As crianças acham que nós pais, adultos, gente grande, somos eternos. Estaremos sempre por aqui - umas vezes fazendo carinho e dando colo, muitas vezes enchendo o saco deles sobre a necessidade de limpar o nariz somente no banheiro ou comer balas o menos possível.
Nós adultos sabemos que isso não acontece - pelo menos, comemos balas o quanto queremos, porque somos dimaior e ninguém tem nada a ver com isso. Mas o barulho de algo se estilhaçando do nada foi o que eu ouvi, dentro da minha cabeça, quando meu pai me ligou - eu estava no táxi com as meninas, quase à porta de casa - dizendo que minha mãe (que se sentira "esquisita", nas palavras dela, o dia inteiro) simplesmente ao se levantar desabara como um saco de batatas. "E eu estou sozinho aqui, não sei o que fazer." "Tô indo praí, pai. Interfona para o porteiro e pede que ele veja se no prédio tem algum médico." [Pisa fundo, moço, pelo amor de Deus].
Minha mãe deitada no chão, meu pai de pé ao lado dela, o olhar mais desamparado que jamais vi. Tentei levantá-la, minha coluna estalou, uma dor lancinante desceu pelas pernas, que se foda que eu preciso botar minha mãe na cama.
E eu troquei a roupa dela, encharcada de suor. Fui ao supermercado quase fechando comprar frutas, água de côco. Voltei, saí de novo, deixei as meninas na casa de uma amiguinha para passarem a noite, fui em casa para pegar roupas, os deveres da Zé Colméia, uniformes, alimentar os cachorros. E voltei ao apartamento dos meus pais - meia-noite cravado. "Pai, vai dormir." "E se sua mãe precisar de alguma coisa?" "Eu fico acordada, pai. Tenho que trabalhar. Vai dormir que qualquer coisa eu chamo você."
E me sentei no meu antigo quarto, o computador ligado, minha agenda aberta, a lista de coisas a fazer, gente pra ligar no dia seguinte, o livro ainda por revisar.
E eu chorei. De medo de perder minha mãe.
sexta-feira, junho 13, 2008
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Um comentário:
Espero que ela melhore logo!
Abraço
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