"A proposta de uma das atividades de recuperação (sim, teve uma parte oral e uma escrita, porque sei que muita gente tropeça na parte de escrever apesar de conhecer o assunto) da sexta série era simplicíssima: construir um diálogo entre duas pessoas que conversam sobre Idade Média.
Sem mais delongas, eis o conteúdo de uma das provas (19 de 38 alunos fizeram essa prova):
'O Carlos está ensinando para o Paulo o que é uma Idade Média. Ele está ensinando tudo para o colega dele.
Idade Média é quando você está se formando.
Cada fez [sic] que você passar de ano as coisas vai sendo mais difícil.
Eram o Carlos e o Paulo.
O Carlos está na Idade Média e o Paulo está no ensino Fundamental.
Os dois morava numa casa bem bonita.
Era bem bonita.
Um já estava-se formando e o outro estava no ensino Fundamental.
Para quem está na Idade Média não é fácil.
Por que cada vez que passa vai ficando mais difícil.
E hoje eu estou aqui por que eu estou estudando para ser alguém na vida.'
***********
Época de fechar notas me deprime de qualquer forma. Mas não estou nunca preparada pra encontrar esse tipo de coisa. Duas da manhã e eu nessa pilha, nessa raiva. Claro que eu fico com pena de uma criatura que passa horas do dia numa sala de aula desde os cinco ou seis anos de idade e vive um engodo. Porque ela está sendo enganada. Não está aprendendo qualquer coisa, mas ela acha que se tiver o caderninho em ordem ela já aprendeu. Experimenta escrever duas palavras numa lousa: você vai ver uma reação instantânea generalizada de copiar aquilo que você escreveu. Nada mais. Você tem que brigar, mandar todo mundo largar do raio do lápis e prestar atenção. Não venha me falar sobre "blá blá aula expositiva blá blá didatismo". Não há nada que substitua a mediação oral do professor, vá pro inferno você que pensou nisso aí da linha de cima. Inclusive porque estamos falando de uma sociedade não-letrada. Então a oralidade pode ajudar quando a escrita não acha lugar (aí entra a minha preocupação com a prova oral).
Como eu ia dizendo, fico com dó dessa gente, que não sabe a extensão da perversidade do sistema que mente pra eles. A mãe jura por tudo quanto é santo que o filho tá indo pra escola estudar. A gente jura que está ensinando alguma coisa. O aluno jura que está fazendo algo certo. O Estado jura que dá uma estrutura decente.
Eu queria tanto poder colocar a culpa em alguém, apontar o dedo e dizer barbaridades. Culpa da menina, que com certeza mais que absoluta não se preocupou nem em saber o assunto que cairia na prova (ela foi bem mal na parte oral, que salvou tanta gente); dos pais que são a um tempo só omissos e vítimas do mesmo engodo; dos professores que ela teve até a quarta série, que não serviram pra porra nenhuma e com certeza instituíram a cultura da cópia nos alunos em vez da reflexão; lidam com uma quantidade imensa de alunos por sala e que em tantas vezes são muito mal formados, mal pagos, ou até acomodados no cargo público e na justificativa do salário baixo; no Estado que permite esse crime chamado progressão continuada e que segue Parâmetros Curriculares baseados em um método de alfabetização equivocado pra nossa realidade; nas instâncias ligadas à promoção da educação e da leitura. Culpa minha, que não devo estar sabendo dar aula, que insisto em uma profissão como essa enquanto devia fazer um acordo doméstico e esperar passar em um concurso sem trabalhar. Culpa até da minha mãe e do meu pai, que me criaram pra ser independente, ter profissão, investir em mim, fazer o melhor que puder, brigar até o fim.
Pronto, achei muitos culpados, tá resolvido. Acho que já posso dormir.
Boa noite."
Por Deborah Capella
Deh, eu chorei de raiva. Porque impotência, ao contrário do que se pensa, não tem remédio. É usar balde para esvaziar o oceano. Minha mãe foi professora de escola pública por quatro décadas. Eu ria das besteiras que lia naquelas provas. E hoje me envergonho muito disso.
quarta-feira, abril 29, 2009
Fotógrafos XIII - Paul Strand
Burying ground, Vermont, 1946
Mullen, Maine, 1927
Young boy, Gondeville, Charente, France, 1951
Tir A'Mhurain, South Uist, Hebrides, 1954
Katie Morag Morrison, South Uist, Hebrides, 1954
Ewan MacLead, South Uist, Hebrides, 1954
Lusetti Family, Luzzara, Italy, 1953
Post mistress and daughter, Luzzara, Italy, 1953
Wall Street, New York, 1915
Blind woman, New York, 1917
Olhar direto: fotografias de Paul Strand
Instituto Moreira Salles: Rua Marquês de São Vicente 476, Gávea, Rio de Janeiro. Tel: (21) 3284-7400.
Exposição: terça a domingo, das 13h às 20h. Entrada Franca.
Filmes: sessões todas as quintas e domingos de maio, às 16h.
Dias 7, 10, 21 e 24 de maio: "Redes", de Fred Zinnemann; "Manhatta", de Paul Strand e Charles Sheeler
Dias 14, 17, 28, 31 de maio: "Native Land", de Leo Hurwitz e Paul Strand; "Manhatta", de Paul Strand e Charles Sheeler
terça-feira, abril 28, 2009
Declarei
O ano de 2008 passou pago pelo meu FGTS (finalmente retirado) e a ajuda dos meus pais, plus o que eu ganhei das editoras. Que, aliás, foi tão pouco que o IR recolhido na fonte foi de R$ 185. A Receita Federal, vendo a periclitância, bondosamente vai me restituir R$ 114.
Tô mais feliz que pinto no lixo.
Tô mais feliz que pinto no lixo.
segunda-feira, abril 27, 2009
As tiranias da intimidade
Para entendermos por que O declínio do homem público já se tornou uma espécie de clássico da sociologia contemporânea, basta olharmos à nossa volta. Basta ver que um país com o Brasil tem, por exemplo, muito mais poetas do que leitores de poesia. Do advogado ao médico, à dona-de-casa e até ao cineasta, passando, é claro, pela atriz, todos escrevem - e empurram-nos - seus poeminhas. Por que será que é mais fácil escrever poesia do que ler poesia, fazer arte do que ver arte - paradoxo que só pode implicar rebaixamento de qualidade? É que no mundo do "eu me amo", do narcisismo desvairado, a privatização da existência assumiu proporções tais que o eu constantemente invade o já tão depauperado espaço do outro. Ser outro hoje em dia é duro, nesse bulevar de vitrines do ego.
Muito justamente, Richard Sennett se cansou dessa mania de jogarem o coração - sangrando ou não - sobre a mesa. Para ele, os principais males da sociedade, do narcisismo clínico à apatia política, resultam no declínio da vida pública, uma vez que as pessoas só podem ser sociabilizáveis quando possuem algum resguardo uma das outras. Ou seja, para que haja interação eficaz entre elas, são imprescindíveis algumas formas ritualísticas de comportamento, tais como as que havia no século XVIII, onde, efetivamente, existia um equilíbrio entre a geografia pública e privada.
Cobrindo mais de duzentos anos de história cultural, política e social, e englobando a moda, os escritos de Diderot e Balzac, os estilos de Liszt e Paganini (e as respostas de suas audiências), o comportamento das massas revolucionárias, o caso Dreyfus e a carreira de Richard Nixon, O declínio do homem público concentra-se precisamente as razões pelas quais, a partir de um dado momento, aquele equilíbrio - no fim das contas tão necessário à nossa sobrevivência psíquica - deixou de existir.
Richard Sennett, "O declínio do homem público" (orelhas)
Companhia das Letra, 1989
Um livro sen-sa-ci-o-nal, esgotado (claro) que você acha em sebos por preços variando entre R$ 95 a R$ 250. Não empresto o meu nem pra Jesus se atualizar.
Desespero é...
Recolher e limpar do chão da cozinha todo o detergente de pia que vazou do frasco espatifado.
Ver a máquina de lavar a) vomitar espuma sem parar; b) sair andando enquanto centrifuga 9,7 toneladas a mais de roupa que o recomendado pelo fabricante; c) enguiçar antes de começar a enxaguar as 10 toneladas de toalhas e lençóis que você enfiou lá dentro; d) todas as opções acima.
Fazer o cachorro parar de mastigar aquele rato morto.
Tirar em 0.000967 milésimos de segundo a roupa alva, perfumada e seca do varal antes que o temporal encharque e suje tudo de novo.
Alcançar o inseticida sem fazer movimentos bruscos.
Consertar a descarga da privada antes que ela esvazie toda a caixa d'água do prédio.
Fazer aquela compra monstra numa madrugada de feriado e depois de tudo passado, empacotado, embalado e ensacado, procurar a carteira e descobrir que deixou a dita em outra bolsa. Na casa da sua mãe. Que mora em Friburgo.
Ver a máquina de lavar a) vomitar espuma sem parar; b) sair andando enquanto centrifuga 9,7 toneladas a mais de roupa que o recomendado pelo fabricante; c) enguiçar antes de começar a enxaguar as 10 toneladas de toalhas e lençóis que você enfiou lá dentro; d) todas as opções acima.
Fazer o cachorro parar de mastigar aquele rato morto.
Tirar em 0.000967 milésimos de segundo a roupa alva, perfumada e seca do varal antes que o temporal encharque e suje tudo de novo.
Alcançar o inseticida sem fazer movimentos bruscos.
Consertar a descarga da privada antes que ela esvazie toda a caixa d'água do prédio.
Fazer aquela compra monstra numa madrugada de feriado e depois de tudo passado, empacotado, embalado e ensacado, procurar a carteira e descobrir que deixou a dita em outra bolsa. Na casa da sua mãe. Que mora em Friburgo.
quarta-feira, abril 22, 2009
Seu amor de volta em três dias
Zé Colméia agora é consultora sentimental. Atende de segunda a sexta, em duas sessões: das 9h30m às 10h e das 15h às 15h30 (aka hora do recreio). Basta procurá-la no pátio da escola, com sua pastinha onde se lê:
"Problemas com o namorado? Fale comigo que eu resolvo pra você."
Preço especial para professores e funcionários.
sexta-feira, abril 17, 2009
Pouco lisonjeiros de minha pessoa
Estou sofrendo um sério problema com a simetria do tempo. Assim: ponho o despertador para as 5h15m. Então ele toca e eu meto um "soneca" nele - que eu não sei desprogramar e reprogramar - e o alarme dispara depois de 8 minutos. Então, toca às 5h23m - e eu penso "Puxa, vou dormir até às 5h25m" e ferro no sono para ser acordada às 5h31m - "Vou pular da cama às 5h35m" - e fica nessa empatação até depois das seis, quando eu já estou atrasada e saio de casa com um banho de gato e café-da-manhã de passarinho. Sério, isso. Falta to-tal de vergonha na cara.
Às vezes, eu me escondo das meninas - na boa, tem hora que torra aquela coisa de "ela começou, porque eu fiz e ela repetiu e você é boba, você que é feia, sua chata, vem sua bacalhuda".
Agora eu tenho um notebook. Presente do meu pai pra facilitar eu trabalhar em casa. Verde-folha leeendo de morrer. Zilhares de DVDs com filmes fantásticos e episódios das minhas séries preferidas para assistir nele com fone de ouvido, que é como eu gosto. Tudo ainda na caixa. A minha TV (herdada do meu avô) é megaplusgigaenorme. Que eu deixo no Climatempo para saber se em Macapá vai dar praia.
Há dias em que durmo por cima da colcha. Terça dormi com a roupa do corpo. Estou sofrendo do mais perigoso grau de cansaço - o do cérebro. Nada me anima. Nada me seduz. Pra você ver: na quinta antes do feriado estava eu na fila do supermercado quando Zé Colméia ligou pro meu celular perguntando qual o meu e-mail - o professor de música queria me mandar a nova versão de "Atirei o pau no gato" que ela e a irmã haviam composto e interpretado. Recitei o e-mail bem devagar. Cheguei segunda e havia a mensagem de um cara (que, eu suponho, era o ser apetecível que estava à minha frente na fila) que tinha me achado interessante.
Você respondeu?
Nem eu.
Às vezes, eu me escondo das meninas - na boa, tem hora que torra aquela coisa de "ela começou, porque eu fiz e ela repetiu e você é boba, você que é feia, sua chata, vem sua bacalhuda".
Agora eu tenho um notebook. Presente do meu pai pra facilitar eu trabalhar em casa. Verde-folha leeendo de morrer. Zilhares de DVDs com filmes fantásticos e episódios das minhas séries preferidas para assistir nele com fone de ouvido, que é como eu gosto. Tudo ainda na caixa. A minha TV (herdada do meu avô) é megaplusgigaenorme. Que eu deixo no Climatempo para saber se em Macapá vai dar praia.
Há dias em que durmo por cima da colcha. Terça dormi com a roupa do corpo. Estou sofrendo do mais perigoso grau de cansaço - o do cérebro. Nada me anima. Nada me seduz. Pra você ver: na quinta antes do feriado estava eu na fila do supermercado quando Zé Colméia ligou pro meu celular perguntando qual o meu e-mail - o professor de música queria me mandar a nova versão de "Atirei o pau no gato" que ela e a irmã haviam composto e interpretado. Recitei o e-mail bem devagar. Cheguei segunda e havia a mensagem de um cara (que, eu suponho, era o ser apetecível que estava à minha frente na fila) que tinha me achado interessante.
Você respondeu?
Nem eu.
iVelhice
Tenho baixado CDs de Frank Sinatra, Ella Fitzgerald e Louis Armstrong para meu pai. Animadinho com as prendas, encomendou um CD Player novinho, cheio de bossa.
- Não toca nada!
- Como assim, pai?
- Não toca nada! NADA! Experimentei os CDs no aparelho de som da sua mãe e eles funcionam direitinho. Eu ponho no meu e necas! No visor aparece o número da música, o tempo correndo mas só silêncio.
- Puxa, pai, que chato! Novinho, né?
- Acabei de tirar da caixa.
- Às vezes pode ser problema nos fones de ouvido.
- Fones... de ouvido?
- É, nos fones. Você encaixou direitinho os fones?
- Er... Precisa dos fones pra ouvir, é?
Peninha...
- Não toca nada!
- Como assim, pai?
- Não toca nada! NADA! Experimentei os CDs no aparelho de som da sua mãe e eles funcionam direitinho. Eu ponho no meu e necas! No visor aparece o número da música, o tempo correndo mas só silêncio.
- Puxa, pai, que chato! Novinho, né?
- Acabei de tirar da caixa.
- Às vezes pode ser problema nos fones de ouvido.
- Fones... de ouvido?
- É, nos fones. Você encaixou direitinho os fones?
- Er... Precisa dos fones pra ouvir, é?
Peninha...
quarta-feira, abril 15, 2009
Fotógrafos XII - Yevgeni Khaldei
Sem óculos
Então. Você chega de uma viagem que deveria durar duas horas e meia - e levou quase cinco. "Podre" não definiria o estado semicoloidal que seu corpo agora apresenta. Bêbada de sono, se arrasta do sofá onde desabou há três horas, depois de enfiar suas filhas na cama. "Ah, que se dane. Vou dormir assim mesmo. Mas nem morta vou arrumar mochilas e separar uniformes. Ninguém morre se for dormir sem escovar os dentes. Ainda tenho que grunfmfgsmum..." E sai cambaleando em direção à cozinha para apagar as luzes da casa quando pisa descalça num camundongo seco e duro e morto de tanto comer Racumin. Depois disso até as malas eu desfiz.
Tá precisando de uma descarga de adrenalina para acordar?
Pisa descalça num rato morto. É tiro e queda.
* Mas eu não recomendo. Nem desejo ao meu pior inimigo. Minto. Desejo pro meu ex-marido. Ele tá merecendo.
Tá precisando de uma descarga de adrenalina para acordar?
Pisa descalça num rato morto. É tiro e queda.
* Mas eu não recomendo. Nem desejo ao meu pior inimigo. Minto. Desejo pro meu ex-marido. Ele tá merecendo.
segunda-feira, abril 06, 2009
Coração de chocolate
Pelo intefone: "O Francisco está subindo com uma caixa para a senhora."
E eu recebi com aquela cara de boba, of course. Porque ninguém me manda nada. Sério. E eu abri que nem se fosse dia de Natal. Tinha um embrulho prateado dentro. Eu abri com cuidado, o coração dando pulinhos. Dentro dele, uma caixa imensa de isopor. Dentro do isopor, uns pacotinhos de gel e, embaixo deles, um ovo de Páscoa. Das Meninas Superpoderosas.
Eu não vi o seu cartão. Vi, preso na caixa, a nota fiscal. E láááááá embaixo, bem embaixo mesmo, em letrinhas miúdas, tava escrito: "Enviado por".
Eu ri tanto! Disse: "Que fofa!" e ri mais um pouquinho. E então, quando estava dobrando o pacote prateado, vi o cartão pregado nele. E li e me senti a pessoa mais querida do mundo. Guardei o cartão com o coração morno (e ainda aos pulinhos) na minha agenda, para reler nos dias em que a gente leva aquela rasteira mesquinha da vida.
E então, do nada, a menina que vive tão encolhida e maltratada dentro de mim chorou. Muito, copiosamente. Porque percebeu que desde que há mais de três décadas ela não ganha ovo de Páscoa. Nem presente de Natal. E, muito raramente, de aniversário.
A menina chorou muito. Ainda fica, escrevendo isso, com os olhos rasos d'água, disfarçando para não parecer muito boba no meio da lan house. Mas está, acredite, imensamente feliz, como todas as meninas que ganham um presente devem se sentir.
Obrigada, Naomi.
* E, acredite: a bonequinha que veio dentro é a minha personagem: eu sou, no trio de meninas da minha casa, a Lindinha - Catatau é a Docinho e Zé Colméia, a Florzinha :o)
E eu recebi com aquela cara de boba, of course. Porque ninguém me manda nada. Sério. E eu abri que nem se fosse dia de Natal. Tinha um embrulho prateado dentro. Eu abri com cuidado, o coração dando pulinhos. Dentro dele, uma caixa imensa de isopor. Dentro do isopor, uns pacotinhos de gel e, embaixo deles, um ovo de Páscoa. Das Meninas Superpoderosas.
Eu não vi o seu cartão. Vi, preso na caixa, a nota fiscal. E láááááá embaixo, bem embaixo mesmo, em letrinhas miúdas, tava escrito: "Enviado por".
Eu ri tanto! Disse: "Que fofa!" e ri mais um pouquinho. E então, quando estava dobrando o pacote prateado, vi o cartão pregado nele. E li e me senti a pessoa mais querida do mundo. Guardei o cartão com o coração morno (e ainda aos pulinhos) na minha agenda, para reler nos dias em que a gente leva aquela rasteira mesquinha da vida.
E então, do nada, a menina que vive tão encolhida e maltratada dentro de mim chorou. Muito, copiosamente. Porque percebeu que desde que há mais de três décadas ela não ganha ovo de Páscoa. Nem presente de Natal. E, muito raramente, de aniversário.
A menina chorou muito. Ainda fica, escrevendo isso, com os olhos rasos d'água, disfarçando para não parecer muito boba no meio da lan house. Mas está, acredite, imensamente feliz, como todas as meninas que ganham um presente devem se sentir.
Obrigada, Naomi.
* E, acredite: a bonequinha que veio dentro é a minha personagem: eu sou, no trio de meninas da minha casa, a Lindinha - Catatau é a Docinho e Zé Colméia, a Florzinha :o)
quinta-feira, abril 02, 2009
Símios etc
Depois de três anos de obras na fachada do prédio dos meus pais, chegou a hora (disse a morsa) de falar de outras coisas: de consertar os estragos dentro dos apartamentos, repor as venezianas, reinstalar os ar-condicionados. Então eu fui despejada do meu quarto/escritório. E eles quebraram uma das paredes todinha - de alto a baixo. E eu fiquei sem computador, sem impressora, sem internet, sem nada.
Dia da macaca. Eu estava com ela, ontem. E foi com ela que eu fui ao super. Nescau, latas de molho de tomate, biscoitos de polvilho, creme cracker (que eu pronuncio crim creiquer quando quero parecer esnobe e nojentinha - lembrem-se: dia da macaca) mais umas latinhas, mais uns pacotes de macarrão/biscoitos. Pois a compra ficou lá todinha. To-di-nha. Porque quando eu vi o empacotador tinha tascado as latas em cima dos biscoitos. E minhas compras são feitas seguindo uma lógica irrefutável, para depois serem depositadas na esteira do caixa da mesma forma: primeiro material de limpeza (embalagens pesadas primeiro, depois coisas mais leves, como Bombril e esponjas); lataria; garrafas; pacotes pesados (café, açúcar, feijão) mais miudezas (caldo de carne; temperos desidratados); utilidades (toalhas de papel, guardanapos, filme plástico, papel alumínio); biscoitos (primeiro os mais compactos, como cream crackers, e depois os mais delicados, como cookies e waffles); macarrão; pão; legumes e verduras; carnes; laticínios (manteiga, queijo Minas) e, por fim, congelados. É só a criatura que está arrumando as bolsas entender que latas amassam/quebram/esmigalham biscoitos.
Pois é. Quando eu começo a arrumar as coisas na esteira até a macaca finge que não me conhece.
Dia da macaca. Eu estava com ela, ontem. E foi com ela que eu fui ao super. Nescau, latas de molho de tomate, biscoitos de polvilho, creme cracker (que eu pronuncio crim creiquer quando quero parecer esnobe e nojentinha - lembrem-se: dia da macaca) mais umas latinhas, mais uns pacotes de macarrão/biscoitos. Pois a compra ficou lá todinha. To-di-nha. Porque quando eu vi o empacotador tinha tascado as latas em cima dos biscoitos. E minhas compras são feitas seguindo uma lógica irrefutável, para depois serem depositadas na esteira do caixa da mesma forma: primeiro material de limpeza (embalagens pesadas primeiro, depois coisas mais leves, como Bombril e esponjas); lataria; garrafas; pacotes pesados (café, açúcar, feijão) mais miudezas (caldo de carne; temperos desidratados); utilidades (toalhas de papel, guardanapos, filme plástico, papel alumínio); biscoitos (primeiro os mais compactos, como cream crackers, e depois os mais delicados, como cookies e waffles); macarrão; pão; legumes e verduras; carnes; laticínios (manteiga, queijo Minas) e, por fim, congelados. É só a criatura que está arrumando as bolsas entender que latas amassam/quebram/esmigalham biscoitos.
Pois é. Quando eu começo a arrumar as coisas na esteira até a macaca finge que não me conhece.
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