quinta-feira, novembro 29, 2007
Sin perder la ternura jamás
[...] Se aparecerei ou não novamente nas páginas da revista enquanto você estiver por aí, não me preocupa. O que PREOCUPA é que, com tantos jornalistas brilhantes como há no Brasil, foi a você que "Veja" escolheu para ser "editor de internacional".
Jon Lee Anderson
Eu já fui repórter; sofri a ditadura da chamada "reco" (apelido carinhoso para "reportagem recomendada"); como assessora de imprensa me vi diversas vezes frente ao muro onde se lê "temos um milhão e meio de assinantes". Por isso, confesso que senti um certo júbilo brioso ao ler o post do Alexandre Maron sobre a capa (e matéria) polêmica sobre Che Guevara na "Veja", de quase 15 dias atrás:
"A revista publicou uma capa algumas semanas atrás tão alucinada e histérica que até eu que nunca fui fã de Che Guevara fiquei chocado. Aliás, a Veja simplesmente tomou por hábito chamar as pessoas de fedorentas e sujismundas, como se esse tipo de qualificação fosse discussão para a maior revista semanal do Brasil. O título da "reportagem" (assim, com aspas) é “Há quarenta anos morria o homem e nascia a farsa”. Aproveite para ver uma reportagem da mesma "Veja" feita dez anos atrás [grifo meu: assinada pela Dorrit Harazim. O nome da Repórter (com "R" maiúsculo) fala por si. Pra quem não sabe, Dorrit é - ou era - mulher do Elio Gaspari.]. Diz muito a respeito do que a revista se tornou.
Começa quando Pedro Doria mostra a carta de Lee Anderson para Diogo Schelp, da Veja.
Em seguida, surgem a resposta de Schelp e os gritos histéricos de Reinaldo Azevedo.
Logo surge a tréplica de Lee Anderson, demolidora.
O comentário de Doria, logo em seguida, é irretocável."
Larga de preguiça, pára de ler blog de fofoca e confere os links; é melhor do que as picuinhas do falecido PapelPobre :o)
* Pois é; um dos melhores jornalistas do mundo, autor da biografia do Che ("Che - Uma biografia" eu já li e é fantástica) e do livro "A queda de Bagdá", também imperdível, e repórter da "The New Yorker" nunca mais - nunca mais! - aparecerá na "Veja". Será que ele tá dormindo depois dessa? Comendo? Respirando? Coitado; jamais terá a oportunidade de abrilhantar seu currículo com uma participação nas páginas da revista que tem "um milhão e meio de assinantes". So...?
quarta-feira, novembro 28, 2007
Você sabe que algo deu errado...
... quando você visita a página dos seus amigos no Orkut e sente uma compulsão violenta de apagar todos os spams da página de recados - deles.
... ao ver sua filha mais velha se virar pra você e dizer (no seu tom de voz): "Eu não arrumei, não; só dei uma geral básica no quarto."
... ao ouvir sua filha mais nova dizer: "Tô chiquerésima!"
... ao descobrir que o estoque de biscoitos de chocolate da casa, programado pra durar um mês, sumiu em três dias.
... quando lava o cabelo depois de usar aquela henna carésima e importadíssima e o que escorre pelos seus ombros é igualzinho a água de salsicha.
... ao ver sua filha mais velha se virar pra você e dizer (no seu tom de voz): "Eu não arrumei, não; só dei uma geral básica no quarto."
... ao ouvir sua filha mais nova dizer: "Tô chiquerésima!"
... ao descobrir que o estoque de biscoitos de chocolate da casa, programado pra durar um mês, sumiu em três dias.
... quando lava o cabelo depois de usar aquela henna carésima e importadíssima e o que escorre pelos seus ombros é igualzinho a água de salsicha.
segunda-feira, novembro 26, 2007
Perdi alguma coisa?
Além do arco-íris
Com o pai ofertando generosamente um quinto do total de gastos das meninas (o que a juíza considerou justo "porque ele precisa viver" - as mães não precisam, aparentemente) chego à conclusão que, trabalhando 16 das 24 horas de um dia e na impossibilidade de comer e dormir ao mesmo tempo (o que me deixaria ainda umas duas horas por dia a trabalhar) tenho que arranjar um emprego fixo, urgentemente. Ou me casar com alguém que me ajude a sustentar as meninas.
Bom, já que eu estou sonhando, também queria um pônei.
Bom, já que eu estou sonhando, também queria um pônei.
sexta-feira, novembro 23, 2007
Por email
quarta-feira, novembro 21, 2007
Depois
Uma pessoa muito querida se foi, e a nós que ficamos resta apenas pensar muito, sentir bastante, chorar e engolir a raiva, conformar-se. Ontem, conversando com a mãe da Carolina, ficamos horas ao telefone nos questionando quão inútil (não sei se essa é a melhor palavra) tornam-se os vestígios da existência de uma pessoa depois que ela se vai, materialmente falando.
Ela me disse que na segunda, de volta do cemitério, entrou no quarto da filha e começou a separar as coisas dela. Fazer logo antes que o arrependimento batesse e ela decidisse ficar com tudo, transformar o quarto naquele lugar "do jeito que ela deixou antes de ir para o hospital". Não consigo nem imaginar a dor.
Ela contou que abriu gavetas e armários e não arrumou nada; ficou horas revirando cada caixa, olhando cada envelope, revista, saquinho, embalagem de plástico. Lendo pilhas de bilhetes, separando tíquetes de cinema e teatro. Descobrindo segredos da adolescente que a filha era. Tentando entender a utilidade de pulseiras de plástico, embalagens de filmes cheias de contas coloridas, recortes de receitas rasgados, pastas cheias de trabalhos escolares de anos.
"Pra que ela guardou isso tudo?" Oito pastas com recortes e impressões feitas via web da banda de rock preferida dela. Cadernos anotados com telefones sem nome, blocos com endereços sem identificação, rabiscos urgentes sublinhados e marcados com caneta vermelha.
Guardar para um dia usar. Porque jogar fora aquelas notas de supermercado pode ser uma insensatez. Os postais sem nome, as figurinhas de um álbum que não existe mais. Telefones de anos, adesivos de disquetes que estão fora de linha, etiquetas amareladas. Receitas que a vida não terá duração suficiente para ver sair do forno ou deixar a panela.
"Eu não sei o que jogar fora, se devo jogar fora. Não significam absolutamente nada para mim, mas deviam ser muito importantes para ela, porque estavam juntos num envelope ou dentro de uma caixa de sapatos. O que eu faço?"
E ela chorava, como se mandar para um aterro sanitário os guardados preciosos da filha diminuíssem o imenso amor que uma sentia pela outra. "Sabe o que eu mais penso agora? A tristeza que ela deve estar sentindo em imaginar que eu estou jogando fora tudo o que ela guardou com tanto carinho. O que é uma doideira, como é doideira a aflição que eu senti quando o enterro acabou e eu não queria sair de perto da sepultura, imaginando que logo ia ser noite e ela ia ficar sozinha ali, no escuro, sem ninguém a fazer companhia para ela."
Ela me disse que na segunda, de volta do cemitério, entrou no quarto da filha e começou a separar as coisas dela. Fazer logo antes que o arrependimento batesse e ela decidisse ficar com tudo, transformar o quarto naquele lugar "do jeito que ela deixou antes de ir para o hospital". Não consigo nem imaginar a dor.
Ela contou que abriu gavetas e armários e não arrumou nada; ficou horas revirando cada caixa, olhando cada envelope, revista, saquinho, embalagem de plástico. Lendo pilhas de bilhetes, separando tíquetes de cinema e teatro. Descobrindo segredos da adolescente que a filha era. Tentando entender a utilidade de pulseiras de plástico, embalagens de filmes cheias de contas coloridas, recortes de receitas rasgados, pastas cheias de trabalhos escolares de anos.
"Pra que ela guardou isso tudo?" Oito pastas com recortes e impressões feitas via web da banda de rock preferida dela. Cadernos anotados com telefones sem nome, blocos com endereços sem identificação, rabiscos urgentes sublinhados e marcados com caneta vermelha.
Guardar para um dia usar. Porque jogar fora aquelas notas de supermercado pode ser uma insensatez. Os postais sem nome, as figurinhas de um álbum que não existe mais. Telefones de anos, adesivos de disquetes que estão fora de linha, etiquetas amareladas. Receitas que a vida não terá duração suficiente para ver sair do forno ou deixar a panela.
"Eu não sei o que jogar fora, se devo jogar fora. Não significam absolutamente nada para mim, mas deviam ser muito importantes para ela, porque estavam juntos num envelope ou dentro de uma caixa de sapatos. O que eu faço?"
E ela chorava, como se mandar para um aterro sanitário os guardados preciosos da filha diminuíssem o imenso amor que uma sentia pela outra. "Sabe o que eu mais penso agora? A tristeza que ela deve estar sentindo em imaginar que eu estou jogando fora tudo o que ela guardou com tanto carinho. O que é uma doideira, como é doideira a aflição que eu senti quando o enterro acabou e eu não queria sair de perto da sepultura, imaginando que logo ia ser noite e ela ia ficar sozinha ali, no escuro, sem ninguém a fazer companhia para ela."
segunda-feira, novembro 19, 2007
...
Como a gente perde alguém com quem falamos todo santo dia por e-mail, através de cartas ou encomendas contendo bobagens como um álbum de figurinhas sem nada colado e todos os cromos a colar - e nenhum repetido?
Como a gente perde uma risada torta, engasgada?
Como a gente perde uma fã ardorosa, maluca, esganiçada, fã de um cantor envelhecido 30 anos que não canta mais?
Como a gente perde uma companhia sempre alegre, sempre divertida, sempre invulnerável às centenas de rasteiras que a vida lhe deu?
Não sei. Sem chorar, sem acreditar, sem pensar muito. Apenas sentindo que o cérebro se recusa a processar a imformação, contando ao corpo e ao consciente que ela foi viajar, que não vai poder falar comigo por muito muito muito tempo mas que, quando eu menos esperar, ela volta. Lendo e relendo uma das últimas cartas que me escreveu, contando todas as senhas da internet, os segredos, as datas importantes para ela e para a mãe, para quem deve presentes, CDs gravados, o que prometeu ao namorado, que fim dar à sua coleção de traquitanas ligadas à sua banda de rock preferida, quem ficará com cada boneca, cada bijuteria, cada peça de roupa, cada bobagem guardada.
Desde sábado eu só me pergunto como a gente perde uma menina tão maravilhosamente lutadora como Carol. Qual a receita, a bula, o memorando, o manual de instruções. Como vou lidar com a dor quando ela chegar. Como vou encarar a mãe dela. Como vou responder ao último e-mail que ela me mandou.
sexta-feira, novembro 16, 2007
Além
Tem uma hora na vida que aprendemos da pior maneira uma porção de novas palavras e outros sentidos para velhos termos: taquipnéia, microtrombose, alcalose respiratória, hiperbilirrubinemia, bradiquinina, catecolaminas, hipoperfusão, fator Hageman, azotemia, hiperventilar.
Orar.
Orar.
terça-feira, novembro 13, 2007
...
- Que mais você tinha para aprender?
- Bem, havia o mistério... o Mistério, antigo e moderno, mais Mareografia... Arrastamento, Esticamento e Desmaiar em Espirais. (de "Alice no País das Maravilhas").
"A criança de Escorpião adorará o carnaval, filmes de monstros na televisão, histórias de ficção científica e de fantasmas. Adorará também o sexo oposto. Ele respeita profundamente o círculo da família. Venha a ser o que for, ele será o melhor no campo que escolheu. O jovem de Escorpião é bastante decidido para conseguir o que quer, e tem força suficiente para segurar o que obteve. Mas não deixe que sua auto-confiança impeça que ele receba o seu apoio.
Essa é uma criança estranha e encantadora, que tem provavelmente um grande destino e muitas milhas a andar antes de atingi-lo. Acompanhe-o enquanto ele precisar de você, e depois deixe-o sozinho. Ele regressará são e salvo com qualquer que seja o prêmio que busca.
Plutão lhe dá uma grande coragem, força e inteligência, mas compete a você dar-lhe o que ele mais precisa: um exemplo diário de como amar... e ser amado."
Querido você já é. Bem-vindo seja, Theodoro.:o)
... sai pelo outro
O problema maior não é o barulho do aspirador, da enceradeira ou de todas as torneiras dos dois banheiros abertas jorrando água doidamente porque os dois têm que ficar de molho com muito sabão em pó e mais água sanitária e toda a espécie de detergente líquido ou em pó que possa existir no supermercado, ou ainda dos pedreiros arrebentando a fachada do prédio e retirando todo o reboco numa chuvarada de pastilhas e pedras que parecem estar caindo na minha cabeça enquanto a broca que eles usam entra pela janela até o interior dos meus miolos, mas sim o fato de que como ela vem somente de quinze em quinze dias são praticamente duas semanas em que fatos palpitantes aconteceram na vida dela, e é preciso que ela reporte tudo, tintim por tintim, para alguém que mostre o menor interesse em conhecer todos os detalhes da complicada cirurgia por que a filha dela teve que passar e cujo nome ela não se lembra bem - apenas que começou de manhã e terminou quase de noitinha, e o médico disse que em dois dias ela se levantava mas em menos de 12 horas a filha dela, que é muito forte porque comeu tutano cru quando era criança, levantou e começou a arrumar a casa - ou quem sabe tomar conhecimento da labuta e o peso que é agora que o cunhado morreu cuidar do sobrinho do irmão da sogra da ex-cunhada, que deixou escrito que queria que ela ficasse com o guri - que, na verdade, não vale nada e dorme o dia inteirinho quando não está grudado na televisão ou brigando com o Fernando, que agora voltou pra casa porque se separou da Sônia que não valia nada, porque pegou dinheiro emprestado do pai e não pagou nada porque usou para pagar as dívidas do amante e não tem mais onde dormir porque o garoto tomou posse do quarto que agora está novo em folha porque o marceneiro foi lá e deu um jeito nas camas, mas não cobrou nada a mais do que tinha pedido depois que perdeu a madeira que tinha comprado no churrasco que a Rosa resolveu dar mesmo com todo mundo dizendo que ia chover muito - mas a Rosa não escutblábláblá e hfiyeke djfehqpudf hjfhfakd,ofifjweww ddfudpsfod...
Dia de faxineira.
Dia de faxineira.
segunda-feira, novembro 12, 2007
All your love in your eyes
...
Eu tenho esse blog faz bastante tempo. Aqui eu compartilhei minhas dores e alegrias, dividi conquistas e perdas. Fiz bons amigos e é a eles que eu peço ajuda. Eu tenho um vício que, no começo, não era bem um vício porque não me custava tanto dinheiro mas que agora está destruindo, aos poucos, a minha saúde, minhas noites de sono. Fui apresentada a ele quando estava frágil, ainda doída pelo divórcio e pela pedreira de responsabilidades, compromissos e dívidas que eu teria que enfrentar todos os dias.
Quem me introduziu nele foi uma grande amiga, também separada, quatro filhos, jornada de trabalho de 18 horas por dia. No princípio era somente nos fins de semana, quando eu estava sozinha. Depois, passou a ser quase semanal, senão diário.
A primeira vez em que, perto da meia-noite, me vi sem aquele pó branco mágico fiquei em pânico. As meninas dormiam, e eu nervosa, já suando o desespero que estava por vir. Liguei para uma outra amiga (viciada como eu) e pedi um pouquinho só. Pode mandar de táxi? Eu te pago sem falta amanhã. Claro, ela disse, me perguntando se eu estava bem. Eu ficaria.
A segunda vez foi pior, porque chovia muito, e não havia como ir numa daquelas biroscas do Morro dos Prazeres para conseguir pó. Liguei para outra amiga (a que me introduziu nesse vício maldito) e pedi pelo amor de Deus que me mandasse uma dose só. Ela só tinha um pouco, o suficiente para uma única vez. Mas foi a salvação: quando abri a caixinha e vi o pó branco no fundo só consegui respirar fundo e antecipar o prazer que viria, aquela transformação mágica de que só ele é capaz - fazer do mundo num lugar mais quente, cheiroso, acolhedor.
Ontem, plena madrugada, acordei para uma insônia cortante onde eu ouvia, ao fundo, o vício me chamando. Sem pó em casa - não, não vou ligar pra ninguém. Me enrolei num cobertor, antevendo os tremores e a paranóia que viria.
Chega. Não vou pedir pra mais ninguém que me mande fermento de táxi. E amanhã prometo procurar um Cozinheiros Notívagos Anônimos. Porque eu preciso largar esse vício maldito de fazer bolo no meio da noite de qualquer maneira.
quinta-feira, novembro 08, 2007
...
O pior sentimento que existe, maior do que a injustiça, a humilhação, o desrespeito, é a impotência.
terça-feira, novembro 06, 2007
Eu odeio...
Quem não tem a menor educação quando fala ao celular - dentro do elevador lotado, na mesa do restaurante, no teatro infantil (porque criança é de suma irrelevância, não é?), no cinema.
Quem acha que dar a alguém o número do seu celular faz desse ser o sócio majoritário da sua vida; ou seja, ele pode ligar a qualquer hora do dia e da noite se quiser. Ele não entende um "Agora não posso falar" - não consta no seu dicionário de alertas de simancol (se é que ele tem um).
segunda-feira, novembro 05, 2007
...
Essa história ainda não tem final feliz.
Um dia esbarrei sem querer numa moça muito franzina, com um bebê no colo. Não consegui esconder a cara de horror ao ver o rostinho desfigurado da menina, com uma fenda tão incrivelmente monstruosa que imediatamente pensei "Como ela consegue comer?". Ali surgiu uma amizade entre nós duas - e, depois, entre nós três. A mãe, uma baiana lutadora, conseguiu energia, força e dinheiro para operar a filha vezes sem conta. A filha, essa conseguiu energia, força e alegria em dose mais do que suficiente para se transformar numa adolescente feliz, de bem com a vida, estudiosa e sonhadora. Mesmo sem que quase ninguém entendesse o que ela fala, mesmo sorrindo um sorriso torto.
Virei madrinha dela. Temos as mesmas paixões, alguns gostos musicais em comum, a mesma mania de reclusão quando algo espeta demais, incomoda em demasia, dói além da conta. Quando vinha ao Rio, ela se hospedava comigo. "Vestibular" é a única idéia que está em sua cabeça - mais do que Carlos Henrique, o namorado que vê naquela boca cheia de cicatrizes a fonte das coisas mais bonitas e doces que uma jovem pode dizer.
Carolina é o nome dela. Carol está internada numa UTI de um hospital de Salvador desde sábado, quando teve uma parada cardíaca durante sua milésima cirurgia para correção da boca.
Carol é lutadora, e eu sei que ela vai sair dessa.
Um dia esbarrei sem querer numa moça muito franzina, com um bebê no colo. Não consegui esconder a cara de horror ao ver o rostinho desfigurado da menina, com uma fenda tão incrivelmente monstruosa que imediatamente pensei "Como ela consegue comer?". Ali surgiu uma amizade entre nós duas - e, depois, entre nós três. A mãe, uma baiana lutadora, conseguiu energia, força e dinheiro para operar a filha vezes sem conta. A filha, essa conseguiu energia, força e alegria em dose mais do que suficiente para se transformar numa adolescente feliz, de bem com a vida, estudiosa e sonhadora. Mesmo sem que quase ninguém entendesse o que ela fala, mesmo sorrindo um sorriso torto.
Virei madrinha dela. Temos as mesmas paixões, alguns gostos musicais em comum, a mesma mania de reclusão quando algo espeta demais, incomoda em demasia, dói além da conta. Quando vinha ao Rio, ela se hospedava comigo. "Vestibular" é a única idéia que está em sua cabeça - mais do que Carlos Henrique, o namorado que vê naquela boca cheia de cicatrizes a fonte das coisas mais bonitas e doces que uma jovem pode dizer.
Carolina é o nome dela. Carol está internada numa UTI de um hospital de Salvador desde sábado, quando teve uma parada cardíaca durante sua milésima cirurgia para correção da boca.
Carol é lutadora, e eu sei que ela vai sair dessa.
quinta-feira, novembro 01, 2007
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