tomava-se leite no estábulo em 1910 e foi no Rio que surgiu, em 1906, o primeiro botequim do Brasil, o Paladino. As gírias, precursoras dos “dialetos” de hoje, surgiram com os malandros. (Celina Côrtes)

Volta às aulas

As meninas vão para a casa do pai hoje à noite. Amanhã de manhã, vou enfrentar a horda de mães ensandecidas lutando, com sangue, suor e ranger de dentes, pela última caneta preta de retroprojetor.
É, as aulas começam na segunda. E eu não comprei nem uma borracha. Da lista de material de duas páginas. Para cada criança.

Desci

Ontem chegou um convite de casamento de um casal de amigos, próximos. Era endereçado a "Sr. e Sra". Piquei e joguei no lixo. Quem ainda insiste em mandar "Sr. e Sra" depois de mais de um ano de separação não merece minha presença em absolutamente nada.
Não estou mais com saco para o mundo em geral e para pessoas em particular.

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Boomerang

Olho para minhas filhas e penso no Zé Colméia e no Catatau. Um sempre atrás do outro. Zé Colméia inventando o que não deve. Catatau dizendo "Não faz, o Gualda vai bligar". Mas os dois acabam inventando moda e o Gualda, obviamente, bota as duas de castigo.
A partir de hoje, elas serão Zé Colméia e Catatau.

Mercadores de almas

Existem homens dominadores de alma.
Existem homens devoradores de alma.
Preciso de um homem que resgate minha alma.

domingo, fevereiro 06, 2005

Perdidas no tempo

Era novembro; fim de tarde, quase cinco horas. Eu tinha acabado de dar banho nas meninas, os cabelos molhados ainda, quando ouvimos o que parecia uma banda na porta de casa. Prendi os cachorros e descemos até o portão para ver. Na amurada da nossa casa, antes do último lance de escadas, por cima do muro, ficamos nós três, M. agarrada às minhas pernas, sem piscar; J. no meu colo, mal respirando. E eu, explicando a elas o que era o jongo - pois era isso que estava a se apresentar na minha rua: um grupo de jongo, os dançarinos com suas roupas de trapos, o grupo musical tocando com o som forte dos tambores, a cantoria. E as meninas fascinadas, sem desviar os olhos daquele grupo numeroso, materializado não sei de onde, mas que devia ter vindo de muito longe, tal o estado do ônibus estacionado na calçada em frente ao meu portão.
Jongo. Quantas crianças sabem o que é isso? Você já viu algum? Eu, só uma vez. E nós recebemos aquilo de presente, aquela apresentação magnífica, sob o céu avermelhado que se abria em estrelas depois de um dia inteiro de chuva. E as meninas, descalças, pés molhando poças, regalaram-se até que o frio as empurrou escadas acima em direção ao cheiro do pão de queijo do lanche.
E uma pequena sombra desceu e resfriou meu coração. Essa e outras coisas que eu divido com as meninas ficarão apenas na minha cabeça, porque elas não mais se lembrarão - M., talvez. E me entristeceu que não houvesse alguém a me ajudar a subir as escadas e lembrar dessa tarde mágica.
A isso, meu amor, eu chamo solidão.

Receita de beleza

Ontem, de madrugada, deitei na rede da varanda e fiquei admirando o céu, cortado pelas luzes dos holofotes do Sambódromo. Aquele vaivém acabou me fazendo dormir, já de madrugada.
Às seis horas, acordei. Minhas costas ganharam dezenas de picadas de mosquitos.
Estou, como dizia minha querida amiga Gisela,

"Um show de mulher!"

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Meta

"Impossível só define o grau de dificuldade." Anônimo

5-a-Sac

Preciso urgentemente achar uma costureira que aperte meus vestidos. Minha chefe acaba de me perguntar quando minha mãe vai parar de passar as roupas da minha irmã mais velha para mim.

É só retórica

Acordei às 9h22. Preciso estar no trabalho às 9h. Antes, arrumar a cama, fazer o café, dar comida aos cachorros e fazer a cama das meninas, que voltam hoje (é, não foi segunda) para casa. Será que dá tempo?