quinta-feira, maio 11, 2006

No divã

Psicoterapeuta infantil:
- E então, vou fazer cinco sessões com a [...] para realizar o psicodiagnóstico. Nessas sessões, vou conversar com ela, ela poderá fazer desenhos, brincar com as bonecas e, assim, espero poder saber por que ela está tão agressiva e qual linha teremos que tomar. O preço é de R$ 150 por sessão, e gostaria de discutir com vocês se é viável vocês arcarem com esse custo.

Pai:
- Olha, eu já gasto 65% do meus rendimentos com a pensão das crianças...

O que você diz quando alguém começa a discutir o valor do tratamento de um filho assim? "Olha, sobram 35% do meu salário para mim então, me desculpe, não vou diminuir essa margem para pagar mais nada do que já pago". É isso? Preço de oficina mecânica, desconto em livraria e barganha com tratamento psicoterápico do filho no mesmo saco?
Eu só conseguia chorar de ódio, sentada na cadeira. E quando comecei a falar e ele, a argumentar, me senti egoísta ao ponto de dizer: "Sou eu que vejo diariamente todo o sofrimento dela, sou eu que perco as noites de sono e durmo com ela chorando no colo, não é você".
Como se muda uma pessoa? O que é preciso para mudar um homem que, aos 45 anos, ainda não entendeu a verdadeira acepção da palavra PAI?

Uma conhecida nossa vai morar na Austrália. Casou-se de novo e não hesitou um minuto em escolher seguir para o outro lado do mundo. O pai da criança, óbvio, entrou na Justiça contra isso e não entende (nem ele nem meu ex-marido) como a ex-mulher pôde tomar uma atitude dessas. O menino é autista. Me lembro das vezes em que meu ex-marido comentava como o chefe deles criticava a pobre porque ela chegava atrasada: "A babá faltou", "A empregada não veio", "O fulaninho está doente e não pôde ir à escola hoje". Nunca lhes ocorreu dizer a ela: "Por que você não liga para o seu ex-marido e diz para ele ficar com o filho de vocês, para você vir trabalhar?" Nunca fizeram isso porque, obviamente, o ex-marido jamais largaria seu precioso trabalho para ficar com o filho.
Meu ex-marido não entende como a colega pode não pensar no pai do filho dela. Depois do que eu ouvi hoje, eu a entendo perfeitamente bem. E torço para que ela consiga ir embora para um lugar onde há escolas para autistas, possa evoluir profissionalmente e se sentir, mais do que uma enfermeira/motorista/babá/professora/terapeuta do filho, mãe dele.

4 comentários:

anouska disse...

suzana, eu já me acostumei com esse modelito masculino. Nem me espanta mais. homem acha que tem ex-mulher e que também ex-filho. Eu já fiz análise e, se eu bem me lembro, eles aceitam negociar. Espero que você tenha sorte e sua pequena também. Mas não espere nunca nada do pai delas. Quando elas crescerem é com elas que ele terá de se haver. E aí você pode ter certeza de que quem levará a melhor será você. Sei que isso não é uma competição pai x mãe (não deveria ser), mas elas vão sempre estar muito mais unidas a você. um beijo grande.

anouska disse...

Quando falei "eles aceitam negociar" estava me referindo aos terapeutas. Bj

Anônimo disse...

Mas... poxa, e o cara paga as contas dele como?? Ele é rico?

Anônimo disse...

Putz, Suzana.. I`m speachless..
Pai nenhum tem o direito de ser egoísta assim..
Anyway, como a Cris falou, os terapeutas costumam negociar os preços mas de qualquer forma vou ver com minha se ela tem algum colega no Rio que possa indicar. Ela cobra menos que isso aqui em Sampa.
Beijo.