sexta-feira, março 20, 2009
Pieguice Mode On
Quando a coisa fica feia e eu começo com aquela ladainha de ninguém-me-ama-ninguém-me-quer... Rapaz, é insuportável.
Nem eu me agüento.
Foi mal, povo.
Placebo
Em dias em que me bate aquela depressão profunda plus uma paralisia revoltante (mil reais a menos no seu orçamento e aquelas sutis ameaças de "evite o cancelamento do serviço/abastecimento realizando o quanto antes o pagamento da sua conta" fazem isso com você maravilhosamente bem) eu me deito no sofá do quarto, fecho os olhos e penso naquela sensação única que eu, um dia, já experimentei:
Comer melão ou melancia absurdamente gelados num dia de calor infernal;
Deslizar a mão num braço de homem, por baixo e por cima da manga da camisa;
Sentir a brisa de um fim de tarde depois de tomar banho, vinda da praia;
Deitar-se finalmente depois de um dia extremamente cansativo, o escuro caindo sobre o corpo como um lençol geladinho;
Abrir os olhos na rede e ver um passarinho pousado ali pertinho, examinando você atentamente;
Sentir cheiro de jarmim dançando embaixo do seu nariz, vindo do nada;
A sensação de acordar com alguém acariciando seus cabelos;
Abraçar alguém, pele contra pele, naquela hora em que se tem absoluta certeza que o mundo lá fora acabou-se e não há mais nada a fazer.
Comer melão ou melancia absurdamente gelados num dia de calor infernal;
Deslizar a mão num braço de homem, por baixo e por cima da manga da camisa;
Sentir a brisa de um fim de tarde depois de tomar banho, vinda da praia;
Deitar-se finalmente depois de um dia extremamente cansativo, o escuro caindo sobre o corpo como um lençol geladinho;
Abrir os olhos na rede e ver um passarinho pousado ali pertinho, examinando você atentamente;
Sentir cheiro de jarmim dançando embaixo do seu nariz, vindo do nada;
A sensação de acordar com alguém acariciando seus cabelos;
Abraçar alguém, pele contra pele, naquela hora em que se tem absoluta certeza que o mundo lá fora acabou-se e não há mais nada a fazer.
sexta-feira, março 13, 2009
...
I wanna go to bed
With arms around me
But wake up on my own
Pretend
That I'm still sleeping
Til' you go home
Oh
I can't look at you
This morning
I should probably have a sign
That says
'Leave right now or quicker'
You've overstayed your time
If I don't believe in love
Nothing will last for me
If I don't believe in love
Nothing is safe for me
When I don't believe in love
You're too close to me
And that's why
You have to leave
Maybe I slept peaceful
On your shoulder
Your arm warm around my side
But it's different now
It's morning
And I can't face your smile
The second that I feel
Your safe hands
Reaching out for mine
I slip away and out of sight
You've overstayed your time
If I don't believe in love
Nothing is good for me
If I don't believe in love
Nothing will last for me
If I don't believe in love
Nothing is new for me
Nothing is wrong for me
And nothing is real for me
If I don't believe in love
Nothing is good for me
If I don't believe in love
Nothing will last for me
When I don't believe in love
Nothing is new for me
Nothing is wrong for me
And nothing is real for me
If I don't believe in love
Why do you care for me?
When I don't believe in love
Nothing is real for me
If I don't believe in love
You're getting too close to me
And that's why you have to leave
And that's why you have to leave
If I don't believe in love
If I don't believe in love
If I don't believe in love
Nothing is left for me
If I don't believe in love
You're too good for me
quinta-feira, março 12, 2009
Dito pelo não dito
Acertar na mosca
Agasalhar o croquete
Chá de cadeira
Encher lingüiça
Marcando touca
Do "Pequeno dicionário ilustrado de expressões idiomáticas", de Marcelo Zocchio e Everton Ballardin.
Outras ilustrações aqui.
E a foto lá de baixo é "Chorando sobre o leite derramado" :o)
...
... e vamos ser sinceros: é impressionante a minha capacidade de escrever absolutamente nada de interessante quando absolutamente nada de interessante acontece na minha vida.
Casamata
As delícias
Ter um monte de cachorros;
Não ter vizinhos em cima pulando corda às duas da manhã;
Não pagar pela água desperdiçada dos outros;
Ter um jardim/horta/pomar;
Poder quarar e secar suas roupas ao sol;
Ter quintal pra brincar;
Deitar na rede na varanda sem ter que tirar dela as guimbas de cigarros jogadas pelos vizinhos;
Tomar banho de mangueira em dia de calor.
As dores
Recolher você mesma todos os bichos que os cachorros trucidam, incluindo um lagarto de 30cm deixado na porta da cozinha - e que você, obviamente, pisou descalça, no escuro (não esqueçamos do rato que só foi encontrado seguindo-se o cheiro de carniça mais do que podre. CSI rules!)
Recolher as 34.7 toneladas de cocô deixadas diariamente pelos cachorros - que comem num dia mais do que suas filhas e você, num trimestre;
Conviver com pombos que escolheram justamente a viga em cima da sua jardineira de amores-perfeitos como conversadeira/cagadeira;
Não ter ninguém a não ser você mesma para xingar quando a conta d'água vem maior do que a dos Banhos de Pompéia;
Ver que o quintal com pomar e casinha rosa de madeira com janelinhas enfeitadas com jardineiras e varandinha com vista para o Dedo de Deus é preterida todo fim de semana pelo novo & emocionante episódio de Charles e Lola;
Deitar na rede da varanda e escutar seu vizinho de baixo ouvir Rush aos berros, o vizinho do lado meter um Roberto Carlos no volume 10 e o vizinho do outro lado agitar o churrascão de sábado com os novos sucessos do Grupo Divã (com a participação de Reinaldo, aka o Príncipe do Pagode). E sem poder chamar o síndico.
terça-feira, março 10, 2009
Inexorável
Zé Colméia é teimosa. Muitas vezes, quer porque quer mudar o que não pode ser mudado. Quando quebra alguma coisa, nem sonha que a coisa não voltará a ser como antes de quebrada. Insiste, por exemplo, que o sol deve nascer mais cedo. Ou então, faz de tudo para mudar alguém, em vez de aceitá-la como ela é. Aceitar; essa palavra não existe no dicionário dela. Então, eu conto a ela uma história. Nada sobre formigas ou flores, nem tampouco elefantes cinzas que querem ser quadriculados ou a lua que não quer mais trabalhar à noite. Não, eu conto a história (real) da Bebel:
Bebel era uma moça inteligente, talentosa, bonita, alegre. Tinha um marido (importado) apaixonado por ela e um emprego muito fascinante, num hotel muito famoso - tão famoso que era conhecido no mundo todo! Reis e rainhas se hospedavam lá, assim como estrelas do rock e atores de nariz em pé.
Enfim. Bebel era quase feliz. "Quase" porque Bebel tinha uma grande mágoa: sempre que tiravam uma foto do grupo de funcionários, ela não aparecia no retrato. Porque, você sabe, Bebel era pequena. Baixinha - ou, como gostava de dizer, petite, mignon. E seus colegas eram mulheres voluptuosas, e os homens todos muito alto e corpulentos. E quando vinha a foto, cadê Bebel? Um cotovelo aqui, o topo de uma cabeça acolá.
Então convidaram um jornalista famoso para escrever um livro sobre a história do hotel - que, além de ser mais famoso do que o jornalista, era muito mais velho também. O livro traria uma foto de toda a equipe do hotel - e Bebel achou ali a sua grande oportunidade! Passou meses falando que, quando fossem bater o retrato, ELA estaria na frente, na primeira fila, bem no meio do grupo! Todo mundo prometeu: o miolo da primeira fila seria dela.
Na véspera da foto, Bebel comprou roupa e sapatos novos. No dia, fez cabelo e maquiagem. Na hora da foto lá estava ela, no centro da primeira fila, de corte de cabelo novo e argolas de ouro refletindo a luz que vinha da piscina do hotel. Correndinho, ainda foi lá olhar no visor da máquina do fotógrafo. Sim! Ela estava lá, bem na frente, bem nítida, bem visível! Finalmente, ela apareceria numa foto pra todo mundo ver!
E o livro ficou pronto. A festa de lançamento foi fenomenal. A nata da sociedade brasileira. Palmas das mãos suando, Bebel pega o livro e o abre, para ver a sua foto. Sim, ali está Bebel. Podemos reconhecer as argolas de ouro - uma na página da esquerda, a outra na página da direita, e Bebel sumida na dobra do livro.
Fotógrafos XI - John Dominis (2)
...
Respondendo à Lola, que postou nos comentários, e a quem me escreveu:
Não, gente, eu não vou falar do meu câncer. É uma história comprida, cheia de madrugadas vomitando, biópsias doloridas, noites insones pensando no futuro das meninas, muito medo e solidão. Mas (espero eu) já passou.
Uma das coisas que eu mais odeio na vida é que tenham pena de mim. Que me encoragem, que me dêem apoio, tudo bem. Mas eu aprendi que "câncer" na boca de uns acaba por provocar um imediato "Coitada!" na dos outros. Por isso eu não escrevi nada aqui. Por isso poucas pessoas souberam - apenas três. Não contei nem mesmo aos meus pais, porque meu pai já tem o dele com que se preocupar.
Assim sendo, falemos de coisas boas, do vestido laranja de hibiscos que eu estou usando, da estréia de "Jornada nas Estrelas" em maio, dos nossos filhos, do verão.
:o)
Não, gente, eu não vou falar do meu câncer. É uma história comprida, cheia de madrugadas vomitando, biópsias doloridas, noites insones pensando no futuro das meninas, muito medo e solidão. Mas (espero eu) já passou.
Uma das coisas que eu mais odeio na vida é que tenham pena de mim. Que me encoragem, que me dêem apoio, tudo bem. Mas eu aprendi que "câncer" na boca de uns acaba por provocar um imediato "Coitada!" na dos outros. Por isso eu não escrevi nada aqui. Por isso poucas pessoas souberam - apenas três. Não contei nem mesmo aos meus pais, porque meu pai já tem o dele com que se preocupar.
Assim sendo, falemos de coisas boas, do vestido laranja de hibiscos que eu estou usando, da estréia de "Jornada nas Estrelas" em maio, dos nossos filhos, do verão.
:o)
terça-feira, março 03, 2009
Anos dourados
Cena 1
Eu - grávida de quatro meses, hormônios em franca revolução - e meu ex, deitadinhos e encolhidos vendo um filme romantiquinho debaixo de cobertores.
- Mozinho [irc!], você confia em mim, não é?
- Claro, que pergunta.
- Mesmo?
- Claro que confio! Por quê?
- Ah, eu tava pensando... Eu podia envenenar você que você nem ia desconfiar, né?
-[...]
- Porque, olha só, sou eu que faço a sua comida. O seu café. Eu que fiz esse chá que você bebeu todinho. Virou tudo e nem perguntou o porquê de ele estar amargo. Não perguntou pra não me magoar, né?
- Er... é.
- Então. Pode ser veneno, né? Pelas brigas medonhas da semana passada. E você tá bebendo e comendo tudinho, sem questionar o gosto. Confiança, então.
- [...]
- Hum... Filme legal, né? Quer mais um biscoito? Eu que fiz.
Às vezes eu me pego pensando o que realmente causou o meu divórcio. Não sei...
Fotógrafos XI - John Dominis (1)
Obviedades
Cheiro que dá um upgrade no meu dia: café recém-coado. Cheiro que acaba com o meu dia: desodorante vencido.
Já são quatro dias que eu estou dormindo na cama das meninas/sofá do meu quarto. E eu só volto pra minha cama quando eu tiver CERTEZA que a lagartixa que estava passeando entre os meus lençóis mudou-se.
Eu adoraria que houvesse uma gigantesca empresa que pagasse salário de mãe. Aí eu poderia me perder na Caçula comprando tecidos e passamanarias e botões e enfeites e linhas e fitas para usar com minhas filhas. E depois passear na Kalunga e comprar todos aqueles papéis e canetas e clips coloridos e caixas de papelão decoradas para organizar os desenhos das meninas. Eu adoraria.
E aí eu leio no jornal que o Ministério Público vai abrir concurso para promotor de Justiça no Rio. Salário inicial: R$ 19 mil. Eu não consigo sequer VISUALIZAR R$ 19 mil mensais. Quanto mais ganhar. Ou sonhar em.
Hoje apareceu um pingo pingando no teto do banheiro no apartamento dos meus pais. E eu não quero avisar o porteiro porque ele vai querer subir pra ver. E o apartamento tá uma bagunça. E eu estou com preguiça de arrumar. Aliás, eu estou com preguiça, period.
Eu queria jacintos e tulipas no meu jardim.
segunda-feira, março 02, 2009
Elas
Pra quem me perguntou sobre a minha banda de rock, a origem do nome tá num post de 2007:
"Inspirada na Cris e insuflada pelo meu mau humor, inauguro aqui a série "Eu odeio":
... velhinhas que atrapalham a passagem. Esse seria o nome da minha banda de rock, se eu formasse uma. Sabe? Imagina: a velhinha, ainda sacudida e fofinha, entra no ônibus cheia de sacolas de todos os tamanhos (e sempre tem uma de O Boticário, pode reparar. Nova ou usada, sempre tem uma). Inúmeros cavalheiros e cavalheiras oferecem o lugar. Ela não quer: "Vou saltar logo!" E sorri e se ajeita perto da porta com um milhar de sacolinhas pelos pés, caindo pelo corredor, por sobre o pobre que está no banco onde ela se segura. Ah, a velhinha é gordinha. Não goooorda: fofa.
Bom, ela fica ali, o ônibus vai enchendo e ela atrapalhando quem entra e quem sai - todo mundo se espremendo pra não amassar a Velhinha & seus Pacotes (ótimo nome pra outra banda. Mangue beat. Anota aí.). Aí ela pede ao gentil jovem cheio de cadernos e livros e mochila pesada & precariamente equilibrado ao lado dela que ele puxe a cordinha do sinal que ela vai descer. Vai andando, pedindo licencinha entre sorrisos - atrás dela tem um mooonte de gente também se preparando pra descer, naquele movimento de troca de lugar das massas em ônibus cheio. Ela faz que desce mas não desce, se vira pro motorista e pergunta: "Tem um ponto mais perto do lugar tal?" O motorista responde: "Tem, sim". "Ah, então eu vou descer lá."
E volta pro lugar, e o motorista fecha a porta e já começa a partir antes de ouvir os gritos da turba que quer descer mas não pode - porque no caminho tem uma Velhinha que Atrapalha a Passagem.
Eu odeio Velhinhas que Atrapalham a Passagem."
"Inspirada na Cris e insuflada pelo meu mau humor, inauguro aqui a série "Eu odeio":
... velhinhas que atrapalham a passagem. Esse seria o nome da minha banda de rock, se eu formasse uma. Sabe? Imagina: a velhinha, ainda sacudida e fofinha, entra no ônibus cheia de sacolas de todos os tamanhos (e sempre tem uma de O Boticário, pode reparar. Nova ou usada, sempre tem uma). Inúmeros cavalheiros e cavalheiras oferecem o lugar. Ela não quer: "Vou saltar logo!" E sorri e se ajeita perto da porta com um milhar de sacolinhas pelos pés, caindo pelo corredor, por sobre o pobre que está no banco onde ela se segura. Ah, a velhinha é gordinha. Não goooorda: fofa.
Bom, ela fica ali, o ônibus vai enchendo e ela atrapalhando quem entra e quem sai - todo mundo se espremendo pra não amassar a Velhinha & seus Pacotes (ótimo nome pra outra banda. Mangue beat. Anota aí.). Aí ela pede ao gentil jovem cheio de cadernos e livros e mochila pesada & precariamente equilibrado ao lado dela que ele puxe a cordinha do sinal que ela vai descer. Vai andando, pedindo licencinha entre sorrisos - atrás dela tem um mooonte de gente também se preparando pra descer, naquele movimento de troca de lugar das massas em ônibus cheio. Ela faz que desce mas não desce, se vira pro motorista e pergunta: "Tem um ponto mais perto do lugar tal?" O motorista responde: "Tem, sim". "Ah, então eu vou descer lá."
E volta pro lugar, e o motorista fecha a porta e já começa a partir antes de ouvir os gritos da turba que quer descer mas não pode - porque no caminho tem uma Velhinha que Atrapalha a Passagem.
Eu odeio Velhinhas que Atrapalham a Passagem."
Sumidouro
Dez dias em casa. Calor infernal. Noites não-dormidas e coisas mal-resolvidas.
Porque quando o médico disse "É câncer" a vida mudou de foco. É sério; o que antes era teleobjetiva passou a ser grande angular. Meu objetivo primário e urgente foi a vida das meninas. Patrimônio não tenho nenhum, mas dívidas são o fim, não os meios. Consegui pagar quase todas elas. Botei meus documentos em ordem. Abracei e beijei muito mais do que o habitual. Escrevi cartas. Vi e revi cada foto. Tentei uma conversa com meu ex-marido para aproximá-lo mais das filhas. Passei o Ano Novo fora. Deixei instruções. Comprei uma agenda para planejar o dia seguinte e viver precisamente o hoje.
Aí meu câncer foi embora e, se eu fizer tudo certinho, ele não deve mais voltar. Mas o prognóstico a curto e médio prazo é sombrio - porque eu vou ter que reaprender a viver. Simplesmente apaguei da minha vida a figura de um possível outro e o modo-de-fazer. Pra que namorado? Pra que procurar emprego fixo? Pra que fazer planos? O futuro não era mais amanhã; ele simplesmente não era.
Agora eu tenho que voltar a me preocupar em pagar o meu INSS; em fazer uma poupança; em juntar dinheiro para a mítica casa própria; tenho que voltar a perder o sono por não ter emprego fixo, não ter patrimônio. Em ter que conviver socialmente, vestir a máscara de manhã para tirá-la à noite. Passar o fio dental religiosamente duas vezes ao dia, mesmo estando com vontade de dormir com a roupa que vim da rua. Parar de comer banana com a produção mensal brasileira de Nutella. Desligar a televisão quando só estiver passando Televendas Polishop e encarar o fato de que meu corpo PRECISA que eu durma. Em me esforçar profissionalmente e não apenas fazer o básico para pagar as contas do mês.
Preciso descobrir como lidar com a minha vida, já que ela voltou. E, pelo jeito, para ficar.
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