Sabe, eu nunca pedi nada aqui, mas às vezes a gente tem que deixar o orgulho de lado.
Se você trabalha na secretaria estadual de Saúde ou conhece alguém que trabalha: o câncer do meu pai voltou e o medicamento que ele tem que tomar (Zoladex LA 10.8) custa R$ 1412,00 a caixa. O estado fornece o medicamento, mas é preciso cerca de dois meses de espera até chegarem as primeiras ampolas. Aos 73 anos, acredito que procurar uma cadeira confortável não seja o bastante.
O procedimento: passar por um hospital da rede pública para obter o número de prontuário. Levar todos os exames que se tem. Explicar a situação e pedir 4 vias para Solicitação de Medicamentos Especiais (SME - eles têm no hospital) indicando a quantidade necessária de ampolas, uma receita pra cada mês que será utilizado e um laudo médico explicando o seu caso para justificar o medicamento. Separar seus documentos: identidade, CPF e comprovante de residência com cópias. Juntar com as vias SME, as receitas e o laudo e levar na Rua México 128/4º andar, no centro do Rio. (atendimento de segunda a quarta das 9h às 11h). Eles retêm os documentos por quinze dias e marcam o retorno, cujo atendimento é de 11h às 15h. O medicamento é liberado (SE o pedido for aprovado) em 30/45 dias.
Dicas e informações serão bem-vindas.
Obrigada de coração.
segunda-feira, junho 30, 2008
sábado, junho 28, 2008
Das 9h às 18h
Argola, quadrilha, pescaria, mão no balde, quadrilha, escorrega, quadrilha, pula-pula, prisão, correio-do-amor, quadrilha.
Espetinho de carne, espetinho de frango, paçoca, salsichão, queijo coalho, paçoca, farofa, canjica, cocada preta, cocada branca, milho verde, pipoca, cachorro quente (com batata pálida), quebra-queixo, queijadinha, cuscuz, tapioca com coco, paçoca, bolo de milho, paçoca, bolo de laranja com goiabada. Ah, e paçoca.
Festa junina. Tô podre.
Anh, oi, as meninas? Que... meninas?
Ah, sim, AQUELAS meninas. As minhas filhas.
Sim, as meninas se divertiram e comeram, também.
Eu acho.
quinta-feira, junho 26, 2008
Cínica ternurinha
O moleque é até bonitinho, e você faz charminho pra ele - vocês estão no primário (é, sou do tempo do primário. Whatever). Mas ele começa a ficar grudento e acaba virando um maaaala, tadinho. Um saco.
Aí você termina o colégio e ele lá. Grudado. O cara então desiste, sai da sua vida e você, anos depois, fica pensando a injustiça que é não ter o dom da premonição lá entre os cromossomos 26 e 38. A gente pode até ser cínica mas a vida é tããão injusta, né não?
Quem é o guri? Adivinha.
quarta-feira, junho 25, 2008
...
terça-feira, junho 24, 2008
Sempre
É natural que tenhas medo que te apanhem. A guerra continua tão estranha. Dum dia para o outro, já não sabemos que esperar. Tomamos os comprimidos, como todos os outros, só que o efeito é o contrário do que pretendemos. Nós queríamos ser felizes.
Ninguém nos acompanha nisto. A noite desce como um pano. As pessoas desaparecem, como se fossem para casa. Não temos maneira de saber o que está certo.
Dou-te as flores de onde vim, que vieram comigo, que atravessaram o mundo não se sabe bem porquê. Os teus olhos continuam iguais. É preciso insistir. Não fazemos diferença um do outro. Percorremos distâncias enormes, junto dos faróis e dos comboios, com a música muito alta, sem dizer nada que nos interesse. Não nos conhecemos. Nunca seremos interessantes. O carro precipita-se em vez de nós. A paisagem substitui as nossas caras.
Eu gostaria tanto de amar-te. Quando te tomo nos meus pensamentos, vai a noite escura ao largo da gente e das árvores, e eu penso que a minha alma te pertence. Pudera eu, meu amor, ou lá o que és, que pudesse pertencer a alguém.
Miguel Esteves Cardoso, "O amor é fodido"
Assírio & Alvim Editora, Lisboa, 1994.
...
Tem dias em que a gente precisa muito conversar. Só isso, conversar antes que dê a louca e dispamos a pele e deixemos a alma passear em dor por aí.
O MSN ligado e vazio, nenhum palavra nas caixas de comentários, e-mails de dias atrás e um pudor fenomenal de passar a mão no telefone e ligar para alguém.
Deus me salve da autopiedade.
O MSN ligado e vazio, nenhum palavra nas caixas de comentários, e-mails de dias atrás e um pudor fenomenal de passar a mão no telefone e ligar para alguém.
Deus me salve da autopiedade.
segunda-feira, junho 23, 2008
Instinto assassino
Você deseja do fundo de sua alminha que alguém, em algum lugar, faleça em dor lenta e muito sofrimento quando:
* Tosta o dorso da mão no forno e, enquanto sente uma gigabolha se formar, encontra no armário do banheiro a caixa do remédio contra queimaduras. Vazia.
* Prepara tudo para assistir ao último capítulo da última temporada da série que você jamais perdeu nenhum episódio - e falta luz nos 15 minutos finais.
* Enrola, enrola, enrola pra tomar banho e lavar o cabelo porque está um frio desgraçado - e falta luz nos primeiros 15 segundos de chuveiro, e o cabelo imundo já tá encharcado, metade cheio de xampu.
* Chega em casa morta de fome, sonhando com aquelas duas últimas fatias de rosbife que você escondeu láááá no fundo da geladeira - mas alguém foi mais esperto que você.
* Faz compra do mês e, na hora de pagar, descobre que seu cartão de débito ficou na outra bolsa. E você tem exatos R$ 0,74. E não pode tirar dinheiro porque os bancos já fecharam.
* Depois de uma viagem de quatro dias de carro, vomitando o cérebro, a barriga de 17 meses de gravidez pesando um absurdo, descobre que a passadeira comeu a única coisa que faz passar seu enjôo - os caquis maravilhosamente maduros que sua mãe colhera nos estertores da estação e tinha deixado na sua casa. E a &%$@#*&+%$ ainda te diz depois: "Ai, que caquis maravilhosos! É por isso que fazem passar o seu enjôo! Cortei tudinho, botei numa bacia e fui comendo e passando a roupa, comendo e passando a roupa..."
* Começa a fazer o bolo, todos os ingredientes na mesa, e se dá conta que a caixa de ovos não está tão cheia assim - sua empregada comeu todos de uma vez. E deixou só um. E o bolo leva dois. E você já misturou toda a massa. E é domingo à noite. E seu vizinho não está em casa. O que não faz diferença, porque ele não gosta de ovo.
* Você trabalhou quatro dias seguidos, madrugada adentro. Às quatro da manhã do quinto dia liga para a cooperativa de táxi e a operadora manda um "BOM-DIA!!!!!!!!!!!!!!" direto no seu cérebro, torpedeando o que restava do seu humor. Que de bom já não tinha mais nada.
* Com duas filhas pequenas, pede arrego e contrata uma empregada. Ao sair de manhã, a casa pós-tsunami, dá instruções à dita de como gosta que o banheiro seja lavado - e você descobre ao chegar em casa à noite, com duas crianças famintas e um marido relaxado, que foi exatamente o que ela fez. Lavou o banheiro como você queria. E não fez mais nada.
* Por exigência do (possível) novo cliente, você tem que marcar a reunião num lugar tipo divisa entre Poconé e Pariangaba. Chove tonéis industriais, e você torra um quarto do dinheiro que não tem em dois táxis, que é pra não chegar (muito) atrasada. Espera 40 minutos no lugar combinado, liga para a criatura que está esperando e ela manda um "Pois é, vamos ter que remarcar".
* Faz de tudo pro cara te notar - até macumba - e nada, e 15 anos depois encontra com ele e ouve o dito confessar que arrastava um trem por você. Devia ter se jogado na frente, pra deixar de ser burro [e cego].
* Tosta o dorso da mão no forno e, enquanto sente uma gigabolha se formar, encontra no armário do banheiro a caixa do remédio contra queimaduras. Vazia.
* Prepara tudo para assistir ao último capítulo da última temporada da série que você jamais perdeu nenhum episódio - e falta luz nos 15 minutos finais.
* Enrola, enrola, enrola pra tomar banho e lavar o cabelo porque está um frio desgraçado - e falta luz nos primeiros 15 segundos de chuveiro, e o cabelo imundo já tá encharcado, metade cheio de xampu.
* Chega em casa morta de fome, sonhando com aquelas duas últimas fatias de rosbife que você escondeu láááá no fundo da geladeira - mas alguém foi mais esperto que você.
* Faz compra do mês e, na hora de pagar, descobre que seu cartão de débito ficou na outra bolsa. E você tem exatos R$ 0,74. E não pode tirar dinheiro porque os bancos já fecharam.
* Depois de uma viagem de quatro dias de carro, vomitando o cérebro, a barriga de 17 meses de gravidez pesando um absurdo, descobre que a passadeira comeu a única coisa que faz passar seu enjôo - os caquis maravilhosamente maduros que sua mãe colhera nos estertores da estação e tinha deixado na sua casa. E a &%$@#*&+%$ ainda te diz depois: "Ai, que caquis maravilhosos! É por isso que fazem passar o seu enjôo! Cortei tudinho, botei numa bacia e fui comendo e passando a roupa, comendo e passando a roupa..."
* Começa a fazer o bolo, todos os ingredientes na mesa, e se dá conta que a caixa de ovos não está tão cheia assim - sua empregada comeu todos de uma vez. E deixou só um. E o bolo leva dois. E você já misturou toda a massa. E é domingo à noite. E seu vizinho não está em casa. O que não faz diferença, porque ele não gosta de ovo.
* Você trabalhou quatro dias seguidos, madrugada adentro. Às quatro da manhã do quinto dia liga para a cooperativa de táxi e a operadora manda um "BOM-DIA!!!!!!!!!!!!!!" direto no seu cérebro, torpedeando o que restava do seu humor. Que de bom já não tinha mais nada.
* Com duas filhas pequenas, pede arrego e contrata uma empregada. Ao sair de manhã, a casa pós-tsunami, dá instruções à dita de como gosta que o banheiro seja lavado - e você descobre ao chegar em casa à noite, com duas crianças famintas e um marido relaxado, que foi exatamente o que ela fez. Lavou o banheiro como você queria. E não fez mais nada.
* Por exigência do (possível) novo cliente, você tem que marcar a reunião num lugar tipo divisa entre Poconé e Pariangaba. Chove tonéis industriais, e você torra um quarto do dinheiro que não tem em dois táxis, que é pra não chegar (muito) atrasada. Espera 40 minutos no lugar combinado, liga para a criatura que está esperando e ela manda um "Pois é, vamos ter que remarcar".
* Faz de tudo pro cara te notar - até macumba - e nada, e 15 anos depois encontra com ele e ouve o dito confessar que arrastava um trem por você. Devia ter se jogado na frente, pra deixar de ser burro [e cego].
sexta-feira, junho 20, 2008
Há nove anos
- Batata pálida, mãe.
- Ãhn? O quê?
- Batata pálida, mãe. Não esquece da batata pálida.
- [...]
- Alô, mãe? Batata pálida! Pra botar no cachorro-quente! Acorda, mãe! Tá dormindo?
Batata palha. E ela não tem a menor paciência comigo. Nem com o mundo. Muita pressa. Muita. "Mastiga!" "Ouh, ouh, você aí, volta e escova isso direito!" "Peraí, a calça tá aberta!" "Auhn... Seis e meia, filha, tenha dó. Me deixa dormir, hoje é sábadzzzzz..."
O corpinho comprido e miúdo não tem como ganhar mais algumas carninhas, como a irmã. Puro Osso, é esse o apelido que a professora botou dela, mesmo comendo colinas de arroz, feijão, carne e salada. Tudo bem misturado num cimento que só sai do prato para a boca a bordo de uma colher. De preferência, manejada como uma pá. Os cabelos eternamente despenteados, uma juba incontrolável, a mochila eviscerada pelos corredores da escola mostrando as tripas sem pudor: bonequinhas, bichinhos, copos descartáveis, pedaços de argila seca, canetas sem tampa, tampas sem canetas, casaco virado do avesso e uma resma de papel nos sabores folhas picotadas, folhas amassadas, folhas dobradas, folhas coladas, folhas rasgadas & folhas sem-forma-definida. E mais um livro tirado na biblioteca, que é de lei. Ah, e o caderno das princesas. Para anotações diversas. "Mãe, fala com a diretora que eu fui ontem no refeitório e só tinha cremicraque (sic). Eu não gosto de cremicraque, mãe. Mãe, eu tô passando fome. Fala com a diretora."
Vivendo num inferno astral há pelo menos duas semanas, minha Pucca achou seu personagem perfeito, plena de encantos orientais pelos quais essa menina anda fascinada - cada vez mais, a cada dia. Porque a menininha é meiga, carinhosa, adora animais, mas maltrata impiedosamente quem ela ama de paixão - depois do soco, do grito, do empurrão, vem a voz macia, as mãos idem acariciando qualquer pedaço de pele à mostra, a voz doce e sentida de quem quer muito, mas muito mesmo pedir perdão mas simplesmente não sabe como. Então, em vez de simplesmente deixar a boca cuspir o protocolar "Desculpe", só consegue expressar seu arrependimento pelo coração, deixando-o falar sem usar a voz.
Essa é minha Zé Colméia. Nove anos desde que saí da maternidade com meu embrulhinho gorducho, os dedos longos chamando a atenção das enfermeiras. Nove anos de um aprendizado de vida imenso, que jamais poderei pagar a ela. Porque aprendi a duras penas que, independentemente de chamar alguém de "filha", o mais difícil no amor é dá-lo a quem parece que não o quer, que nos diz palavras ásperas, que nos faz perder horas de sono perguntando "Como isso aconteceu?". É o amor difícil, suado, batalhado, esmerilhado e talhado em brigas duras e reconciliações inesquecíveis. Polido e lapidado. Somos duas caminhando nessa estrada pedregosa, mas sempre de mãos dadas.
Cada bilhete, cada desenho, cada escultura de argila ou massinha eu tenho guardado - da camiseta onde eu pareço uma barata vermelho-amarronzada gigantesca ao cartão feito ontem, às dez da noite, a irmã já dormindo no sofá enquanto eu gravava os CDs das lembrancinhas - tudo me faz encher os olhos de lágrimas: "Mamãe, você é meu anjo. Nunca saia do meu lado."
Feliz aniversário, querida.
quinta-feira, junho 19, 2008
Bolso
Uma advogada está, via GloboOnline, respondendo dúvidas que os pais tenham sobre guarda compartilhada.
Todas - TODAS - as perguntas são sobre pensão alimentícia: ou seja, se o pai (das quase 15 perguntas, apenas uma é de uma mãe, e refere-se a até que idade seu filho tem direito à pensão) vai receber (que droga!) mais deveres, tem que ter uma vantagem, certo? Então: é diminuir a pensão. Afinal, se o guri vai lanchar na casa dele durante a semana, automaticamente a mensalidade escolar e o vidro do xarope vão baixar de preço, correto?
Não vi, nem ali nem nas caixas de comentários das matérias sobre a regulamentação da guarda compartilhada, um pai sequer (pai; não "um dos genitores". Pai, o cromossomo XY do casamento) perguntando como fica a questão da guarda legal da criança; se não será mais preciso autorização do ex-cônjuge para a criança viajar (ou será necessário permissão de ambos), como seus próprios filhos encararão essa partilha, se é preciso comunicar escola, médicos etc que agora o outro lado também apita na vida da criança.
Nada. Só falam da pensão.
Todas - TODAS - as perguntas são sobre pensão alimentícia: ou seja, se o pai (das quase 15 perguntas, apenas uma é de uma mãe, e refere-se a até que idade seu filho tem direito à pensão) vai receber (que droga!) mais deveres, tem que ter uma vantagem, certo? Então: é diminuir a pensão. Afinal, se o guri vai lanchar na casa dele durante a semana, automaticamente a mensalidade escolar e o vidro do xarope vão baixar de preço, correto?
Não vi, nem ali nem nas caixas de comentários das matérias sobre a regulamentação da guarda compartilhada, um pai sequer (pai; não "um dos genitores". Pai, o cromossomo XY do casamento) perguntando como fica a questão da guarda legal da criança; se não será mais preciso autorização do ex-cônjuge para a criança viajar (ou será necessário permissão de ambos), como seus próprios filhos encararão essa partilha, se é preciso comunicar escola, médicos etc que agora o outro lado também apita na vida da criança.
Nada. Só falam da pensão.
terça-feira, junho 17, 2008
Por que eu amo crianças
Uma menina estava conversando com a sua professora. A professora disse que era fisicamente impossível que uma baleia engula um ser humano porque, apesar de ser um mamífero muito grande, a sua garganta é muito pequena.
A menina afirmou que Jonas foi engolido por uma baleia. Irritada, a professora repetiu que uma baleia não poderia engolir nenhum ser humano; era fisicamente impossível. A menina, então, disse:
- Quando eu morrer e for pro céu, vou perguntar a Jonas.
A professora lhe perguntou:
- E o que vai acontecer se Jonas tiver ido para o inferno?
A menina respondeu:
- Então é a senhora que vai perguntar.
Uma professora de creche observava as crianças de sua turma desenhando. Ocasionalmente passeava pela sala para ver os trabalhos de cada criança.
Quando chegou perto de uma menina que trabalhava intensamente, perguntou o que desenhava.
A menina respondeu:
- Estou desenhando Deus.
A professora parou e disse:
- Mas ninguém sabe como é Deus.
Sem piscar e sem levantar os olhos de seu desenho, a menina respondeu:
- Saberão dentro de um minuto.
Uma honesta menina de sete anos admitiu calmamente a seus pais que Luís Miguel havia lhe dado um beijo depois da aula.
- E como aconteceu isso? - perguntou a mãe assustada.
- Não foi fácil - admitiu a pequena senhorita - mas três meninas me ajudaram a segurá-lo.
Um dia, uma menina estava sentada observando sua mãe lavar os pratos na cozinha. De repente, percebeu que sua mãe tinha vários cabelos brancos que sobressaíam entre a sua cabeleira escura. Olhou para sua mãe e lhe perguntou:
- Porque você tem tantos cabelos brancos, mamãe?
A mãe respondeu:
- Bom, cada vez que você faz algo de ruim e me faz chorar ou me faz triste, um de meus cabelos fica branco.
A menina digeriu esta revelação por alguns instantes e logo disse:
- Mãe, por que TODOS os cabelos de minha avó são brancos?
Um menino de três anos foi com seu pai ver uma ninhada de gatinhos que haviam acabado de nascer. De volta a casa, contou com excitação para sua mãe que havia gatinhos e gatinhas.
- Como você soube disso? - perguntou a mãe.
- Papai os levantou e olhou por baixo - respondeu o menino. - Acho que ali estava a etiqueta.
Todas as crianças haviam saído na fotografia e a professora estava tentando persuadi-los a comprar uma cópia da foto do grupo.
- Imaginem que bonito será quando vocês forem grandes e todos digam "Ali está Catarina, é advogada", ou também "Este é o Miguel, agora ele é médico".
Ouviu-se uma vozinha vinda do fundo da sala:
- "E ali está a professora. Já morreu."
Pérolas colhidas pelo médico foniatra, jornalista e escritor Pedro Bloch em seu consultório.
sexta-feira, junho 13, 2008
Depois da curva
As crianças acham que nós pais, adultos, gente grande, somos eternos. Estaremos sempre por aqui - umas vezes fazendo carinho e dando colo, muitas vezes enchendo o saco deles sobre a necessidade de limpar o nariz somente no banheiro ou comer balas o menos possível.
Nós adultos sabemos que isso não acontece - pelo menos, comemos balas o quanto queremos, porque somos dimaior e ninguém tem nada a ver com isso. Mas o barulho de algo se estilhaçando do nada foi o que eu ouvi, dentro da minha cabeça, quando meu pai me ligou - eu estava no táxi com as meninas, quase à porta de casa - dizendo que minha mãe (que se sentira "esquisita", nas palavras dela, o dia inteiro) simplesmente ao se levantar desabara como um saco de batatas. "E eu estou sozinho aqui, não sei o que fazer." "Tô indo praí, pai. Interfona para o porteiro e pede que ele veja se no prédio tem algum médico." [Pisa fundo, moço, pelo amor de Deus].
Minha mãe deitada no chão, meu pai de pé ao lado dela, o olhar mais desamparado que jamais vi. Tentei levantá-la, minha coluna estalou, uma dor lancinante desceu pelas pernas, que se foda que eu preciso botar minha mãe na cama.
E eu troquei a roupa dela, encharcada de suor. Fui ao supermercado quase fechando comprar frutas, água de côco. Voltei, saí de novo, deixei as meninas na casa de uma amiguinha para passarem a noite, fui em casa para pegar roupas, os deveres da Zé Colméia, uniformes, alimentar os cachorros. E voltei ao apartamento dos meus pais - meia-noite cravado. "Pai, vai dormir." "E se sua mãe precisar de alguma coisa?" "Eu fico acordada, pai. Tenho que trabalhar. Vai dormir que qualquer coisa eu chamo você."
E me sentei no meu antigo quarto, o computador ligado, minha agenda aberta, a lista de coisas a fazer, gente pra ligar no dia seguinte, o livro ainda por revisar.
E eu chorei. De medo de perder minha mãe.
Nós adultos sabemos que isso não acontece - pelo menos, comemos balas o quanto queremos, porque somos dimaior e ninguém tem nada a ver com isso. Mas o barulho de algo se estilhaçando do nada foi o que eu ouvi, dentro da minha cabeça, quando meu pai me ligou - eu estava no táxi com as meninas, quase à porta de casa - dizendo que minha mãe (que se sentira "esquisita", nas palavras dela, o dia inteiro) simplesmente ao se levantar desabara como um saco de batatas. "E eu estou sozinho aqui, não sei o que fazer." "Tô indo praí, pai. Interfona para o porteiro e pede que ele veja se no prédio tem algum médico." [Pisa fundo, moço, pelo amor de Deus].
Minha mãe deitada no chão, meu pai de pé ao lado dela, o olhar mais desamparado que jamais vi. Tentei levantá-la, minha coluna estalou, uma dor lancinante desceu pelas pernas, que se foda que eu preciso botar minha mãe na cama.
E eu troquei a roupa dela, encharcada de suor. Fui ao supermercado quase fechando comprar frutas, água de côco. Voltei, saí de novo, deixei as meninas na casa de uma amiguinha para passarem a noite, fui em casa para pegar roupas, os deveres da Zé Colméia, uniformes, alimentar os cachorros. E voltei ao apartamento dos meus pais - meia-noite cravado. "Pai, vai dormir." "E se sua mãe precisar de alguma coisa?" "Eu fico acordada, pai. Tenho que trabalhar. Vai dormir que qualquer coisa eu chamo você."
E me sentei no meu antigo quarto, o computador ligado, minha agenda aberta, a lista de coisas a fazer, gente pra ligar no dia seguinte, o livro ainda por revisar.
E eu chorei. De medo de perder minha mãe.
quarta-feira, junho 11, 2008
Sem noção é isso
Aí você faz essa brincadeirinha com seu namorado, e ele liga para o telefone que recebeu e quem atende é você - e se confirma a suspeita que seu bofe é um galinha, que cai na cantada de qualquer uma que dê a ele o telefone.
É ou não uma brilhante estratégia de marketing para divulgar a marca?
(Se estiver difícil de ler, clique na imagem que ela aumenta)
De la Mancha
Cheguei à pouco de uma reunião na escola das meninas. Escola grande, antiga, tradicional. No fim do ano passado, eles deram às meninas uma bolsa de 30%, com a condição que eu ajudasse a escola a conseguir mais matrículas e incrementar a programação cultural. Na segunda, houve uma outra reunião, dessa vez com os pais, para apresentar o novo diretor-geral (que deveria ter se feito conhecer em fevereiro - corre a piada que você tem que ter dons mediúnicos para vê-lo; os privilegiados que o conheceram obviamente têm). Como o homem mais uma vez não apareceu, as mães desfiaram o rosário de queixas de sempre - reclamações com fundamento, é preciso dizer.
Enfim. Hoje fui lá explicar que imagem é tudo, que os pais presentes à reunião são antigos e que não agüentam mais ouvir a ladainha de que é preciso "parceria entre colégio e pais" etc e tal. A escola está comemorando aniversário centenário e levei (pela enésima vez) sugestões a custo zero de atividades que gerariam mídia espontânea (o que ficaria ao meu encargo, já que a assessoria de imprensa da escola resume-se a ser paga para atualizar o site institucional, três vezes por semana).
Resposta: "Podemos até fazer isso, mas acho que não vai adiantar; acredito mais nos cartazes que pusemos nos ônibus das linhas da Zona Sul." Bom, o último levantamento que fiz de busdoor para linhas de ônibus que não eram concorridas dava uns mil reais para exibição mensal de dez cartazes (custando em média cem reais cada um). Um saco de sementes para as crianças plantarem o jardim comunitário sairia R$ 0,50 o saquinho. A materica no Globo Zona Sul sobre o jardim que, depois de plantado, será aberto para mães e seus bebês até dois anos (projeto meu) aos sábados, criando mais uma área de lazer segura, custaria quase R$ 14 mil, se o colégio pagasse pelo anúncio.
Aí eu calo a boca, agradeço e me retiro. Se eu vou tentar de novo? Sei lá.
Enfim. Hoje fui lá explicar que imagem é tudo, que os pais presentes à reunião são antigos e que não agüentam mais ouvir a ladainha de que é preciso "parceria entre colégio e pais" etc e tal. A escola está comemorando aniversário centenário e levei (pela enésima vez) sugestões a custo zero de atividades que gerariam mídia espontânea (o que ficaria ao meu encargo, já que a assessoria de imprensa da escola resume-se a ser paga para atualizar o site institucional, três vezes por semana).
Resposta: "Podemos até fazer isso, mas acho que não vai adiantar; acredito mais nos cartazes que pusemos nos ônibus das linhas da Zona Sul." Bom, o último levantamento que fiz de busdoor para linhas de ônibus que não eram concorridas dava uns mil reais para exibição mensal de dez cartazes (custando em média cem reais cada um). Um saco de sementes para as crianças plantarem o jardim comunitário sairia R$ 0,50 o saquinho. A materica no Globo Zona Sul sobre o jardim que, depois de plantado, será aberto para mães e seus bebês até dois anos (projeto meu) aos sábados, criando mais uma área de lazer segura, custaria quase R$ 14 mil, se o colégio pagasse pelo anúncio.
Aí eu calo a boca, agradeço e me retiro. Se eu vou tentar de novo? Sei lá.
sexta-feira, junho 06, 2008
Fotógrafos VI - Harry Benson (1)
Senador Robert F. Kennedy, The Ambassador Hotel, Los Angeles, June 6, 1968
Senador Robert F. Kennedy, The Ambassador Hotel, Los Angeles, June 6, 1968.
Ethel Kennedy standing over Robert F. Kennedy - The Ambassador Hotel, Los Angeles, June 6, 1968.
Robert F. Kennedy campaign worker, The Ambassador Hotel, Los Angeles, June 6, 1968.
The Ambassador Hotel kitchen, Los Angeles, June 6, 1968.
Robert F. Kennedy contact sheet, The Ambassador Hotel, Los Angeles, June 6, 1968.
Um bom repórter fotográfico trabalha armado - simplesmente aperta o botão da câmera quando as coisas acontecem, num ato quase reflexo. Harry Benson captou toda a comoção pelo assassinato, minutos antes, do então candidato ao governo americano Robert Kennedy, há exatos 40 anos. Depois, guardou o rolo do filme na meia e o substituiu por outro, vazio. Ele tinha medo que a CIA e o Serviço Secreto americano confiscassem sua máquina, na confusão que se seguiu.
A la carte
quarta-feira, junho 04, 2008
A culpa é dela
Quando era bebê, minha avó trocou a fralda de minha mãe antes de ela dormir, vestiu um lindo macacão francês de flanela (bordado à mão, fecho eclair de alumínio - um luxo nos anos da guerra) e... nada. "Por que essa menina chora tanto?" Mamadeira, dengo, colo, bolsa de água quente, cantigas de ninar, colo da avó (dela), colo do avô (idem), colo do pai (ibidem), bichinhos, papinhas, suco... nada. Oito horas ininterruptas de choro profundo, doloroso, sofrido. Às seis da manhã do dia seguinte, a fralda vaza e minha avó começa a trocar a filha. Ao abrir o macacão, o choro parou na hora: o zíper havia pego a pele do pescoço da minha mãe.
Até hoje ela tem, na linha da garganta, um quadradinho de pele saltado.
Aos quatro anos, vestida primorosamente como que para um baile, cabelos cacheados repletos de fitas de cetim, ela esperava sua vez de pegar o pão, junto com os três irmãos mais velhos, na fila por comida durante a guerra.
- Rá, mas ela não tem meisssssssssssssmo 55 anos. Eu tenho 67 anos e estudei com ela no Escola Normal. E ela era uma turma na minha frente!
Comentário feito (em alto e bom som) a jornalistas presentes a um jantar-homenagem para uma conhecida socióloga.
Eu tinha uns sete anos, minha mãe dirigia pela Rua Paissandu, no Flamengo, conosco no banco de trás do fusca (ela sempre dirigiu fusca; depois de seis cores diferentes, meu pai deu um ultimatum: ou escolhe outro carro ou não ajudo a comprar. Ela comprou uma Belina, lembra? Aquela banheira com hidromassagem atrás? Pois então). Saindo de uma garagem do nada, um Opala adentra calçada, rua e porta do carona. Ela sai do carro com cara de paisagem, o cara diz que a culpa é dela e emenda um "Sabe com quem está falando? Sou reitor da universidade tal!". Ela pede pra ver os documentos. Nós, mudos, no banco de trás. Ele saca a carteira do bolso e começa a abri-la. Ela, num movimento além do olho humano, arranca a dita do cujo, corre pro fusca e, saindo em disparada (sob nossa salva de palmas), grita pela janela: "Só devolvo depois que você pagar o prejuízo!".
Ele pagou.
Andando pelo centro do Rio, fazendo compras no Saara. Loja estalando de nova. Ela entra e começa a escolher coisas. Na hora de pagar, espalma a mão aberta no colo, faz cara de sonsa e manda um "Vou ter desconto, não é? Afinal, sou freguesa antiga!"
Ela vem:
- ... e sua irmã então comprou e mandou para ele. Você não acha que ela está certa, não é?
- [...?]
- Afinal de contas ele deixou bem claro que ...
E vai-se embora. Minha mãe aperfeiçoou a um nível jamais imaginado de requinte e sofisticação a antiga e nobre arte de falar sozinha - com os outros.
Se o arroz tem a cebola picada normal, meu pai quem fez; se é picado miudinho, foi minha irmã; eu ralo a cebola. Se ao abrir a panela você achar uma cebola cortada em dois (sim, em dois), a culpa é da minha mãe.
Barbantes, sacolas de plástico e de papel (a mais velha é das Casas da Banha, perfeitamente preservada), cremes hidratantes vencidos em 1987, arames de embalagem de pão, jornais velhos, caixas de papelão & similares (de todos os tamanhos, incluindo as de mudança), cortes de tecidos comprados nos anos 70, roupas que eu imaginava doadas aos pobres na década de 80, papéis de presente usados, fitas idem, cadernos/livros preparatórios para o vestibular (1985), estoque de material escolar comprado quando eu estava no primário (circa 1975).
Quando ela morrer, vou precisar de uns três acres no São João Batista, se ela quiser levar isso tudo.
Na foto, minha mãe com um vestido tão adorado e usado, mas tão que, nas palavras da minha avó, "caiu do corpo de cansaço".
terça-feira, junho 03, 2008
Ele foi
David Cook levou. E como eu sou tiete (eita palavra velha) da hora (ui!) baixei e fiz um CD com todas as músicas que ele cantou no AI7.
Não estressa: isso dá e passa.
Batente
Hora do almoço pra mim se resume nos 60 minutos em que eu encontro (literalmente) meio mundo. Escrevo em espanhol, em inglês, em português (incluindo o de Portugal; ok, é uma questão de escolha de palavras, mas eu me esforço).
Aí eu volto para o telefone pra falar com gente que não está a fim de ouvir o que absolutamente ele (ou ela, o que é pior) não vai entender.
Prazer, assessora de imprensa.
Aí eu volto para o telefone pra falar com gente que não está a fim de ouvir o que absolutamente ele (ou ela, o que é pior) não vai entender.
Prazer, assessora de imprensa.
Falha nossa
Modem novo, quadril ok, almofada pra sentar diladinho em mode on.
Voltamos à programação normal.
Voltamos à programação normal.
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