terça-feira, novembro 18, 2008

Arca perdida



As pessoas fazem listas de desejos, como visitar a terra dos pais ou tirar uma foto no topo da Torre Eiffel. Eu tenho desejos mais sensoriais. Por exemplo, vi "Sonhos", de Akira Kurosawa, e uma das partes do filme chama-se "Pomar de pêssegos". Como deve ser o cheiro de um pomar de pessegueiros quando as árvores florescem? Queria saber. Ou de um pomar de cerejeiras - dá pra sentir o pretenso perfume nas fotos.

Um campo de tulipas. Ou aqueles prados cheios de lavanda que se vê em fotos da Provença. Consegue imaginar o perfume no ar?

"Lições de francês", um livro do gastrônomo e enólogo Peter Mayle, fala de uma viagem em busca de belas refeições pelo interior da França. Ele descreve uma tarde de outono numa cidadezinha ao sul, copo de vinho na mão, o calorzinho do sol se pondo. Ouvindo as colinas sussurrarem. Eu queria isso para mim.

Um grande compositor brasileiro chamado Henrique Oswald acabara de compôr sua mais famosa obra para piano quando perguntou à mulher que nome dar a ela. Estava escurecendo sobre Paris e nevava. Ela olhou pela janela e disse: "Il neige". Quero ouvir a neve cair sobre Paris.

Viajando pelo interior da Itália, estávamos nos aproximando de Assis. E o sol caía esplendidamente sobre o vale. Lembrando-me agora, parecia como o brilho do sol atravessando o azeite - já reparou como é de um tom dourado estranho, puxando para o verde? Era exatamente essa cor. Mas cada vez que tento me lembrar daquele momento sinto que a imagem vai ficando cada vez mais desbotada. A hora é errada, a cor está diferente, o silêncio não é igual. Quero refrescar a minha memória e regravar aquele tom de dourado novamente nas minhas lembranças.

Fechar os olhos e ouvir ao vivo Wynton Marsalis dividir o palco com seu irmão Branford. Acampar à noite e contar estrelas. Ter uma casa onde eu possa dormir ouvindo o mar. Ter desejos secretos, ainda por realizar.

* Obrigada, amigo.

Um comentário:

Esplanando disse...

Como te disse, o mail dava um belo post! E deu mesmo!