terça-feira, janeiro 18, 2011

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A casa dos meus pais, em Friburgo, sobreviveu. Os dois estavam no Rio. Eu estava lá. Sem água nem luz desde quarta-feira. Fiquei sozinha, terminando um trabalho e fingindo que não sentia medo que a casa fosse saqueada. A caseira aparecia de manhã cedinho - era o leva-e-traz entre eu e a civilização. Ela perdeu tudo. O filho mais velho construiu uma calha no telhado para recolher água da chuva. É essa água que a família dela bebe desde o temporal.

Ela ligou para meus pais na sexta-feira e, depois das notícias da região, perguntou timidamente o que fazer com toda a comida armazenada na geladeira e nos dois freezers, já que o sítio dos meus pais também está sem luz. Meu pai disse que ela levasse tudo, não apenas o que estava nos refrigeradores mas também no quarto da despensa que, por ser o lugar mais fresco, é onde minha mãe guarda verduras e frutas. Foi essa comida que sustentou a família dela e as da sua vizinhança. Cozinhamos uma boa parte. Ajudei a carregar tudo até a metade do caminho.

Ainda há corpos por lá. Os que são retirados da lama saem pretos, irreconhecíveis. Em alguns pontos da estrada o cheiro de carniça é insuportável. Muitos cachorros vagando pelos montes. A Defesa Civil chegou ontem onde ela mora, com água e comida. Muito depois é o sítio dos meus pais. Uma das duas estradas que levam até lá simplesmente não existe mais. A Defesa Civil ainda não chegou lá.

Um dos vizinhos tem um trator. Andando com ele por ali, consegui sinal de celular. Troquei e-mails, mandei torpedos. Ontem, com o tempo bom, desci depois de uma espera de seis horas na rodoviária. Despedi-me dos cachorros com o coração na boca, e fui embora.

Vocês não têm idéia da destruição. Eu não tenho idéia. Porque, afinal, não perdi ninguém, a casa dos meus pais está de pé, nada se perdeu. E até se sentir no ar, cheirar aquela brisa recendendo a carne podre e pó de lama, então aí se saberá o que foi a devastação que aconteceu.

6 comentários:

Gabriela Galvão disse...

Tenho certeza.: ñ tenho noção do q foi, estah sendo.









(Eu ñ sei o q dizer. Fazer eu tô q nem todo mundo a maioria: doa um pouqinho, divulga outro tanto...)

Marcus Pessoa disse...

Nem sei o que comentar. Estou vendo todos os telejornais há dias, ainda não cansei de me comover e chorar com esse negócio todo.

Apenas tuitei o link para o seu post. Não sei o que dizer.

Anônimo disse...

Suzana, graças a Deus vocês estão bem. Quando assistia os telejornais, ficava bastante apreensiva por você e pelas as meninas. Lamento tanto pelos que perderam tudo, por tantos que perderam suas vidas e pelos que ficaram, sobreviveram e agora tem que lidar com suas próprias perdas, dos entes queridos principalmente. Também já chorei muito, sempre choro. Estamos nos mobilizando no meu prédio para arrecadarmos doações, quanto mais melhor, mas sei que é muito pouco diante de tanta dor...
Manu

nina Vieira disse...

Imagino tudo de terrivel que está acontecendo na região sul do Rio de Janeiro.
Uma catastrofe muito grande, sem duvida. E fico muito sentida por aqueles que tudo perderam, vítimas da chuva.
Trágico.
abraços.

Rita disse...

Muito triste tudo isso. Até quando isso vai acontecer? Até quando?

Teresinha Oliveira disse...

Não é possível imaginar. Há certas dores e tragédias que somente quem as sofre é capaz de mensurar. Só nos resta desejar o bom e o melhor.