segunda-feira, maio 18, 2009

Lagriminhas

Uma (?) dry wall me separa de uma exposição de camisas de times de futebol autografadas. A mim não adianta em nada, odeio futebol, mas custava não atrapalhar a minha vida?

Não podiam ficar em silêncio? Não são tão bonitos e harmoniosos os sons da natureza? O vento ventando e os passarinhos gritando bem te viii lá de longe? Tem mesmo que ter esse rádio tocando 90 milhões em ação pra frente brasil salve a seleção no repeat?

- Tem história familiar de câncer?
- Sim, minha mãe faleceu de câncer de mama há 3 meses.

É nessa hora que entra Ricky Martin:

GO GO GO!
ALLEZ ALLEZ ALLEZ!


Acho adequado & importante.

Aí tem a dos 90 milhões, tem Ricky Martin e tem garota dourada quero ser teu irmão eu sou teu irmão namorado. Que, né, além de ter tudo a ver com o ludopédio, é uma música extremamente agradável pra se ouvir durante nove horas consecutivas.

......

Quem mandou fazer assinatura de revista da editora Abril? Agora aguenta, nêga. Isso e a galera ligando o sábado inteiro, desde as nove da manhã, e você evitando atender o telefone porque né, em algum dia da semana você precisa dormir, até que lá pelas três da tarde, depois de ligações horárias, você começa a achar que alguém morreu e atende a porra do telefone e é uma mulher te avisando que você tem sei lá quantos dinheiros de desconto na assinatura da Veja.

Da Veja!

- Moça, eu odeio a Veja.
- Perdão, senhora?
- A Veja é um lixo atômico, moça.
- Hmmm. Obrigada, senhora. Desculpe o incômodo.
- Agora já acordei, né? Agora Inês é morta, né?

Tsc.

......

Avisando que vai começar de novo...
A nova temporada de Eu Odeio Muito A Porra Do Meu Trabalho.

Vê.

O telefone de emergência toca. O telefone da emergência é um telefone vermelho. Que pisca quando ligam pra ele. E tem a campainha mais estridente de todos os telefones que já ouvi tocar. A fiRRRma inteira ouve o telefone de emergência quando ele toca. Porque todo mundo precisa parar o que está fazendo e atender à emergência. Se alguém liga pro telefone da emergência, afinal de contas, é porque está efetivamente acontecendo uma emergência. Eu interrompo o atendimento que tava fazendo e já corro pra pegar a mochila dos primeiros socorros.

- Dotôra Cristiane, prossiga.
- Ah! Oi, dotôra!
- Qual é a emergência?
- É que eu queria marcar uma consulta com a Dermatologista, mas o outro ramal tava ocupado.
- Senhor, esse telefone é para emergências somente. Por favor, só ligue neste ramal se estiver acontecendo uma emergência. Peço que o senhor continue tentando no outro ramal, tenha um bom dia.

Meia hora depois chega e-mail da ouvidoria: "Colaborador Fulano de Tal relata que ligou para marcar consulta no ambulatório, foi tratado mal e a médica Cristiane desligou o telefone na cara dele."

E eu achando que estava sendo excessivamente educada, hein? Porque a minha vontade genuína era de dizer ORA VÁ TOMAR NO MEIO DO SEU CU, MEU SENHOR! EMERGÊNCIA, CARALHO! ONDE É QUE MARCAR CONSULTA COM DERMATOLOGISTA É EMERGÊNCIA, PORRA? VAI SE FODER!, mas como isso já aconteceu umas 26 vezes desde que resolveram instalar o maldito telefone de emergência (há um mês), eu tenho já essa resposta pronta.

Já sei que jamais posso ser telefonista do SAMU. Risquei essa possibilidade da minha lista de possíveis ocupações se tudo mais falhar.

Meu chefe não acredita no que eu digo e fala que preciso ter mais tato com as pessoas. Que continuo falhando na parte de promover o encantamento.

Meu mantra pacificador: no cu no cu no cu no cu no cu no cu no cu (repete até parar de ter vontade de matar alguém, às vezes leva uns 10 minutos).

Obviamente ouço tudo calada (posto que não há argumentação possível, já entendi depois de frustradas tentativas) e sigo com a minha vida.

Dali a umas duas horas o telefone de emergência toca de novo. Digo que não vou atender, porque aquela lá já foi minha segunda ouvidoria do dia e strike three i'm out. Atende a enfermeira. O relato: funcionária passando mal no setor blublublei. Está consciente? Mais ou menos. Mais ou menos como? Ela disse que tá passando mal, tá com dor no peito, não consegue respirar. Ela está se comunicando, então? Sim, com muita dificuldade.

Ambulância, então. Eu, a enfermeira e o motorista. Tocando aquela sirene alucinada pra todo mundo sair de seus setores e ir ver quem tá morrendo. Você sabe. Pessoal adora uma sirene, pessoal não se contém. A ambulância chega perto do local previamente indicado e eu avisto três pessoas em pé e uma cadeira de rodas vazia. Desço da ambulância com a mochila dos primeiros socorros, que pesa ali na base duns 290 quilos.

- Onde tá Fulana? A pessoa que tá passando mal?
- Ah, sou eu. - Me diz uma moça com um sorriso no rosto - Já melhorei, foi só uma tontura.

RAPAPUTAQUEAPARIU, minha senhora.

Joguei a mochila no chão, me ajoelhei na brita e gritei aos céus

POR QUE, MEUDEUS, POR QUÊÊÊÊÊÊ?

Não, né. Só joguei a mochila no chão. E quebrei bem umas 6 ampolas de adrenalina. Voltei pra avisar logo ao meu chefe com antecedência que provavelmente ia receber outro e-mail da ouvidoria. E dizer que eu não vou trabalhar na terça, porque tenho uma entrevista de emprego.

Num dei na minha mãe não, oxe. A ouvidoria can kiss my fat ass for all I care.

(outras emergências da semana que a ambulância teve que ir buscar: cólica menstrual, ressaca, piti, dor de cabeça e o quê? o quê? o quê? I CAN'T HEAR YOU! ãrram, ãrram, febre interna.)


Cristiane. Ela é muito desbocada. Fala (e escreve, né) uma montanha de palavrão. E eu tô aqui passando mal de tanto rir.
Ah! Ela pediu demissão. E o chefe dela teve um ataque cardíaco quase na lata. Cristiane. Não esquece.

5 comentários:

Manu disse...

Agora entendi o porquê do título! hahahahaha
Tô rindo muito! Vou lá conhecer o blog da Cristiane.
Adorei o mantra pacificador! Vou adotar, que tem horas que só matando alguém mesmo.
Bjs, Suzana.

Solange disse...

Pena que de vez em quando ela fecha/muda de blog (é um sufoco achar a moça de novo!) e os arquivos vão literalmente pro espaço. Tenho saudades do tempo em que ela ainda estava na faculdade de medicina e fazia estágio em uma casa psiquiátrica. Chorar de rir era pouco :D

Lys disse...

A Cris eu acompanho há anos. Quando descobri o blog,um dos antigos (ela cria, fecha, cria, fecha blogs o tempo todo), li os arquivos inteiros em uma só sentada. Ela é hilária até quando está deprimida. Imperdível. Para salvar nos Favoritos forever, ou até ela sumir de novo.

Tina Lopes disse...

Putz, eu nem sabia que a dotôra tinha blog desde o tempo de estágio. Adoro demais. Realmente, ela faz sofrer quando abandona o blog e faz a gente (eu) se sentir excluída quando abre outro sem contar. Mas adoro e continuo seguindo, sem incomodar muito, que eu sou cara-de-pau mesmo. Levei um susto de ler aqui, desavisadamente, achei que ela tinha mudado de blog, rsrsrs.

cris disse...

hahahaha, não conhecia. adorei. toda cristiane, por definição é desbocada mesmo. um luxo, néam? [e vou lá conhecer o blog da dotôra]